Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh, yesterday came suddenly

(De repente
Não sou metade do homem que costumava ser
Existe uma sombra pairando sobre mim
Oh, ontem veio de repente)

O vento batia forte em seu rosto, resultado da altura em que se encontrava. Os cabelos negros balançando-se de maneira revolta, combinando com seu rosto contorcido pela dor.

As lágrimas escorriam abundantes de seus olhos, queimando por onde passava. Eram o retrato efêmero de como estava quebrado por dentro. O mais triste é que as lágrimas um dia secariam, mas ele nunca voltaria a ser como antes. Eternamente quebrado.

Um som agoniante preencheu seus ouvidos e Sasuke demorou para perceber que era seu próprio grito. Só realmente o notou quando suas cordas vocais protestaram pelo imenso esforço.

Caiu de joelhos sobre a cabeça do monumento do terceiro Hokage e assim ficou por longos minutos, observando Konoha de cima. Vez ou outra seu corpo sacudia pelos soluços, quando o choro voltava.

Tudo transcorria normalmente na Vila abaixo de si. Pessoas iam e vinham, sorriam e brincavam, assim como um dia ela também o fizera. Como um dia eles fizeram juntos.

Em algum lugar em Konoha uma mulher amamentava seu bebê, sentindo as mãozinhas miúdas apertarem seus dedos com uma força extraordinária. Sentindo o calor e a textura do pequeno ser. Poderia ser ela a estar fazendo isso, com os longos cabelos rosados caindo em cascata pelos ombros.

Em algum lugar um pai estaria sorrindo feliz pela cena descrita acima, orgulhoso pela bela família que possuía. Sasuke sorriu em meio às lágrimas com essa imagem.

Respirou fundo e encarou a Vila que foi cenário de inúmeras tragédias em sua vida no passado e que agora voltava a ser. Talvez aquele não fosse o seu lugar, ou talvez aquilo fosse castigo por tudo que já fizera.

Com um suspiro abandonou o local rapidamente. Correu pelos telhados das casas e prédios, até chegar a sua casa.

O cheiro dela ainda estava impregnado no local, fazendo-o morder os lábios para evitar cair no choro. Subiu as escadas e deu de cara com Naruto, que segurava um pequeno embrulho. O amigo lhe encarou com os olhos inchados e vermelhos, tanto quanto os seus, e lhe entregou o pacote rosa.

Ele viu o loiro abrir a boca para dizer algo, mas sem conseguir ter sucesso. O mesmo se aproximou e encostou a testa no seu ombro, em um meio abraço, começando a chorar. O moreno se segurou para não entregar-se na frente dele e só conseguiu porque o Uzumaki endireitou-se e saiu rapidamente do local. Provavelmente sabia que Sasuke precisava de espaço.

Ergueu os olhos para o teto, buscando forças para olhar para aquele pequeno ser em seus braços e quando o fez não segurou as lágrimas.

Saya era quase uma Sakura miniatura. A pela pálida, o pequeno fiapo de fios rosados em sua cabeça e grandes olhos verde-esmeralda.

– S-Saya, minha filha...

Como o mundo pode ser tão cruel a ponto de negar aquela visão à Sakura? Como pode negar a uma mãe ver sua cria?

Apertou a bebê cuidadosamente contra seu corpo.

Ontem era pra ser o melhor dia de sua vida e foi um misto louco de surpresa e horror. E foi tudo tão rápido.

A rosada deu entrada no hospital, com fortes dores, e Saya nasceu. Uma complicação no parto e Sakura não resistiu nem ao menos para ver sua filha uma única vez.

Nem ao menos para ele a ver pela última vez.

Olhou para a bebezinha que agora apertava um de seus dedos, com um pequeno sorriso banguela nos lábios.

– P-Papai vai cuidar de você, princesa. – Respirou fundo para conseguir continuar a falar – E S-Sakura, vou fazer questão d-dela saber a rainha que você era, a m-melhor pessoa que eu já conheci.

As lágrimas manchava o belo rosto alvo enquanto ele encarava o resultado de seu amor por Sakura. Um amor que sobreviveu a anos de separação, ao seu egoísmo, a seu ódio e vingança, a uma guerra. Mas que não resistiu a realização de seu maior sonho.

Olhou novamente para o bebê.

– O-Obrigado, S-Sakura... Por tudo.

Ao seu lado, invisível para todos os presentes, uma bela mulher de cabelos cor-de-rosa olhava para a menininha nos braços do homem que amava. Um belo sorriso estava presente em seus lábios por poder ver àqueles a quem dedicou a vida pela última vez.

– Eu que lhe agradeço por tudo, Sasuke-kun. Cuide da Saya como eu faria se tivesse tido a chance. – Encarou os orbes ônix transbordantes – Eu estarei esperando por você, não importa o quanto demore, como sempre esperei.

“Até algum dia, meu amor”

Why she had to go I don't know
(Porque ela teve que ir eu não sei)