Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 55
Despedidas Geladas | Serena


Notas iniciais do capítulo

Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! Faltando apenas 30 minutos, mas ainda está valendo, até porque, mais uma vez, demorei séculos para postar. E, mais uma vez, me desculpo mil e uma vezes. A minha vida estava uma loucura, mas agora que as férias começaram, tudo se acalmou e tenho mais tempo para pensar sobre a fic com calma. Prometo que a partir de agora vou me dedicar mais e postar bastante (ou tentar, porque às vezes o ânimo está pouco, porém isso é outra história e vocês não estão aqui para ler meus dramas). RDC é o amorzinho da minha vida, saibam que eu nunca o abandonaria.
Para compensar todo esse sumiço, até fiz um post no blog (que foi "encomendado" pela Ravena). Leiam que está muito legal! http://rdccasareal.wixsite.com/fanfiction/single-post/2016/12/07/A-Ador%C3%A1vel-Joia-Latina
Bom, agora vou parar de tagarelar e deixar vocês com o capítulo! Espero que gostem!
xoxo ACE ♥



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A manhã havia sido muito boa, tão leve quanto costumava ser a infância de Serena antes da morte da mãe. Ver as lutas — mesmo que não fosse a atividade mais pacífica de todas — a divertira mais do que tudo nos últimos tempos. Daquela maneira, parecia que tudo poderia estar concentrado naquela sala, que o único problema eram as possíveis lesões dos competidores — e a aparição surpresa de Isabella em um dos combates. Até mesmo os gritos histéricos de algumas Selecionadas não a incomodavam como nos outros dias.

Ela sabia, porém, que nem todo o dia seria assim.  Poucas horas depois do período de lazer e do almoço, a duquesa siberiana estava em seu quarto — o qual já considerava seu, mesmo tendo ficado apenas alguns dias nele — arrumando suas malas. Os belos vestidos da coleção de sua amiga Camille, aos poucos, desapareciam dos armários, esvaziando-os.  Os tecidos passavam delicadamente por suas mãos enquanto ela dobrava as peças, fazendo-a lembrar tudo o que vivera naquele país na curta viagem.

Geralmente, os membros da realeza preferiam que criados guardassem seus pertences. Mas Serena gostava de fazer isso ela mesma.  Desde que saíra de casa — quando seu pai casara pela segunda vez — a menina tinha um sentimento diferente sobre esse ritual que muitos desprezavam. Assim, toda vez que visitava um de seus vários amigos nobres em países distantes, ela guardava um tempo, geralmente algumas horas, para realizá-lo. Para ela, aquilo era como uma preparação, um rito para terminar a viagem definitivamente, para perceber que estava na hora de ir para casa.

Naquela vez em particular, aquele rito era ainda mais significante. Não por ela ter visitado um país do qual gostava muito — já que era o lar de um de seus amigos mais queridos — ou por ela ter vivido ótimos momentos, principalmente aterrorizando Selecionadas, mas porque poderia ser a última vez que ela viajava assim. Última vez que o mundo estava como ela sempre conhecera. Última vez que veria seus amigos dinamarqueses e visitantes em tempos de relativa calmaria, antes que a guerra devastasse tudo. O mundo depois disso, para ela, era cheio de incertezas.

Os pensamentos da siberiana, então, foram para longe. Para as mais distantes lembranças. As primeiras viagens ao exterior — geralmente para o Reino Ibérico, onde residia sua melhor amiga, Camille. Todas as línguas aprendidas para se comunicar com todo o mundo. Todas as pessoas conhecidas nos mais diversos territórios. Memórias que poderiam não passar de pequenas luzes em sua mente depois daqueles tempos sombrios que viriam. Uma risada melancólica — uma das raras — saiu de sua garganta, ecoando por todo o quarto.

De tão envolta em seus devaneios, a menina nem ouviu o som fraco do ranger da porta a seu lado. Uma figura masculina surgiu por detrás do pedaço de madeira pintado de branco, aproximando-se lentamente da cama. Sua mão fina tocou de leve no ombro de Serena, que estava de costas para ele. Ela se virou, saindo do mundo dos pensamentos, finalmente reconhecendo seu visitante.

Era Alexei. Um dos personagens mais recorrentes das imagens da memória da menina, com todas as lembranças dos dois e de sua amizade quase que impossível por conta da distância. Assim como em todos os momentos anteriores, ele trazia uma expressão tranquila, como se estivesse alheio ao mundo. Como se não visse o que estava acontecendo fora de sua zona de conforto cheia de luxo.

Mas Serena sabia que ele não estava. Depois de tanto tempo conhecendo — e sendo admirada por — aquele rosto venerado por tantas plebeias dinamarquesas, ela conseguia perceber qualquer mínima mudança. Não que ela se sentisse como uma daquelas mães que sabiam o que seu filho queria pela maneira como eles choravam, ou qualquer coisa do tipo. Mas ela sentia a tensão no garoto. Via que suas sobrancelhas estavam franzidas de uma maneira diferente. E, apenas pela maneira como ele sentara no colchão perfeitamente arrumado decorado com almofadas vermelhas, sabia que estava preocupado, aflito.

— Você tem mesmo de ir embora? — ele questionou depois de alguns minutos de total silêncio, com a voz incrivelmente calma. — Tê-la aqui foi tão bom, apesar de que, com essa confusão toda de Seleção, eu não pude lhe dar atenção.

— Fiquei muito feliz de ter vindo também. Suas belas pretendentes foram ótimas de assustar, ainda mais quando você não estava por perto — ela respondeu, e os dois riram juntos. — Mas eu tenho assuntos importantes para resolver em outro lugar.

O rapaz contraiu os lábios. Seus olhos castanhos passaram por todo o quarto, por todas as paredes e móveis, porém sem encontrar com os da garota em pé em sua frente. Para pessoas desconhecidas, esse pequeno movimento daria a entender que ele estava com raiva. Serena, entretanto, sabia que não estava. Alexander poderia ter todos os sentimentos, mas esse não era um deles. Sua bondade, por mais que, na maioria das vezes, fosse mascarada por sua timidez, ultrapassava isso. Naquele momento, ele estava somente inseguro por conta de toda a situação em que se encontrava. Ele sabia que partir não era a escolha da amiga. Sabia que não era culpa dela.

— Não fique com medo. Você tem muitas outras pessoas para protegê-lo — ela afirmou para quebrar a falta de palavras do Príncipe. — Sua irmã, por exemplo…

— Nem vamos comentar. Mamãe quer matar Isabella por isso — ele disse, balançando a cabeça negativamente. — A única condição para ela poder aprender a lutar era que nunca se exibisse para ninguém além de nós, porque uma Princesa, a terceira na linha de sucessão ao Trono, não deveria ser mais que uma dama.

— Sua mãe deveria deixar as meninas mais livres — admitiu a Duquesa, sentando ao lado do garoto. — Sempre vi potencial em Isabella, até acho que ela deveria tomar seu lugar como herdeiro.

— Nem brinque — ele disse, cruzando as mãos em seu colo. — Nunca desejaria isso para nenhuma das três, prefiro que elas sejam mandadas pelos meus pais para tentar a felicidade em outro lugar. Quer dizer, isso se a Guerra não nos destruir antes.

Mais uma vez, os dois jovens nobres ficaram em silêncio. Nenhuma palavra, apenas o som da respiração e do canto dos poucos passarinhos do outro lado da grande janela. Um raio solitário de sol venceu a barreira das nuvens — que cobriam o céu naquele dia como um espesso cobertor — e iluminou de leve os cabelos de Alexander, fazendo-os ficarem dos mais diversos tons de marrom.  Seu rosto, naquela luz, estava angelical, fazendo lembrar de quando ele era mais novo, quando só o que ele fazia era admirá-la. Estando ele daquele jeito, ela só queria protege-lo de tudo. Da guerra, dos problemas e de qualquer outra coisa que pudesse machucá-lo.

Mas, infelizmente, ela não tinha o poder de fazer isso. Por mais que irradiasse tanta confiança, ela era só uma órfã de mãe, que por muito tempo não conseguiu controlar seus próprios sentimentos e que, agora, queria cuidar dos outros. Só o que estava verdadeiramente a seu alcance naquele momento era envolve-lo com seus braços. E foi o que ela fez, aproximando-o de seu corpo como nunca tinha feito antes. Em tantos anos de amizade, eles nunca tinham se aproximado daquela forma. Em nenhuma despedida. Em nenhuma das vezes que diziam adeus sabendo que só se veriam meses depois. Agora eles não tinham certeza de nada. Tudo poderia estar destruído quando eles se vissem novamente, se é que eles se veriam.

— Proteja-os. Suas irmãs, seu irmão, seu pai e ... — ela disse no ouvido do amigo, hesitando antes de continuar. — Por incrível que pareça, as Selecionadas. Elas serão mais importantes para toda essa situação do que você imagina.

Ela deu uma pausa e afastou o menino do abraço, segurando-o pelos ombros.

— Prometa — ela pediu, encarando com firmeza seus profundos olhos castanhos.

— Não precisa se preocupar — ele respondeu, com um sorriso tímido, porém sincero. — Eu prometo.

***

Diferente de todos os outros dias da visita de Serena aos territórios dinamarqueses, o clima naquela tarde estava frio. O estava céu cheio de nuvens, que mudavam suas formas por conta do forte vento, podendo escorrer suas lágrimas pelo solo a qualquer instante.  Parecia até que as forças superiores sabiam que aquele seria um dia triste para a Duquesa siberiana e resolveram pintar o momento com cores cinzas.

Toda a comitiva estava — assim como na recepção — do lado de fora se despedindo das siberianas. As poucas selecionadas restantes estavam em um canto mais afastado, conversando discretamente entre si. Os guardas estavam perto da porta, com suas grandes armas, sempre preparados para os ataques que poderiam acontecer a qualquer momento por conta da Guerra. A Família Real, como sempre, estava no meio com alguns de seus convidados, tentando se proteger do clima gelado com os casacões que apenas deveriam ser usados no inverno.

Serena, atrás de sua tia e primas, cumprimentava a família hospedeira — que, naquele dia, não estava completa, por conta das recuperações de aulas que haviam sido marcadas na Academia Militar para as gêmeas e Henrik.  Primeiro, ela foi para o mais óbvio, Alexander, com quem só trocou um olhar cúmplice que qualquer amigo de infância possuía. Em seguida, agradeceu a Rainha pela recepção.  E, por fim, apertou a mão do Rei, que, com a outra, segurava a filha caçula, que estava totalmente envolvida com os tecidos mais grossos e que escondia o rosto em um cachecol azul escuro. A Duquesa, então, passou a mão nas costas da pequena Princesa e balançou um pouco seus cabelos dourados — que saiam delicadamente da touca —, lembrando de todo o amor que o amigo tinha pela irmãzinha.

Camille vinha logo atrás, também se despedindo em sua maneira surpreendentemente moderna — nada como a habitual das famílias reais. Ela insistira em ir junto com a amiga, por mais que não fosse o desejo da mesma, mesmo que não estivesse nada envolvida nos assuntos que seriam tratados no destino final. Ela não queria deixar Serena ir sozinha. Segundo ela: “Se você morrer, o que será de mim? É melhor morrermos juntas, então”.

Terminada a Família Real, vinha as outras amigas de Sserena, aquelas que foram o motivo de sua visita. Aline, Alicia e Alba. Como de costumes, vestidas com os trajes mais finos, transbordando elegância. Era difícil imaginar que aquelas damas, que pareciam tão fúteis à primeira vista, eram tão inteligentes, a ponto de, inclusive, ter o poder de terminar uma guerra.

— Anotou tudo que tem que ser tratado com Anastásia? — questionou a Princesa britânica, segurando com força as duas mãos da amiga siberiana. — Nada pode ser esquecido.

— Pode deixar, posso ser irresponsável para muitas coisas, mas... — ela abraçou a colega e continuou a frase sussurrando em seu ouvido. — Isso é algo em que realmente acredito. Vai dar tudo certo.

Assim, a Duquesa foi para a próxima moça, Alícia, logo sorrindo para ela. Com a relação cordial que as duas tinham no momento, ninguém poderia imaginar que, aos 13 anos, elas se odiavam, já que ambas queriam o título de melhor amiga de Alexander. O tempo, entretanto, fez bem a elas, pois agora Serena adorava a ex-rival. Agora ela via toda a força que aquela menina com áurea angelical tinha.

— Não esqueça que o último quarto do corredor é meu — pediu ela, com seu sorriso divertido de sempre. — Logo me juntarei a você lá, então não vá se acomodando.

— Achei que você não fosse — admitiu a outra, rindo fraco. — Nos encontramos lá, então?

Alicia balançou a cabeça afirmativamente, enquanto já começa a se despedir de Camille — da qual se tornara amiga por conta de seu trabalho como Vice-Embaixatriz em território ibérico —, e Serena foi para a próxima. Era Alba a figura mais misteriosa das três que ali se encontravam. Como sempre, seu corpo estava quase completamente coberto por um lenço verde esmeralda, que realçava sua bela pele escura e deixava seus olhos muito bem maquiados ainda mais em destaque. A siberiana não podia negar que nunca se sentia confortável quando estava com aquela deslumbrante saudita. Mesmo com todas as brincadeiras e piadas, ela ficava tensa. E até naquele momento de despedida, a primeira coisa que pensou em fazer — e realmente fez — foi uma reverência.

— Deusa das Arábias — ela disse, no meio do movimento. — Espero que nenhuma de suas bombas caia sobre a minha cabeça durante a Guerra.

— Não vai — ela afirmou, inclinando a cabeça levemente para frente e cruzando os braços em frente ao corpo. — Eu estarei lá para impedir que o Sheik se subordine totalmente ao lado errado.

As duas sorriram uma para a outra, e Serena finalmente começou a se afastar. Ela seguiu atrás de suas primas e tia pelo caminho formado pelos militares dinamarqueses, tentando caminhar sem olhar para trás, para evitar as lágrimas ridículas que queriam cair por suas bochechas. Seus braços se enroscavam aos de Camille, encostando de leve os tecidos grossos dos casacos das duas. Em sua frente, a bela Rainha Odelle caminhava com toda a sua pompa, ofuscando qualquer um que estivesse em sua sombra, inclusive Serena e sua amiga. No final da espécie de túnel, porém, ela tomou seu caminho, enquanto as duas jovens tomaram o seu. O carro que as levaria a seu destino era outro, um pouco mais afastado do principal. Para os que apenas observavam, a Duquesa e a Condessa só iriam em um carro diferente porque o outro estava lotado. Mas as duas garotas sabiam que não era. Elas pegariam outro trem, iriam para outro país, seu destino era distinto.

Assim que as duas nobres se acomodaram no veículo, o motorista deu a partida, como se estivesse com pressa para deixar aquele clima horrível de despedidas. Tudo que Serena conseguia fazer era olhar pela janela, observando aquela extensa fila de pessoas que ela acabara de deixar se tornar, aos poucos, pequena, diminuindo cada vez mais com a distância. Em um piscar de olhos, o condutor virava o volante para dar a volta na estátua de Frederick V, começando a sair da área de Amalienborg.

Quando as paredes esconderam a praça formada pelas alas leste e oeste do Palácio, Serena finalmente olhou para sua amiga ao seu lado. Ela, mesmo sem nenhuma palavra, percebeu a aflição — sentimento quase inédito quando se tratava da famosa e dura Duquesa de Omsk — da outra. Assim, ela pegou a mão da siberiana e repousou em seu colo, com um carinho que só ela tinha. É, talvez não tivesse sido tão ruim a ter levado.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Serena sentimental? Ela e Alexei, que amor, não?
Bom, já é tarde e hoje teve a formatura (não a festa, essa é amanhã) do terceiro ano do meu colégio, logo, estou mortíssima. Espero que vocês tenham gostado do capítulo e que não me abandonem mesmo com todos os meus sumiços hehehe
Ah, vou responder aos comentários sem falta!!! Já tirei um pouco do atraso (no que eu digo um pouco é beeem pouco mesmo, porque foram só uns 2 hausdghsj). Agradeço por todo o carinho, não pensem que eu apenas ignoro. Leio com muito amor, mas às vezes não tenho tempo/não tenho clima para responder com todo o amor que gostaria e que vocês merecem, então acabo sempre adiando!
Até o próximo!
xoxo ♥ ACE



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