Desde o inicio eu percebi que aquilo não ia dar certo.

Primeiro, James e Fred que planejaram a maior parte do plano, e por mais que eles fossem meus primos mais chegados ( sem contar Rose e Roxanne) eu sei que não são exatamente gênios.

Segundo, eu tinha que sair depois do toque de recolher pelo castelo até a ala norte, perto da sala do zelador, e ser encarregada de entregar na sala e soltar uns bichinhos endiabrados que Tio Jorge vendia na loja. E tudo isso eu tinha que fazer em dupla com minha querida Katherine.

Mas enfim, por mais que não fosse uma coisa muito segura eu prometi a mim mesma que ia tentar mais uma vez. Ia parar de me estranhar com James, aceitar seus novos amigos e me divertir. Quanto a Katherine? Bem, paciência é uma virtude lufana.

Então cá estou eu caminhando sorrateiramente por um dos milhares de corredores escuros do castelo ao lado de Katherine. Nós duas estamos com sacos cheios de bichinhos que ficavam se remexendo. Esses coleguinhas tinham armado a maior confusão no último aniversario do Tio Rony... Minha mãe ficou desesperada quando um pouco entrou pelo decote do seu vestido e eu apenas fiquei em cima do sofá rindo daquilo tudo, me segurando em James para não cair de tanto gargalhar.

_ Você entra lá e solta esses trequinhos! – Katherine sussurra quando chegamos na porta do zelador. – Eu fico aqui fora vigiando e dando cobertura se preciso...

_ Não acho que será preciso... A missão de Fred e Nicholas é distrair o zelador certo? – digo tentando abrir a porta, mas ela está trancada. – Alohomora!

_ É, mas não acho que podemos ficar confiando nisso... – Katherine diz segurando um riso e cruzando os braços.

_ E em você? – pergunto e ela me olha com a testa franzida. – Posso confiar?

_ Claro Nique! – Katherine diz sorrindo mas aquilo não me fez relaxar. Não confiei nada naquilo. Desviei meu olhar para o laço com de rosa enorme que ela usava nos cabelos e ri daquilo fingindo que estava correspondendo seu sorriso. Dei as costas e entrei na sala.

Aquele lugar fedia a picles, o que era estranho. Tinha uma escrivaninha simples, uma cadeira e um montes de estantes e prateleiras de arquivos. Percebi que tinha uma gaveta bem embaixo que, em um adesivo desgastado, estava escrito “Fred e Jorge Weasley”. Sorri com aquilo e me concentrei em desamarrar o saco, abri uma das gavetas e soltei cuidadosamente os diabinhos ali dentro. Um deles vou para fora, e quando tentei bater dele ele fincou os dentinhos minúsculos na minha mão. Sua mordida não tinha mais do que dois centímetros, mas coçava horrores!

Enchi mais duas gavetas e alguns arquivos com eles, abaixei jogando o restante embaixo da mesa, enrolei o saco e corri para fora dali, mas quando abri a porta não foi Katherine que eu achei, e sim o zelador.

_ Ora, ora, ora... – ele disse arreganhando aqueles dentes amarelos e tortos. O zelador Otto não aparentava ser muito velho... uns 50 ano no máximo, mas ele era praticamente careca, corcunda e seus dentes tortos e enormes me faziam lembrar do Bob Esponja. Otto era o corcunda de Notre Dame com dentes de Bob Esponja. E estava olhando para mim de um jeito assustador.

_ S-Senhor Otto! Co-como está? – digo com a voz tremula. – Bela noite não é? O senhor não acha que é uma ótima noite para tomar um belo chocolate quente? Lá na cozinha os elfos fazem um maravilhoso! Porque não vai lá?

_ Detenção! Amanhã a noite. – ele diz tremendo o queixo e eu suspiro derrotada. – O que estava fazendo na minha sala?

_ N-Nada...

_ E nesse nada você tinha comparsas?

Tinha meus dois primos idiotas, outros dois que eu não conheço direito e uma menininha que eu realmente não posso confiar...

_ Não, estou sozinha. – digo abaixando a cabeça e encarando meus pés.

_ Ótimo... Eu vou descobrir o que você estava fazendo aqui... Enquanto isso você vai para seu dormitório, e amanhã a noite se apresente aqui novamente para sua detenção. – eu afirmo com a cabeça e começo a ir embora. – Ah! O diretor da sua casa ficará sabendo disso!

Voltei para a Lufa-Lufa sem encontrar mais ninguém, entrei rápido no dormitório e enfiei nas cobertas sem trocar de roupa pensando no que será que aconteceu... Onde Katherine se meteu? E os meninos?

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No dia seguinte não encontrei com nenhum deles na café da manhã e fui para minhas aulas que nessa manhã seriam todas fora do castelo. Primeiro fiquei perto da floresta tendo uma aula sobre gnomos em Trato de Criaturas Mágicas.

_ Não sei para que essa aula... Eu já conheço esses pestinhas muito bem.- resmungo segurando um gnomo extremamente gordo pelo seu tornozelo.

_ Mas nem todos conhecemos, então... por isso a aula. – Jack diz ao meu lado. Nós ainda não tínhamos nos falado hoje, e nossas conversas eram sempre meio assim... Sem um oi, como vai?

Apenas começamos a conversar.

_ Você nunca tinha visto um gnomo? – pergunto curiosa jogando meu gnomo para longe e marcando a distancia mais ou menos no meu pergaminho.

_ Não.

Nosso incrível diálogo terminou por ai. Depois tivemos aula de Herbologia nas estufas e marchamos meio atrasados para o almoço.

Da minha mesa eu vi Victorie conversando animadamente com Teddy, que hoje tinha cabelos azuis. Eles sorriam toda hora e quando minha irmã se levantou o menino recebeu um beijo na bochecha. Ri da cara de bocó que Teddy ficou e voltei a comer indo correndo para minha aula de Poções.

*

No final do dia eu estava muito cansada, e quase me arrastei para a sala do zelador. Eu tinha tido uma breve conversa com a diretora da minha casa, a velha professora Sprout, e infelizmente tinha perdido cinco pontos da Lufa-Lufa. Por não parecer muito, mas minha casa sempre lutava por cada ponto já que era bem difícil vencer das outras casas.

Suspirei e bati na porta entrando em seguida.

_ Boa noite Senhorita Weasley. – Otto diz me olhando brevemente e voltando a escrever o que parecia ser um relatório. – Sua detenção será limpar a Sala de Troféus, lá já tem os panos e tudo o mais. Deixe sua varinha aqui e venha buscar quando terminar.

_ Sério? Não tinha nada mais original? - resmungo deixando minha varinha na mesa e ele sorri.

_ Velhas detenções tendem a surtir mais efeito.

E com essa estranha frase eu fui embora reclamando de como a sala de Troféus era longe da sala do zelador. Eu cruzei quase o castelo inteiro!

Cheguei finalmente na Sala onde os troféus já foram limpados por milhares de alunos infratores, e então percebi que não era a única ali.

_ Tá fazendo o que aqui?

_ Olá, boa noite, como vai? – James pergunta sarcasticamente. Ele estava sentado com um enorme troféu no colo. – Ah, eu vou bem e você?

_ Pare de graçinha! – digo cruzando os braços. – O que você está fazendo aqui?

_ O que parece? Estou de detenção, limpando os troféus... – ele responde mostrando o paninho. – E também estou me perguntando porque o zelador não inventa umas detenções mais originais...

Eu reviro os olhos e pego outro pano que tinha ali. Escolho a estante com troféus menores e começo meu trabalho em silencio, bocejando de vez em quando. Depois de um tempo lendo as palavras “...serviços prestados a escola...”, “... por honra e bravura...”, “... em memória de..” eu já estava quase dormindo em cima dos troféus e brasões.

_ Acho que já deu né? – James pergunta me fazendo aprumar e coçar os olhos. – Daqui a pouco você vai começar a babar nos troféus...

_ Só estou com sono.

_ Ah, não me diga? – ele diz rindo e eu me levanto encarando ele. – Vamos?

_ O que aconteceu ontem hein? – indago colocando as mãos na cintura. – Para onde foi a bobona da Katherine?

_ Ela conseguiu correr e fugir para a Sala Comunal, você não. – ele responde dando de ombros.

_ O que..? – engasgo incrédula. – Ela estava de guarda na porta da sala do zelador. Era para ela me avisar se algo acontecesse!

_ Kat deve ter entrado em pânico, acontece... – James diz. – Ela não teve culpa... Na verdade Fred não conseguiu segurar o zelador a tempo...

_ Ok, a Kat entrou em pânico e eu fui pega. – digo cruzando os braços. – Mas não vamos entrar nisso não... Porque, pobre Kat! Ela não teve culpa de nada!

_ Hey! Calma Nique. – ele diz levantando as mãos.

_ Calma nada James! Eu cansei de você colocar seus amiguinhos em primeiro lugar! Nem sequer liga mais para mim. Só nos vemos e conversamos quando você não está ocupado com seu novo grupinho! – exclamo jogando tudo que estava entalado na minha garganta.

Eu mesma fiquei surpresa com aquilo. Ainda acha tudo um sentimento muito mesquinho. Eu parecia uma mimada com ciumes tendo um piti, mas não podia evitar.

_ O que? Nique, porque você acha que eu estou aqui? – ele pergunta me olhando com os ombros caídos. – Eu já estava na minha sala comunal quando Katherine chegou e disse que você tinha sido pega. Então corri para fora e deixei o zelador me pagar para você não ter que pagar por tudo sozinha!

_ Todos nós devíamos estar pagando... – murmuro relaxando um pouco depois de ouvir o que ele fez. Era um bom ato de amizade. – Era o justo.

_ Tanto faz, mas você não pode falar que eu não ligo para você. – James diz olhando para baixo. – Nós não estamos juntos toda hora como antes, mas é porque nossas aulas são quase todas separadas, e os horários não batem... Mas você ainda é minha melhor amiga Nique.

_ Não parece ligar na maior parte do tempo. – digo cruzando os braços e ele suspira.

_ Você faz muito drama... Olha, vamos fazer assim ok? Todo sábado a tarde, será o nosso tempo. Só nosso. – James diz bagunçando aqueles cabelos espetados.

_ Todo sábado?

_ Todo sábado.

_ OK James. – suspiro e ele sorri. Nós vamos conversando pegar nossas varinhas e seguimos para os dormitórios.

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Paciencia. Justiça. Perseverança.

Tudo isso eram qualidades de lufanos, e era isso que eu culpava para o que estava acontecendo. Todo sábado eu estava ali, sentada embaixo de uma arvore grande perto do lago. As vezes eu lia, ou jogava pedras na água, ou apenas observava os alunos no gramado.

James tinha vindo nas primeiras semanas. E naqueles dias parecia que nada tinha acontecido, era tudo como antes. Nós brincavamos, pregavamos peças leves nos outros e até mesmo flagramos Vicky e Teddy quase se beijando.

Mas então ele começou a ficar cada vezes menos, e depois não vinha e dava uma desculpa... E agora, a poucos dias para o Natal, e já estava acostumada e ir ali para ficar sozinha.

Eu não tinha amigos na lufa-lufa. Não porque eles não eram legais, porque eram, e muito. O problema foi comigo. Passei muito tempo com James e seus amigos e acabei perdendo o momento “faça amigos”. Agora todos já tinham seus grupinhos e o único que realmente conversava comigo na minha casa era o Jack. Mas ele era estranho demais, então eu não sabia se ele me considerava uma amiga... por mais que eu o considerasse uma amigo.

Meus primos, minha irmã e Teddy acabaram percebendo minha solidão, apesar de eu disfarçar o máximo possível. Só vi que eles notaram quando Fred começou a passar mais tempo comigo, e Molly me chamou para estudar com ela de vez em quando.

Não vou disser que James praticamente sumiu da minha vida. Na verdade, ele parecia ser o único que achava que tudo estava normal. Vinha conversar comigo as vezes nos corredores como se nada tivesse mudado, como se fossemos ainda os mesmo melhores amigos.

No começo eu senti raiva por ele me tratar assim. Mas ainda sentia que James não percebia isso... Ele era ingênuo ou imaturo demais, não sei...

O Natal já era semana que vem, e eu finalmente iria para casa por quinze dias matar as saudades dos meus pais, tios, avos, primos mais novos e Louis. E no fundo eu tinha uma certa esperança de conseguir conversar com James no feriado, e quem sabe me acertar com ele...

Mas o fato é que hoje, vendo a neve começar a cair pelo gramado de Hogwarts, eu notei que James não era mais aquele meu melhor amigo. E que infelizmente, apesar do meu estranho amigo Jack e da minha família, eu estava sozinha.