Cheguei em casa e desmaiei na cama. Acordei com uma insônia horrível. Minha mãe parecia não ter chegado ainda em casa, olhei para o relógio e vi que ainda eram nove horas.

Escovei meus dentes e ainda com o vestido, coloquei um cardigã branco por cima e fui caminhar pelo hotel. Explorei cada centímetro daquele lugar, – menos os quartos hospedados – peguei uma xicara de chá e fui ver o jardim que tinha sido o lugar onde eu descobrira que ia me casar. A grama estava fresca, as decorações ainda estavam por lá, – deve ter festa todo dia – o lugar estava vazio. Puxei uma toalha azul de uma das mesas e estendi sobre a grama. Deitei por lá admirando as estrelas e tentando esquecer meus problemas. Lembrei de que lado meu pai estaria se estivesse aqui comigo, me perguntei que colo amigo a vovó seria pra mim agora. Eu estava com saudades dos dois. Eu ainda tinha minha outra avó, mas ela me odiava. Culpava-me todos os dias pela morte de meu pai, seu querido filho primogênito.

Fechei meus olhos e deixei as lágrimas rolarem. Senti a presença de alguém sentando do meu lado. Levantei e sentei também assustada, olhei pra ver quem era. Era Percy.

– Tudo bem? – Ele me perguntou.

– Você se importa mesmo com a resposta? – Devolvi secando as lágrimas.

– Calma ai, trégua! Bandeira branca olha. – Percy sacudiu uma toalha de mesa branca que havia pegado. Eu comecei a rir com a idiotice. – Melhor assim. Pode me falar o que esta acontecendo?

– Ok. – Suspirei fundo tentando não encarar aqueles olhos de cachorrinho pidão. – Estava pensando no meu pai e a minha vó e como minha vida esta uma droga.

– Nem me fala. Tive que terminar com a menina que gostava quando descobri que estava quase noivo de outra. Seu problema é parecido com o meu? – Percy perguntou.

Soltei um riso curto e respondi:

– É praticamente igual.

– Praticamente?

– Eu não namorava. – Expliquei.

– Ah claro. – Olhei pelo canto dos olhos a cara de Percy. Seus olhos pareciam mais brilhantes a luz da lua. – Meu pai não me deu muita escolha. Eu tinha chegado do cinema com minha ex-namorada quando ele me deu a noticia. Tive que aceitar, ou ele perderia uma parte da empresa. Uma droga né?

– Muita. – Ri sem graça. – Eu tinha chegado da escola quando descobri que teria que deixar meus amigos, mudar de escola, de cidade, de estado, e só descobri quando estava aqui que eu estava quase noiva. Uma droga né?

– Ok, você ganhou essa. – Percy sorriu de lado, o que me fez aprecia-lo mais.

Seus cabelos negros bagunçados como de costume, seus olhos verde mar que havia herdado do seu pai, seu sorriso amigável e sua voz rouca ao mesmo tempo doce o faziam ser lindo. Não Annabeth! Feche esse pensamento pra você!

– Por que esta me encarando desse jeito? – Percy disse me tirando dos devaneios.

– Eu? Ãh? Nada.

– Aham. – Percy começou a rir. – Se vamos nos casar poderíamos ser amigos pelo menos.

– É. Só por agora. É um cessar-fogo, lembra? – Falei provocando-o.

– Só não me deixe mais plantando nem me faça perder a primeira aula te esperando pra você me ignorar daquele jeito. – Percy falou e eu percebi um tom de rancor em sua voz.

– Ok, foi mal.

– Tudo bem. – Eu vi que não estava bem. – Vou indo ai, se um dia você quiser me contar sobre o que aconteceu com sua vó e seu pai, eu estou no andar de cima.

– Ok, vou me lembrar disso. Boa noite.

– Boa noite.

Vi Percy desaparecer pelas mesas e fiquei um pouco pensando na conversa que tivemos. Quando finalmente subi para meu quarto minha mãe já tinha ido dormir. Tomei um banho e me deitei.

Acordei ás seis horas. Mandei uma mensagem pra Piper perguntando se ela ia ao treino.

Vai no treino hoje? – Enviar;

Vou sim, quer que eu passe ai?

Se puder, sim. – Enviar;

Esteja pronta em trinta minutos.

Enviei um ok e levantei da cama. Fui até o banheiro e tomei outro banho. Escovei os dentes e o cabelo, ergui ele e coloquei um short jeans rasgado e uma regata preta. Calcei meu tênis que usava para os treinos que eu tinha na minha velha escola. Peguei minha bolsa e passei meu típico gloss. Piper me deu um toque e eu desci até o saguão.

Ela estava com seu uniforme de T-líder e com uma sacola pendurada no braço.

– Você tem cinco minutos pra trocar de roupa. – Piper me entregou a sacola.

Olhei para dentro e vi um uniforme igual o dela passado.

– É meu, eu tenho dois deles. Vamos Annie!

– Ok. – Corri até o banheiro mais próximo e troquei minha roupa. Coloquei meus shorts e a regata na bolsa me lembrando de que tinha aula depois. – Pronto.

– Ficou ótimo em você! – Piper sorriu e me puxou pelo braço. – Vamos, temos vinte minutos pra chegar no treino.

Quando finalmente chegamos na escola, corremos até o estádio nos fundos e eu vi que o treino das lideres de torcida era junto com os dos meninos do futebol americano.

– Droga Piper! Você não me disse que era junto! – Falei brava.

– Foi mal, esqueci. – Piper deu um sorrisinho e eu vi que ela estava mentindo.

Fui arrastada até o outro lado da quadra, onde eu vi uma menina com dois quilos de maquiagem no rosto, – sério? Ás sete horas da manha? – o cabelo erguido com um lanço e um sorriso fingindo ser doce.

– Piper querida! – A menina que deveria ser a tal Drew bateu palmas pra Piper. – Finalmente venho treinar? E trouxe a novata?

– Sim Drew. E nós duas vamos treinar. – Piper respondeu.

– Hum... – Drew pareceu pensar olhando para as outras meninas em volta. – Calypso mudou de escola então tem uma vaga. Se você saber fazer o básico ta dentro. Como é seu nome?

– Annabeth. – Respondi.

– Bem Annabeth, vamos começar com os movimentos básicos. Se você pegar tá dentro.

Olhei pra Piper que apenas assentiu com a cabeça. Olhei em volta e vi que do outro lado, Percy estava me encarando. A grama do estádio estava um pouco molhada pela chuva que teve a noite, Drew começou a fazer os movimentos e eu a acompanhei sem problemas, moleza. Olhei em direção á Percy que agora já estava de capacete e vi que ele ainda me encarava.