– Eu vim aqui apenas pra lhe dar um recadinho. – A menina de longos cabelos cacheados começou, estreitando seu par de olhos puxados e colocando o dedo indicador virado pra minha cara – Fique longe do Luke. Ele é meu e ninguém me rouba.

Eu estava sem forças até aquele momento. Drew Tanaka estava pedindo pra morrer e eu não hesitaria em realizar o seu desejo. Fuzilei-a com o olhar e a raiva subiu a cabeça. Não conseguia mais me controlar quando tomei de volta minha energia.

O que eu fiz com ela? Só disse algumas verdades que estavam entaladas na minha garganta.

– Se você queria arranjar problema, conseguiu. – eu comecei-. Eu não tô nem aí pra quem você ou pra quem você quer. Eu só estava aqui na minha e você aparece do nada querendo mandar em tudo. E agora escute bem o que eu vou dizer: EU NÃO SOU UMA DESSAS SUAS ESCRAVAS SEM CÉREBRO. Se quiser mandar em alguém vai pra um puteiro. Aposto que lá você ia se dar bem. Ah e não aponte esse palito de fósforo que você chama de dedo pra mim. Agora me deixa em paz por que eu cansei de perder o meu tempo com um resto de aborto feito você. – mais uma vez, desviei dela.

Eu me sentia sendo observada. Alguém estava ali nos espionando ou era só a raiva subindo a minha cabeça.

– Tsc, até parece que vou ficar escutando besteira de uma gorda como você. – Drew pegou uma mecha de cabelo e enrolou nos dedos e virou a cara, esnobe.

GORDA? GORDA É A VÓ DELA. AGORA ESSA PATRICINHA MEDÍOCRE PASSOU DOS LIMITES.

Me virei enfurecida pronta pro fight. Caminhei rigidamente até dar um primeiro empurrão nela. A briga persistiu por alguns segundos de tapas e arranhões. Até que uma voz conhecida me surpreendeu e um forte braço me agarrou pelas pernas. Em um instante de descuido me encontrava no ombro direito de Luke Castellan.

– CASTELLAN, ME SOLTA QUE EU VOU MOSTRAR PRA ESSA VAGABUNDA QUE GORDA É A MINHA MÃO NA CARA DELA.

Eu desferia socos repetidos em suas costas e me debatia incansavelmente. Mas que droga! Por que esse idiota tinha que ser tão forte?

– Drew, melhor você ir embora. Não precisamos de mais confusão por aqui – Luke falou em meio dos meus gritos, encarando-a e com um típico sorriso malandro no rosto. – E cá entre nós, acho que ela é bem capaz de acabar com você.

Ela foi embora. E eu ainda estava no ombro dele, só que agora, não esperneava como antes. Esse garoto estava pedindo pra levar um belo de um chute. E dessa vez, eu não me limitaria a sua panturrilha.

– ME COLOCA NO CHÃO OU EU JURO QUE VOU VOMITAR NAS SUAS PERNAS! – ele mexeu com a cabeça como se estivesse saído de um transe e finalmente, me encontrava em uma superfície plana mais conhecida como chão.

Enquanto eu me recuperava da quase treta que acabara de acontecer, percebi que Luke ainda estava ali, me olhando e sorrindo. Olhei com desprezo pra ele, e com uma enorme cara de tédio e perguntei:

– O que é? Perdeu o c* na minha cara?

– Como você é grossa, Grace. - Ele riu de mim, ou talvez do que eu tinha acabado de falar, mas quando notou minha cara séria acabou por fechar a cara e desviar o olhar para o céu.

– Você fala como se eu me importasse.

– Não vai nem me agradecer?

– Tá brincando né? Eu deveria mesmo era te dar um belo de um chute e dessa vez não iria ser na canela, se é que você me entende. – ele estremeceu e fez uma cara de desgosto. – Se alguém lhe deve agradecimentos é aquele projeto de capiroto. Caso você não tivesse chegado eu teria acabado com aquela cara de barbie falsificada dela.

– Você não perde a oportunidade, né?

–Eu tento.

Peguei minha bolsa que nesse momento se encontrava jogada no chão, e continuei o meu trajeto simples e mais demorado do que o esperado. É, acho que vou levar umas broncas do Jason por causa desses arranhões. Meu irmão odeia quando me meto em brigas e já havia prometido a ele tentar me controlar. Entretanto, já era perceptível que quando o assunto era Drew Tanaka, não poderia simplesmente ignorar.

>>>

Cheguei a casa e fui direto para o meu quarto. A questão é que a preguiça era enorme, assim eu dormi pelo resto da tarde fria e nebulosa de setembro*. Fui acordada já umas sete horas da noite, pois a fome havia chegado e se instalado ali.

Tomei um banho e vesti uma roupa simples e confortável. Blusa de mangas compridas folgada e um short jeans meio branco e meio azul, um pouco rasgado no bolso. Calcei minhas meias pretas, já que estava frio e eu adorava deslizar pelo piso de madeira dos cômodos da casa.

Desci as escadas praticamente correndo e encontrei Jason, sentado em uma das poltronas da sala de estar, com cara de tédio. E de fome.

Assim que cheguei na sala, Jason me olhou e bufou. Suspirou e começou a falar com desgosto:

– Papai e Hera foram ao museu. E estou com fome. O que você sabe cozinhar?

– Água. – ri pra ele duvidosamente e o loiro assentiu, debochando de mim.

As pessoas que me conhecem sabem que eu sou do tipo que adora comer, mas cozinhar não é e nem nunca foi minha praia. Mamãe sempre dominara essa área, por incrível que pareça, e a sua macarronada era a melhor. Infelizmente, nem eu nem Jason herdamos o seu talento culinário.

– Tenho uma ideia. – retrucou de súbito.

– AI MEU DEUS. VAI NEVAR!

Sim, eu amo tirar onda com a cara dele.

– Você quer comer, ou não? – Ele fez sua melhor cara de “Mereço.” E eu assenti. – Lembra do Percy?

Pensei por um curto período de tempo, até que uma luz clareou meus pensamentos. Mas é claro! Percy era o nosso primo de incríveis olhos verdes água e cheiro inconfundível de maresia. Lembro-me de tê-lo visto na escola, circulando pelos corredores esta manhã, mas parecia sorridente demais e por acaso nem ao menos me percebeu.

– Sim, o cabeça de alga mais lerdo e babaca que já existiu na face da Terra. O que tem ele?

– Elementar, minha cara Grace. – começou a andar inquieto, uma de suas manias que mais me irritava. – Acontece que o Jackson é um ótimo cozinheiro e aposto que agora não está fazendo merda nenhuma no sofá velho da casa dele.

– Por favor, né Jason? – respondi, revirando os olhos. – Percy com certeza deve estar em alguma festa ou coisa do tipo. Ele deve estar ocupad...

Parei de tagarelar quando vi que meu irmão já estava falando com ele no telefone, e ao murmurar um “Então você vai vir?” abri a boca, estupefata.

– O que você dizia, maninha? – Tirou o celular do ouvido, vitorioso – Deveria ter apostado.

– Hmpf, tanto faz.