Monólogos De Pijama escrita por Carol Damiani


Capítulo 4
A arte de " inacabar " as coisas


Notas iniciais do capítulo

Oiii, Booa leitura



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Eu tinha resolvido fazer uma faxina no meu quarto. Esvaziei todas as prateleiras e gavetas, joguei tudo no chão e fui limpando coisa por coisa antes de devolver pro lugar. Burrice minha. É claro que eu não conseguiria arrumar tudo aquilo de uma só vez! Acabei me distraindo com as relíquias que encontrei e perdi o entusiasmo pela arrumação. Ou seja, ficou tudo jogado, até que a diarista veio e guardou tudo nos lugares errados para que eu pudesse deitar na minha cama e caminhar pelo quarto sem ter que desviar das coisas. Depois, quando procuro minhas coisas e não encontro, eu não posso nem reclamar, já que ninguém tem culpa por eu ser desorganizada demais. Mas minha desorganização não me preocupa tanto quanto minha mania de deixar as coisas inacabadas, como eu fiz com a faxina. Meu computador está cheio de textos sem desfecho, minha estante tem uma porção de livros lidos pela metade, e existem dezenas de filmes que eu comecei a assistir e não terminei. Às vezes passo dias trabalhando em uma idéia e desisto antes de colocá-la em prática. Não é como se eu não fosse fiel aos meus ideais - eu tenho minhas convicções e chego a irritar por ser tão inflexível. Eu me refiro às coisinhas pequenas, como enviar uma carta, aprender um instrumento, experimentar uma receita... É como se nada fosse interessante o bastante para manter a minha atenção focada. Eu sempre fui meio hiperativa, então quando as coisas começam a me entediar, eu desisto delas, ou então as troco por outras coisas que me pareçam mais atraentes. E isso me incomoda, porque eu sei que a vida exige perseverança. Eu não posso desistir dos meus objetivos antes de alcançá-los, por menor que eles sejam, porque se isso vira um hábito, eu me torno uma pessoa sem propósito nenhum. Felizmente, se minhas vontades são promíscuas e efêmeras, meus sentimentos são por demais persistentes. Eu não desisto de um amor só porque ele é complicado, nem troco de amigos porque eles não são divertidos. Outra coisa: eu não deixo as coisas pela metade quando as faço para os outros, porque eu sei que é importante pra eles. Talvez seja isso que está faltando em mim: certeza das coisas que são importantes pra mim. Eu paro e penso “não vou morrer se não fizer isso”, quando eu deveria pensar “vou fazer isso porque quero”. Eu preciso parar de ter vontades e começar a senti-las, porque aquilo que se tem pode se perder, mas sentimento é que nem energia: não se cria, nem se perde, se transforma.


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Notas finais do capítulo

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