Holly Holiday escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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Renji ficou responsável por Karakura naquela noite já que Ichigo e Kurumadani não estavam disponíveis para fazer o serviço. E como ele não tinha nada para fazer...

Devido à intensa movimentação de pessoas na cidade, alguns Hollows acabaram por aparecer nos arredores. Então ele conseguiria facilmente manter sua mente ocupada com o trabalho ao invés de pensar em aonde “poderia” estar caso não estivesse... Fazendo seu serviço de Shinigami ao livrar-se dos Hollows.

A um determinado momento da noite, Renji sentou no telhado de uma casa qualquer e observou a bela iluminação de Natal da cidade. As casas todas com enfeites de Papai Noel, renas e outras coisinhas típicas do tipo. A beleza da decoração, de qualquer forma, acabava atraindo um sorriso aos lábios do ruivo. Ele não podia negar a beleza da situação.

Mas também não podia negar que ficava ligeiramente deprimido com toda a alegria do Natal que, infelizmente, não fazia parte dos sentimentos que tinha naquele exato momento. Renji não havia se manifestado a respeito disso porque não sabia se ficaria confortável o bastante. A pessoa com quem ele imaginou que talvez passaria o Natal como foi durante muitos anos na sua infância, Rukia, estava longe de seu alcance. Ela passaria com os Kuchiki, afinal.

Quanto a Ichigo... Ele estava com sua família e Renji não ficaria à vontade. Quanto aos outros... Não ficaria mesmo confortável. E só.

Renji coçou o nariz enquanto encolhia os ombros visto que a temperatura baixa era um pouco incômoda, mas suportável. Ajeitou o cachecol que usava no pescoço. Conseguia ver pessoas nas casas. E elas estavam felizes, divertindo-se juntos com ceias e tudo mais.

Enquanto observava uma determinada família, sentiu uma presença muito familiar atrás de si e virou-se para ver. Urahara estava ali parado, e no lugar de seu típico chapeuzinho listrado, vestia um gorro de Papai Noel – mas era verde, não vermelho. Uma camisa vermelha, calças e sapatos pretos.

– Abarai-san! – Ele sorriu fazendo um aceno com a mão. – Você está aqui! Mas que coisa, te mandaram pra cuidar da cidade justo na noite de Natal? Que injusto! – O loiro aproximou-se e se agachou ao lado do outro, apoiando os cotovelos nos joelhos e o queixo nas mãos. O rosto ia um pouco para o lado a fim de enxergar Renji.

– Bom... Não era como se eu tivesse algo pra fazer, mesmo...

– Então por que não vai passar a noite de Natal na Urahara Shouten? – Sorriu.

– Prefiro não adquirir trabalho extra, obrigado, Urahara-san.

– Que é isso? Está insinuando alguma coisa? – Ele mantinha o semblante inocente, fazendo Renji franzir as sobrancelhas. Até parece que não ia acabar fazendo a limpeza de absolutamente tudo quando a festa de Natal chegasse ao final. – Eu não faria algo tão cruel a você justamente em uma noite tão especial quanto essa, Abarai-san. Por favor, aceite meu convite.

– Preciso cuidar da cidade...

– Você tem seu celular! Caso um hollow apareça ficaremos sabendo.

Renji soltou um suspiro ruidoso. No fundo, não tinha certeza se queria ir. Não por Urahara, ou pelas crianças, ou por Tessai... Mas é que não sabia se iria se sentir à vontade. Não havia se hospedado na casa de Kisuke uma vez que só passaria a noite de Natal na cidade, e por isso não estava por lá.

– Certo, vamos, Urahara-san.

O loiro pôs-se de pé rapidamente e saltou para retornar à Urahara Shouten, sendo acompanhado pelo Shinigami ruivo.

Quando chegaram ao local, entraram e Renji observou que não só as crianças e Tessai estavam presentes, como Yoruichi também. E ela estava com um vestido vermelho maravilhoso e uma touquinha de natal verde idêntica à de Urahara. Isso fez o tenente perguntar-se se era algum tipo de brincadeira entre os dois; bem provável. Renji sempre achou que eles tinham algo, afinal de contas.

Foi muito bem recepcionado – mesmo pelas crianças, que vieram com aquela história de “Isourou-san” e tudo mais... Ainda assim o cumprimentaram muito felizes com a presença do tatuado por ali.

Ele até ficou um tempo com eles, mas sua diversão era um pouco travada. Não sabia se era algum incômodo pessoal por estar lá comendo sem fazer nada em troca, mas enfim... Devia ser paranoia de sua parte. E a um determinado momento, disse que gostaria de ir deitar porque o saquê havia “subido” rápido demais, mas era mentira.

Urahara cedeu-lhe um quarto e ele foi se deitar.

Acomodou-se depois de trançar os cabelos e ficou deitado ouvindo o barulho dos cinco lá na sala. Havia alguma coisa em Renji que não o permitia ficar lá sem estar incomodado. É, ele devia estar paranoico com a história de ser “Isourou-san”. Não sabia como se surpreendia com isso, ainda.

E de qualquer forma, assistir à felicidade deles não lhe atraía porque não conseguia ficar feliz do mesmo jeito. Por mais que gostasse muito daquelas pessoas, gostaria de estar com quem realmente lhe queria bem... Com quem...

– Abarai-saaan~ – Cantarolou Urahara, empurrando a porta para entrar no quarto onde Renji estava deitado. O ruivo virou-se para olhá-lo e ficou de barriga para cima. – Eu acho que você devia voltar para lá, estamos brincando de shiritori! – O loiro tinha as bochechas ligeiramente rosadas pelo álcool que certamente lhe subiu à cabeça, diferente da mentirada de Renji. Agachou-se ao lado do tatami onde o mais novo dormia. – Muito engraçado – ele riu.

– Obrigado Urahara-san, mas não estou me sentindo bem...

– Ah, não seja bobo, Abarai-san, você nem está bêbado, eu tô vendo na sua cara! – Kisuke abanou a mão na direção do Shinigami e deu uma risada gostosa. – Vamos lá, vamos!

– Hum...

– Então tá... Se vai ficar aqui, vou pegar seu presente. – Ele pôs-se de pé num salto e saiu do quarto sem dizer mais nada.

Presente?! Como assim, presente?

Por Deus, tinha que ser piada! Renji sequer havia pensando em comprar um presente pra qualquer pessoa, em momento algum... Porque oras, ele achava que não receberia presente de ninguém. Aliás, isso é mentira. A única pessoa para quem ele comprou um presente foi Rukia, e era um colarzinho do Chappy. Quanto à menina, ela deu a ele uma nova faixa para ele pôr na testa... E adivinha qual era a estampa da faixa.

Mas Rukia e Renji sempre compraram presente um para o outro – mesmo em qualquer momento de dificuldade – portanto, era praxe.

Quando Kisuke voltou com uma caixa larga e baixa, vermelha com um laço dourado, Renji sobressaltou-se e colocou-se sentado. Não acreditava que ele havia mesmo comprado um presente. Sentiu-se envergonhado no mesmo instante, uma vez que não teria como retribuir... E de verdade, nem pensou em comprar algo para ele.

– Aqui está! – Urahara se ajoelhou e estendeu a caixa para o outro. – Espero que goste, deu um trabalhão. Mas eu queria dar a você quando estivéssemos sozinhos.

O ruivo franziu as sobrancelhas enquanto colocava a caixa no colo e criava coragem para puxar o laço. Foi incentivado pelo outro e logo, puxava uma das pontas do laço para desfazê-lo num movimento suave. Afastou-o e puxou a tampa da caixa.

Lá dentro, havia uma grande porção de biscoitos natalinos. Em formato de árvore de natal, bolinhas coloridas, estrelas, bonecos-de-neve, gorros de Papai Noel – verdes –, e no meio de todas elas... Havia uma enorme Zabimaru e um leque de cores idênticas ao que Urahara sempre carregava.

Os olhos castanhos de Renji não acreditavam no que viam e sua expressão mudou completamente diante daquilo. Não era ruim, era apenas uma surpresa à qual ele não esperava – quer dizer... Aparentemente, Kisuke havia feito aqueles biscoitos, e não comprado. Pelo menos os que tinham os peculiares formatos de zanpakutou e leque. Os outros ele não tinha certeza, mas o padrão do confeito era muito semelhante.

Logo, Renji ergueu os olhos para Urahara e sorriu. Sinceramente. Feliz.

Porque ele estava passando a noite de Natal com alguém que lhe queria bem. Com alguém que...

– Obrigado, Urahara-san. – Ele olhou os biscoitinhos rapidamente. – São muito bonitinhos.

– Que bom que gostou, Abarai-san, fiz com todo carinho! – Kisuke usou a mão para tirar a caixa do colo de Renji e em questão de um piscar de olhos, voava para cima dele num abraço e o derrubou de volta ao tatami. O ruivo viu-se preso uma vez que Urahara lhe segurava os braços com os próprios, apertando-o vigorosamente.

Ele estava bêbado, né...

– Oe, Urahara-san... – Ele sussurrou e Kisuke o soltou, erguendo-se ajoelhado.

E quando o olhou com aquele par de olhos azul-acinzentados, Urahara revelou que na realidade... Não estava bêbado coisa alguma. Estava muito são, isso sim. E os seus lábios finos curvaram-se num sorriso tão espirituoso que Renji ficou completamente atônito, impressionado com as atitudes que aquele homem podia ter.

Ele era muito espertinho.

Mas de qualquer forma, ainda estava montado no pobre Renji e isso era um pouco esquisito. Portanto, o tenente fez uma expressão de desconforto, mas o loiro não pareceu importar-se com isso. Ele usou uma das mãos para pegar na ponta da trança vermelha que descia pela nuca do Shinigami e enrolou nos dedos por um instante antes de usá-la para fazer cócegas no ouvido dele.

Renji mexeu os ombros e acabou abrindo um sorriso.

– Gosto muito de você, Abarai-san. – Disse Kisuke com aquele seu tom misterioso que quebrava completamente o jeito atrapalhado e engraçado que ele tinha. Mesmo assim, ele parecia divertir-se com o fato de o Abarai ter ficado meio vermelho uma vez que fizera uma expressão doce com essa visão. – Você acredita, não é? Eu não seria capaz de mentir justo na noite de Natal!

– Acredito que não. – Renji crispou os lábios num sorriso incomodado, mas seu coração batia feliz. Retumbava, na verdade. Não tinha esses olhos em cima de Kisuke, e não imaginava que ele poderia ter. Se é que estava pensando na coisa certa. Mas não acreditava que Urahara teria esse tipo de atitude sem ter um motivo muito bom para tal.

– Que bom! – Ele mudou de tom, parecendo mais contente. Esticou-se para alcançar a caixa de biscoitos que tirou da mão do ruivo um pouco antes, fazendo-se estender por cima da cabeça de Renji – o que foi particularmente incômodo, já que... Bom, ele ficou simplesmente constrangido. Usou as mãos para delicadamente vasculhar os biscoitos e tirou um em específico de lá. Um azevinho.

Possuía um desenho perfeito, quase tão perfeito quanto a Zabimaru e o leque. Provavelmente esses foram feitos com mais carinho.

Aliás, Renji sabia muito bem o que significava aquela droga de azevinho...

Urahara se mexeu em cima do ruivo, ficando agachado em cima das coxas do Shinigami e usou os dedos para instigá-lo a sentar. Inevitavelmente, Renji o fez e acomodou-se melhor ali, procurando evitar o contato direto tão repentino. Kisuke deu um sorriso esperto e ergueu o biscoito no alto da cabeça dos dois.

– Sabe o que isso significa, né, Abarai-san?

A cabeça vermelha do Shinigami moveu-se em concordância – ou quase uma espécie de conformação com o inevitável. Não é que não quisesse, ou que tinha algum tipo de problema com esse tipo de relação “diferente”, mas... Estava apenas chocado demais com o fato de alguém tão inimaginável realmente importar-se com sua pessoa.

Kisuke então curvou um pouco as costas, aproveitando-se da vantagem na qual se encontrava e tocou os lábios do ruivo suavemente. Suave como praticamente tudo o que ele fazia, mas que, em questão de segundos, tornou-se completamente atrapalhado uma vez que ele largou o biscoito em qualquer lugar, laçou a cintura de Renji e o derrubou no tatami. O beijo tomou um rumo mais apressado, quase ansioso demais para esperar.

Quando Urahara partiu o beijo forçadamente – assim deixou transparecer –, ele abriu os olhos e sorriu, parecendo orgulhoso de si mesmo. E feliz.

Em poucos instantes, ele deu uma risada boba e se colocou de pé, cambaleando um passo à frente como se estivesse bêbado novamente. – Hahaha, Abarai-saaan~ – cantarolou de novo. – Você me deixa muito feliz! – Virou-se para o Shinigami, que o olhava completamente confuso. Curvou-se e pegou-o pela mão, forçando o mais jovem a ficar de pé. Renji cambaleou por causa da pressa do outro e ajeitou-se quando conseguiu se equilibrar. Teve sua cintura laçada pelo loiro que, mesmo tendo uma estatura centímetros menor, compensava com as geta em seus pés.

O Abarai nem sabia o que responder... Apenas sorriu constrangido.

Kisuke piscou os olhos para ele e manteve aquele sorriso, dando-lhe um beijo estalado nos lábios e escorregando a mão para pegar a do outro, e o puxá-lo para fora do quarto. – Agora vamos brincar de shiritori com a gente! E quando estiver cansado, me avise, que eu te faço dormir rapidinho!

– Ah... É. Sei, Urahara-san. – Renji encolheu os ombros, muito mais constrangido do que antes, mas acabou sorrindo.

E ele sorria porque estava feliz... Porque aquela pessoa o surpreendeu de uma forma que jamais imaginou que poderia acontecer. Com azevinho e biscoito – ou melhor... Um biscoito em forma de azevinho que fez muita diferença, mesmo sendo algo tão simples.

Se bem que, olhando para Urahara, o ruivo reforçava sua ideia de que as coisas simples sempre foram as mais importantes.

Mas a surpresa com o biscoito-azevinho não era a única coisa daquela noite. Era um sentimento que Renji ainda não conhecia. Ou que, talvez, foi apenas redescoberto.


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