Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 64
Arte da Guerra | Wanessa


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! Como prometido, estou aqui no dia 16 com mais um capítulo suuuuper importante para a fanfic. Estou muito animada com todos eles, mas, ao mesmo tempo, estou com medo, porque não sei se vocês irão gostar. Dei o máximo de mim, é claro, mas estou dando alguns rumos para a história que podem ser bom... Controversos...
Ah, vocês verão.
Antes de começar o capítulo, gostaria de agradecer à Ally, à Ravena e à Rosalie por terem enviado os questionários! Todos me ajudaram muito para fazer esse discurso final que veremos aqui!
Então é isso!
Espero que gostem!
Até as notas finais
xoxo ♥ ACE
PS: Eu ia colocar essa imagem (https://farm4.staticflickr.com/3386/4560474131_45964d2e07_b.jpg) mas ficou esquisito hehe



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O movimento que a suave brisa de outono dava às nuvens quase não era percebido. O céu estava tomado por um cobertor de tons acinzentados — que poderia ser interpretado como uma pilha imensa de algodão doce por uma criança. O dia não estava dos melhores, com temperaturas que fariam qualquer habitante de regiões meridionais congelar e que faziam com que até os nativos se arrepiarem. Mesmo assim, os caminhos de pedra do Ørstedsparken se enchiam de pessoas de todas as idades, que faziam de tudo para alcançar o pequeno palco ao lado do lago.

Em cima dele estavam quatro belas moças, irradiando todo o seu brilho nobiliárquico naquele dia escuro. Wanessa, que se encontrava bem ao centro da estrutura, com seus cabelos ruivos vivos e ondulados que voavam suavemente com o vento, observava tudo com seus olhos azuis intensos. Para ela, era incrível como os dinamarqueses tinham ânimo para levantar cedo em uma manhã daquelas apenas para ver três das Selecionadas do Príncipe, um programa que, com certeza, nunca chamaria uma multidão daquelas em sua terra natal. Na verdade, tudo que eles iriam fazer ali era encarar três garotas comuns — e despreparadas — falando sobre assuntos que não compreendiam.

Não que ela se considerasse uma leiga nas questões que em breve iria tratar, porque, com certeza, não era. Por anos, fora praticamente obrigada a ler mais e mais livros de história, em especial os que examinavam as estratégias de guerra dos mais importantes comandantes de todos os tempos. O problema eram as duas companheiras ao seu lado, que caminhavam de um lado para o outro com os papéis de suas falas em mãos. Ulrika, a loira, que trajava naquele dia um vestido azul da cor do céu do verão com detalhes em preto, trazia uma expressão desolada, de quem estava prestes a desmaiar.  E Layla, bom, sempre com seu ar aristocrático irritante, passava as mãos de forma incômoda pelos fios de cabelo que se soltavam de seu coque alto. Por mais que Wanessa soubesse que ela estava nervosa — apenas analisando todos os seus movimentos da forma que o pai lhe ensinara  —, seu semblante sereno, com um sorriso que poderia acalmar até os mais estressados, escondia isso muito bem.

— Ficar rodando assim não vai ajudar em nada, meninas — disse a Princesa Isabella, levantando da cadeira na qual estava sentada mais ao fundo do palco. — Logo o discurso irá começar e ninguém veio aqui para ver as ‘esperanças da Dinamarca’ nesse estado.

Naquele dia, a terceira filha dos Reis estava mais bela do que nunca. Suas madeixas castanho-claras caiam como ondas sobre seus ombros que, por sua vez, eram cobertos por uma bela manta com tons de roxo e azul. O mais marcante em sua aparência, porém, era o sorriso, tão sincero, brilhante e, nos últimos dias, tão raro. Desde que a irmã gêmea fora embora, ela era vista vagando pelos corredores, completamente sozinha e desolada. Era uma visão desoladora, ainda mais sabendo que ela antes fora alguém cuja risada — segundo as revistas de fofocas — ecoava pelos corredores contagiando a todos. Até mesmo Wanessa, que geralmente não se importava com a alegria alheia, valorizava os momentos de luz nos dias escuros da nobre.

— Elas estão apenas nervosas, pois é nosso primeiro contato direto com o povo após o início da Seleção — respondeu a ruiva sorrindo de leve, como se estivesse tentando defender as companheiras com afeto. — Até pouco tempo atrás éramos apenas meras plebeias, nunca imaginávamos que um dia a habilidade de falar em público seria necessária.

As outras duas competidoras balançaram a cabeça em concordância, finalmente parando de andar. Isabella, mesmo franzindo o cenho, pareceu concordar. Não era de se estranhar que ela achasse um horror a angústia em um momento que, para ela, parecia normal. Wanessa sabia muito bem que a vida dos nobres era rondada por câmeras e por multidões desde os primeiros dias, desde as primeiras horas. Era extremamente comum a visão de um amontoado de pessoas a sua volta, assim como ocorria naquele parque.

— Eles não param de chegar! — exclamou Ulrika Amelie, quebrando o silêncio que se formara enquanto todas as quatro se afundavam em seus próprios pensamentos. — Será que os outros grupos terão tanta audiência assim?

— O Ørstedsparken é um dos locais mais visitados por nativos em Copenhague, principalmente por conta de sua localização central — a Princesa explicou rapidamente, arrumando a manta em seus ombros, mas sem tirar os olhos do extenso gramado. — Entretanto há um trio, acho que o coordenado pela minha tia Hannah, que está em Østre Anlæg ao lado do SMK*¹, um local bem mais popular.

— O trabalho de todas as meninas será difícil, independentemente do número de pessoas assistindo. Nós sabemos bem o quão fatigante é escrever um discurso sabendo que ele deve agradar diferentes faixas etárias e diferentes classes sociais — destacou Layla, cruzando as mãos de forma delicada em frente ao seu corpo coberto por um elegante casaco azul de casimira. — Eu sempre fui boa em matemática, sempre soube lidar bem com os números, mas nunca com as palavras, com a parte mais humana do intelecto. Essa é a minha superação no dia de hoje e creio que as outras meninas têm outras superações. Esse deveria ser o verdadeiro objetivo dessa prova, se é que não é.

Nenhuma das demais respondeu, apenas ficou em silêncio absorvendo o que fora dito pela morena. Tudo estava correto, é claro, mas Wanessa queria achar algo para contestar, algo mais inteligente que contradissesse os pensamentos da outra. Ela, infelizmente, não teve tempo para formular uma resposta completa. O ajudante de palco já estava se aproximando das estrelas daquela tarde. A mente agora deveria estar completamente focada no texto que elas escreveram dias antes. O pronunciamento oficial logo iria começar.

— Boa tarde, senhoras e senhores. Estamos muito felizes com a presença de todos aqui — falou Isabella com uma seriedade incomum, dando um passo à frente e fazendo com que o vestido branco por baixo da manta brilhasse com as luzes artificiais do palco. — Sabemos que muitos estão assustados com a Guerra, principalmente por não saberem nada ou pouco, ouvindo apenas as notícias dos jornais, sobre elas. Mas aqui estão as pretendentes do meu irmão, as Senhoritas Wanessa Claire Schultz, Layla Sophie Foester e Ulrika Amelie Senger, para explicar tudo e, de alguma forma, confortá-los.

O público bateu palmas para a jovem Princesa com tanto entusiasmo que a Selecionada ruiva passou a não ser capaz de ouvir sua própria respiração. E, assim, o momento chegara e o tão esperado e preparado discurso começaria a ser lido.

— Prezados dinamarqueses e dinamarquesas que nos prestigiam aqui nesta tarde tão fria, que saíram de suas casas para aliviar suas angústias sobre um assunto tão importante para todos: a Guerra. Nós, como parte do povo, entendemos todos os sentimentos que vocês provavelmente tiveram ao descobrir que nosso amado país é agora parte de um conflito tão sério — Ulrika começou, segurando com força o microfone que acabara de receber, e, Wanessa pôde perceber, com a voz um tanto trêmula. — A confusão, todos os questionamentos e, às vezes, até a raiva atormentam nossos pensamentos. E muitas dessas reações se dão por não termos essa oportunidade de compreensão que estamos tendo aqui. Passamos semanas estudando, adquirindo conhecimentos e tendo a chance de descobrir, no seio das decisões políticas, os motivos de tudo para revelarmos da melhor maneira com vocês.

— Devemos explicar que o conflito começou por conta do desejo da Turquia de tomar novamente os seus territórios gregos — a ruiva tomou a frente, evidentemente muito mais segura que sua companheira e com um sorriso confiante no rosto. — O que poderia ser apenas um simples desentendimento entre dois países vizinhos, virou um problema entre diversas nações, já que muitos dos governantes resolveram apoiar as causas ou de um, ou de outro lado. E a Dinamarca foi um deles. Mas é aí que nos perguntamos: por quê?

— O primeiro fato que devemos expor é que a Grécia sempre foi uma grande aliada e amiga de nosso país. Juliane, nossa Rainha, é neta da tão conhecida Sybil, que por tanto tempo foi regente dos territórios gregos — Layla entrou no discurso com toda a leveza e a sabedoria de sempre, se aproximando de Wanessa, que havia andado um pouco durante sua fala. — Não é só a ligação sanguínea, porém, que nos une aos helenos. Atualmente, os gregos compõem 25% dos turistas que buscam passeio em nosso país e 34% dos estudantes que são confiados a nós através dos ensinos universitários. Isso gera muitos empregos, ajudando no desenvolvimento da Dinamarca. Além disso, sempre que precisamos, a Grécia não a abandonou. Fosse com apoios econômicos ou sociais. E não será justo no momento de maior dificuldade de nossa irmã que a deixaremos.

— Mesmo com todos esses fatores que influenciam positivamente o apoio dinamarquês, muitos podem ainda não entender o porquê de o Rei Christian ter decidido arriscar tanto. Com a decisão de enviar nossas tropas aos cantos de batalha, ele põe em perigo não só os territórios, que estarão pouco protegidos contra investidas de outros inimigos, mas também seu povo e sua própria família, que, nós podemos dizer bem, ele ama muito — a outra, tocando de leve no ombro da que acabara de parar ao seu lado, continuou. — Nós pudemos, nesse período no Palácio, aprender que esse tipo de escolha é tomada com muita cautela, com uma verdadeira equipe de pessoas com uma capacidade intelectual incrível. Nada é por acaso. Tudo precisa ser feito a fim de proteger uma nação. Este é o nosso país e ninguém pode tocá-lo.

— E nesse período de dificuldades, devemos confiar em nossos governantes. Eles sabem o que fazem, têm consciência dos movimentos que tomaram no campo de batalha. Podemos acordar com barulhos de explosões, choramos quando parentes queridos são convocados e nosso coração reza para o fim se aproximar logo. Infelizmente essa é a realidade e ninguém escapa dela — Ulrika voltou com um pouco mais de firmeza e com a voz mais contínua. —Não mentiremos para vocês, pois também somos seres humanos. Esse é um período obscuro, mas infelizmente para salvar algo muito importante, outra coisa precisa ser sacrificada. Esta é a lei da vida e todos sabem disso.

— Como diria o antigo filósofo Voltaire “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”. Ela é sórdida e cruel, mas foi uma das poucas opções que restou ao homem para criar suas leis e sobreviver na sociedade. E em seu sentido dubio ela que garantiu ao homem ter seus direitos — Layla foi para a ponta do palco, encarando o público com um olhar intenso, como se passasse a sua coragem para eles. — Agora pode parecer que essa instituição não está a seu lado, mas lembrem-se: ela esteve sempre por perto quando vocês precisaram anteriormente, com as escolas de qualidade, os hospitais, a segurança e a manutenção das cidades. Agora, nesse período de dificuldades para ela, vocês precisam ser firmes e aguentar até o fim, para que a Dinamarca volte do conflito mais forte do que nunca.

Simultaneamente, as três meninas sorriram para a plateia, indicando que o pronunciamento havia acabado. Palmas ecoaram fortes pelo parque, trazendo a Wanessa — pela primeira vez em sua vida — um inexplicável sentimento de orgulho próprio.

***

Os tons quentes do pôr do sol ultrapassavam de forma encantadora as nuvens que antes tornavam a paisagem tão pacata.  Tudo se tornava laranja aos poucos, fazendo com que o parque — que já parecia ser criado pelas mais delicadas fadas da natureza — ganhasse uma áurea mágica. A água do lago reluzia toda a luz, as árvores se preparavam para receber a escuridão da noite que batia em seus cascos, os traços das pessoas entravam em metamorfose, ficando em seu momento de maior beleza antes de se esconder nas sombras. E, enquanto passava pelos diversos caminhos de chão batido à marcha lenta na bela carruagem pintada com flores, Wanessa só conseguia pensar em como aquele era o seu momento preferido do dia.

Desde pequena, quando o pai a permitia passear pelos jardins, ela amava sentir o calor suave de quando o sol se aproximava tanto da terra. Adorava correr por tudo, tocar em todos os elementos naturais que ficavam da mesma cor viva que seus cabelos, observar o último brilho antes da noite — que parecia infinita para a jovem garota — encobertar tudo, deixando que todos os segredos e as mentiras corressem livres sem serem percebidos. Eram os últimos minutos que ela tinha de paz antes que a verdadeira insanidade se iniciasse na residência, quando seu pai se sentia solto o suficiente para fazer tudo que quisesse. Eram seus instantes de plenitude.

E, naquele momento, apesar de estar tão longe de sua casa, ela se sentia da mesma forma. Depois de tanto estresse — por mais que ela não admitisse — por conta do discurso, ela finalmente podia relaxar. Sua única função era abanar para os plebeus que aparentavam estar mais felizes do que nunca por ver as tão belas pretendentes do Príncipe Herdeiro. Isso, é claro, se não carregasse um peso não programado em um dos bolsos de seu casaco, o qual colocara um pouco antes de sair do palco.

Ela sentia o objeto pulsar, indicando que, a cada segundo que passava, seu tempo diminuía. Seus pensamentos aceleravam no ritmo das batidas, suas mãos, as quais abanavam graciosamente, suavam, mas seu sorriso tinha de continuar firme. Nem o povo e muito menos as outras selecionadas e a Princesa podiam desconfiar de seus atos. Ela deveria permanecer com o semblante de perfeita dama, confiante e feliz depois de mais uma prova bem-sucedida, como andara fazendo em todos os outros dias de competição. Ela era uma profissional, não poderia deixar que o seu trabalho e o de tantas outras pessoas mais fosse arruinada por conta de sua falta de controle dos próprios hormônios que causavam tanta ansiedade.

Alguns minutos depois, ela sabia que estava na hora, que nenhum espaço extra para o nervosismo e indecisão seria aberto. Agora não existia mais volta, o plano seria cumprido — e, se tivesse sorte, com êxito. Ela apenas deveria seguir cada passo que Augusto lhe indicara, começando pelo primeiro deles: achar uma distração.

Seu belo par de olhos azuis esverdeados caçavam com toda sua vontade uma figura na multidão, aparentava uma felina em busca da presa, mas nada era do agrado de seus planos, nada que fosse digno do alvoroço que causaria. Todas as crianças tinham uma imagem muito comum, típica de dinamarqueses das classe mais abastadas, nada que causasse a comoção que ela necessitava. Todavia após vários instantes estressantes havia achado, por fim, uma menininha perfeita. Seus cabelos castanhos-claros estavam presos em um laço azul marinho, que não combinava em nada com seu grande casaco amarelo gritante, que se moviam de forma agitada tentando chamar a atenção das moradoras do Palácio. Claramente, ela vinha de uma das camadas mais pobres da sociedade — julgando também pela aparência da suposta mãe, que vestia uma calça marrom surrada e uma blusa de lã preta que de certo não esquentava nada. Era muito melhor do que a Selecionada imaginara.

— Olhem aquela criança! — exclamou a garota ruiva, apontando para a jovem plebeia. — Está tão animada para nos ver, acho que deveríamos parar para cumprimentá-la de forma adequada.

— Tudo bem — disse Isabella, sorrindo discretamente,  e logo virando a atenção para a pequena também, com toda sua compaixão de uma verdadeira nobre. — Condutor, poderíamos fazer uma interrupção na viagem, por favor?

Segundos após as palavras da Princesa, o homem fez com que os cavalos parassem, puxando com força as cordas em suas mãos. Assim que os animais foram devidamente estacionados no meio da estrada, Wanessa correu para o povo, encostando seus pés cobertos com sapatilhas pretas na grama um tanto molhada ainda por conta da geada da manhã. Não sabia se alguém a seguia, apenas continuava seu caminho até o alvo sem olhar para trás. Já estava suficientemente longe do veículo, depois dos limites estabelecidos por fitas para a população, quando chegou à menina, se ajoelhando em frente a ela.

— Oi, querida, vi você animada abanando para nós e quis vim conhecê-la — disse ela, envolvendo as miúdas mãos dela nas suas. — Qual é seu nome?

— É…

Antes que ela pudesse terminar a resposta, porém, um estrondo foi ouvido a poucos metros dali. Homens e mulheres corriam para todos os lados, assustados, acompanhando todo aquele cenário de horror com gritos agonizantes. A ruiva, por impulso, pegou a criança no colo antes de tomar qualquer providência. Quando, já com ela nos braços, virou-se para ter a mesma visão que os demais plebeus, avistou o fogo e a fumaça que surgiam por entre a paisagem e, focando um pouco mais os olhos, a carruagem que se deitava ao lado, completamente destruída.

O atentado havia ocorrido.

 

*¹ State Museum for Kunst — galeria nacional da Dinamarca


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Notas finais do capítulo

COMO ASSIM, PRODUÇÃO?
ATENTADO?
EXPLOSÃO?
GRITOS?
PÂNICOS?
CAROLINA ESTÁ D.E.S.M.A.I.A.D.A
NO CHÃO
Digam-me o que acharam!
O próximo capítulo sai (se tudo der certo e vai dar) semana que vem, dia 23/03
Até lá!
xoxo ♥ ACE



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