Inveja e Avareza escrita por Diego Lobo


Capítulo 5
Inveja e Avareza




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O sol entrou no quarto escuro em forma de uma linha fina. Isso foi o suficiente para acordar a garota de cabelos negros que dormia um sono leve. Verônica olhou para o lado e sua companhia da noite passada ainda estava lá.

— Christopher saia da minha cama. Já amanheceu! — reclamou a garota.

O rapaz de cabelos acinzentados abriu os olhos. Não mostrou interesse algum no pedido da jovem.

— Temos visita — disse tranquilo.

Ela olhou para onde o rapaz indicava com o olhar. Anna Belle, a avó de Mike, estava parada em frente à enorme cama de casal.

— Se divertiram muito? — perguntou a mulher com um tom sombrio.

Verônica se assustou com a presença da mulher no quarto. Fez um movimento para se levantar.

— Por favor, não se incomode. — falou a mulher seca.

— O que você quer? — perguntou Verônica impaciente — O que é tão urgente pra você vir até aqui nos presentear com sua agradável presença?

A mulher entortou a cabeça avaliando a situação dos dois jovens. Olhava enojada. Christopher não parecia dar a mínima para mulher ali de pé.

— Bom dia Christopher — Ele não respondeu — A razão da minha visitinha informal, é que precisava saber em primeira mão, como vai o relatório de atividade que eu pedi.

Verônica esquecera completamente. Não tinha nada por escrito, como fora pedido. A verdade era que nos últimos dias ela tem andado pensado em outras coisas. Planejado bastante.

Seu silencio foi à resposta.

— Você me desaponta cada vez mais. De todas as garotas que tiveram a honra de estar em seu lugar, você é a mais imprestável! —disparou à senhora de olhos afiados.

Verônica a encarou com ódio.

— Você me pediu para passar por uma garota patética! — disse ela com raiva — Odeio ser essa Sarah idiota! E o pior de tudo, odeio ter que passar mais de uma hora da minha vida com aquele seu neto perdedor!

A velha riu alto.

— Você é tão patética e perdedora quanto ele minha querida. Verônica, se não fosse por mim você seria uma modelo mediana perdida no mundo. Eu fui caridosa em te incluir na alta sociedade. Toda essa sua imagem pomposa de menina rica que veste roupas da mais alta moda, fui eu quem construiu! — ela avançou alguns passos como se estivesse a atacando com palavras — Se não fosse por mim… Quem seria você?

As palavras duras da mulher acertaram com vontade o rosto da jovem. Christopher ria baixinho de sua desgraça.

— Porque você não me deixa ir atrás de Cherry? — indagou com uma careta — Eu a odeio!

— Christopher já esta cuidando dessa parte. Na verdade eu acabei lhe incumbindo das duas tarefas, já que a sua você faz com tão pouco interesse!

Verônica desviou os olhos. Seus dedos se movimentavam frenéticos de baixo do cobertor de ceda.

— Mike anda fazendo um “trabalho voluntario” para escola! —contou Verônica.

— Sim, Christopher já me informou e esta trabalhando nisso. Algo mais?

— Ele e Muriel estão cada vez mais se entendendo… mais próximos!

— Isso já era esperado. O que mais?

Verônica não conseguia pensar em mais nada. A maioria das vezes ela só via o sexo como única alternativa para aguentar a presença do rapaz. Ele era atraente, mas muito tedioso para ela. “Bobalhão”.

— Ele… — tentava dizer. — Ele tem essa mania…

— Mania?

— Sim, é uma coisa compulsiva que ele tem… Esta constantemente fazendo exercícios. Parece um desesperado!

— Humm. Explique melhor — Anna Belle mostrou interesse finalmente.

—Todo o tempo ele fica preocupado em ficar mais forte. Vive se olhando no espelho e medindo seus ganhos musculares. É patético!

Ana Belle suspirou pensativa.

— Patético, de fato. —disse com um sorriso. — Faz alguma idéia do porque dessa obsessão com seu físico?

— É isso eles fazem, não é? Cultivam seus músculos! — resmungou Verônica.

Mas dessa vez foi Christopher que completou:

­ ­— Creio que seja outra coisa. — explicou com um leve sorriso — Acredito que ele esteja se preparando para alguma coisa. Um perigo futuro.

— Perigo futuro? — perguntou Verônica nervosa. Anna e Christopher reviraram os olhos.

— Richard — respondeu ele — Ele tem medo que ele vá fazer alguma coisa. Acredita que vá tentar impedir que vocês dois continuem juntos. Ou melhor… Que “Sarah” e Mike continuem juntos.

Fazia completo sentido é claro. Verônica entendeu.

— Parece que alguém aqui esta fazendo seu trabalho corretamente. — julgou a velha.

­— Ótimo! Mande Christopher ir pra cama com Mike no meu lugar! Problema resolvido — Anna Belle a ignorou.

— Isso pode ser algo a ser usado — A mulher bolava algo em sua cabeça. Parecia se divertir com isso.

— Você quer que eu faça o mesmo que fiz com Cherry? — concluiu Verônica.

— Exatamente — confirmou a mulher — Use todo o seu veneno nele.

Verônica sorriu. Finalmente encontrara algo de útil para fazer com Mike. Pensou em como seria maravilhoso ver o jovem desmoronar em sua própria loucura.

— Quero ser informada sobre todos os seus passos nesse plano — Anna Belle lançou outro olhar para os dois na cama — Quero ser poupada de outra cena como essa!

Em seguida saiu do quarto em silencio. Christopher levantou imediatamente.

— Mesma hora amanhã? — perguntou ele distraído.

Ela o fitou nu de costas, procurava por suas roupas no chão.

— Então — começou a dizer — Você anda passando informações para velha nas minhas costas?

— Sim — respondeu sem demonstrar nenhum arrependimento em sua voz — Mesma hora amanhã? Sim ou não?

— Amanhã não, Mike vai me levar a algum lugar idiota! — disse enojada — Algum lugar de comida barata provavelmente.

— Você é quem sabe. Eu não dou a mínima pra isso. — resmungou o garoto seco, saindo do quarto sem sua camisa.

Verônica levantou da cama e caminhou lentamente para janela. Era um dia cheio de sol. Ela detestava dias assim. Todas aquelas pessoas felizes que passeavam nos parques com suas famílias lhe davam náuseas.

— Droga! — reclamou — Aquele maldito levou meu cigarro!

A caixa que ela deixara na mesinha ao lado da cama desaparecera. Mesmo sem a motivação, que julgara que o cigarro a proporcionava, tentou colocar sua mente para funcionar. Pensar em como envenenaria a cabeça de Mike. “Foi tão fácil com Cherry”.

Lembrava-se muito bem do dia.

Foi pouco antes de Cherry e Alphonse viajarem para a America.  Estava no castelo quando viu o carro do Luxúria chegar trazendo a namorada.

— Aquela porca miserável — disse ela apertando os dentes.

Alphonse estava em seu quarto preparando as malas. Cherry aguardava por ele no grande salão do castelo.

— Esperando muito tempo querida? —perguntou Verônica deslizando até ela.

A garota bufou impaciente, não aguentava mais esperar.

— Quantas malas ele tem que levar? Quer dizer… Não vamos ficar a vida toda lá! — resmungou a garota.

Verônica fingiu rir.

— Você sabe como o Alphonse é! Às vezes acho que ele se encaixa mais na vaidade do que Luxuria.

Dessa vez foi Cherry quem riu.

— É verdade, ele esta mais pra vaidade do que luxúria ultimamente.. — Um segundo seguiu antes que ela continuasse — E acho que tenho que agradecer por isso…

— Oh, mas que bom! — exclamou Veronica em falsa surpresa — Então é verdade que ele anda se comportando?

— É — O tom da voz de Cherry indicava que ela não queria muito tocar no assunto, mesmo que fosse verdade.

— Nossa isso é muito bom mesmo! — exclamou mais uma vez ­— É claro que…

Cherry esperou o complemento daquela frase, mas ela não veio.

— O que?

— Não é nada querida — Verônica agitou a mão como se espantasse algum pensamento— Não é nada mesmo!

Cherry resolveu deixar para lá, mas Verônica disse mesmo assim.

— É só que, esperar que ele não esteja saindo com outras garotas é muito inocente da sua parte. Quer dizer… É claro que você sabe que isso acontece, mas o ama tanto que não se importa!

Os olhos de Cherry se estreitaram em uma investida ardente. Seu pulmão encheu de argumentos e questionamentos.

— Do que você esta falando? — soltou aos poucos — Alphonse não faria isso, pois ele já me provou que... sente o mesmo.

A garota parecia certa no que falava.

— Oh, por favor! Não pense que eu esteja querendo fazer inferno na sua relação com o Al! — Cherry fingia não escutar. — Não é isso que eu quero, pelo amor de Deus. Não! Ficou claro que você acredita na palavra dele.

A garota ainda não olhava para ela. Olhava para frente como se esperasse que algo viesse lhe tirar de onde estava em segundos. Mas aquilo não terminaria.

— A palavra da Luxúria… — acrescentou Verônica com um sorriso distraído — Isso sem duvida deve valer muita coisa!

— Olha. Eu já entendi aonde você quer chegar! — Mas Verônica continuou mesmo assim.

— Porque o Alphonse é o “cachorrão” perfeito, não é? Ele namora você durante o dia, isso é lindo é claro, mas a noite ele pode se deitar com quantas garotas quiser. No dia seguinte ele vai negar tudo com a cara mais limpa e sincera do mundo, pois ele já vai ter apagado todas aquelas garotas de sua mente para sempre! — Ela deu de ombros — É o “crime” perfeito!

Cherry agora escutava atenta. Lutava para não fazer isso, mas engolia tudo o que a cobra falava. Seu pé batia nervosamente no chão.

— Mas você sabe disso é claro — continuou a jovem — Continua com ele porque o ama e prefere acreditar em sua palavra… Como eu admiro sua coragem Cherry querida. Deve ser torturante não é?

A garota respirava com dificuldade, incapaz responder. Verônica sentia seu medo e isso a motivava a continuar mais e mais.

— Como saber quando ele esta falando a verdade sobre algo? Se for algo relacionado com alguém que ele dormiu ele ira esquecer não é verdade? — Ela se deliciava com suas próprias palavras. Poderia até cantar.

Cherry encarou Veronica, ainda sem saber o que dizer. Sua expressão firme de antes cedia lentamente as duvidas em sua cabeça.

— Oh… Não me diga que você realmente acreditava que ele era fiel a você? — Dessa vez ela exagerou no espanto fingido — Ele? O Alphonse? A Luxúria em pessoa?

— Cale boca! — rosnou Cherry. Sua expressão ameaçador indicava que ela não estava para brincadeiras.

— Acha mesmo que ele consegue passar horas, dias… Sem se deitar com alguém? A “Luxúria”? Sem os prazeres da carne?

Verônica soltou uma risada alta e prolongada

TAP

O rosto da jovem de cabelos negros virou com violência para esquerda. O som espalhou no enorme salão.

— Cale essa porcaria de boca. — Cherry tremia, mas disse aquilo muito seria.

Verônica olhava na direção a qual seu rosto foi obrigado a olhar, paralisada por um tempo. O sorriso foi crescendo aos poucos. Sentia a ardência em sua face, e aquilo lhe enchia de adrenalina.

— Você é tão patética Cherry! — gargalhou salivante— Sabe o que te faz tão patética a ponto de dar pena?

Cherry carregava fúria nos olhos, a respiração carregada.

— É o fato de você já saber de tudo isso que eu falei! Sempre soube que é verdade, não é? E mesmo assim continua com essa palhaçada! É digno de pena! — Verônica estava possuída por um ódio alucinante.

— Estou te avisando... — disse Cherry alterando seu tom de voz.

Mas Verônica explodiu.

— AS PESSOAS A SUA VOLTA TEM PENA DE VOCÊ! — berrou louca — PENA POR VOCÊ SER UMA CADELA COITADA QUE VIVE EM UM MUNDO DE SONHOS!

As lembranças acabavam ali. Cherry lhe acertara um soco com tanta força que Verônica tombou para trás inconsciente.

De volta ao presente, a jovem inveja colocou seu vestido preto de decote que ela tanto gostava. Com a delicadeza de sempre, pôs sua luva, também preta, três quarto. E para finalizar passou seu batom vermelho.

— Um visual tão perfeito. Pena que terei que estragá-lo me transformando naquela sem sal! — resmungou Verônica para seu reflexo no espelho.

Sua silhueta escultural foi afinando aos poucos. Sua pele foi tomando um tom levemente alaranjado, quase um dourado suave. Seu cabelo encurtou alguns centímetros e tornou-se loiro.

Verônica agora era Sarah.

A semana passou voando para Mike. Ele nem notara que sábado já amanhecia em sua janela e indicava que hoje teria “trabalho comunitário”.

AI! — gemeu quando tentou se levantar.

No dia anterior tinha exagerado bastante nos exercícios. Seus ossos e músculos estavam extremamente doloridos. A única coisa boa fora o encontro que teve com Sarah. No inicio teve medo de que ela não gostasse do restaurante que ele a levara, mas não parecia ser um problema para ela. A diversão veio mais tarde.

Mas o que realmente mexeu com ele foi um comentário feitodurante o encontro. “Você emagreceu?”, comentou no jantar, “ Esta parando de fazer exercícios?”. Aquilo ficou latejando em sua cabeça. Ele já não fazia exercícios o bastante? Talvez estivesse relaxando…

Muriel mais uma vez já estava fora de casa. O sol já cobria a casa completamente. Foi dolorido descer as escadas.

— Vai ser um longo dia —resmungou para si mesmo. Fazia isso a cada manhã.

Teria que preparar seu café e deixar o almoço pronto. A parte boa era que estava melhorando consideravelmente suas habilidades culinárias e hoje era dia de jogo de cartas. Muriel convidava um bocado de gente para jogar em sua casa, e era extremamente divertido.

Passou lentamente pelo sofá, David dormia tranquilamente ali. Estava muito cansado para voltar para sua casa e Muriel só voltou bem tarde com o carro, ultimamente tem feito muito isso.

— David — chamou Mike chutando o rapaz — Vai tomar café?

O jovem abriu os olhos por um segundo e depois fechou. Resmungou alguma coisa e voltou a dormir. Mike não insistiu. Tentou não fazer muito barulho quando preparou seu café da manhã. Pão, frutas e uma vitamina turbinada. Os preparativos do almoço que foram o despertador de David.

— Cara, você realmente leva jeito pra cozinhar! — disse o vulto que deslizou para cozinha — E para desenhar é claro!

Mike não tivera muito tempo para seus desenhos ultimamente. A verdade era que tempo ele tinha, mas lhe faltava a motivação de antes.

Deixou David no caminho enquanto dirigia até a escola. O ônibus não havia chegado e só um carro estava parado no espaço de estacionamento arborizado. Era o garoto magricela que sentara no fundo do ônibus.

 Mike se aproximou.

— Pensei que fosse o único a chegar tão cedo — Mike chegou meio sem jeito.

O garoto olhou rapidamente para ele e simulou um sorriso. Minutos se passaram até o ônibus chegar.

— Parece que vão ser só vocês dois daqui pra frente! — avisou uma das freiras — Os outros alunos mudaram de escola.

Mike não demonstrou surpresa, sabia que naquela escola muitos alunos só estavam de passagem. Quisera ele fazer o mesmo.

— Hoje, com a graça do senhor, vamos entregar comida e roupas também! — Outras freiras carregavam vários sacos com roupa.

— Ficaremos lá ate que horas? — perguntou Mike.

— Não vamos demorar não se preocupe — respondeu a mulher.

Esperou que fosse verdade, tinha planos para ele e Sarah naquele dia. Sempre os encontros aconteciam pela noite, então pensou que seria interessante sair com a jovem pela manhã.

— Chegamos! — exclamou a freira, interrompendo os planos mentais que Mike fazia em sua cabeça.

Percorreram o mesmo caminho até chegar ao amontoado de tendas. Uma mulher repleta de panos e joias veio para recebê-los, com toda a simpatia cigana.

— Bom dia! — disse de braços abertos. Mike e o jovem magricela riam enquanto a mulher abraçava e beijava as freiras, totalmente sem graça. Era uma cena impagável.

A freira fez sinal para que circulassem e realizassem suas tarefas. Mike com o saco de roupa seguiu em frente em meio a varias pessoas. Crianças corriam por toda a parte, mulheres desfilavam com roupas diferentes, velhos cantavam e tocavam instrumentos. Estava igual à vez passada, só que todos agora se dirigiam para o mesmo lugar.

Era uma imensa roda de pessoas. Não só ciganos, mas moradores de NewCastle que visitavam o parque. Todos olhavam para a atração que estava em seu centro.

Alguém cantava acompanhado de uma musica.

“Venham todos, se aproximem! Escutem a historia que vou contar!”

Mike se espremeu entre as pessoas para tentar ver quem estava cantando. Era uma jovem de cabelos cor de rubi. Tinha um pano verde na cabeça, posto delicadamente sobre todo aquele ruivo vivo ondulado. Sua roupa descia até os joelhos, exibindo uma “tornozeleira” brilhante. Ela girava com graça ao som da flauta e dos banjos. Seus olhos fechados guardavam um verde precioso. Que Mike já tinha visto.

— Nadya. —concluiu com um sorriso.

A garota estranhamente pareceu reagir àquela conclusão silenciosa parando por um segundo, mas continuou a cantar mesmo assim.

Crianças! Jovens! E Adultos…

Escutem com atenção!

A música parou. Ela abriu seus olhos milagrosos e começou a cantarolar sua historia:

Foi em um reino distante,

 Em uma época distante,

Que nossa estória começa…

A flauta tocou leve.

Era um lugar tão belo, com rios azulados, árvores cantantes e o povo mais alegre que existira em todo o mundo!

Tudo isso se devia, porém, ao seu amado rei.

Não era um rei qualquer. Era um rei feliz!

Mas porque isso o tornava diferente dos outros?

Ela fez a pergunta para a platéia interessada. As crianças atentas riam e davam pistas.

Porque era importante que ele estivesse feliz! — gritou uma garotinha

“E por que era importante que o rei estivesse sempre feliz?”

Estava obvio que fazia parte da encenação da historia. Um garotinho levantou a mão, animado. Os outros espectadores riam.

— Porque ele era mágico!

Isso!

Quando ele estava feliz, seu reino era prospero e iluminado.

 Quando estava triste, era chuvoso e cinzento!

Tudo estava bem, enquanto o rei permanecia feliz!

Mas a guerra chegou próxima ao reino, e seu filho era o guerreiro mais corajoso que ali existia!

Mesmo com a relutância do rei, ele foi á guerra.

Mas algo aconteceu…

 — E o que foi? — Nadya perguntou.

Uma garotinha com um pano laranja na cabeça disse triste.

— Ele morreu.

“Sim ele morreu, que triste fim levou!

O rei desolado mergulhou em uma tristeza sem igual!

E foi seu reino que sofreu…

Veio à chuva

Os raios e trovões também!

Nada mais cresceu, pois a terra não era mais fértil

Veio à pobreza!

Veio à morte…

O que fazer então para que seu rei não destruísse o próprio reino?

Começaram a tocar uma musica em tons que desciam e subiam. Nadya começou a dançar e cantar. As crianças a acompanharam.

O que fazer?

O que fazer?

Para o rei voltar a sorrir!

Oh será?

Que alguém…

Possa alegrá-lo?

A música parou novamente.

Então…

Uma figura desconhecida chegou ao reino.

Um poderoso mago que dizia que só ele poderia entreter o rei!

Depois de tantos que tentaram…

Ele seria a salvação?”

Outro silencio, rompido pelo toque suave do banjo.

O mago, que se escondia em suas vestes negras, foi de encontro ao rei.

O rei, que tão triste passou os últimos anos, admirava a tentativa de tantos em alegrá-lo de trás de um véu feito de solidão.

Sem dizer nada, o mago estendeu sua mão!

Nadya fez o mesmo, acompanhada de olhares.

Fogo, Água, e trovões!

Luzes de todas as cores, espectros assustadores!

O mago mostrou ao rei…

E todos que assistiam a tal espetáculo, maravilhados ficaram com tamanho poder.

O rei em seu lugar, moveu sua silhueta em sinal de aprovação.

E nada mais!

O clima melhorou um pouco.

Não havia mais chuva, nem trovões…

Mas o céu ainda era cinza.

 O solo infértil.

E assim se passaram vários anos!

A música retornou. A flauta estava mais animada e Nadya girava com mais vida.

“O que fazer?

O que fazer?

Para o rei voltar a sorrir!

Oh será?

Que alguém…

Possa alegrá-lo?”

Nadya fez sinal para que tudo parasse. O silencio tomou o lugar.

O maior mago do mundo não era o suficiente?

Existia ainda alguma esperança?

Talvez a resposta estivesse em uma velha choupana.

Avistada pelo grande mago, enquanto caminhava pelo reino.

Uma musica estranha.

Não cantada há anos!

Que era mais ou menos assim…

A cantoria viria a seguir, Mike pensou.

Flores, Árvores e Animais!

Cantem junto comigo…

Com grande alegria e magia no ar!

Vocês vão crescer e espreguiçar!

Silencio.

O mago deparou-se com um canto fantástico!

Onde frutos e animais cresciam saudáveis.

Mas quem era responsável por tal magia?

O mago  descobriu o responsável.

UMA CRIANÇA? Pensou surpreso.

Sim!

Uma pequena criança ele era!

O mago lhe perguntou:

 - Pequenino onde estão seus pais? - Ele respondeu simples

- Morreram meu senhor. Vivo aqui com as plantas e os animais!

O mago se encheu de curiosidade e perguntou:

- Há anos seu reino sofre com a tristeza de seu rei. Você gostaria de tentar agradá-lo?

O garoto pensou muito antes de responder:

- Sou pequenino, inexperiente demais... como posso eu agradar nosso rei?

O Mago se aproximou.

- Se conseguir alegrá-lo e descobrir seu segrego, então, pequenino, você será rei!

O pequeno garoto seguiu o mago até o castelo. Tinha muito medo é claro.

A multidão observava o pequeno com desprezo e curiosidade nos olhos.

- Tão pequeno!

- Que nanico!

- É uma ofensa ao rei!

Diziam as vozes.

- Como pode essa criança? Alegrar ao rei?

Agora era Nadya que tocava o banjo.

O rei em seu véu não teve nenhuma reação quando o garoto chegou.

Parado no centro do salão, a criança sentia saudades de suas plantas e animais.

O lugar era frio e sem vida.

- E então pequenino? Faça das suas!

O garoto olhou para o homem atrás do véu. E cantou.

Meu rei

Meu rei

O teu povo sofre!

Alegre-se e deixe o sol brilhar!

Seus dias tão bons ainda não se foram.

Dê-me uma chance de te alegrar!

Mas por favor, me diga.

Diga-me, por favor…

Quem é este atrás do véu?

A plateia agora surpresa. Ria da cara de espanto da garota cega.

- Do que esta falando garoto, o rei esta á sua frente!- disse alguém.

- Esse atrás do véu não é o rei. Não. O nosso rei não esta lá!

Rápidos, o povo apressou-se em despir o véu.

Não havia rai algum e sim um boneco de madeira.

- Mas como?

- Como pode ser? — exclamaram todos em surpresa.

O pequenino se virou, para terminar sua canção.

Seu filho você perdeu.

E muito sofreu.

Mas pense em seu povo!

Você até tentou mudar sua tristeza, mas foi em vão!

Como poderia ele mudar?

Se o Mago e o Rei… o mesmo são!!

Nadya fez uma expressão surpresa, se contorcendo de modo teatral.

Parou de cantar para que todos exclamassem:

 SERÁ?

O mago calmo despiu suas vestes.

Lá estava o rei!

Tanto tempo escondido por de trás do véu da tristeza.

Foi sua vez de cantar:

Minha tristeza tentei mudar, mas foi em vão!

Como poderia ele mudar?

Se o Mago e o Rei… O mesmo são!!

Assim a musica e a cantoria acabaram. Os aplausos tomaram conta de tudo.

— O pequenino virou rei e o mago nunca mais infeliz foi — contou Nadya — Essa historia é para mostrar que até uma criança pode enxergar o óbvio. A cegueira estava no coração!

Todos se comoveram com a conclusão da historia enquanto ela fazia uma reverencia. Emanava uma alegria única. O que era? O que aquela garota cega tinha de tão mágico? Era sua aparência única?

Aquela voz preciosa, que tocara o mais profundo coração, acordara qualquer criança que estivera enterrada no peito de alguém.

Abrindo os olhos ela fez o feito final. O elemento que concluía todo o conjunto de perfeição. Todo o encantamento que aquele ser possuía.  Mas aqueles olhos, de um verde tão impossível, jamais conseguiriam ver o jovem de cabelos castanhos, bobo, sem palavras ou qualquer outro indicio de movimentos calculados e que estava inexplicavelmente apaixonado por ela.

Longe dali um rapaz de cabelos acinzentados atravessara um enorme jardim expeço. Olhando para o caminho que havia feito em tanto mato, ele esticou sua mão para tocar em uma folha.

Em segundos todo o ambiente verde vivo, composto de diversos tipos de plantas, transformara-se em um enorme jardim cristalino. As folhas, que antes transformavam aquilo em um verdadeiro labirinto agora eram transparentes e feitas de um gelo fino.

Christopher olhou para seu trabalho com um sorriso satisfeito.

Uma pequena lebre que vivia ali saiu de sua toca assustada com o frio. O jovem agachou com delicadeza para admirar a criatura de pele branca como a neve. “A ultima peça da minha obra de arte” pensou. E tocando o animal com seu dedo ele se transformou em uma pequena escultura, eternamente parada no mesmo lugar.

— Perfeito — sorriu.

Seu celular tocou lhe privando de seu momento de felicidade.

— Sim?

— Você já chegou? — perguntou a voz do outro lado da linha. Ele reconheceu imediatamente que era Ana Belle.

— Sim. Estou aqui na casa de sua querida irmã. — disse o garoto admirando a casa a sua frente.

— Muriel esta em casa?

— Não, devo esperar?

— Sim. O tempo que for necessário — Exigiu a voz — Tem que ser por suas mãos, não se esqueça!

— Sei como aprecia minha arte, mas o que acontece se Mike chegar primeiro?

— O que você acha?

O garoto sorriu novamente. Seria uma coisa linda de se ver, Mike com a cara de espanto, eternamente assustado.

— Não se preocupe, não vou sair daqui até matar alguém.

— Ótimo. — desligou a mulher.

Christopher abriu o seu quarto sorriso do dia. Ele não teria que esperar muito, pois alguém estava chegando e o cheiro de cigarro impregnava todo o lugar.


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