O outro lado da Cicatriz escrita por Céu Costa, Raio de Luz


Capítulo 15
Três Vassouras




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Pov Belle

Eu coloquei minha calça jeans vermelha e a minha camisa social branca. Um colete preto de lantejoulas foscas, e penteei os cabelos. No espelho da penteadeira, eu vi meu travesseiro, e me arrepiei. A capa preta aparecia por entre os babados da fronha.

– Esquece, Belle. - eu voltei a arrumar os cabelos - Isso é coisa de sua cabeça.

Eu coloquei uns brincos prata e fiz minha maquiagem. Mas logo me peguei olhando para o livro pelo espelho.

– Não seja ridícula, Belle! É apenas um livro! - eu desviei o olhar - Não passa de um livro empoeirado!

Eu vesti meu sobretudo cinza, e coloquei o cachecol. Quando peguei a touca, acidentalmente voltei a olhar para o livro.

– Não há mal nenhum em ler um livro...

Eu me aproximei da minha cama. Sentia meu coração pulsar em meus ouvidos. Eu preciso ler. Eu preciso saber. Eu quero ler...

– Belle? - Sophie chamou na porta, me acordando da hipnose.

– O quê? - eu olhei para ela, puxando automaticamente o travesseiro para esconder o livro.

– Tá....sozinha aqui? - ela me olhou, desconfiada - Eu jurei ter ouvido vozes...

– Vozes? Não seja ridícula! Está vendo mais alguém aqui? - eu apontei para o meu redor abrindo os braços, para enfatizar.

– Não quis ofender... - ela olhou para o meu travesseiro - O que está escondendo?

– Doces, da cozinha no subsolo. - qual é, Belle? Você sabe mentir melhor! - Estava guardando para comer mais tarde...

– Vamos, sua esfomeada, eu te compro uns chocolates na Dedos de Mel. - ela saiu do quarto.

Eu olhei mais uma vez para o travesseiro. Não quero sair, não antes de descobrir meu segredo. Mas acho que ainda não é a hora.

*********

– Sophie, para onde está me levando? - eu perguntei, caminhando pelo pátio frontal.

É inverno, e tudo está coberto de gelo. De repente, Hagrid aparece caminhando, carregando um enorme pinheiro recém cortado. Enorme mesmo, digo, uns 10, 15 metros de altura.

– Mecié Hagrid, que prazer em ver monsenhor! - Sophie se pronunciou.

– Olá Sophie. Belle. - ele nos cumprimentou.

– Bem, mas que bela árvore o senhor carrega aí, não? - eu comentei.

– Obrigado. Encomenda de Dumbledore! Vai ficar no Grande Salão, para os professores de feitiços enfeitarem. - ele explicou.

– Oh, vai ficar uma beleza! - Sophie disse, encantada.

– Ô se vai! - Hagrid suspirou.

– A propósito, monsenhor. Estamos indo para o Três Vassouras. Não quer nos acompanhar com um bom copo quente de cerveja amanteigada? - Sophie convidou.

– Hogsmeate é? Bom, acho que uma dose não fará mal a ninguém. Mas primeiro, o trabalho! - ele ergueu o tronco em suas costas - Encontro vocês lá!

E seguiu, para dentro do castelo.

– Hogsmeate? - eu olhei para ela - O que é isso?

– Você não sai muito de Las Vegas, não é? - ela disse, rindo. - Hogsmeate é uma vila inteiramente mágica, fica a meio quilômetro das fronteiras a leste de Hogwarts. Todos os alunos vão nessa época do ano.

– Por que chamou o Hagrid? - eu sussurrei.

– Por que o ideal é sair acompanhada de um professor; - ela respondeu no mesmo tom - e conheço uma pessoa que vai querer saber sobre ele.

A Dedos de Mel é uma loja especializada em doces e guloseimas, muito frequentada pelos alunos dos anos iniciais. Que, inclusive, estavam por toda parte.

– O que vai querer, Belle? - Sophie olhou para mim.

– Uma visita a Dylan's Candy Bar em NY, porque aqui basicamente não tem muita coisa! - eu cruzei os braços.

– Sempre reclamando da Inglaterra... - ouvi uma voz grave atrás de mim, que fez meu coração acelerar.

– Não estou reclamando, Eric. - eu observei ele cumprimentar Sophie - Apenas estou enfatizando as qualidades de meu país natal.

– Você disse outra noite que era canadense! - Eric retrucou, e Sophie riu.

– Sou americana de coração e criação! - eu coloquei as mãos na cintura - Querem que eu prove? Eu juro à bandeira agora mesmo, quer ver?

– NÃÃO! - Eric, Sophie, a balconista e mais treze alunos gritaram, desesperados.

De repente, todos se tocaram do que fizeram, e tentaram disfarçar, o que foi ainda mais constrangedor.

– Acho que eu preciso de alguma coisa mais forte depois disso... - Eric falou, constrangido.

– Vem, vamos sair daqui, cidadã americana. - Sophie me puxou pelo braço.

Ela me levou (lê-se "arrastou") até uma pequena taverna rústica que tinha a alguns metros dali. Na placa que entrada lia-se Três Vassouras. Não é lá um nome muito bom para um bar, mas o que posso fazer!

Lá dentro era quente e até bem aconchegante, um estabelecimento familiar, se me permite dizer. Sophie sentou-se em um banco alto, perto do balcão de carvalho, e Erci sentou do meu lado, deixando-me no meio de nós trés.

– Que lugar bonito. - Eric pronunciou-se, olhando ao redor - Bem aconchegante.

– Eu costumava vir aqui com Madame Olímpia Maxime. - Sophie suspirou - Ela sempre pedia chocolate derretido na sua cerveja amanteigada.

– E você pedia o quê na sua? - eu perguntei, apenas para puxar assunto.

– Mel.

– O que vão querer? - o balconista logo veio nos atender.

– Três cervejas amanteigadas, e um pouco de mel na minha e na da Sophie. - Eric falou. Sophie olhou para ele, curiosa - Se você gosta...

– Hey, o namorado é meu! - eu cruzei os braços, indignada.

– Calma querida! - Eric me abraçou de lado - Eu só pedi uma bebida igual a da Sophie, não vou beijar ela!

– Chegue perto para ver onde vão parar seus dentes. - Sophie rosnou.

– Melhor assim. - eu peguei minha bolsa e me levantei - Vou no banheiro.

Eu me levantei, e caminhei até uma grande porta de carvalho. Olhei para Sophie e ela confirmou. Então entrei. Tinham duas portas, uma do lado esquerdo e outra do direito, indicando Bruxo e Bruxa. Entrei no feminino. Não era lá essas coisas, era apenas um banheiro comum. Coloquei a bolsa sobre o vaso e lavei meu rosto, molhando a nuca com os dedos. Sinto-me angustiada.

Aquela capa preta se sobressaía dentro da bolsa, quase como se quisesse saltar para fora. Eu quero ler. Eu preciso ler. Minha mente zumbe. Eu quero.... eu preciso....

Fechei a bolsa, passei um batom e saí do banheiro. Draco saiu do banheiro masculino, e assim que me viu, me imprensou contra a parede. Tipo, literalmente.

– Belle... - ele sussurrava, ameaçador - Que bom te ver...

– Gostaria de dizer o mesmo, - eu retruquei - Você tá péssimo!

E estava mesmo. Sua pele pálida estava quase fantasmagórica, seus cabelos loiros esbranquiçaram por completo, seus lábios secos e pálidos, e seus olhos rubros. Não era o mesmo Draco que me cantou na loja de antiguidades.

– O que fizeram com você?.... - eu sussurrei, quase tão doce quanto Sophie com Harry.

– Não importa. Preciso que faça uma coisa para mim. - ele disse, cruel.

***

– Me lembro dele quando ainda era apenas uma vassoura! - Slughorn ria para Sophie, com seu copo de cerveja comum.

– Que fantástico! - Sophie, respondeu, gentil.

– Ah, eu vou dar um jantar na minha sala, nada demais, apenas para um ou dois alunos mais seletos. Adoraria que a Bruxa Que Faz Poções de Olhos Fechados nos honrasse com sua presença. - Slughorn sorria, completamente bêbado.

– Adoraria, mecié. - ela respondeu.

– Você também, Moça do Baralho. - ele olhou para mim.

– Pode contar comigo, chefia! - eu sorri.

– Excelente! Receberão minha coruja em breve! - ele empolgou-se, e dito isso, saiu, em busca de outro aluno para conversar.

– Onde você estava, Belle! Parece péssima! - Sophie virou-se para mim - Encontrou fantasma, foi?

– Não, pior. - eu sentei no meu banco alto - Encontrei Draco.

– Malfoy? - Eric perguntou.

– E tem algum outro, retardado? - eu puxei minha caneca de cerveja amanteigada para perto - Encontrei ele quando saía do banheiro. Ele parece arrasado.

– Por causa do fim do namoro? - Eric perguntou denovo.

– Eu sei lá. - eu bebi um gole generoso - Eu achando que ele vinha me pedir pra reatar, e o cretino querendo que eu entregasse um pacote para ele! Eu lá tenho cara de coruja?

– Pacote? Ele mencionou para quem? - Sophie perguntou, preocupada.

– Disse que diria se eu dissesse que aceitava. Não levo nem copo de água pra minha mãe, vou levar encomenda para ele? Tenha dó! - eu retruquei.

– Isso tudo tá muito estranho... - Eric comentou.

– Por mim, ele que se exploda! - e tomei outro gole. - Hummm, isso é bom, vou querer outra.

Sophie sorriu, rindo de minhas maluquices. De repente, seu rosto ficou pálido, e as bochechas coraram.

– Oh non! - ela sussurrou - Finjam que estão falando comigo!

– Estamos falando com você! - Eric retrucou, sem entender. Tolinho.

– Eu não. Eu estou bebendo. - e bebi o último gole - Garçom, traz outra, por favor!

Eu sabia exatamente quem era que estava entrando no Três Vassouras, apenas de olhar para Sophie. Ela olhava atentamente para seu copo, e mexia freneticamente os dedos da mão esquerda. Usualmente esta mão é a única a ser coberta com luvas, mas como é inverno, agora Sophie usa as luvas nas duas mãos, parecendo um ser humano comum.

Mas ela não olhou para trás. Em momento algum. Eu, é claro, olhei, e olhei denovo. Na mesa atrás de nós, depois da escada, Hermione e Ronald estava conversando tranquilamente, enquanto Slughorn entretinha Potter.

Sophie suava frio, do meu lado.

– Se não vai beber, eu bebo. - Eric se ofereceu.

Sophie entregou o copo para ele, que bebeu tudo rapidamente. Mas ela continuava a olhar para as mãos, nervosa.

– Onde vai passar as férias de inverno, Sophie? - Eric a chamou. Ela olhou para ele, como se despertasse de uma hipnose.

– Em casa. - ela respondeu - Estou com saudades de Nicola.

– Hummmm... Nicola... - eu a pertubei, mas ao invés de brigar comigo, ela corou, o que foi estranho de se ver.

– Eu quero voltar e ver Paris. Tem ainda muitos tios e parentes que eu preciso.... - ela começou.

– Ai que tédio! - eu bufei - Vai passar as férias em Paris, na casa da vovó? Não, não, Chapeuzinho Vermelho! Você vem CO-MI-GO! Vamos para minha casa em Las Vegas.

– Não sei se quero... - ela sussurrou, vermelha.

– Ora, Sophie, Paris é muito romântico; - Eric falou - mas Las Vegas? É uma oportunidade única na vida!

– E é por isso que você vai também! - eu virei de frente para ele.

– Mesmo? - ele me olhou, com aqueles olhinhos brilhantes.

– Aham.

Logo depois disso, Hagrid chegou, e eu só me lembro de Sophie e Eric se matando para rachar a conta porque eu bebi quase meio barril de cerveja amanteigada. Mas pelo menos, vou levar Sophie para Las Vegas, meu bem. Las Vegas...


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Notas finais do capítulo

Las Vegas, baby!



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