Katherine e Kevin correram para fora da casa onde eram mantidos prisioneiros, em momento algum olharam para trás.

Fora há poucos instantes que tomado pela surpresa o profeta percebera que seu plano estava dando certo, sentiu a adrenalina tomando conta do seu ser enquanto corria para encontrar Katherine. Quando o viu a moça não precisou de explicação alguma - estava sentada na cama fitando o teto quando escutou a porta sendo aberta bruscamente, apenas uma olhada rápida: o rapaz ofegante na porta, os olhos urgentes, ela sabia que era sua chance, e então os dois correram, como se suas vidas dependessem daquilo. Dependia.

Correram ao máximo que suas pernas permitiam. O vento frio passava por eles como navalhas em seus rostos, fazendo o nariz de ambos ficarem gelados e seus olhos se enxerem de lágrimas, mas não podiam parar. Continuaram em sua maratona até que entraram em um campo a céu aberto, abandonado o mato tomava a altura de seus cotovelos, mas isso não foi o suficiente para pará-los, os capins cortavam suas peles onde quer que atingissem e ambos tropeçaram um bocado de vezes. As nuvens negras anunciavam que em breve cairia uma tempestade, e não foi antes e escaparem do mato que os engolira que a chuva se fez, caindo como um chicote sobre eles.

Ambos estavam encharcados e imundos quando atingiram a estrada, mas apesar disto, incrivelmente felizes.

–Conseguimos. –disse Katherine num sussurro.

–É. –murmurou o profeta, como se precisasse confirmar o fato.

Trocaram um olhar cheio de alegria. As mãos e joelhos estavam ralados - dos tombos que levaram - e em alguns lugares tinham machucados um pouco maiores, o barro os cobria em praticamente toda a parte do corpo, entretanto aquilo não importava. Estavam livres.

Kevin apoiou as mãos em seus joelhos ainda em pé, como para descansar enquanto forçava sua respiração a voltar ao normal; já Katherine, sentiu a adrenalina deixando suas veias. Agora que o pior havia passado viu como a atitude de ambos tinha sido impensada e como era um plano cheio de riscos, tentou dissipar esse pensamento, afinal tinha dado certo.

– E agora? – interrogou o garoto.

– Precisamos de um esconderijo... Acho que se seguirmos a estrada conseguimos achar algum lugar. –murmurou Katherine, pensativa.

Kevin a olhou por um momento sem entender o que ela queria dizer com aquilo.

– O que foi? –indagou a morena sem entender o olhar do profeta.

– Você percebeu como estamos? – ele respondeu com outra pergunta e então abriu os braços como se dissesse: “Dê uma olhada”.

Katherine só então reparou no que ele quis dizer, eles não tinham como conseguir nenhum lugar para ficar naquela situação, estavam imundos, machucados, molhados e sem dinheiro.

– Precisamos pelo menos conseguir um telefone. Se acharmos um poderei ligar para Ash, e então estaremos seguros! –murmurou ela.

– Não temos mais que correr, não é? – pediu o garoto cheio de esperanças, fazendo a morena sorrir.

– Temos que ir rápido pelo menos. Enquanto estivermos aqui, do lado de fora, somos vulneráveis, não vou me descuidar com isso. Só vamos poder descansar quando estivermos em um local fechado com muito, muito sal!

Kevin suspirou derrotado, depois de correr todo aquele tempo suas pernas estavam acabadas, porém entendia o que Katherine queria dizer, ali fora não havia garantias que não seriam pegos novamente.

***

O pôr do sol já fora há algumas horas e as pálpebras de Ashley começavam a pesar mesmo com uma estrada ainda pela frente. A linha do horizonte foi o suficiente para que os olhos da garota se fechassem por alguns segundos até que o notebook a fez abrir os olhos rapidamente. Assustada, segurou o volante com força para não sair da estrada. Alguns minutos depois de se recompor parou o carro no acostamento e tirou o computado de baixo de alguns panos que o mantinha escondido no banco traseiro. A chama que recebera há algumas horas – a segunda com o número de Dean Winchester- havia sido rastreada assim como a primeira e apontava um endereço conhecido: a casa de Bobby. Perturbada a garota fechou o programa, iria cuidar deste problema mais tarde, por hora se concentraria em chegar onde Crowley havia escondido sua irmã e o profeta.

A ruiva revirou os olhos ao lembrar-se da pesquisa sobre a cidade onde o demônio havia escondido seus amigos: Hurley, Novo México, uma cidadezinha pacata com 1377 habitantes.

– Você não é muito criativo Crowley, apenas sabe se esconder bem. – murmurou ela para si própria trocando a marcha do carro.

Era apenas mais cinco horas para chegar ao destino final, mas após um pequeno cochilo no volante que quase lhe custou seu carro e talvez até mesmo a sua vida. Ashley resolveu parar em um pequeno hotel, nem um pouco diferente dos outros que estivera para passar algum tempo.

***

– Não consigo andar mais nenhuma milha. – murmurou a garota se jogando dramaticamente no asfalto do acostamento. O profeta seguiu o exemplo.

– Acho que a sola do meu pé ficou em algum lugar a meio milha atrás. – informou.

Os dois ficaram em silêncio, deitados no meio do acostamento olhando o céu tempestuoso. Algum tempo depois, um relâmpago dirigiu o olhar do profeta até uma placa há alguns metros dali.

– Bayard... –sussurrou o profeta. A garota se virou para ele que lhe indicou a placa.

– Novo México. –murmurou ela. Levantou-se de uma vez e bateu as mãos no short úmido como se para tirar alguma poeira. – Vamos nesta, profeta!

Os dois andaram mais algumas milhas antes de acharem uma igreja abandonada.

***

A loira se acomodou no quarto, quando foi deitar percebeu que era o melhor quarto que tinha se hospedado no último ano. Ela retirou da mochila o celular e viu as chamadas da irmã, mas não abriu as mensagens.

“Ash, não se preocupe,estou bem! Fiquei sabendo de uns vampiros e estou na caçada, provavelmente não conseguirei atender ao telefone nos próximos dias então não se preocupe okay? – Mia digitou as palavras apressadamente. Ela poderia atender o celular se quisesse, porém, depois de um ano atendendo telefonemas que nunca tinham avanço nenhum, precisava de um tempo... Um tempo para esquecer tudo que acontecera e apenas caçar, como no passado. Mas depois de uma rápida leitura, percebeu que sua mensagem estava fria demais, como se jogasse sobre a irmã toda a responsabilidade de encontrar Katherine sozinha e essa não era sua intenção, ela não estava desistindo, ou pelo menos, foi isso que disse a si mesma. A loira sabia que nos últimos tempos ela não tinha sido de muita serventia, evitava ao máximo qualquer contato com Ashley e sabia que isso era egoísta, entretanto não conseguia mais criar esperanças a cada telefonema apenas para vê-la acabar no instante seguinte e, novamente, sabia que isso era egoísmo da sua parte. Frustrada consigo se perguntou como a sua relação com sua irmã tinha acabado assim: com nada mais, além de telefonemas rápidos.

Magoada com tudo que acontecera e com o sentimento de culpa ela continuou a digitar: “Sobre Katherine, olha eu sei que você tem dado o seu melhor, não é sua culpa se Crowley tem anos de experiência a mais quando se trata de esconder vestígios. Não fique frustrada se algo não sair como planeja ok? Não faça de estupidamente perigoso enquanto eu não te ligar, eu sei que você quer resgatar Kevin e Katherine o mais rápido possível, e eu também acredite-me, porém não acho que se meter com demônios sozinha seja a melhor solução. Espere por mim. Ligarei em breve e então poderemos caçar juntas o que acha? Beijos, Mia.”

Depois de enviada a mensagem a caçadora se jogou contra a cama, estava disposta a tentar uma reaproximação com a irmã, devia isso a ela e a si mesma. Depois de pensar um pouco a respeito, pegou a mochila novamente e tirou uma foto de Dean e colocou a sobre o criado ao seu lado junto com o aparelho celular, agora desligado.