Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 13
Mente Perturbada - Runaways


Notas iniciais do capítulo

Saibam que em meu último momento, eu senti vontade de mudar tudo.
E não quero que sintam pena de mim. Não. Por favor.
Mas se eu pudesse fazer tudo de novo...



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Após 9 dias de julgamento, investigação, e colhimento de provas, o juiz Henrique Rocha encerrou o mandato, e deu a palavra ao júri popular.

Uma garota de cabelos curtos, pela clara, e olhos castanhos, chamada Isabela, levantou-se dizendo:

–Após a avaliação do júri, com voto unanime, decretaram: Pena Capital ao acusado Antônio Santos, pelo Artigo 122, §13 onde diz: “Não haverá penas corpóreas perpétuas. As penas estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores. Além dos casos previstos na legislação militar, a lei poderá prescrever a pena de morte para 6 crimes, dentre eles: o homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de perversidade.”.

O público ali presente aplaudiu a determinação, o juiz decretou fim do julgamento, e caminhei em direção à morte.

[...]

Dias após o julgamento, minha advogada, Lee Nishimoto, abriu um processo contra o velho, o qual foi condenado por ocultação de cadáver e homicídio doloso qualificado, pegando pena de 33 anos.

Os médicos tentaram ajuda-lo com remédios pesados, tratamentos, lhe deram até oportunidades de se ocupar com trabalhos voluntários, mas após 5 anos de pesadelos, remédios, e surtos, ele se suicidou deixando apenas uma mensagem em seu peito, o qual ainda tinha as cicatrizes que eu havia feito nas noites que passamos juntos, e essa mensagem era “Desculpa, Papai”.

O encontraram enforcado a uma mangueira que estava presa em um dos canos de ferro que se encontrava no teto da dispensa.

Se pudessem me ver do inferno quando recebi essa notícia, diríamos que nunca tinham me visto tão feliz.

E quanto a mim?

Bom, meu coração estava acelerado no momento em que estava saindo do tribunal. Digamos que senti certo medo. Também senti a vergonha me dominar quando avistei Karen, a única por quem eu teria ficado. Fui dominado pela dor ao ver meus melhores amigos, Keila, a ruiva que marcou o tempo em que estive respirando, e Leonardo, o homem com o coração de um menino. E eles choravam ao me verem naquela situação. Não sei se era por nojo, ou por eu estar os deixando.

Eu deveria ter sido mais amigo para eles, deveria ter dito, enquanto eu pude dizer, o quanto amava aquelas 3 pessoas. O quanto eu era grato por terem feito parte de algo que poderia ter sido uma vida.

Imaginei que, Karen poderia ter sido a mulher de minha vida, e claramente, Keila e Leo seriam padrinhos de meus filhos.

Mas isso eram apenas desejos. Desejos que não se realizarão, pois o capricho de me vingar foi maior. Minha obsessão falou mais alto.

É tão cômica essa sensação confusa de satisfação e medo ao mesmo tempo. Por um instante você se sente bem por ter cumprido suas metas, mas em seguida sente arrependimento por não ter aproveitado tudo aquilo que poderia ter.

Arrependimento, aquilo que jurei que nunca iria sentir, e ali estávamos nós. Nos últimos minutos de minha vida. Juntos, como fogo e gasolina.

Obrigado vida, agora sei o quanto estava errado em relação à essa merda de sentimento.

Durante o caminho até a morte, vários jornalistas me perguntavam sobre o julgamento, sobre a minha vida, e coisas que eles acham que são úteis para noticiar. E foi então que, um cinegrafista enfiou sua câmera em mim – claro, para conseguir o melhor “close” da cara do tal assassino – e como resposta, olhei em sua direção, tentei diminuir a velocidade, e lhe estendi um sorriso irônico, demonstrando satisfação.

BINGO!

Algum jornal ficará rico está noite.

Pelo menos algo bom eu tinha que fazer.

Escutei alguns tentarem me ofender com “Você é um monstro”, ou “Você vai pro inferno”.

Mal sabiam que estavam fazendo um favor para mim. Para o pastor, deram sua punição em uma caixa de concreto com grades, e para mim me deram a libertação.

Irônico, não?

Jogaram-me no porta-malas da viatura, e foram para o prédio onde seria realizada a minha “punição”.

Tudo girava e acontecia rapidamente.

Pensei em alguns versos de Runaways (The Killers) que Karen havia me mostrado enquanto estávamos juntos. Ela me pedia para ficar, e cantava o verso que dedicava a mim:

“You gotta know that this is real, baby

Why you wanna fight it?

It's the one thing you can choose”

E com pequenos sorrisos, lhe respondia que era necessário deixa-la.

Se há algo que sentiria falta daquele mundo, seria aquela garota.

A música continuou em meu subconsciente, fechei os olhos imaginando tempos bons, e suspirei:

“We can't wait 'till tomorrow”

Acordei com os policiais me empurrando para fora da viatura. E de repente já estávamos no corredor que terminava em uma porta branca.

Da última coisa que me lembro, foi de sentir o líquido entrando em minhas veias.

E morri. Morri sem arrependimentos. Sem dor eterna.

Agora seria apenas eu, e um lugar chamado “inferno”.

Como dizia Fernando Pessoa “É melhor um fim trágico que uma tragédia sem fim.”

E esse foi o meu fim trágico.

Ganhei o que eu queria: a morte daqueles necessários, e consegui colocar na mente do Senhor Thalles monstros e demônios que o perturbarão para sempre. Demônios que o enforcaram com uma mangueira da dispensa.

E eu perdi, perdi oportunidades de ser alguém melhor e de viver como uma pessoa normal, mas um dia irei poder aproveitar tais oportunidades.

Mas a vida é assim.

Ganhamos aquilo pelo esforço que tivemos em abrir mão de tais coisas.

E perdemos por desejarmos vitória acima de tudo.


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Notas finais do capítulo

...eu cometeria os mesmo crimes novamente.



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