Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 85
O Casamento Real | Laryssa e Alexander


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJÉ É DIA DE RDC
Vocês devem estar vendo o nome desse capítulo e se pergundando: ué, não era para ser o epílogo agora? E eu respondo: era. Mas, ao me deparar com 27 páginas das minhas loucuras, decidi dividir o capítulo em dois. Assim, teremos uma ATUALIZAÇÃO DUPLA, algo inédito nessa fanfic (passei tantos anos postando um capítulo a cada mil anos e agora estou postando dois ao mesmo tempo??? Chocada). Por mais que eu tenha ficado um pouco triste por terminar em um número quebrado depois de me revirar toda pra planejar tudo até o capítulo 85, acho que vai ficar melhor assim com menos informação por postagem.
Então não se desesperem ainda: esse NÃO É O ÚLTIMO CAPÍTULO! O epílogo real oficial será postado hoje mais tarde (ainda em 2020, amém) e só aí iremos FINALMENTE colocar um ponto final nessa fanfic.
Enquanto isso, aproveitem o evento mais aguardado da década: o casamento de Laryssa e Alexander!
Espero que gostem,
xoxo ♥ ACE



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Um ano depois

 

No centro da cidade de Odense, a catedral homônima surgia tímida por entre as árvores do Eventyr Parken. O sol forte de início de tarde iluminava o belo vitral da igreja, colorindo seu interior com os mais belos tons de azul, vermelho e verde. Assim como dizia, em dinamarquês, o nome do parque ao lado da catedral, a imagem que se formava naquele belo dia de verão era tão mágica quanto a de um conto de fadas. Toda a Dinamarca se preparava, em festa, para o casamento do Príncipe Herdeiro Alexander, que colocaria um ponto final em sua linda história de amor com a bela plebeia e futura Princesa, Laryssa. Em especial, Odense, cidade escolhida para sediar a cerimônia por ser a cidade natal da noiva, se preparara para aquele dia por meses, a fim de impressionar turistas de todas as partes do país. No grande dia, milhares de pessoas — que esgotaram a capacidade dos hotéis da região rapidamente — aproveitavam o clima agradável de final de agosto, andando pelas pitorescas ruas e ruelas do local. Nas lojas, as faces do mais novo casal real estavam estampadas em dezenas de moedas, pratos e até ursos de pelúcia comemorativos, que eram vendidos aos montes para os dinamarqueses animados com a nova adição à Família Real. As ruas estavam repletas de flores vermelhas e brancas, as cores da Dinamarca. Os restaurantes em todas as partes da cidade exibiam suas mais belas decorações e cardápios, que, em sua maioria, levavam o nome da noiva e do noivo. Bandeiras da Dinamarca foram estendidas de diversas janelas em toda a cidade. 

Dentro das paredes centenárias do Palácio de Odense, localizado a alguns metros do centro da cidade, porém, o clima era de tensão. Com poucas horas restantes até o grande evento, todos, desde funcionários até convidados, estavam eufóricos. Dezenas de criados corriam de um lado para o outro, certificando-se de que todos os hóspedes reais estavam bem servidos. Dezenas de outros criados se deslocavam entre o Palácio e a Catedral, transportando os últimos as últimas peças que completariam a decoração do casamento. Nos luxuosos quartos nos andares superiores, outros serventes ajudavam as mais nobres damas a colocar suas preciosas joias que, com certeza, adornariam ainda mais o evento com suas mais diversas colorações. Ao mesmo tempo, nos cômodos ao lado, Reis, Príncipes e Duques ajeitavam os últimos detalhes de seus trajes. Todos trabalhavam para que um dos dias mais importantes da noiva — convidada mais importante do evento — fosse perfeito.

Desde que fora levada à sala onde seria arrumada para o casamento, sendo imediatamente rodeada por maquiadores e cabeleireiros responsáveis por sua aparência naquele dia, Laryssa não se sentia como ela mesma. Não conseguia mais contar as vezes em que olhara para o grande espelho em sua frente tentando reconhecer sua miragem. Seus olhos estavam muito mais azuis, sendo iluminados pela tiara de diamantes, a Tiara Floral da Princesa Dagmar, e destacados pela bela e suave sombra em tons terrosos. Sua boca foi pintada delicadamente com um batom nude que completava sua aparência majestosa. Por mais que sua maquiagem estivesse bastante natural e que as joias que usava fossem simples — nada como as extravagantes usadas por outros membros da realeza — ela não parecia a mesma menina que, quase dois anos antes, chegara no Palácio de Amalienborg cheia de incertezas e de inseguranças. Era como se ela fosse uma pessoa completamente diferente.

Ainda olhando para o espelho, a jovem tocou o brinco de ouro branco e safira em suas orelhas. A bela joia — feita por Emery para ser usada pela primeira vez naquela ocasião — combinava perfeitamente com os olhos da futura Princesa. Aquele era provavelmente o objeto de maior com o qual entrara em contato em sua vida. Mas, diferente do que pensava quando via a Rainha ostentando suas belas joias na televisão anos antes, aqueles belos brincos não eram grotescos ou exagerados. Eram lindos. Cada vez que ela olhava para a peça, ficava mais maravilhada.

— Tem certeza que irá doá-los? — perguntou Kristal, surgindo atrás de Laryssa no espelho. — Eles ficaram tão perfeitos em você.

Kristal, já estava acostumada a trajar os mais belos figurinos em sua série de TV, Royals — a qual se tornou surpreendentemente mais popular depois da participação da atriz na Seleção — estava confortável com seu vestido de organza em um tom azul-esverdeado e com seu belo conjunto de colar e brincos de pérola. As outras cinco garotas, vestidas da mesma maneira por serem as acompanhantes da noiva, por outro lado, apesar de igualmente estonteantes, não pareciam tão à vontade. Emery, Mayrelles, Mabelle e Marzia, de origens mais humildes, se encolhiam dentro de seus vestidos, como se, assim como Laryssa, se sentissem como outras pessoas dentro deles. Já Maeli, a militar do grupo, não perdia a compostura em nenhum momento, por mais que não parecesse confortável no vestido, tão diferente do uniforme que utilizava diariamente em seu posto na Aeronáutica.

— Tenho. É por uma boa causa — a ruiva respondeu com firmeza, virando-se para encarar as amigas. — Tenho certeza que irei ganhar dezenas de joias tão lindas quanto essa através dos meus anos na realeza. Mas essas meninas que irei ajudar… Esse dinheiro pode significar tudo para elas.

— Gostaria de poder participar desse leilão — afirmou Mabelle, se aproximando de Lary para olhar a joia mais de perto. — Emery, seu trabalho é magnífico, de verdade.

— Bom, você pode pedir a um certo Príncipe que participe por você... — Enquanto as outras meninas riam, Mabelle arregalou os olhos, furiosa com a brincadeira de Maeli. — Ele está tão caidinho que não se importaria de gastar alguns milhares de coroas dinamarquesas para satisfazer a suas vontades.

— Eu já lhes disse: não é nada… quer dizer, não ainda, eu acho. — A jovem de cabelos castanhos corou. — Estamos programando uma viagem ao Marrocos mês que vem. Ele quer que eu conheça a mãe dele. Oficialmente. Por mais que eu já a tenha conhecido no jantar ontem.

Na noite anterior, os Reis da Dinamarca haviam oferecido um jantar a todos os seus convidados em comemoração ao casamento de seu filho mais velho. Naquela ocasião, membros de diversas famílias reais de todo o mundo — desde a Siberiana, até a Sul-Asiática e Latino-Americana — aproveitaram as delícias da culinária dinamarquesa, acompanhadas das belas melodias entoadas pelo quarteto municipal de Odense. Para Mabelle, o evento fora, com certeza, um dos mais importantes de sua vida. Passara a noite inteira ao lado de Said conversando com a Rainha Ranya, o Príncipe Consorte Karim e a Princesa Salimah do Marrocos. Diferente da amiga, Laryssa teve de circular pelo salão de braços dados com Alexander, cumprimentando dezenas de figuras mundiais importantes. Para ser extremamente sincera, Lary não se lembrava dos nomes de metade dos convidados com os quais conversara durante o jantar. Ela estava muito nervosa para isso. Depois do aniversário de Henrik, quase dois anos antes, aquela fora a primeira vez que suas bochechas cansaram de tanto sorrir para pessoas desconhecidas. Na verdade, aquela fora a primeira vez desde o anúncio do casamento que ela era oficialmente apresentada como a futura Princesa Herdeira da Dinamarca. Assim, ao falar com todas aquelas pessoas, que a parabenizavam pelo casamento e pela linda filha, ela não podia deixar de ficar abismada. Ela mal podia acreditar que aquela seria a sua vida dali em diante. 

— Pensávamos que apenas uma de nós sairia da Seleção como uma Princesa. — Layla riu, colocando a mão delicadamente em sua barriga, que já estava consideravelmente aparente em seu quinto mês de gestação. — E agora vejam só: temos pelo menos três.

As outras meninas riram do comentário da amiga de olhos azuis. A única com vestimenta diferente das demais, Layla usava um belo vestido tom salmão de cetim com uma bela gola canoa. No topo de seus belos cabelos negros, uma grande safira arredondada reluzia os raios de sol. A tiara da Grã-Duquesa Adelaide, indicando sua nova posição, parecia ter sido feita para a recém-descoberta Princesa da Germânia por sua elegância e, ao mesmo tempo, discrição, tão típica daquela tão modesta dama. Antes da Seleção, Layla era apenas uma humilde jovem plebeia de Haslev. Durante a competição, porém, ela descobrira que era a herdeira de um dos mais poderosos países do mundo. Ela — que entrara na Seleção pensando que o máximo que lhe ocorreria seria tornar-se a esposa de Alexander — celebrava agora o aniversário de dois anos do dia em que se inscrevera para a competição estando casada, à espera do primeiro filho e se preparando para, em alguns meses, ser coroada como Rainha de seu novo país. E, por mais que essa tenha sido uma surpresa para todos, ela não foi a única.

 Na verdade, nada que ocorrera durante a Seleção poderia ter sido previsto pelas jovens Selecionadas. Além de todos os outros eventos daqueles meses, Laryssa nunca esperava se tornar amiga das outras competidoras. Quando chegou ao Palácio, imaginava que elas eram ambiciosas e competitivas demais para criarem qualquer laço afetivo. Para a jovem, as outras garotas estavam ali apenas para conquistar Alexander a todo o custo. Mas elas eram muito diferentes disso. Elas eram garotas amáveis, empáticas e, acima de tudo, ótimas amigas. Com o tempo, as pessoas que deveriam ser suas inimigas se tornaram algumas das mais importantes da vida de Lary, e ela se sentia honrada de tê-las ali no dia de seu casamento. 

Acordando a futura Princesa Herdeira de seus devaneios, a porta se abriu, revelando duas figuras muito familiares. Christine Mercer, a tia de Laryssa, trajava um belo vestido de seda de um tom claro de lilás, que destacava seus cabelos acobreados. Em seu colo, a criança mais linda do mundo — na humilde opinião de uma jovem mãe — já sem sapatos e parecendo muito incomodada, tentava tirar o belo e enorme laço azul-claro de seus finos cabelos castanho-escuros. Ao ver a mãe, porém, a menininha abriu um sorriso encantador, esticando os braços em direção a ela. Apesar dos conselhos de todos os membros de sua família e da família de Alexander, Laryssa insistira em ter a filha de um ano e cinco meses em seu casamento. Por mais que, em alguns anos, ela não se lembraria dos acontecimentos daquele dia, o casamento era parte importante da vida de Isabella Aurora. Seria o momento em que sua mãe se casaria com seu pai. Seria o momento em que eles tornar-se-iam oficialmente uma família, por mais que Laryssa já os considerasse uma família muito antes de qualquer papel ser assinado. 

— Já estamos indo à igreja, Lary. Seu pai deve chegar aqui em alguns minutos. E sua mãe acabou de me ligar avisando que ela estava saindo de casa também, acho que ela não quer ficar sozinha com todos esses nobres importantes por muito tempo — anunciou a tia da noiva, sorrindo para a sobrinha com carinho. — Eu já estava pronta para entrar no carro, mas essa princesinha aqui queria ver o quão bonita estava sua mamãe primeiro. 

— Era eu quem precisava ver o quão linda está minha filhinha, não é mesmo, Aurora? Estava morrendo de saudades. — Laryssa beijou a bochecha gorda da criança e. Logo em seguida, com uma expressão brincalhona, ela voltou a olhar para a tia. — Mas agora sejamos sinceras. Quem queria espiar o vestido antes de todos os outros convidados? Tenho quase certeza que Isabella Aurora ainda não tem um vocabulário tão grande assim para manifestar esse desejo. 

— Não posso vê-lo nem no cabide? — a mais velha pediu, juntando as mãos em frente ao corpo em forma de oração. — Achei que, como tia, teria esse privilégio. Eu praticamente criei você!

— Laryssa é inflexível quanto a isso, Christine. Eu fiz os brincos para ela, e, mesmo assim, ela não me deixou ver o tal vestido — contou Emery, fingindo indignação. — É praticamente um segredo de estado.

— É surpresa! Vocês estão muito ansiosas. — Enquanto falava, Lary arrumou o vestido branco com flores azuis da filha. — Em pouco mais de uma hora vocês poderão vê-lo, não se preocupem. 

— Tudo bem, tudo bem. Vossa Alteza Real é quem manda. — Christine ergueu os braços, rendida. — Porém, para garantir que eu, de fato, poderei ver o vestido, infelizmente terei de sequestrar Isabella Aurora. Não aceito negociações. 

Christine esticou os braços em direção à sobrinha, que beijou a testa de Isabella Aurora antes de entregá-la à tia. Com o coração já doendo de saudade, a noiva viu as duas saírem da sala. Desde que a criança nasceu, um ano e cinco meses antes, Laryssa teve de dividir seu tempo entre seu papel de mãe e suas responsabilidades de futura Princesa Herdeira. Principalmente nos meses que antecederam o dia do casamento, a garota teve de acompanhar o noivo em diversos eventos oficiais dentro da Dinamarca — que visavam apresentá-la à população dinamarquesa — tendo de deixar sua filha sob os cuidados de babás por vários dias. Os dias mais difíceis de sua vida. Agora, vê-la ir embora do quarto e, mais uma vez, sendo separada da mãe deixava Laryssa muito nervosa. Ter a certeza de que a menininha estaria em seu casamento, observando-a de longe, porém, a tranquilizava um pouco.

 — Isabella Aurora é uma criança de sorte — comentou Marzia, ainda sorrindo para a porta. — Quem poderia pensar que ela viraria a menina dos olhos de sua família e da família de Alexander. E de todas nós, na verdade.

— É impossível não a amar — respondeu Mabelle também sorrindo e se aproximando mais uma vez de Laryssa. Com cuidado para não estragar o penteado de nenhuma das duas, ela abraçou a amiga pelos ombros. — Assim como a mãe dela. As duas nasceram para serem Princesas.

— Não seja dramática, Belle. — Em um tom divertido, Laryssa afastou os braços da antiga concorrente de seu corpo, segurando suas mãos e virando-se para ela. — Você nem gostava de mim no início.

— Para ser bem sincera, acho que ninguém gostava de ninguém no início da Seleção. — Kristal entrou na brincadeira. — Eu só queria ganhar e ser Princesa, por exemplo. Queria ter a coragem de fazer o que Cassiopeia fez para conquistar o Príncipe.

— Nem fale sobre isso! Ainda não acredito que ela teve a audácia de puxar Alexander para um armário e, bem… — Maeli chacoalhou a cabeça rindo. — Ainda bem que nenhuma outra menina seguiu os passos dela. A competição teria virado um caos!

— Eu quase caí na lábia dela em um dos nossos primeiros dias no Palácio. Quando Ulrika Amelie e Layla foram convidadas para tomar chá com Isabella e Ingrid, fui junto com ela para espioná-las — contou Mabelle, que agora estava apenas parada ao lado da cadeira de Laryssa, cobrindo o rosto com as mãos. — Henrik acabou nos empurrando para fora do arbusto onde nos escondíamos. Nunca vou me esquecer das expressões nos rostos das Princesas. Que vergonha!

Todas as meninas riram juntas. De fato, a Seleção foi repleta de momentos dos quais Laryssa se lembraria para sempre, sendo eles felizes, engraçados ou tristes. O momento que ela descobrira que estava grávida. O momento em que as meninas a incentivaram a contar a Alexander sobre seu passado. O momento em que Alexander, seu futuro marido, aceitou ser o pai de sua filha. Aqueles meses que passara em Amalienborg — e depois em Klitgården — realmente mudaram sua vida, e ela se sentia feliz por poder tê-los compartilhado com tantas garotas incríveis.

— Desculpem-me por me interromper, Senhoritas e Vossa Alteza Real. — Sem que as antigas Selecionadas percebessem, um guarda entrou no quarto, estando naquele momento parado ao lado da porta em uma posição rígida. — O carro das damas de honra já está pronto para levá-las à igreja. E seu marido já está aguardando também, Princesa Eris.

— Muito obrigada por nos avisar. — Layla tomou a frente e respondeu por todas as amigas. — Dê-nos alguns minutos para nos despedir de Laryssa. Nós já iremos descer.

O guarda curvou-se em uma reverência educada antes de sair do cômodo, deixando as garotas sozinhas mais uma vez. Como se tivessem ensaiado uma coreografia, Mayrelles, Maeli, Marzia, Mabelle, Layla e Emery se aproximaram de Laryssa uma de cada vez e a abraçaram pela última vez antes de ela se tornar Sua Alteza Real, a Princesa Herdeira da Dinamarca. Em poucos segundos, as seis damas abriram a porta do quarto e deixaram a noiva sozinha com seus pensamentos.

Sem a distração divertida das amigas, tudo que Lary estava sentindo mais cedo voltou como uma avalanche. Mais uma vez, ela olhou para o espelho em sua frente, observando a imagem quase estranha que ali se formava. A Tiara Floral da Princesa Dagmar e os brincos de safira feitos por Emery refletiam os raios de sol que entravam, tímidos, pelas cortinas do cômodo. Ao olhar para baixo, ela foi surpreendida pelo brilho intenso de seu anel de noivado de diamantes. Tudo que ela usava naquele momento a fazia parecer uma Princesa de verdade. E talvez ela fosse mesmo, como Mabelle dissera, por mais que não se sentisse assim. Em poucas horas, ela assumiria um papel que nunca imaginara assumir. Em alguns anos, ela seria Rainha. Um dia, seria a mãe de um Rei ou de uma Rainha — seu primeiro filho ou filha biológicos com Alexander. Ela, uma simples menina de Odense, seria uma das pessoas mais importantes do país. Uma mudança de vida no mínimo amedrontadora. 

Depois de alguns minutos de solidão, uma criada sorridente entrou no quarto, pronta para terminar de arrumar a noiva para seu grande dia. Logo que chegou, ela foi até o manequim mais ao canto do cômodo, abrindo o zíper da capa que o cobria para revelar a bela peça de alta costura previamente escondida. Diferente de muitos outros vestidos utilizados por noivas da realeza, o de Laryssa era simples. Não havia rendas ou babados, era apenas feito de seda branca que se estendia por uma grande cauda tipo real. Ao vesti-lo, porém, Laryssa se sentiu tão bela quanto qualquer outra Princesa ou Rainha. O decote canoa caía perfeitamente em seus ombros, e a cintura marcada destacava sua silhueta, fazendo-a ficar ainda mais elegante. Para completar o visual, a criada ajustou no penteado de Laryssa o véu de renda irlandesa — herança da família de Alexander que fora usado em inúmeros casamentos reais, inclusive o de Juliane e Christian. 

Com o traje finalmente completo, ela podia afirmar: sentia-se linda.

Alguns segundos depois, para confirmar seu sentimento, o pai de Lary apareceu à porta. No momento em que ele a viu totalmente vestida de noiva, seus olhos se encheram de lágrimas. Depois de ver sua única filha sofrer por tanto tempo, vê-la feliz e pronta para seu casamento o deixava emocionado. Por mais que tentasse não demonstrar e parecer forte, ele sofrera muito durante a recuperação da menina. Por meses, ele a observara de longe — esperando-a se sentir confortável o suficiente para receber seu afeto físico novamente — mas agora, era ela que o chamava para um abraço longo e cheio de carinho. Eles aproveitaram a companhia um do outro por alguns segundos, até que ele se afastou. Enxugando as lágrimas de seu rosto, ele retomou a postura que era esperada do pai da futura Rainha da Dinamarca. Ele não precisou dizer nada para que ela entendesse: estava na hora.

— Está pronta? — questionou Robert, estendendo o braço para a filha com orgulho. — O mundo lhe aguarda, meu amor.

Laryssa respirou fundo e sorriu para o pai. Apesar de todas as incertezas, ela estava pronta.

♕♕♕

— Tem certeza que você está bem? — Ingrid perguntou pela segunda vez, já um tanto irritada, cruzando os braços em frente ao corpo. — Alexei… responda!

A verdade era que Alexander não sabia a resposta para a pergunta da irmã mais nova. Ele estava feliz. Muito feliz. Ele passara meses esperando ansiosamente por aquele dia, preparando-se e estudando cada detalhe da cerimônia, mas, chegado enfim o grande momento, ele estava nervoso, não poderia negar. E a imagem elegante da irmã parada em sua frente, com um longo vestido azul Prússia e com a tiara turquesa margarida — que anteriormente pertencera a sua avó, a Rainha-Viúva Amália — fazia tudo parecer ainda mais real. 

Era a primeira vez que a Princesa, que completaria 19 anos em alguns meses, usava uma das heranças da Família Real em um evento oficial. Com aquela joia, ela parecia muito mais adulta, muito mais sofisticada,  não sua irmãzinha inocente, divertida e estudiosa. Era uma dama. Uma Princesa. E vê-la assim o fez perceber que tudo estava mudando. A infância e a adolescência estavam no passado. Sua irmã mais nova era uma adulta. E ele estava se casando. E essa realização o amedrontava.

 

— Ainda dá tempo de desistir, você sabe. Laryssa ficaria devastada, mas acho que conseguiríamos encobrir tudo muito bem. — O Príncipe Herdeiro finalmente olhou para a irmã, que levantava a sobrancelha para ele de forma provocativa. — Isso seria algo que Isabella diria. Ela sempre quis levá-lo ao mau caminho. Acho que agora esse é meu trabalho.

Os irmãos riram juntos. Ingrid sofrera muito com a perda de sua gêmea, talvez mais do que qualquer outro membro da família. Passados quase dois anos daquele momento traumático, Alexei ficava feliz ao vê-la bem o suficiente para citar a irmã de forma divertida. Por mais que não gostasse de admitir, o Príncipe sentia falta de todas as piadas que Isabella costumava fazer sobre a vida amorosa do irmão mais velho, mesmo antes do início da Seleção. Aos poucos, todos eles aprenderam a conviver com a falta de um membro tão importante da família, mas, em um momento como aquele, ele desejava que ela ainda estivesse ali. Com certeza, Bella estava em algum lugar do além rindo do nervosismo do irmão com seu casamento.

— Bom, então vou falar com papai, tenho certeza que ele entenderá — ele disse, sério, apontando com a cabeça para o Rei, que conversava com seus primos paternos na outra extremidade da igreja. — Acho que é a melhor opção mesmo.

— Pelo amor de Deus, não faça isso! — Ingrid arregalou os olhos, esforçando-se para manter o tom de voz baixo condizente com o ambiente em que se encontrava. — Mamãe nunca lhe disse que você não poderia dar ouvidos ao que nós sugerimos? Eu estava brincando!

Alexander riu da ingenuidade da irmã, que, com certeza, não era nada como Isabella naquele quesito. Se Bella tivesse feito aquela brincadeira, ela levaria o comentário subsequente do mais velho na esportiva, continuando com suas sacadas sarcásticas sobre o cancelamento de última hora do casamento. Contrariamente, Ingrid fazia uma piada e, logo depois, voltava a sua personalidade séria de sempre e revirava os olhos exatamente como fazia com o irmão agora.

— Sobre o que estamos falando? — Alexander sentiu a presença de uma figura familiar ao seu lado.

Alicia Larsen, a melhor amiga de infância de Alexei, trajava um belo vestido lilás com flores delicadas bordadas por toda sua extensão e mangas de voal bufantes. Por mais que não fosse nobre por nascimento, ela, com certeza, aparentava ser uma por conta de sua elegância. Desde criança, quando iniciou sua amizade com o Príncipe, ela se misturava surpreendentemente bem em eventos oficiais, sempre distribuindo sorrisos e encantando a todos, desde os colegas militares de seu pai até os Reis. Ela, porém, nunca deixava de lado sua curiosidade e sua eventual falta de discrição, se intrometendo em diversas situações nas quais não deveria se envolver — como quando ousou confrontar o Alexander em um baile aos sete anos. E como, é claro, ela fazia naquele momento. Com um sorriso no rosto, a jovem diplomata encarou a dupla de irmãos ao esperar por uma resposta a sua pergunta. 

 — Alexander está sendo idiota. Ele disse que iria desistir do casamento. — Ingrid finalmente se pronunciou.

— Foi você quem sugeriu! — Alexander rebateu.

— Eu estava brincando!

— É bom ver que vocês dois estão se dando bem. — Alicia encarou o melhor amigo e sua irmã com um olhar reprovador. Como se fossem crianças pequenas, os dois cruzaram os braços em frente a seus corpos, indignados. Logo depois, porém, Ingrid caiu na gargalhada, sendo seguida prontamente pelos outros jovens. Quando os três pararam de rir, a loira tomou fôlego novamente antes de falar. — Não se preocupe, Grid, eu nunca deixaria seu irmão querido desistir. Pode deixar que eu o convenço do contrário.

— Ele não seria nada sem você. Obrigada, Liz. — As duas moças se abraçaram de maneira carinhosa antes de Ingrid se afastar e se curvar em uma reverência irônica ao irmão, que apenas riu. — Com licença.

Com mais elegância do que Alexander pensava que a irmã mais nova tinha, a Princesa pareceu flutuar pela igreja à procura de companhias melhores. Em alguns segundos, ela avistou a Família Real Norueguesa perto das grandes escadas que levavam até o altar, prontamente se aproximando deles. Como ditava o protocolo, ela se curvou em reverência aos Reis antes de cumprimentá-los. Em seguida, ela foi até o Príncipe Herdeiro, saudando-o com cordiais beijos alternados na bochecha, logo se afastando e sorrindo. 

No último ano, a irmã mais nova de Alexander viveu entre Copenhague e Oslo, onde terminou seus estudos em meados de junho. Depois de voltar para sua cidade natal para as férias de verão pela primeira vez, alguns meses depois da morte de Bella, Ingrid passara por um processo difícil de recuperação. Entre sessões de terapia e mudanças constantes de humor, a Princesa aprendera a lidar com o vazio que o falecimento de sua irmã gêmea deixou em sua vida. O processo de aceitação e de recuperação fora difícil e cansativo, Alexander não poderia negar. Alguns dias, Grid estava bem, sendo a menina divertida com a qual toda a família estava acostumada. Outros, ela não saía de seu quarto, triste demais para encarar os pais e os irmãos. Com o tempo, os dias ruins ficaram cada vez mais espaçados, cada vez mais raros, apesar de ainda presentes. Quando voltou a Oslo pela última vez em setembro, ela já estava consideravelmente melhor. Segundo a Rainha Leonore — que se encantara com Ingrid mesmo em seus momentos mais complicados —, a Princesa dinamarquesa era uma hóspede de ouro e se adaptara à vida na Noruega com maestria. E, pelo que Alexander via naquele momento, a irmã mais nova realmente estava feliz com aquela família, distribuindo e recebendo sorrisos sinceros enquanto conversava animadamente com eles. Depois de tudo o que ocorrera, ela merecia todo o amor que estava recebendo.

— Fico feliz por Ingrid estar tão bem. Por algum tempo, temi que ela jamais conseguiria conviver com a dor da morte de Bella. — Ainda ao lado de Alexei, Alicia também observava a Princesa. Momentos depois, ela se virou de frente para o amigo. — Mas acho que agora preciso me preocupar com outro irmão Schiønning. 

— Eu estou bem. Eu só estou… — Ele soltou o ar pela boca com força. — Estou nervoso. 

— É normal, Alexei. Eu também estaria nervosa no seu lugar. Quer dizer, talvez não a ponto de concordar em desistir do casamento. Você sempre foi um tanto dramático demais para meu gosto. — Ela riu da própria piada, sem ser acompanhada pelo amigo, que apenas fingiu indignação. — Mas falando sério, Alexei. Esse último ano com Laryssa foi ótimo. Ela o faz tão feliz. Ela faz sua família tão feliz. Saphira não para de falar sobre ela toda vez que nós duas conversamos. Era eu quem deveria ser a melhor amiga mais velha dela! 

— Acho que você perdeu seu posto, para a minha felicidade. Laryssa é muito mais gentil comigo do que você. — A menina deu de ombros e fez uma careta. — Eu não estou nervoso por causa dela. Sei que qualquer momento que eu tiver com ela será perfeito. Estou nervoso por ela, isso sim. Mas também pela magnitude desse evento. Ao mesmo tempo que eu, Alexander está se casando, o herdeiro ao Trono Dinamarquês também está. Milhares de pessoas estarão assistindo… 

— Isso não importa. Esse é o momento de vocês. Seu e de Laryssa. Esqueça o resto do mundo, por mais que isso seja difícil em sua posição. — A jovem de cabelos dourados colocou a mão no ombro do amigo, evidenciando os belos anéis em seus dedos finos. Ele concordou com ela com a cabeça, e ela sorriu. — Agora que sei que você não vai desistir de verdade, terei de pedir licença. Minha presença é requisitada em outro lugar. Fique tranquilo, está bem? 

Sorrindo pela última vez para o Príncipe, Alicia se afastou. Ele a acompanhou com olhar e observou ela se aproximar de Aline e de seu noivo, o nobre escocês Thomas Bowes-Lyon — seu antigo colega de faculdade que a pedira em casamento meses antes de ela ser oficialmente coroada como a Rainha do Reino Unido. Ao lado do casal, Serena e Alba conversavam animadamente, rindo de algo que a siberiana acabara de falar. Ao verem Alicia se aproximando, elas a cumprimentaram com sorrisos sinceros, fazendo o mesmo quando Elisabeth, a prima do noivo, que também se aproximou logo em seguida. Aquele era um grupo um tanto estranho de pessoas, mas elas pareciam estar se divertindo juntas. 

Vendo que não reconquistaria a atenção de sua melhor amiga — que parecia agora deveras entretida contando alguma de suas histórias absurdas às demais damas — Alexander decidiu deslocar-se pela igreja. Andando pelo grande espaço entre as escadarias que levavam ao altar e os bancos, o rapaz conseguia observar a bela decoração de todo o local. Nas colunas, milhares de flores azuis de várias tonalidades foram penduradas, sendo complementadas por arranjos das mesmas cores ao lado dos assentos. No meio do local, um grande tapete champagne se estendia desde a entrada até a escadaria, criando o caminho pelo qual, em curtos minutos, Laryssa andaria até seu futuro marido. Aos poucos, o local se enchia de convidados que traziam as mais diversas colorações à decoração quase monocromática do local e que conversavam animadamente em todos os cantos.

Entre eles estava Henrik, irmão e padrinho de casamento de Alexander. O jovem rapaz que completaria 17 anos em alguns meses estava sentado entre as Princesas Lara e Luísa em uma das primeiras fileiras de assentos. Luísa, a bela herdeira ao trono Latino-Americano, trajava um belo vestido verde-esmeralda com bordados coloridos no busto que caía suavemente por seus ombros em um decote coração. Já Lara, a segunda filha dos Imperadores Soviéticos, optara por um simples vestido azul escuro sem rendas ou detalhes. As duas garotas — cuja amizade Alexei nunca foi capaz de entender, visto que, quando se conheceram, uma estava apaixonada por seu irmão e a outra, prometida a ele — conversavam animadamente, praticamente ignorando o dinamarquês a seu lado. Não era possível ouvir a conversa nitidamente, mas era claro Henrik estava apenas apreciando a visível animação de suas duas grandes amigas, optando apenas por ouvir e comentar apenas quando considerava oportuno. E Alexander não pôde deixar de sorrir ao observar a cena: por mais que os anos passassem, Henrik sempre seria o irmão do meio calado que preferia não ser notado. 

Continuando sua caminhada nervosa pela igreja, Alexei passou por dezenas de outros convidados, a maioria deles parte de sua família materna, que sorriram cordialmente para ele. Sem querer se envolver em uma conversa interminável com uma de suas tias — que pareciam nunca ter informações suficientes sobre sua vida — o Príncipe apenas retribuiu o sorriso, passando pelo grupo de Manteuffels com pressa e indo em direção ao corredor lateral da igreja. Ali, entre os outros pajens e daminhas, Saphira brincava com seu primo paterno de 5 anos, Sebastián. A jovem Princesa de 10 anos, que sempre fora a pessoa mais animada para a Seleção e para as bodas de seu irmão mais velho, estava radiante. Desde que chegaram em Odense, alguns dias antes, ela mal conseguia conter a ansiedade para finalmente tirar o vestido mídi de seda branca com um grande laço azul na cintura do cabide. Todos os dias, a família tinha que se revezar para entreter a caçula o suficiente para que ela não ficasse inquieta demais. No primeiro dia, o pai passeara com ela pelo zoológico. Depois, Alexander e Laryssa a levaram por um longo tour sobre a vida de Hans Christian Andersen. Por fim, na manhã do casório, fora tarefa de Ingrid levar a irmã mais nova para fazer compras no centro da cidade. Um esforço em conjunto para que, quando ela finalmente colocou o seu traje tão especial de daminha, ela já estivesse tranquila o suficiente para aguentar várias horas na igreja sem explodir de ansiedade. O que, pelo que tudo indicava, estava dando muito certo.

Claramente, porém, a interminável espera pela noiva não era tão fácil para a menina de quase 5 anos que levava uma bronca da mãe a alguns passos de Saphira. Esmeralda, que estava vestida exatamente como a tia, observava a mãe enquanto ela, abaixada a seu lado, parecia lhe dar uma bronca. Ophelia usava um vestido amarelo simples que, de onde Alexei a observava, era escondido por longas madeixas castanhas. Por mais que não conseguisse ouvir o que ela dizia, sabia que a conversa em nada agradava a pequena menina, visto que lágrimas se formavam em seus olhos. Nos 16 meses em que foi pai de Esmie, Alexei entrou em muitos conflitos com Lia pela forma como os dois preferiam criar a menina. Ela acreditava que eles deveriam ser firmes, mas ao mesmo tempo amorosos. Ele insistia que eles deveriam achar maneiras de educar a criança com a maior calma possível, sem gritos e xingamentos. Por mais que eles tentassem encontrar um meio termo, ainda não tinham criado regras específicas. E, agora, a jovem mãe parecia seguir os seus princípios.

Assim que o Príncipe entrou no campo de visão das duas, Esmeralda parou de chorar. Ignorando os chamados da mãe, ela correu até o pai com muita alegria. Alexander sorriu ao abraçá-la com muito carinho, aproveitando o calor de seu pequeno corpo. Ele, então, a pegou no colo e continuou andando, a passos lentos, até Ophelia.

 — O que aconteceu? — ele perguntou quando se aproximou da antiga amante. 

— Eu estava brincando com … — Esmie repousou a cabeça no ombro do pai, voltando a soluçar. — E…

— Esmeralda estava correndo pela igreja com aquela sua prima sobrinha, a filha de Friederich — Lia explicou ainda com uma expressão irritada. — As duas acabaram derrubando algumas decorações. Eu estava apenas explicando que não podemos correr aqui.

— Está tudo bem, meu amor. Você pode brincar com as crianças, mas tem que ficar bem quietinha assim como Sebastián, certo? — Alexander apontou para o primo, que jogava pacificamente com Saphira. A filha, então, balançou a cabeça em concordância. — Quem sabe você não vai brincar com ele e com Saphira?

Alexei colocou a menininha no chão, logo a vendo sair correndo até onde as outras crianças estavam. Seus cabelos castanhos escuros, cada vez mais longos, se bagunçaram no caminho, e o belo laço que outrora estava em sua cabeça foi abandonado pelo caminho. Alexei riu — a filha lembrava muito sua irmã Isabella quando criança, o que sempre trazia muitas boas memórias. Ophelia, por outro lado, não parecia tão satisfeita. 

— Ela está cada dia mais travessa — Lia disse depois de ver a filha sentar-se ao lado da tia e do primo de segundo grau. — Ela sempre foi uma criança tão calma.

— Ela tem só quatro anos, Lia. Temos que ter paciência e… — Vendo que iria entrar em um assunto delicado, ele parou de falar. — Enfim.

— Enfim. — Ela respirou fundo antes de finalmente sorrir para o Príncipe. — Como você está?

— Eu estou bem. Estava um pouco nervoso, mas Alicia já me tranquilizou. — Ele riu, sendo acompanhado pela garota. Ela e a melhor amiga do Príncipe eram próximas, por mais que ele não compreendesse bem como elas tinham se conhecido. — Acho que estou pronto.

— Tenho certeza que você está. — Ela estendeu o braço para entrelaçar sua mão à de Alexei. — Não consigo encontrar palavras para explicar o quanto você cresceu nesses últimos dois anos. De um rapaz assustado que mal conseguia falar com as Selecionadas para um homem maduro, que é um ótimo pai e será um marido carinhoso. Você teve coragem o suficiente para se permitir amar Laryssa, por mais que fosse tão contrário à Seleção à princípio. Você teve coragem o suficiente para ir contra Deus e o mundo para criar Esmeralda e Isabella Aurora como suas filhas, algo que eu nunca imaginaria dois anos atrás. Antes da Seleção e de tudo que ocorreu por conta dela, eu diria que você não estava pronto, que nunca conseguiria formar uma família com uma das Selecionadas. Você não tinha coragem nem de contar a ninguém sobre mim…, mas agora... agora você tem coragem o suficiente para cumprir com todas as suas responsabilidades. Você tem coragem. Você tem amor. Acho que é tudo que precisa nesse momento.

Alguns meses antes, Alexei e Lia tomaram a coragem de contar para os Reis — para Christian mais especificamente — sobre a paternidade da menininha. Apesar de ter ficado chocado, o Rei ficou feliz por eles terem sido honestos. O mundo não sabia sobre Esmeralda ainda, mas o importante era que ela se tornara parte da família. Nesse meio tempo, apesar das brigas sobre a educação de Esmie, a presença de Ophelia abrilhantou seu dia. Por muito tempo, a presença da criada fora seu porto seguro. Os raros momentos que passavam juntos eram os melhores de sua semana. Suas conversas o alegravam. Agora tudo era diferente. Eles não trocavam mais carícias em segredo. Não se beijavam com pressa e com fervor. Mas eles tinham algo melhor ainda: uma família. Por mais disfuncional que fosse, eles tinham uma família. Assim que tudo foi esclarecido, Laryssa e Ophelia se tornaram uma força conjunta para cuidar de suas filhas. Era comum vê-las juntas no quarto de Isabella Aurora, conversando e observando Esmie brincar enquanto a ruiva amamentava a mais nova das meninas. Por vezes, Alexander se juntava a elas, feliz por ter mulheres tão incríveis em sua vida.

— Obrigado — ele disse com sinceridade. Por mais que eles não estivessem juntos como seu eu de 15 ou 16 anos sonhou, o que tinham agora era muito melhor. — Obrigado por nunca ter desistido de mim. 

— Não é como se eu tivesse alguma opção — ela disse, brincalhona.

Em perfeita harmonia, os dois se aproximaram, colocando os braços em volta um do outro com carinho. Apesar de muitas pessoas terem tentado acalmá-lo naquele dia, foi o abraço de Ophelia que, de fato, fez Alexander se tranquilizar. Ouvir dela que ele estava pronto, que ele seria um bom marido para Laryssa — pela qual Lia nutria tanto carinho — fazia o coração do Príncipe se sentir mais leve, de uma forma que ele não conseguia explicar.

— Alteza — um guarda chamou, assustando os dois jovens. Prontamente, eles se afastaram para encarar o recém-chegado, que continuou a falar. — Já está na hora. A noiva acabou de sair do Palácio. 

Alexander olhou para Ophelia pela última vez, recebendo um olhar encorajador da garota. Com as mãos tremendo, ele se dirigiu para seu lugar ao lado da escadaria que o levaria até o altar. Em seu caminho, observou o alvoroço de todos os convidados para terminar suas conversas e ir até seus locais designados. Assim como eles, o Príncipe se postou ao lado do pai, da mãe e do irmão, que sorriram para ele com orgulho. A sua frente, Ingrid, sentada ao lado de Elisabeth e da avó paterna — a Rainha-Viúva Amalia — também sorriu, sem nenhum traço da irritação de momentos anteriores. Mais ao fundo, ao lado de Alba, Serena, Aline e Thomas, Alicia fazia um sinal discreto com as mãos que fez Alexander rir internamente, tentando não perder a compostura. Todas as pessoas que ele amava estavam ali para apoiá-lo. Em alguns minutos, ele estaria casado com Laryssa. E, por fim, sentia-se pronto para isso.

A clássica Marcha Nupcial preencheu toda a igreja com sua majestosidade histórica. Prontamente, todos os convidados se levantaram, esperando a entrada da noiva. Momentos depois, as crianças sorridentes iniciaram seu caminho até o altar com a ajuda da Princesa Cecília de Navarra e de Ophelia. Logo à frente do pequeno grupo, Saphira vinha de mãos dadas com Esmeralda e Sebastián, que tiveram a honra de levar as alianças. Atrás deles estavam Caroline Mathilde, Sybbie, Althea, Philip, Rosalie e Isaak — os dois últimos, filhos de seu primo mais velho, Friederich. Alexander, porém, só conseguia prestar atenção em sua noiva, que caminhava com graça pelo longo tapete champagne de braços dados com seu pai, Robert Mercer.  

Depois de poucos segundos que mais pareceram horas, a comitiva da futura Princesa finalmente chegou até o Príncipe. Com lágrimas nos olhos, o pai da garota a entregou ao noivo. Laryssa, então, com os olhos azuis iluminados pelo reflexo dos diamantes em sua tiara, sorriu para Alexei, que retribuiu, encantado. Tentando não perder a concentração por conta da beleza hipnotizante da noiva, Alexander pegou sua mão e a conduziu com graciosidade pela escada que levava até o altar, onde foram recepcionados pelo bispo da Diocese de Funen — da qual a  a Catedral de Odense era a sede — vestido com as tradicionais vestes dos bispos dinamarqueses, as maiores autoridades da Igreja da Dinamarca.

Enquanto o clérigo conduzia a cerimônia, Alexander apenas conseguiu olhar para Laryssa, maravilhado. Seu vestido, apesar de simples, era perfeito para ela, destacando todas suas qualidades físicas. Seus brincos, os mais belos que o Príncipe já vira, realçavam, além da cor de seus olhos, toda a sua compaixão — já que seriam doados a uma organização que apoiava meninas vítimas de violência sexual. E, nossa, não parecia possível ela ficar mais bonita do que estava naquele momento. Dois anos antes, não imaginava que a Seleção poderia trazer alguém tão especial à sua vida. Em sua mente ainda infantil, ele apenas encontraria uma dama suficientemente adequada para o posto de Princesa Herdeira e logo se casaria com ela, talvez sem ao menos amá-la verdadeiramente. Tudo, porém, fora diferente do que ele imaginava. Ao ouvir as palavras do bispo, então, ele só conseguia ter uma certeza em sua vida: ele amava Laryssa e não conseguia imaginar uma vida sem ela a seu lado. 

 — Eu vos declaro marido e mulher — anunciou o padre por fim. — Pode beijar a noiva.

Sorrindo mais uma vez, Alexander se inclinou em direção à esposa. O beijo que os dois trocaram foi rápido, mas foi capaz de transmitir toda a alegria que os dois sentiam naquele momento. 

Quando se afastaram, Laryssa e Alexander se depararam com os aplausos contentes de seus convidados e com a alegria de ambas suas famílias. Eles estavam casados. Ela era a Princesa Herdeira da Dinamarca. E ele não conseguia conter as lágrimas que teimavam em se formar em seus olhos — por mais que ele tentasse manter a compostura. Ele nunca esteve tão feliz em sua vida.

Como ditava o protocolo, logo depois de serem anunciados como marido e mulher, os noivos se deslocaram pelas escadas do altar de braços dados para cumprimentar suas respectivas famílias em sinal de respeito e gratidão, tradição iniciada na realeza por Juliane e Christian. Passaram primeiro pelos Reis, aos quais se curvaram em uma reverência. Em seguida, foram até o resto da família dele, cumprimentando primeiro sua avó, que chorava copiosamente. Logo ao lado da Rainha-Viúva os irmãos de Alexander — todos os três, visto que a mais nova se juntara aos outros dois ao fim da cerimônia — comemoravam o casamento do primogênito. Assim que o casal se aproximou deles, Saphira deu um passo à frente para abraçar a cunhada. As duas Princesas sussurraram algo uma para a outra, fazendo a recém-casada rir antes de se afastar da pequena. Em seguida, Ingrid e Henrik também abraçaram Laryssa, que teve de segurar as lágrimas ao ouvir os votos sinceros de sua cunhada mais velha. Depois de cumprimentar também o irmão com abraços, o trio se despediu dos noivos, que já se deslocavam até o outro lado da escadaria com sorrisos radiantes.

Chegando à ala designada à família de Laryssa, ela e Alexei foram recebidos com abraços calorosos dos pais dela. Ao lado deles, Christine chorava com uma Isabella Aurora adormecida em seus braços, mal conseguindo cumprimentar os recém-casados. Se aproximando da tia, Lary passou a mão pela cabecinha da filha, tomando cuidado para não a acordar. Alexander, ainda de braços dados com a noiva, seguiu o seu exemplo e deu um beijo carinhoso na testa da pequena menina.  Ele mal podia acreditar que elas duas agora eram sua família oficialmente.

Por fim, o casal seguiu seu caminho até as grandiosas portas de madeira da catedral. No caminho, Alexander observou todos os convidados sorrindo para o casal. E a alegria genuína pelo casamento mais esperado dos últimos anos se estendia além das paredes da igreja, onde uma multidão esperava ansiosamente pelo Príncipe e pela Princesa. Milhares de pessoas, amontoadas na praça do outro lado da rua, balançaram bandeiras da Dinamarca e aplaudiam. Em toda sua vida — mesmo tendo crescido na realeza — Alexei nunca vira tantos dinamarqueses juntos comemorando um evento da Família Real. Esse era o efeito, ele ponderou, que Laryssa, sua linda e cativante Rainha dos Corações, tinha nas pessoas. 

Ele, então, olhou para sua noiva, que abanava para os súditos. Sentindo o olhar do marido sobre ela, Laryssa virou o rosto para ele, admirando-o com uma alegria que ele jamais vira em seus olhos. Os dois sorriram um para o outro, confidentes. 

Ao que tudo indicava, Alexander estava tendo um dia de sorte.


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Notas finais do capítulo

Com certeza, Alexander estava tendo um dia de sorte.
Esse capítulo foi uma dificuldade para mim porque eu tinha que descrever o casamento e, ao mesmo tempo, dar um *update* na vida de todo mundo. É claro, não deu pra falar de todas as pessoas que estavam presentes, mas tentei colocar todos os que viraram importantes ao longo da história (e eu seeei que a Juliane e o Christian quase não apareceram... com tanta gente, acabei optando por dar mais atenção à geração mais nova).

O que vocês acharam do rumo que esses personagens tomaram quase dois anos depos que a Seleção começou?

Espero de coração que vocês tenham gostado
Até mais tarde! (quando eu estarei aos prantos, com certeza)
xoxo ♥ ACE

PS: Não falei tanto quanto eu geralmente falo nas notas nesse capítulo pois estou guardando todo o meu sentimentalismo pro epílogo. Aguardem pelo textão HAHAHAHAHA



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