Estacionei o carro, respirei profundamente e desci. O vento fazia com que as arvores entrassem em uma profunda dança, o cheiro de grama recém cortada exalava no ar, sempre gostei daquele lugar, mirava o pequeno rio que cortava a cidade, a maré estava lançante. Ainda mais forte o vento soprou contra o meu rosto, eu não queria voltar aquela cidade, foi ali que cheguei ao fundo do poço, foi onde perdi tudo, foi onde acabei com muitos.

Ao longe vinha um rapaz segurando a mão de uma pequena garota e atrás deles havia um cachorro, era os meus irmãos e o nosso pequeno Husky Siberiano.

– Está pronta ?

– Se eu disser que não podemos voltar ?

A pequena garota de cabelo preto ondulado segurou em minha mão bem forte e disse:

– Nós estamos aqui com você, se quiser podemos dormir abraçadinhas.

– Eu amo vocês. - Peguei ela no colo e a abracei bem forte.

– Mel você pode levar o Fox para perto do carro, já estamos indo. - Nou disse apontando para o cachorro que começava a cavar um buraco ao lado de uma grande estátua de algum benemérito.

– Entenda que nada vai acontecer com você estamos prosseguindo muito bem no seu tratamento, voltamos para St. Michaels sei que muita coisa aconteceu aqui, esta na hora de superar isto. - Ele beijou minha testa. - Eu vou dirigindo.

Flasback on

Estava sentada no sofá era uma quarta-feira, a rua já estava deserta, nem um carro passava era tarde. Olhei para o relógio na parede marcava 02:00hrs, voltei meus olhos para a mesa de centro na minha frente, havia uma carta endereçada a Nolan Lewis era da Universidade da Califórnia, Berkeley. Sabia que se o meu irmão fosse aceito ele iria para longe, só de pensar nisso me fazia chorar, desde que nasci nunca me separei dele, mesmo nos acampamentos de verão ele estava ao meu lado, sempre me defendeu dos garotos da escola, contudo era seu sonho, sempre quis ir para lá, sempre quis ser medico.

Me aproximei da janela e vi o Nou chegando, ele sempre foi alto, forte com cabelos enegrecidos, ele fazia sucesso entre as garotas todo mês era uma namorada diferente. Voltei ao sofá e me sentei, a sala estava escura por isto ele não me viu e passou direto para escada.

– Nou ? - Susurrei.

– Olga, falei que não deveria me esperar. Amanhã, melhor dizendo hoje você vai para casa da sua madrinha. - Ele estava aborrecido.

– Eu sei, mas chegou uma carta, aquela carta que você tanto deseja. - Me olhou surpreso e desceu o lance de escadas e ficou na minha frente.

– Mamãe ou o papai sabe disso ?

– Não. - Eu liguei o abajur da sala e apanhei a carta. - Toma!

Ele rasgou o envelope , seus olhos ganharam um brilho súbito. Ele foi aceito, não demorou muito ele foi embora, só restou eu e os meus pais.

Flashback off

Estávamos chegando em nossa antiga casa. A Mel minha irmã de 3 anos estava deitada em meu colo dormindo, a tirei de cima de mim sem movimentos bruscos, peguei minha jaqueta e fui ajudar meu irmão que estava começando a tirar as malas do carro.

Parei ao seu lado, lhe observava, eu o admirava muito, quando nossos pais morreram, Nou estava terminando a faculdade, havia sido chamado para o mestrado no Reino Unido. Tudo foi tão rápido, estávamos sem chão como ele não podia nos sustentar e não tínhamos nem um parente eu e a Mel moramos durante alguns meses na casa da minha madrinha, até que ele se formou, abdicou do mestrado e começou a trabalhar em um importante hospital de São Francisco, alugou uma casa e nos levou para morar com ele. Hoje completa duas semanas que ele foi chamado para ser o chefe de um hospital aqui na pequena cidade que morávamos, ele aceitou.

– Vai ficar parada ai Senhorita Olga?

– A-ah Estava pensando desculpa. - Respondi.

Peguei uma mala preta média e fui em direção a porta, a casa estava diferente de outra cor, passei pela varanda e a sala estava com outros moveis, outros objetos de decoração, não havia mais cortinas. Quando o moreno entrou eu o indaguei:

– Você mandou mudar tudo ?

– Sim, achei melhor assim, se quiseres subir o seu quarto também mudou, agora você ficou com o meu antigo quarto e com a varanda que tanto queria. - Ele sorriu.

Subi os lances de escada, o corredor antes branco agora estava azul celeste. Meu quarto era no final do corredor. Girei a maçaneta, havia uma única parede vermelha sangue, o resto era branco, uma cama de solteiro ficava de frente para varanda, um guarda-roupa a minha direita, duas mesas, uma com um computador e outra era uma mesa antiga, com espelho, cheio de produtos de higiene e algumas maquiagens que já havia mandado na semana passada. Adentrei e passei direto para varanda conseguir vê os últimos raios solares do dia.

– Você vai ter seu tempo mas acorde está pequena dorminhoca se não ela vai virar zumbi daqui a pouco! - Nou gritou.

Logo corri, cheguei ofegante no carro e comecei a fazer cocegas na barriga da pequena, ela era uma pequena princesa seu cabelo ondulado ia até a metade da sua costa, seus olhos eram cor de âmbar, branquinha feito a neve.

– Vamos molenga não queres conhecer seu quarto ?

Ela acordou e começou a coçar seus olhos, olhou de um lado ao outro e falou:

– Já chegamos ?

– Eu disse que faltava apenas 30 minutos, mas você dormiu ai sua preguiçosa.

Em um salto ela saiu do carro e correu para casa. No meio do caminho a pequena voltou meio triste.

– O que foi minha querida ? - Ela segurou minha mão.

– Eu lembrei que não sei onde é. - Ela fez um bico fofo.

– Vamos lá. - Olhei para trás e Noulan tirava as ultimas malas.

– Vou pedi comida, subam tomem banho e espero vocês aqui em baixo, tudo bem ?

Apenas consenti e a Mel fez sinal de positivo. Levei a baixinha para seu quarto ele era lilás clarinho, sua cor preferida. Ela deve ter amado pois começou a dar pequenos pulos com o sorriso de orelha a orelha. Vamos tomar banho, abri seu guarda roupa e pequei seu pijama, percebi que algumas roupas ali foram as que mandamos outras eram novas.

Após o jantar o moreno levou a nossa irmã mais nova para dormir, acabei de lavar a louça e já estava enxugando quando ele adentrou no recinto com aquele olhar de preocupação.

– Vai ser hoje ? - Perguntei.

– Estou pronto, mas se não estiver eu entendo.

– Me espera na sala.

Arrumei o que faltava, respirei fundo e segui para o encontro com a verdade, ele vai ser o primeiro a saber do meu passado, de tudo o que aconteceu quando ele esteve fora. Sentei no sofá em sua frente.

–Tudo começou quando você foi embora. - Desviei o olhar. - Tinha 13 anos, me senti sem chão, estarrecida. A escola começou a piorar, minha "amigas" foram em busca da popularidade, tudo virou de cabeça para baixo. Escutava as conversas mais bizarras possíveis, principalmente sobre sexo, lembra da Sara, a nossa vizinha ?

– Sim.

– Ela sempre foi minha melhor amiga, nos contávamos tudo uma para a outra. Sara Thompson começou a namorar um formando as escondidas, não contou para ninguém e hoje entendo o motivo que ele tanto a pressionava para manter em sigilo.

– Você está fugindo do foco. - Ele disse me interrompendo.

– Calma, você precisa saber disto. - Não queria contar, mas vamos lá. - Sá começou a ser manipulada, o seu namorado era do time e ouve um jogo, ele mandou a garota ficar lá esperando quando o jogo terminasse, ela bobamente ficou. - Minha voz começou a sair embargada. - Bom, o que ele tanto esperava aconteceu, os dois foram para baixo da arquibancada ele com uma garrafa de whisky a embebedou e transou com ela. Sara mudou da água para o vinho quando Davi terminou o caso, logo após o ocorrido, a moça faltava na escola, começou a fumar, beber e por fim se drogar.

– Se você quiser parar por hoje, eu entendo.

– Eu sei quando devo parar. Uma noite recebi uma sms da minha amiga, dizia " Olga, estou bêbada não consigo voltar para casa, me busca na escola." Quando cheguei lá, a desequilibrada estava sóbria, apenas me trocou por um pouco de anfetamina para emagrecer. Eram três garotos, eles iam me estuprar, mas foi ai que começou meu pesadelo, boa noite, vou subir. - Beijei sua testa e fui em direção a escada.