Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 67
Quinta Fase | Hannah e Alexander


Notas iniciais do capítulo

EAE GALERA! O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI EM UM DOMINGO?
Pois é, eu sei que o dia certo é quinta e que prometi que postaria no dia 6, mas muitos fatores impediram que isso acontecesse. 1- Muitas provas e trabalhos (como sempre), estava mortíssima. 2- atividades extracurriculares que também me matam. 3- 13 Reasons Why
Tá, não pensem que eu fiquei maratonando e não escrevi RDC, porque não foi isso que aconteceu. Olhei poucos episódios em cada dia, mas daí cheguei no 11º e fiquei tão, mas tão triste que tive que parar. Isso foi terça e, até ontem de noite, não conseguia nem ouvir música sem lembrar dessa desgraça. Daí o capítulo (esse) ainda precisava ser meio tristinho também e eu, geralmente, ouço umas músicas para me inspirar. Pronto, estava eu chorando ao invés de escrever. E, AINDA POR CIMA, o nome da menina da série é Hannah, o mesmo nome da narradora desse capítulo. Pronto. Foi a minha morte.
Eu não consegui olhar os últimos episódios, se vocês querem saber. Criei um bloqueio ENORME. Simplesmente não consigo continuar, porque tenho medo dos sentimentos ruins que tive ao assistir.
Nossa, sério.
Vou parar de contar os casos da minha vida e vou deixar vocês com o capítulo!
xoxo ♥ ACE



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Hannah hesitou antes de bater à porta do escritório da irmã. Desde o acontecimento trágico, elas não conversaram. A mais velha se trancara em um quarto, não querendo conversar com ninguém. A morte tão prematura da filha a abalara de forma inesperada, mais forte do que qualquer um poderia imaginar — já que a relação entre as duas era complicada —, como se tivesse sugado todas as suas energias. Muitos tentaram acalmá-la, consolá-la, inclusive a mais nova, que sempre conseguia tirar um sorriso de seu rosto, mas nada fora suficiente. Os demais membros da família, então, deixaram que ela ficasse sozinha.

Quando recebeu o bilhete avisando sobre a reunião naquela manhã, Hannah ficou surpresa. Não sabia qual era o estado de Juliane. Não sabia o que ela poderia fazer com aqueles sentimentos sombrios de sua alma. Ela poderia tomar qualquer medida, racional ou não. Era desesperador.

Antes que ela pudesse abrir a porta, porém, o sobrinho apareceu a seu lado. Suas vestes eram completamente negras. Seus cabelos estavam bagunçados, muito diferentes do que geralmente eram — arrumados como os de um perfeito Príncipe deveriam ser. Assim como a mãe, ele estava abalado e não conseguia esconder. Na maioria das vezes, todos seus sentimentos eram reprimidos, não demonstrados nem para os mais próximos. Sua alma era fechada por um cadeado. Mas perder alguém tão amada, um anjo em sua vida, quebrara toda aquela armadura de seu coração, o qual, finalmente, colocava para fora todas as tristezas e angústias.

— Mamãe não está aceitando o que aconteceu, parece que ela quer se isolar para não encarar a verdade — ele disse, sem tirar os olhos da porta branca em sua frente.  — Ela nunca ficou triste assim antes, estou preocupado.

— Ficou sim, 21 anos atrás, quando nosso pai, seu avô, faleceu. Eu tinha apenas 6 anos, mas lembro muito bem toda a tristeza dela, todas as noites que ela passou sozinha no quarto. Todos os dias que ela ignorou todo o resto da família, evitando qualquer menção ao acontecimento — ela respondeu, mexendo nos cabelos loiros soltos. — É melhor vocês todos deixarem ela aceitar com paciência. Não a apressem. Não vai ser rápido, não vai ser fácil, mas com o tempo ela aprenderá a conviver com a perda.

Ela passou a mão do braço do sobrinho. Ele suspirou. Hannah viu a tristeza em seu rosto também. O desânimo. A raiva pela pessoa que jogou a bomba que matou sua tão amada irmã. Tudo que borbulhava em seu coração como a água fervente.

— Eu sei que a saudade será eterna — ela admitiu com suavidade, fazendo com que ele finalmente a encarasse. — Mas todos nós teremos de aceitá-la em nossa vida, uma hora ou outra.

A tia, então, girou a maçaneta, abrindo a porta com cuidado. Os dois entraram juntos e de cabeça erguida no local, deparando-se com a mesma decoração de sempre, inclusive com todos os objetos nas mesmas posições — o que indicava que a Rainha não havia enlouquecido de vez. Uma figura atrás da mesa, porém, diferenciava aquela cena de todas as outras de dias anteriores.

Os cabelos geralmente tão brilhantes estavam opacos, sendo presos em um rabo de cavalo frouxo na altura de sua nuca. Seus olhos estavam cercados por auréolas escuras, que se destacavam em sua pele alva. Ela passava as mãos de forma nervosa pelos papéis em sua frente, como se tentasse fazê-los desaparecer. Fazer tudo o que estava escrito ali se tornar ficção. Ou até, se pudesse apagar tudo de sua memória e viver em eterna negação.

Antes de se sentar em uma das duas cadeiras, Hannah cravou o seu olhar fixamente na irmã mais velha. Ela retribuiu o ato, assim demonstrando, de forma silenciosa, todas as aflições de sua alma. Por mais que as duas tivessem quase 12 anos de diferença em idade, elas foram capazes de desenvolver habilidades para que comunicações silenciosas como aquela ocorressem. Enquanto todas as outras meninas da família se casavam, a caçula permanecia caçula, sendo o membro da família sempre disponível para as conversas mais profundas — e nos momentos mais estranhos.  Dessa forma, ela passara a conhecer todos os medos da outra. E esse, com certeza, era o maior de todos e, o que agravava a situação, o mais novo de todos.

— Eu sei que todos nós ainda estamos de luto, mas precisei chamar vocês para me ajudarem nessa fase de mudanças depois... — a Rainha parou por alguns instantes, encarando suas mãos, a fim de achar uma palavra que descrevesse a morte de sua filha de uma forma amenizada. — Do ocorrido. Teremos de nos organizarmos para cumprir o prazo estipulado por Christian.

— Como assim? — questionou Alexander, franzindo uma das sobrancelhas. — O que você quer dizer com mudanças?

— Seu pai não aguentou sofrer e ver nossa família sofrendo. Saphira, apesar de ter lidado muito bem com o assunto, teve duas crises de asma e está mais calada que o costume. Henrik prefere não sair de seu quarto e se tornou, nesses últimos dias, mais fechado do que já era. E, Ingrid, bom. Tivemos de chamar as amigas, Antonia e Florence, para distraí-la um pouco e tentar amenizar um pouco a dor — era perceptível a dificuldade que ela estava tendo para divulgar aquela informação, como se o fizesse contra sua vontade. — É uma situação terrível. Por isso, ele decidiu que devemos sair daqui, sair de Copenhague.

O Príncipe não respondeu nada, nem por palavras, nem por ações. Apenas permaneceu calado, com os olhos fixos na mãe. Nada, então, foi dito por longos minutos. Os três ficaram ali, encarando-se como se alguém realmente tivesse as soluções para todos os questionamentos que rondavam suas mentes naquele momento.  Nem mesmo Hannah, que sempre tentava descontrair os momentos mais sérios, não conseguiu dizer nada. Sua cabeça apenas viajava por todas as suas memórias para encontrar o nível de tristeza que era necessário para levar os Soberanos a tomarem uma decisão tão drástica.

— Vamos nos mudar para o Palácio Klitgården, em Skagen. Lá estaremos seguros, pois temos uma rota de fuga para a Suécia, caso algo aconteça, e também porque é um lugar isolado de tudo — a Rainha finalmente tomou coragem para explicar. — Henrik vai para o Império Latino-Americano. Ingrid vai voltar para a Noruega. Saphira possivelmente vai para a Suécia, mas a situação terá de ser analisada com mais calma pela junta médica. Infelizmente, não posso afastar você, Alexei, pois a Seleção ainda é muito importante para acalmar o povo, ainda mais depois dos discursos. As pessoas vêm esperanças nessas meninas.

— Mas não será perigoso para elas também? — perguntou o menino, mordendo o lábio inferior.

— Poderá ser mais ainda se mandarmos elas embora. Entretanto, não podemos levar todas para nossas novas habitações, porque o Palácio lá é consideravelmente menor — Juliane esclareceu. — A maioria dos criados também será realocada com segurança para outra propriedade da Coroa longe de Copenhague. Ficaremos apenas com um terço da capacidade de Amalienborg.

— Teremos de eliminar alguém hoje? — a Lady germânica, por fim, se intrometeu na conversa entre mãe e filho, fazendo com que sua irmã voltasse sua atenção para ela. — Não acha que o clima ainda está muito pesado para isso?

— Não haverá outro momento, Hannah — a mais velha replicou, massageando as têmporas. — A Senhora Gillies fez uma lista dos destaques positivos e negativos da última prova. Podemos checá-la aqui e, se você aprovar, Alexei, enviaremos um aviso às que permanecerão. Quanto às eliminadas, você pode ir ao quarto de cada uma para conversar e fazer uma despedida formal.

Mais uma vez, o rapaz ficou calado, assentindo apenas com a cabeça. A mãe, então, passou uma folha a ele. Assim, ele encarou o papel, lendo diversas vezes as palavras que ali estavam contidas. Seus olhos castanhos acompanhavam de forma rápida as linhas. Sua expressão facial mudava a cada leitura, a cada pensamento que passava por sua cabeça ao lembrar daquelas que eram donas daqueles nove nomes. Depois de longos minutos, enfim, ele levantou a cabeça novamente.

— E o que faremos sobre Layla? E sobre Ulrika? — ele disse, como se quase estivesse deixando o choro tomar sua seriedade. — Os casos delas serão simplesmente esquecidos?

— Aline está encarregada de resolver a questão de Layla. Por isso, inclusive, não irá a Skagen conosco. E sobre Ulrika… Não temos como saber. Estamos auxiliando a família a pagar todas as despesas hospitalares, mas não podemos prever como ela reagirá ao tratamento. O estado dela é crítico, você sabe — a Rainha colocou sua mão sobre a do filho com carinho. — Apesar disso, faremos tudo que está a nosso alcance para ajudar as duas.

— Eu não quero mais eliminar ninguém, mãe — o menino admitiu, fechando os olhos, provavelmente para evitar a reação da mulher em sua frente. —  Quero levar as sete meninas que ainda temos para o novo Palácio. Não quero deixá-las desprotegidas aqui, porque não temos a certeza de que as pessoas contra a Coroa e contra a Dinamarca na Guerra não as atacarão em suas casas.

Juliane suspirou e pensou por algum tempo. Era nítida em seu olhar a consideração que tinha pelas ideias do filho. Ela sabia que ele estava certo, que não poderia desamparar as meninas, deixando-as sozinhas naquele mundo cheio de perigos. Aquele menino, em uma idade ainda de tantas irresponsabilidades, estava tentando proteger suas pretendentes como ela, uma mulher adulta com tantos anos de experiência de vida, não pôde proteger sua própria filha. Hannah sentia a culpa no corpo da irmã. Sentia como aquilo a consumia, mais até que a tristeza.

— Tudo bem —  ela limpou a lágrima que havia se formado em seu olho esquerdo. — Nós daremos um jeito para acomodá-las.

Hannah, então, levantou-se, indo até a mais velha. Com muita delicadeza, ela a abraçou de lado, massageando seus ombros com os polegares.  

— Não chore — ela sussurrou.  — Vai ficar tudo bem.

E como ela queria que aquilo fosse verdade.

***

Querida Ophelia,

Os acontecimentos dos últimos dias me abalaram profundamente, como era de se imaginar. Perder uma irmã em idade ainda tão tenra é uma dor insuportável. Até agora, tentei não chorar, porque precisávamos de alguém na família que estivesse, ou pelo menos parecesse, forte para apoiar os outros, para que tudo não desabasse. Ver meus pais e meus irmãos sofrendo doeu no fundo de minha alma. Por mais que muitos — inclusive Saphira — digam que tudo acontece por um motivo, nesse acontecimento particular, eu discordo. Não acredito que o destino tenha preparado uma existência tão curta para Bella e, muito menos, uma agonia a pessoas que ela amava tanto.

Não vejo mais sentido em continuar levando uma vida normal após o ocorrido. A cada sala do Palácio que visito, a cada recordação pendurada na parede, lembro-me dela. De seu sorriso, de sua alegria, de sua voz melodiosa, de sua maneira de trazer boas energias a cada lugar que passava. Parece que, agora que ela se foi, tudo se tornou cinza, sem o sol que iluminava nossos dias. Não consigo imaginar o que será de minha família depois do luto, se é que haverá algo depois dessa tempestade pela qual estamos passando. Sei que Ingrid nunca irá aceitar, nunca mais será a mesma sem a sua tão amada e fiel companheira. A partir de agora, sempre existirá um lugar vazio na mesa, nos quartos, nas fotos de família, em tudo.

Por esse lado, achei até compreensível a medida de meu pai. Em Skagen, não veremos Isabella em todos os cantos, e as memórias em todas as salas não nos assombrarão mais. Nós nunca visitamos aquele Palácio antes.  Será um local totalmente novo, pronto para ser pintado com novos momentos. Mas, nesse novo local, terei de ser uma nova pessoa também, para evitar que algo assim aconteça novamente.

Eu sei que ninguém tem culpa para o que aconteceu com minha irmã, nós nunca poderíamos prever aquele terrível atentado. Mas existiam tantas outras coisas que poderiam ser feitas para evitar, coisas sobre as quais nunca pensamos, pois acreditávamos que a Dinamarca era segura. Agora, porém, sabemos que nada mais é seguro.  Que não estamos mais em um período de paz. Por isso, agora vi que não posso mais protegê-la, minha querida.  

Eu sinto muito. Muito mesmo. Por tanto tempo, não imaginei minha vida sem você, sem nossas conversas à meia noite e sem os beijos apressados e secretos. E eu gostaria, do fundo do meu coração, que nós pudéssemos continuar com isso para sempre, um dia até de forma oficial, sem termos de nos esconder. Mas as circunstâncias clamam para que eu cumpra com meus deveres de Príncipe. Continuarei a amando. Muito. Não posso, entretanto, colocá-la em risco, não posso esperar mais tempo e, no fim, acabar por destruir seus sentimentos.

A Seleção ainda vai continuar, se você está se perguntando. Meu coração ainda precisará ficar aberto para uma dessas meninas, a fim de continuar ajudando minha família — e, consequentemente a Coroa — a se reerguer. Não será tarefa fácil para mim, pode ter certeza. Lembrar-me-ei de você em muitos momentos, pois o que vivemos não pode ser apagado. Mesmo assim, uma delas será minha esposa um dia. Não sei qual ainda, porém esse destino é inevitável. Eu me casarei e não será com você, como sempre quis que fosse.

Espero, de verdade, que você entenda a minha situação e também que me perdoe por estar tendo de enviar uma carta a você. Não tenho coragem de proferir essas palavras sem chorar — ainda mais estando ainda tão frágil com a morte de minha irmã.  Meu coração transborda de amor por você e poderia amá-la para o resto da eternidade, mas, lamentavelmente, isso não será possível, e eu terei de abri-lo para novas aventuras.

Apesar disso, espero que possamos continuar com a amizade que me faz tão bem.

Amo você.

Com carinho,

Alexander

O Príncipe largou a caneta ao lado da carta, respirando fundo. Escrever aquilo fora, de longe, a coisa mais difícil que ele já fizera em sua vida. Mas, ao seu ver, não havia outra opção. Devagar, então, ele levantou a cabeça, se deparando com as grandes janelas logo a sua direita. Do lado de fora, as paisagens verdes e desabitadas de uma Dinamarca antes desconhecida passavam. Aos poucos, o destino final, na ponta mais longínqua do país, banhada por um mar azul apaixonante, ia se aproximando, assim como sua nova vida.


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Notas finais do capítulo

COMO ASSIM ELES VÃO SE MUDAR?
COMO ASSIM MAIS UM SHIP ESTÁ ACABANDO?
POR QUE EU FAÇO ISSO COM MEUS PERSONAGENS QUERIDINHOS?
Ai, tenho que parar com essa de ficar escrevendo em capslock no final dos capítulos.
O próximo capítulo sai daqui duas semanas, dia 20/04 (dessa vez vai dar certo, porque terei dois feriados nesse meio tempo). Continuamos com muitas emoções, agora na grandiosa cidade de Skagen!Olhem que fofa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Skagen (essa página é em português, mas sugiro a em inglês).
Até o próximo!
xoxo ♥ ACE



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