Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 1
A senhora e a fechadura dourada.


Notas iniciais do capítulo

Um dos meus contos favoritos, mas não o melhor. Boa leitura.



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Pela fechadura dourada, avistava-se a criatura mais bela que eu já tinha visto. Seus cabelos cor da noite, curtos e jogados para o seu lado esquerdo, brilhavam ao contato do sol. Sua pele parda destacava seus formosos glóbulos negros, não muito grandes, mas levemente arredondados. Acompanhados por grandes cílios, uma sobrancelha fina e elegante.
Há algum tempo, aqueles olhos eram meus fãs, mas por conta de alguns devaneios da vida, eles se desviaram dos meus, e passaram a flertar outra garota.
Talvez, eu tenha sido muito rude com ela, mas talvez, ela apenas tenha se cansado dos meus pequenos olhos cor de nada.
Entretanto, até hoje, eu nunca me cansara de avistar seus primeiros olhares do dia. O modo o qual ela aprecia as manhãs de sol é encantador. Seu sorriso meio vago, olhando o horizonte, como se fosse à última vez. Tão encantador...
Hoje, resolvi mudar a minha rotina, e me atrevi em bater na grande porta de madeira. Porém, a resposta foi apenas um vago silêncio.
Olhei pela fechadura, e lá estava a bela senhora encostada na janela, lendo um pequeno cartão, o qual diria ser de sua nova namorada. Mas suas sobrancelhas estavam franzidas, como se estivesse prestes a chorar, como se algo no cartão lhe incomodara. Minha grande curiosidade me levou a bater novamente na porta, mas dessa vez acompanhado com minha voz dizendo: “Eu sei que está ai, Anna, deixe-me lhe ver”. Olhei para fechadura, e ela encarava a porta, um tanto quanto assustada, e quando hesitei em dizer ”por favor”, ela abriu a boca e disse: “Hoje não.”
Hoje não...
Resolvi seguir para minha pequena casa, e no dia seguinte voltei para fechadura dourada, e antes de tentar um contato novamente, a observei por 3 minutos.
Lá estava ela, porém brincando com uma pequena bola que eu havia lhe dado quando nos beijamos pela primeira vez, num parque de diversões. Ela estava me esperando. Eu percebi pelo modo o qual ela cruzava as pernas a cada 30 segundos. Olhando o relógio como se esperasse ansiosa por alguém. E esse alguém, era, sem dúvidas, eu.
Logo resolvi bater na porta, e consegui escutar o barulho da bola quicando no chão. Seus passos calmos se dirigiram até a porta, lentamente a porta foi se abrindo, e aos poucos consegui ver seu pequeno corpo coberto por um longo vestido negro, com um cachecolvermelho sangue.
“Olá.” Consegui dizer. “O que você veio buscar?” ela disse com um tom calmo, e sério. “Aquilo que você me prometeu.” Por sua vez, Anna respondeu com seu olhar vago. “Aquilo que você me prometeu quando estávamos sentadas no balanço da praça. Você se lembra?” completei. Seu olhar demonstrava se recordar do último dia, mas sua expressão recusava se relembrar. Após o vago silêncio, resolvi me retirar e quando alcancei as escadas, ouvi sua voz dizendo “Depois daquela época, depois de tanta dor. Depois de sofrermos, nos separamos. Eu realmente entendi o quanto você importava para mim” ela parou por um momento, e prosseguiu. “Meu ego sempre me impediu de correr até você, mas sempre que pude, fui até seu portão, observar o modo o qual você se concentrava nos teus artigos.” Por um momento quis sorrir, mas não consegui, as lágrimas banhavam minhas bochechas coradas. “Eu não sabia que você lia meus artigos...” consegui dizer. “Eu não disse que os lia, apenas disse que vi você os escrevendo.”
Fui em direção aos teus abraços, e quando tentei lhe beijar, ela se virou, dizendo que era errado nos beijarmos no auge de nossas dores após tudo o que vivemos. Ela se afastou, entregou-me o pequeno cartão, e entrou em seu pequeno apartamento. Deixando-me no silencioso corredor.
“Cara Senhora,
Sei que tu me observa todas as manhãs, mas convenhamos, suas tentativas de reatar comigo serão inúteis até o final de nossas vidas. Você obteve todas as chances possíveis, mas as jogou fora.
Então, hoje, eu lhe jogo fora, assim como você jogou o meu amor.
Com dor e carinho,
Anna.”
E o que restara foi apenas um vazio em meu peito, e uma fechadura dourada.


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Notas finais do capítulo

"Mareanna"



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