Diário de Bordo - Hammock Flying escrita por Sasagawa


Capítulo 5
Capítulo #04




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19 de Março de 2118 – Calabouço

(Palácio Real de Sarabasta)

Minha visão parecia estar voltando. Por enquanto, não enxergava nenhum foco de luz por ali. Minha cabeça doía, meu braço ainda mais. Olhei em minha volta e pude perceber que estava em uma cela. Era toda empoeirada, com alguns grilhões presos na parede. Na minha frente, um corredor com algumas tochas acesas. Comecei a ouvir passos vindo do corredor.

– Parece que nosso amigo finalmente acordou!

Aquela voz! Tinha quase certeza que era Darlikan. O que ele fazia aqui?

– Olá, caro amigo! – Dizia Darlikan enquanto se aproximava da cela. – Gostou de nosso pequeno aposento real? Mandei preparar ele especialmente para você.

Não conseguia me mover. Parecia que meus braços e pernas não respondiam.

– Chegou a hora de você responder algumas perguntinhas que tenho para fazer. Você quer fazer isso da maneira mais difícil ou da mais fácil? A difícil, eu o torturarei até que fale tudo o que quero saber. A fácil, basta apenas você abrir a boca e apodrecer nesta cela de forma pacífica e sem violência. Você decide.

Permaneci quieto, sem falar nada. Darlikan sorria de maneira macabra.

– Você tem certeza que é isso que quer, garoto?

Olhei para Darlikan e cuspi em seu rosto. Darlikan limpava o cuspe com a mão, sorrindo mais ainda.

– Bom, bom. Você é dos meus, garoto. Prefere o caminho da dor, certo? Saiba que este é o meu caminho preferido!

Darlikan lambia seu lábio superior e estalava os dedos, chamando alguém. Segundos depois, um guarda vinha trazendo uma lança suja de sangue. Não duvidaria se aquela fosse a mesma lança que me perfurou mais cedo.

– Reconhece isso, meu garoto?

Olhava seriamente para Darlikan. Precisava ser forte, por Sirena!

– Que tal devolvermos para o lugar de onde saiu? – Dizia Darlikan enquanto mirava no meu braço esquerdo.

Ao dizer aquilo, virei meu rosto para visualizar como estava o estado do meu braço direito. Havia uma faixa amarrada nele, como se alguém tivesse cuidado dos ferimentos. De repente, a mesma dor de antes sucumbia o meu braço esquerdo, na parte superior dele. Aquele bastardo infeliz havia cravado a lança no meu braço!

– ARGH! – Não aguentava a dor. Receber um ferimento desses após o outro não me ajudaria a sair dali

– Ops! Me desculpe, meu jovem! Acho que confundi os braços. Deixe-me ajuda-lo, sim?

Darlikan puxava a lança com tudo. A dor era imensa. Sentia o sangue escorrer depressa do meu braço. Estava paralisado. Mal conseguia respirar por conta da dor.

– Não se preocupe, rapaz. Me certificarei de acertar o lugar desta vez!

Darlikan retirava a faixa que estava em meu braço, mostrando um pequeno buraco nele. Aquilo me desesperava cada vez mais. Jamais pensei que meu corpo sentiria uma dor dessas.

– Muito bem. Agora que sei onde é o lugar, ora de encaixar de volta. A menos que você queira me falar algo, meu caro.

– Vá pro inferno, desgraçado!

Darlikan soltava a lança no chão e começava a me aplaudir.

– Bravo! Bravo! Parece que temos um herói por aqui! Admiro sua bravura, garoto. Pena que ela não fará você sentir menor dor!

Darlikan pegava a lança do chão e logo em seguida fincava-a no machucado do meu braço.

Minha respiração estava acelerada. Meus gritos de agonia ecoavam pelas masmorras. O oxigênio parecia sair de meus pulmões. Não sabia se aguentaria aquilo.

– Puxa, parece que não encaixou direito! Vou ter que tirar e colocar de novo...

Novamente, Darlikan puxava a lança de meu braço. Minha visão começara a ficar embaçada e embranquecida. Então era isso. Este seria o fim trágico de David Hersey, o aviador que jamais conseguiu cumprir uma simples promessa a uma princesa. Seu pai e ela estariam condenados por Darlikan, apenas porque não fui forte o bastante. A vida parece ser bem injusta quando estamos nesse ponto de vista.

– É, parece que você não durou muito. É uma pena, porque adoraria brincar mais com você!

Pude apenas ouvir Darlikan. Uma imagem borrada de sua mão se aproximando com uma lança seria minha última visão.

– Já chega, Darlikan! Acho que você já fez demais. Não queremos ele morto, se esqueceu? Eu cuido disso a partir de agora!

– Claro, claro, Senhor Chacal. Acho que me empolguei demais, não foi?

Pude ouvir o barulho de passos se aproximando de mim. Minha respiração era a única coisa que me confortava naquele momento, pois era a certeza de eu ainda estar vivo. Minha visão escureceu. Infelizmente, aquela foi a minha hora...

22 de Março de 2118 – Calabouço

(Palácio Real de Sarabasta)

Sentia minhas pálpebras tremerem. Acho que era um bom sinal, afinal, se eu as estava sentindo, era sinal de que ainda estava vivo. Minha visão foi voltando lentamente. Primeiro, um clarão forte estava na minha frente. Com o tempo, fui percebendo que se tratava de uma tocha. Sinal de que fui deixado no calabouço mesmo. Meus braços estavam bem enfaixados e podia sentir ataduras nele. Infelizmente, o movimento deles ainda não podia ser realizado. Estava começando a raciocinar de novo. Eles me queriam vivo. Na certa, deve ser para me interrogarem de novo. Preciso dar um jeito de sair daqui. Se eu tiver que “brincar” com aquele bastardo de novo, é bem provável que não tenha esta mesma sorte. Tentei me levantar. Mesmo com a impossibilidade de utilizar minhas mãos, dei meu jeito de levantar, utilizando o apoio da parede da cela e meus pés. Agora que estou de pé, o que poderia ser feito?

Um barulho de porta se abrindo ecoava pela cela. Droga! Justo agora que havia recuperado a consciência? Via apenas uma sombra passando pelas tochas. Podia ser qualquer pessoa: Chacal, Darlikan ou até mesmo um soldado fazendo a ronda.

– David...

Uma voz doce tocava meus ouvidos. Não pude acreditar que estava escutando ela.

– Princesa?

Sirena se aproximava da cela. Ela olhava desesperadamente para o meu estado.

– O que fizeram com você? Faz três dias que está sumido! – Sirena levava suas mãos a boca. Uma lágrima escorria de seu olho. – Como pude ser tão idiota!

– Hey! Você não foi idiota, Sirena.

– Se eu tivesse falado algo na hora, isso não teria acontecido... – Sirena se ajoelhava. – Por favor, me perdoa, David! Não importa o que eu faça, jamais conseguirei recompensá-lo pelo que fez...

– Como você quer me recompensar por algo que eu ainda não fiz? Quando terminarmos com tudo isso, aí sim você poderá chorar e me agradecer. – Disse enquanto abria um sorriso para confortar Sirena.

A princesa me olhava e enxugava suas lágrimas. Ela colocava sua mão em uma pequena bolsinha de pano que estava carregando na lateral.

– Consegui pegar isto enquanto os guardas estavam distraídos... – Sirena me entregava uma chave. Possivelmente para abrir esta cela.

– Você é a melhor, Sirena! Saindo daqui, você vai direto contar ao seu pai o que está acontecendo. Eu tenho certas contas a acertar com um certo homem!

– David, não posso. Darlikan veio falar comigo a respeito dos planos dele. Ele disse que se meu pai soubesse de algo, ele aceleraria o processo de coroamento do novo rei.

– Então ele acha que fazendo a princesa ficar calada ele se safará dessa? Ele está muito enganado.

– David, eu estou com muito medo...

– Sirena, farei uma nova promessa a você. Não vou deixar esse doente fazer nada com você!

– Ele queria me matar, não é?

– Não. Ele queria fazer outro tipo de desgraça.

– O que você quer dizer com isso?

– Estou dizendo que ele queria te violentar... Isso que eu quero dizer.

Sirena estava em choque. Acredito que ela já sabia que ele era doente, mas não a ponto de fazer isso.

– Sirena, quero que você saiba desde já que não estamos lutando contra um homem que quer apenas matar e roubar o trono de seu pai. Estamos lutando contra um monstro que não possui limites. Os olhos dele ao verem você sozinha no quarto com ele, pareciam estar insaciáveis. Ele queria a todo custo você. Quando ele veio me visitar nesta cela, o mesmo olhar estava presente nele, mas desta vez, acompanhado de uma sede de dor e sofrimento. Ele não tem motivos para fazer algo. Ele apenas faz porque quer.

Sirena tentava se controlar, mas seus sentimentos respondiam mais forte. A garota continuava ajoelhada. Seus olhos se enchiam cada vez mais de lágrimas. Abri a porta da cela e abracei-a. Mesmo com meus braços sem condições de fazer nada, dei o melhor e mais confortável abraço que podia dar.

– Sirena, estou aqui com você! Lembra da promessa que acabei de fazer a você! Tenha fé e confie em mim, da mesma forma que confiei minha segurança a você quando me trouxe para cá.

Sirena estava com seu rosto encostado no meu peito. Parecia não querer mostrar esse sinal de fraqueza. Felizmente eu não estava usando a mesma blusa de antes. Usava uma camisa amarela, com bordas laranjas. Acho que Chacal trocou minha antiga blusa e refez os curativos.

– Sirena, quero que você mantenha o máximo de distância deste cara. Preciso arranjar uma maneira de poder andar livremente pelo palácio.

– Eu tive a ideia perfeita, David! – Dizia Sirena enquanto desencostava de meu peito e sorria para mim.

Olhei para Sirena e enxuguei suas lágrimas com a minha mão. Abri um grande sorriso de volta para ela.

– Vai dar tudo certo, Sirena. Eu prometo!


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