20 Desafio Sherlolly - Novas Tradições escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




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– Molly?

A voz grave que ressoou no necrotério, despertou a legista do corpo que observava. Ela sabia quem era o dono daquela voz, afinal, uma tom marcante como aquele, só poderia pertencer a uma única pessoa.

– Sherlock! Que surpresa!

– Preciso monitorar alguns tipos específicos de hematomas, você se importa? – perguntou o detetive, olhando para as gavetas, lotadas de corpos congelados.

– Use os do fundo, são os “indigentes”! Ninguém procura por eles já há meses! – respondeu a garota.

Sherlock se dirigiu para as gavetas que Molly havia apontado, e abriu duas de sua escolha. Pegou um estojo em seu casaco, e, pegando um objeto pontiagudo, começou a verificar se a pele deles serviria para o seu experimento.

– Esse morreu afogado, não foi?! – falou enquanto analisava o rapaz da primeira gaveta.

– Qual o número? – perguntou a legista, sem tirar os olhos do corpo que ela mesma estava estudando.

– 1753! – respondeu o outro.

– Não, asfixia! Ele foi jogado no rio, mas já estava morto antes!

Sherlock não se impressionou. Sabia que a garota estava acima da média, então, sempre soube que podia esperar tudo dela.

– Não serve! – falou o detetive, fechando a gaveta com o corpo do rapaz, e se dirigindo ao outro ao seu lado. – Esse hospital está meio vazio, não acha?!

– Ah, é por causa do feriado!

– Feriado?!

– Não é de admirar que você não saiba! Hoje é Dia dos Pais!

– Ahh! – exclamou com desinteresse, e voltou-se ao corpo. – Uma data comercial barata, onde você é obrigado a comprar um presente, para provar que ama um de seus progenitores! Adorável!

Molly riu.

– Isso quer dizer que o Holmes pai não vai ganhar presente esse ano?! – brincou a legista.

Sherlock olhou para ela e sorriu.

– Nope! Assim como todos os outros anos! Já fiz cartões demais quando estava na escola pra ele!

A legista e o detetive riram, após a brincadeira. E depois, silenciosamente, voltaram aos seus afazeres.

– Por isso te chamaram para vir? – perguntou o detetive, quebrando os minutos silenciosos que haviam se formado – Eles sabem que seu pai morreu?

– Não! Eu vim por que quis! Tecnicamente estou de folga também, mas como não tinha nada para fazer em casa, decidi vir trabalhar!

Novamente, minutos de silencio se formaram, onde os dois voltaram ao seu trabalho. Porém, ao passo que a legista estava concentrada em seus afazeres, Sherlock parecia realmente ansioso. Ele girava em torno do corpo do rapaz que estava analisando, mas não olhava diretamente para ele. Seus olhos estavam encarando a garota à sua frente. Ela assumiu um ar sonhador, e seus olhos, por mais que ainda mirassem o corpo que estava analisando, pareciam opacos e distantes.

– Esse também não serve! – disse fechando a gaveta, enquanto ainda olhava a garota. – Você está bem?!

Molly, acordando de um transe e se virou surpresa para o detetive. E então, como se tivesse finalmente entendido quem era e o que estava fazendo, naquela realidade, sorriu.

– Estou sim! Apenas me lembrei do meu pai, mas você não vai querer ouvir sobre isso!

– Quem disse que não?! – rebateu. – Por favor, me conte!

– Bem, é que você disse que o Dia dos pais era uma data comercial, mas eu adorava passar essa data com ele! Eu preparava uma torta de maçã, e ele fazia o seu “chá especial”, era como ele chamava! - acrescentou levemente envergonhada - Tomávamos café da manhã, e então, íamos passear. Qualquer lugar servia! Conversávamos sobre tudo, e depois, íamos tomar sorvete! – Narrou tudo como se estivesse revivendo cada momento, e o detetive notou. Molly então sorriu, se voltou para o corpo que estava estudando – Era simples, mas eu adorava!

Ela finalizou baixinho, e sorrindo. Um sorriso melancólico e nostálgico. Sherlock ainda a olhava, mas a garota já estava absorta em seu trabalho. Novamente, ele viu os olhos dela assumirem uma cor opaca. Ela estava distante, em um mundo sépia, onde o pai dela ainda residia.

– Nenhum desses corpos serve! – disse o detetive – Acho que vou voltar em outra hora!

Molly fez um aceno com a cabeça, e o detetive se dirigiu à porta do necrotério, porém, deu meia volta e parou na frente da legista.

– Estou com fome! Quer comer alguma coisa?

A garota o olhou surpresa com o convite.

– Eu adoraria, mas...- não finalizou. Seus olhos recaíram sobre o corpo que estudava, e o detetive entendeu aonde ela queria chegar.

– Feche-o! – foi à resposta dele – Você pode voltar outra hora, afinal, hoje é seu dia de folga também!

E, sabendo que Molly iria a seu encalço, caminhou novamente até a porta. Tal como ele imaginara, Molly fechou o corpo, removeu as luvas, lavou as mãos e se juntou a ele.

– Fiquei morrendo de vontade de comer uma torta de maçã, agora! E a culpa é sua! – disse o detetive para a legista, enquanto eles saíam do hospital.

– A culpa é minha?! – rebateu a garota, fingindo estar indignada.

– Claro! Você ficou falando de tortas e chás, e agora eu quero comê-los! - puxou seu celular, e depois de alguns segundos, exclamou – Encontrei o lugar perfeito para isso!

Sherlock acenou para um táxi, e após informar o endereço, eles chegaram à um doceria extremamente convidativa, não só pela decoração, que era totalmente rustica, mas também pelo cheiro que emanava do local. Era um cheiro agradável, de alguma coisa doce e gostosa sendo assada. Os dois entraram, e foram recebidos na porta por uma senhora muito bem arrumada, e sorridente.

– Sherlock! – exclamou ao ver o detetive entrando – Que agradável a sua visita! Mesa para dois? – perguntou ao notar Molly, logo atrás do detetive.

– Por favor, Sra. Scot! – respondeu.

A senhora os levou até uma mesa localizada no canto, próxima a janela. Molly e Sherlock se sentaram. Quando a Sra. Scot lhes esticou o cardápio, Sherlock recusou.

– Torta de maçã e chá, para os dois! – disse.

Prontamente, a senhora anotou o pedido, e se retirou.

– Sherlock, o que estamos fazendo?! – perguntou a garota, assim que a senhora se retirou.

– Estamos comendo! Ou vamos comer, em breve, espero! O serviço aqui não costuma demorar!

Sabendo que não iria conseguir mais do que isso, Molly decidiu partir para outra pergunta.

– Ajudou ela em um caso de assassinato também?! – perguntou referindo-se a Sra. Scot.

– Nope! Eu apenas corri atrás do rapaz que tentou levar sua bolsa! – respondeu sorrindo.

Molly sorriu também. Ela sabia que podia esperar isso dele. Apesar de toda a sua excentricidade, Sherlock era uma boa pessoa.

Sra. Scot voltou com os pratos de torta, um bule e duas xícaras de chá. Depositou e arrumou todos eles na mesa.

– É tão lindo ver vocês juntos! – exclamou enquanto arrumava a mesa – Sherlock não me disse que tinha uma namorada tão adorável!

– Ahn...- Molly balbuciou, sem saber o que responder a isso.

– Isso é tudo no momento, Sra. Scot! Obrigado! – foi à resposta de Sherlock. A senhora, soltando um sorriso malicioso para o detetive, saiu. – Desculpe por isso, aparentemente as pessoas não estão acostumadas a eu estar em companhias femininas!

Molly riu. Os dois então, serviram- se do seu prato de torta.

– Nossa! – exclamou a legista – Essa torta é ótima!

– Eu disse que era um lugar perfeito! – rebateu com seu tom arrogante habitual. A legista riu e concordou.

Quando terminaram de comer a torta e beber o chá, Sherlock chamou a Sra. Scot para lhe trazer a conta.

– Fiquei muito feliz por vê-lo comer, Sherlock! – e dirigiu-se a Molly – Normalmente, ele só me pede o chá!

– Aqui está o dinheiro, por favor fique com o troco, Sra. Scot! – falou o detetive apressado, como se aquele assunto o estivesse incomodando. Ele se levantou imediatamente, após deixar o dinheiro com a senhora.

Molly levantou, e agradeceu pelo atendimento. Quando chegou na porta, Sherlock já estava lá, esperando por ela.

– Quer voltar ao hospital? – perguntou o detetive, assim que ela saiu.

Molly olhou para o seu relógio de pulso.

– Acho que sim! Está cedo ainda!

– Ótimo, então vamos!

Sherlock seguiu pela calçada, o que Molly achou estranho.

– Sherlock, não vai pedir um táxi?! – gritou, ainda na entrada da doceria.

– Não! Preciso caminhar! Comi demais! – justificou, enquanto caminhava.

Molly correu e apressou-se para se postar ao lado dele. Um pequeno pedaço de torta era capaz de deixa-lo pesado, pensou impressionada. Apesar do hospital ser longe, Molly não achou a caminhada uma ideia ruim. Estava um dia agradável.

– Adoro o vento de Londres! – exclamou o detetive. – Torna a caminhada muito mais agradável!

– Eu concordo!

Sherlock a olhou de esguelha por uns segundos.

– Você parece feliz! – disse para a legista.

Ela sorriu.

– Eu estou!

Sherlock segurou a mão dela, e apesar desse ato ser repentino e ter causado uma grande surpresa em Molly, a garota entrelaçou seus dedos nos dele, e assim seguiram pela rua.

– O caminho do parque é mais rápido! – falou Sherlock, apontando com a outra mão, um pequeno parque que ficava no meio do caminho.

Molly concordou, e os dois entraram e continuaram o caminho pelo parque. Haviam várias pessoas fazendo piqueniques, jogando vôlei, baseball e alguns outros esportes. O parque estava cheio naquele dia.

– Acho que quero sentar um pouco! Que tal ali! – o detetive apontou para um banco isolado, embaixo de uma árvore.

A garota concordou novamente, e os dois se dirigiram para o local. Sentaram-se, e Molly se impressionou, que apesar do parque cheio, aquele lugar estava realmente vazio e silencioso. Só se ouviam os pássaros e o balançar do vento nas folhas das árvores. Por alguns segundos, Molly fechou os olhos e respirou fundo.

– Adorei esse lugar! – disse, reabrindo os olhos.

– Gosto de vir aqui para pensar, às vezes! É um dos meus esconderijos secretos, embora não seja meu preferido! – falou o detetive.

– Qual o seu preferido? – perguntou.

– Adivinhe!

Molly pensou um pouco.

– O Big Ben! – respondeu.

– Nem perto!

– Aposto que deve ser um lugar bem desconhecido!

– Pra algumas pessoas, sim! Pras pessoas que importam, não! – foi à resposta que ele deu, após alguns segundos.

De repente, uma bola apareceu, rolando pelo chão, e Molly a pegou.

– Hey, essa bola é nossa! – gritaram dois meninos, por volta dos dez anos.

Eles correram em direção a Sherlock e Molly.

– Moça, pode devolver a bola, por favor! – pediu um deles.

– Claro!

Molly entregou a bola ao menino que a solicitou, e então, o outro se pronunciou.

– Querem jogar com a gente?!

– Desculpe o que? – perguntou a garota, sem entender o motivo do convite repentino.

– Querem jogar?! Estamos jogando vôlei, mas só com dois é meio sem graça!

Molly não respondeu, mas o outro menino o fez por ela.

– Eles não vão querer jogar com a gente, seu besta! Eles são adultos! Adultos não brincam com crianças!

– Quem disse que não brincam?! – protestou o outro.

– Eu disse!

– Eu adoraria jogar com vocês! – respondeu Molly, percebendo que uma discussão geraria disso. – Não é Sherlock?!

– Nope! – foi à única palavra que emitiu.

– Vamos, Sherlock! Vai ser divertido!

– Molly, eu não fazia isso nem quando tinha a idade deles!

– Aposto que é porque não sabe jogar! – falou um dos meninos.

– Claro que sei jogar, apenas não quero gastar meu tempo com uma atividade tão inútil como essa! – rebateu.

– Só pessoas que não sabem jogar dão essa desculpa! – insistiu o garoto.

Sherlock se levantou e pegou a bola da mão do menino.

– Vou mostrar pra você!

Os quatro foram em direção ao campo aberto, onde os garotos estavam jogando antes da bola ir para o lado de Molly. Eles dividiram os times, e ficou acertado que Molly e Sherlock, já que eram mais altos, ficariam cada um com um dos meninos.

A partida se iniciou, e Molly não pode deixar de se divertir com o andamento dela. Ver Sherlock tentar disputar, de igual para igual, com uma criança, era muito engraçado. Passaram o resto da tarde jogando, e mesmo quando Molly e o mini parceiro de Sherlock cansaram da partida, o detetive e o menino que o desafiou, continuaram bravamente, até o sol se por. Apesar de ter se esforçado muito, Sherlock perdeu, e teve que pagar um sorvete como premio para o seu rival. Molly, e o outro menino, acabaram ganhando um sorvete para cada um, também.

– Foi divertido! – disse Molly a Sherlock, enquanto viam os meninos indo embora. – Prometo não contar para ninguém, que você perdeu de um garoto de dez anos! – brincou a garota, arrancando um sorriso do detetive.

– Ele tem a juventude ao favor dele! – rebateu, e Molly riu.

Já estava tarde para voltar ao hospital, então Molly decidiu que iria para casa. Dessa vez, o detetive quis pegar um táxi. Molly imaginou que ele estivesse cansado, por conta do jogo.

– Sabe, - começou Molly, enquanto eles estavam no táxi – você seria um bom pai, Sherlock!

O detetive fez uma careta ao ouvir isso, arrancando risadas de Molly. Porém, assim que a legista parou de rir, novamente ele pegou na mão da garota, e entrelaçou seus dedos no dela. Molly apertou sua mão na dele, e os dois ficaram em silêncio, até chegarem à casa da garota.

Sherlock a acompanhou até a porta, e foi quando Molly decidiu perguntar novamente, aquilo que havia começado a perguntar na doceria.

– Qual o motivo do dia de hoje?

Sherlock sorriu.

– Eu só queria comer uma torta de maçã! – respondeu.

– Você fez comigo, tudo o que eu disse que meu pai e eu fazíamos nesse dia! – falou a garota.

– Exceto pelo jogo de vôlei, mas acho que podemos acrescentar isso como uma nova tradição!

– Podemos acrescentar outra coisa também!

Inundada pela gratidão que sentia, Molly nem se importou com o que estava fazendo. Ela puxou Sherlock e o beijou levemente nos lábios.

– Obrigada! – disse.

Sherlock parecia surpreso e desconcertado com a atitude da legista.

– Bem, é...está entregue ao meu esconderijo preferido! – disse após pigarrear alto – Tenha uma boa noite, Molly!

Molly assentiu, e Sherlock desapareceu rapidamente pela rua. A garota observava a figura alta e esbelta, sumir pela multidão da rua. Porém, ela não pode ver o sorriso que ele emitia, enquanto passava, gentilmente, seus dedos pelos lábios.


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