Pov – Percy

Não me lembro muito bem do que aconteceu, lembro-me de acordar em um quarto escuro de teto baixo, onde areia de praia era o chão. Ouvi um ronco que eu conhecia muito bem.

– Jason, ei cara, é você? – Perguntei cutucando-o.

– Hã, Pipes?

– Não cara, sou eu Percy. Acorda!

Jason pareceu levantar, a única coisa que eu podia ver era seu cabelo loiro brilhando.

– Que lugar é esse?

– Não faço ideia, - respondi – Ei, você jogou glitter no seu cabelo?

– Claro que não! Você não tem alguma lanterna ai?

– Não mas podemos dar um jeito. Cara, isso é glitter sim.

– Isso é efeito da tinta...

Tampei a boca de Jason com a mão, alguém ou melhor, algum bicho parecia conversar palavras sem nexo perto de nós.

– Cutuca você. – Disse.

– Eu não, vai que é um monstro, cutuca você!

– Não existem monstros! – Falei – No máximo é um cachorro.

– E se for um rottweiller?

– Isso tá mais pra pitbull.

– Ok, - Jason começou - nós dois cutucamos no três. E um.

– Dois.

– Três.

Cutucamos nós dois com o pé, no lugar onde vinha o som. Ele pareceu se mexer, pois bocejou alto.

– N-não Cali, e-eu disse pra vo-cê...

Olhei para Jason e comecei a rir. Era só o Valdez sonhando. Balancei ele que levantou batendo a cabeça no teto baixo.

– Ai! Que que foi que que é que que há?

– Então o Valdez tá afim da Calipso, hummmm! – Jason riu.

– Não amola cara. – Leo reclamou. – Por que vocês não ligam a luz?

– Porque não tem, - respondi – ou porque fomos sequestrados!

– Calma princesa, temos que saber onde estamos primeiro. – Leo falou.

– Me deixem dormir! – Gritou alguém raivoso.

Nunca pensei que iria sorrir ao ouvir a voz do Di Ângelo. Acordamos ele e explicamos o que estava acontecendo.

– Então, - começou Nico – primeiro vamos... Jason, porque tem glitter no seu cabelo?

– Jesus! – Reclamou Jason.

– Eita mano, pior que tem mesmo! – Leo começou a rir.

– Não disse?

– Ta, ta, eu passo glitter no cabelo sim. Em ocasiões especiais. Agora dá pra procurarmos uma porta aqui?

Tentei pensar em uma maneira de sair dali, tinha que ter uma porta, certo? Tateei as quatro paredes procurando por uma saída, nada. Parecia uma parede feita de papelão. Pensei por mim. As memórias estavam começando a voltar, e me lembro de correr atrás de um carro com os meninos até levar uma cacetada na cabeça e desmaiar. A areia nos meus pés era de praia, mas não existe praia em Manhattan, será que...

– Ai cara, para com isso! – Gritei para um dos três.

– Parar com o que donzela? – Perguntou Leo.

– Para de jogar areia em mim!

– Ai! Alguém jogou areia na minha boca, eca. – Jason reclamava, cuspindo.

– Deve ter sido o garoto em chamas.

– Da pra vocês pararem de brigar? – Nico pedia impaciente.

– E quem diz que não pode ser você que tá jogando areia? – Acusei-o.

– Não brinco com essas coisas. – Respondeu ele, seco.

– Ai! Para de me beliscar! – Leo gritava quase chorando.

Ouvi um risinho curto e já o reconheci. Esperei outro ataque, dessa vez foi em Nico. Ela jogou um punhado de areia no cabelo dele, no mesmo instante puxei o punho dela e a apertei.

– Me solta! – Esperneava Thalia.

– Pede desculpas. – Disse.

– Thalia? – Jason perguntou.

– Me solta seu canibal!

– Não solta não peixinho. – Leo falou – espera ela pedir desculpas primeiro.

– Não vou pedir. Eu me diverti.

– Mana, tem areia na minha cueca! – Jason pulava (sentado) coçando o traseiro.

Ou pelo menos era isso que eu esperava que ele estivesse fazendo.

– Ta, ta! Desculpa. Agora me solta seu ogro.

Soltei minha prima querida.

– Ideias? – Thalia perguntou.

– Estamos procurando a porta. – Respondeu Nico.

– Vocês ainda não perceberam? Essas paredes não são de verdade. – Dizia ela.

– Eu percebi. – Falei em triunfo.

– E por que não disse nada? – Perguntou Jason.

– Precisava?

– Ai meus céus! – Leo reclamou.

Bum!

A luz do sol cegou meus olhos. Minha visão ficou preta por uns segundos até se acostumar. Olhei em volta respirando o ar puro. Puro até demais. Estamos em uma ilha, uma ilha no meio do nada! O pior é que a ilha é linda. Pedras rochosas tomavam formas a partir da água salgada que batia nelas. Mais ao litoral, uma cadeia de montanhas pequenas rodeavam um vulcão (que espero estar inativo). Virei para os meus amigos que também parecia deslumbrados. Fiquei tentando a correr para dentro da floresta, mas vai saber que tipo de bicho tem por lá.

– Não precisava ser tão bruta, Lia. – Falei.

Thalia parecia contente em ter derrubado o mini quarto.

– Fui demais, podem falar. – Vangloriava-se.

– Demais? – Perguntou Nico. – E agora, aonde vamos dormir?

– Não sabia que você pretendia passar a noite aqui, Di Ângelo.

– Ah é? – Começou – Você acha mesmo que vamos conseguir sair daqui ainda hoje? Estamos perdidos E sequestrados.

– Ai que drama. – Murmurou Thalia.

– Ok, vamos pensar como seres racionais... – falei até ser interrompido.

– Seres racionais. – Imitou Leo rindo. – Tá ficando muito perto da Annabeth, hein.

– Annabeth? – Perguntou Thalia, mais para si mesmo. – Annabeth. Ai meu Deus, a Annie!

– Que que tem ela?

– A Piper, elas também foram sequestradas, cadê elas?

No mesmo instante, ouvimos um grito alto vindo de dentro da floresta. Nos entreolhamos e corremos floresta adentro.

Pov – Annabeth

– Tira essa aranha de cima de mim! – Eu gritava desesperada.

Eu e as meninas acordamos no meio da selva, em cima de papelões improvisados. Parecia que estávamos em uma ilha. Como viemos parar aqui não sabemos.

– Se você ficar parada nós conseguimos tirar! – Piper falava.

– Nós vamos morrer! – Chorava Calipso.

– Tira, tira, tira!!

– Fica parada! – Piper gritava.

– Vamos virar mulheres da caverna! – Calipso murmurava.

– Ta, chega! – Piper gritou tão alto que eu parei na hora. – Viu? Era só você parar. Já tirei ela das suas costas, agora dá para pensarmos ao invés de chorar?

Piper dirigiu um olhar feio para Calipso.

– Desculpa.

– Desculpa.

– Ok, a ajuda já deve chegar. Cadê os nossos sequestradores?

– Nos largaram aqui. – Respondi.

– Nós vamos morrer, nós vamos morrer, socorro, eu tô tendo um ataque...

Calipso andava em círculos pra lá e pra cá. Segurei-a pelos ombros e dei um tapa um pouco forte na sua face.

– Melhorou? – Perguntei.

– Sim, obrigada.

– Vamos ao litoral, é. Vamos até o litoral meninas. – Decidiu Piper.

– Não! Vamos ficar aqui. – Calipso pediu.

– Quer mesmo? Já olhou pra trás? – Falei.

Calipso virou a cabeça e quase desmaiou. Um vulcão de uns sessenta metros pairava a vinte metros de nós. Pelo verde da floresta, com certeza ele estava inativo, mas ela não precisava saber.

– Vamos até o litoral. É. – Concordou Cali.

Eu estava fervendo. Arranquei meu vestido com toda a raiva. Tirei a gaiola, rasquei a “calcinha” (lê-se calça) e a transformei em short. Desabotoei o espartilho e rasguei o vestido ao meio para usar a parte de cima como blusa. As meninas fizeram o mesmo.

– Merda de roupa... – Murmurava Piper.

– Se vamos ficar aqui, - disse – acho que vamos precisar desses tecidos para casos futuros. Vamos ter que leva-los.

Enrolamos os vestidos nos braços e deixamos a gaiola para trás. Agradeci por ter calçado uma sapatilha para ir ao baile, mas infelizmente, Piper e Calipso não tiveram a mesma sorte. O salto afundava na terra. Mosquitos nos picavam por toda a parte.

– Chega! – Piper gritou tirando os saltos. – Só vou usar eles para bater em alguém.

– Ai meu pé. – Cali tirou os saltos. – Isso só deve ser coisa daquela rapariga filha de uma mãe da Tanaka...

– Culpar não vai ajudar. – Falei.

– Mas alivia. – Falou Piper – Pelo menos nenhuma de nós gostamos da Drew.

– Shiu. – Calipso disse.

– O que?

– É sério, escutem.

Ouvi vozes conhecidas gritarem por mim e Piper. Corremos em direção delas, e em poucos minutos trompamos com os garotos e Thalia, que quase me matou asfixiada.

– Calipso? – Perguntou Leo.

– Não, sou uma alucinação. – Respondeu ela.

– Nunca pensei que ficaria tão feliz em ver vocês! – Olhei para Percy. – E você também.

Percy deu um sorriso de lado. E agora eu tinha certeza, realmente estava feliz em vê-lo.