– Então Crianças... – Disse o professor, interrompendo.

– Crianças? – Resmunguei baixo, mas todos pareceram ouvir, pois estavam me encarando. Uie. Olhei de cara feia para o professor – Quem aqui tem cara de criança?

Todos da sala pareceram concordar comigo, alguns acenando e outros de braços cruzados, o que era muito estranho. É sério.

Professor Edward, com seus misteriosos olhos verdes, agora parecendo aterrorizantes, limpou a garganta.

– CRIANÇAS – Ele repetiu, mais alto – São adolescentes de corpo, mas C.R.I.A.N.Ç.A.S de sabedoria, vivencias. Vocês minhas caras crianças, ainda tem muito o que aprender com a vida, é por isso que eu e os professores existimos e estamos aqui.

Ai. Essa doeu.

– Como se aprender contas inúteis, proporção, fatores, álgebra e toda essa merda de matemática, química, religião, português e física fosse mudar a minha vida – Resmungou uma das vadias em torno da sala, despertando risadas dos estudantes concordantes – Meu negócio é outro.

– É até fácil de imaginar – Pensei alto. Fazer o que, acontece. Sorri – Nada contra, mas me pergunto se te sustenta.

– O que tu ta insinuando? – Ela sibilou, bem, foi o que acho que ouvi. Pode ser que eu esteja imaginando coisas. Encolhi os ombros.

– Hã? Nada – Neguei. A vadia era loira de cabelos escorridos presos em um rabo de cavalo longo, com seios ENORMES. Sério. E.N.O.R.M.ES. Nem sei como ela aguenta tanto peso... Nem se é de verdade. Bom, se é silicone, o cirurgião fez um bom trabalho, ficou 100% puta. Ainda mais com o grande decote em sua blusa exportiva sem mangas preta que não cobria mal a metade dos peitos. Com um short, que mais parecia uma calcinha. Não. Uma B.O.X.E.R. Velho?. E um Salto agulha. Sério meu pai? Salto agulha em uma aula de Muay Tai? Véi? To imaginando coisas?

O professor limpou a garganta uma segunda vez.

– Chega. É disso que estou falando, vocês são muito infantis, qual quer coisa estão rosnando e silvando um para o outro – Edward olhou para mim – Esta aula, acima de tudo, não é apenas um tipo de competição, o importante, é que quero ver as habilidades de vocês.

– Há! Habilidades físicas! – Uma vadia morena de olhos cor de âmbar lambeu os lábios – Estou ansiosa por isso.

– Não Senhorita Josiane Priane – Retrucou o professor com uma careta – Não disse que são crianças? Tanto para aprender... E deixar de ver o lado mais simples, para o mais instintivo.

– Ué, mas o lado de ver o físico não é instintivo? É procriação – Renan levantou uma sobrancelha. Sinceramente, essa aula ta ficando estranha.

– Tão crianças... – O professor resmungou. A essa hora já até concordo com ele.

– O professor quis dizer Instintos de sobrevivência em uma luta corpo a corpo, até a morte, – Falei sem pensar, lembrando-me de uma lição que recebi em minha primeira escola logo após minha vida ter virado de cabeça para baixo. – Certo, professor?

Jonathan olhou para mim sério. Um aviso. Eu deveria manter descrição.

Professor Edward sorriu para mim.

– E você sabe o que eles são? Como controla-los? Como se apoderam de seu corpo? – A resposta veio a minha mente. Bastava responder: Não havia como saber, é instinto. Tudo que poderia ter é autocontrole sobre as emoções.

Olhei para o lado. Descrição. Lembrei.

– Saiba por si próprio – Sabia que era uma resposta azeda e que provavelmente me tiraria da aula, mas, ele surpreendentemente sorriu. O que eu não entendi.

– Ainda tem muito a aprender – Ele falou brincalhão.

– Fale por si próprio – Resmunguei – Você também tem muito a aprender.

O sorriso dele quebrou. Sabia que tava ferrada e que todos me encaravam. Ninguém se botava em linha de frente com o professor assim, que dizer, até se botavam. Mas nada tão sério. Ele pareceu não gostar do que falei.

– Estais certa – Ele me surpreendeu novamente, seus olhos misteriosos relampejaram algo. Gentileza? Não o entendo. – Afina, sempre a algo que se precisa aprender, seja o que e qual for o motivo.

Isso me lembrou novamente... Daquele dia. Nostalgia.

Fecho meus olhos. "Siga seus instintos..." A voz veio de uma lembrança. Por que tem que aparecer agora?