Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 40
Bianca


Notas iniciais do capítulo

Um novo capítulo fresquinho para vocês. Acabou de sair do forno. Espero que gostem!



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Não vou dizer que foi fácil pedir ajuda. Eu achava que podia controlar isso sozinha. No fundo eu sabia que não podia, mas gostava de acreditar que sim. Até o Felipe me convencer de que estava na hora de ir atrás de tratamento ou não podíamos mais ficar juntos. Essa escolha não foi difícil. Meu coração sabia exatamente o que queria: eu o queria por perto. Não deixaria nada e ninguém mudar isso.

Claro que se não fosse por ele eu nunca teria cogitado a possibilidade de conversar com uma pessoa até então estanha que pudesse me ajudar com o tratamento.

A doutora Alice – a psicóloga do colégio - tornou tudo tão mais fácil. No inicio, por medo e receio, eu não consegui me abrir muito com ela, mas ela buscou muitos meios de criar intimidade entre nós. Em uma semana eu já estava conversando com ela como se fôssemos velhas amigas. O que significava que aquela ideia estava dando certo. Ela tinha muitos conselhos bons e eu adorava perder uma aula e outra para ir falar com ela.

Eu sentia que estava evoluindo pouco a pouco.

O único problema é que quando eu estava conversando com ela em sua sala tudo parecia mais fácil. Ou quando eu estava com o Felipe e ele me incentiva a comer como se fosse à coisa mais natural do mundo para mim. Ao lado deles eu me sentia forte e com vontade de superar essa doença. Mas sem eles eu era fraca, eu ainda pensava em vomitar, não queria comer muito para não engordar.

A doutora Alice disse que esse era um processo lento e que eu precisava ter paciência e ser forte. E que no final das contas ficar melhor só dependia de mim. Eu queria muito acreditar nisso. Havia dias que eu me sentia mais forte que outros e conseguia comer sem muito peso na consciência. Mas havia dias que eu achava que isso nunca daria certo. Eu nunca iria conseguir largar essa mania de destorcer a realidade do meu corpo.

O Felipe por sua vez estava sendo ainda mais paciente comigo. Todas às vezes ele dava um jeito de fugir de sua aula para me levar até a porta do consultório da psicóloga. Ele beijava a minha testa depois de conferir se não havia ninguém olhando e me esperava entrar na sala, só para ter a certeza de que eu não ia fugir. E só depois ele voltava para sua aula, seja lá qual fosse. E eu – já com a minha autorização feita pela direção do colégio – ficava conversando com a psicóloga por quase meia hora, pelo menos duas vezes por semana. Ou até três, dependendo do meu bom humor.

Por enquanto eu, o Felipe e a doutora éramos os únicos a saber desse meu começo de tratamento. A doutora Alice até disse que seria melhor mantermos em segredo, até que eu me sentisse prepara o bastante para me abrir com os meus amigos e até mesmo com meus pais. E quando isso fosse acontecer ela disse que estaria do meu lado, para me ajudar no que fosse preciso. Ela é muito adorável, quase como se fosse uma tia minha. Uma pena que eu não tenha a conhecido antes. Sinto que já estamos nos tornando grandes amigas. Afinal, ela melhor que ninguém sabe de todas as minhas paranoias e o melhor de tudo: não me julga por isso, não sai espalhando por aí e me entende perfeitamente.

Eu não sinto que ela faz isso por causa do seu trabalho. Quando estou com ela sinto que ela ama o que faz e o faz com excelência, como se aquilo fosse a ultima coisa que ela tivesse que fazer na vida antes de morrer e sentir-se profissionalmente realizada. Por isso é tão maravilhosa e torna tudo tão natural e simples. Um dia quero ser como ela, independentemente da profissão que eu escolha para mim. Tenho certeza que ela vai trabalhar todos os dias com um sorriso no rosto porque é muito realizada e bem resolvida.

Aquela manhã eu acordei com um ótimo humor. E olha que eu nem teria umas horinhas com a psicóloga hoje. A minha felicidade era porque amanhã faríamos uma viajem a Santos, ao litoral de São Paulo. Uma viagem organizada pelo colégio para fazermos um trabalho de geografia, biologia, química e história. Eu estava morrendo de ansiedade, assim como todo o resto do pessoal. Normalmente quando viajamos assim com o colégio era uma farra sem fim e quebrava um pouco a rotina.

No colégio não se falou em outra coisa o dia inteiro. Todos fazendo planos, trocando ideias, debatendo sobre os trabalhos propostos, trocando experiências. Seria a semana inteira assim. Cada dia sairia pelo menos cinco ônibus para Santos. Hoje foi alguns terceiros anos. Amanhã alguns segundos e assim por diante. Até que todos que pagaram sessenta reais pudessem ir. Sessenta reais que incluía o ônibus, as entradas nos museus e o almoço gratuito em um restaurante local da cidade.

Não foi tão caro assim, não é mesmo? Por isso quase todo o colégio iria e aqueles que não puderam pagar, os professores ajudaram fazendo uma vaquinha. Isso sim que era união.

Felipe e eu nos despedimos com um beijo daqueles de arrancar o fôlego antes do elevador parar no andar dele. Depois eu subi sozinha até o meu andar com um sorriso bobo no rosto, que é como eu fico sempre que ele me deixa assim, como se pudesse flutuar. Chego a casa e levo um susto daqueles quando encontro meus pais sentados no sofá, como se estivessem esperando por minha chegada.

Isso nunca acontecia. Será que tinha acontecido alguma coisa grave? Algum tio morreu? Ou será que foi o vovô ou a vovó? Ou a empresa pegou fogo? Tá legal, acho que estou exagerando um pouco. Talvez não tenha acontecido nada de mais. Talvez eles tenha chegado cedo para jantarmos juntos como uma família unida e feliz. O que parecia pouco provável, mas era melhor sonhar do que pensar em tragédias.

— Oi, pai. – beijo seu rosto, inclinando-me em sua direção. Depois faço o mesmo com a mamãe. — Oi, mãe. Que surpresa!

— Bia, querida, nós precisamos ter uma conversa séria com você. – bastou a mamãe dizer isso para eu me apavorar de vez. Na certa algo muito ruim tinha acontecido.

E eu tive ainda mais certeza disso quando a minha prima surgiu do além, juntando-se a nós na sala de estar com a maior cara de sínica.

— O que aconteceu? – volto a olhar para os dois. Eles não têm uma expressão muito boa. Minhas pernas começam a ficar bambas.

— Queríamos conversar sobre o seu... Tratamento. – dessa vez foi a vez do meu pai dizer. Normalmente eu achava muito fofo casais que complementavam as frases um do outro. Mas nesse caso eu achei estranhamento assustador.

Eu podia muito bem me fazer de desentendida e perguntar de que tratamento eles estavam se referindo, pois eu não estava sabendo de nada. Mas eu sabia exatamente qual era o tal tratamento. Mas a pergunta era: como eles ficaram sabendo?

Naquele momento meu cérebro processou rapidamente e a presença da minha prima naquela conversa tão pessoal fez todo sentido.

— Foi você, não foi? – eu gritei olhando para ela. Sim, eu estava feliz. Fiquei feliz o meu dia todo, ansiosa por amanhã. E agora eu estava uma fera. Pronta para acabar com a raça daquela vaca.

Ao ver que eu estava furiosa, papai se levantou do sofá e se colocou ao meu lado, tocando meu ombro com carinho e doçura na tentativa de me acalmar.

— Filha, fique calma. Sua prima só quis ajudar. – disse ele com uma voz muito calma. — Foi até bom ela ter nos dito a verdade, já que você resolveu esconder isso da gente. – olhei para ele, indignada. — Bianca, nós somos seus pais, nós merecíamos a verdade.

Ah, então é assim agora? Tive vontade de perguntar. Porque eu também mereço muitas coisas que não tenho. Como por exemplo: um pouco mais de atenção e tempo dos meus pais, mais amor, carinho e afeto. E nada disso eu tenho. Mas parece que não faz diferença. Só eles têm o direito de merecer alguma coisa, já eu não.

— Você não tinha o direito! – disparei, voltando a olhar para a bruxa que continuava bem ali com aquela carinha de coitada e inocente. — Como foi que você descobriu? Isso é coisa minha. Eu diria a eles quando estivesse preparada. Você não tinha o direito de se meter assim na minha vida!

— Bianca! – mamãe também se levantou, parecendo horrorizada com a minha atitude. — Ela não fez por maldade.

Eles dizem isso porque não sabem ainda até onde ela é capaz de ir para levar a melhor sobre tudo e todos.

Maria Eduarda abriu a boca para dizer alguma besteira qualquer para se defender, quando eu me desvencilhei do meu pai e parti na direção dela. Por isso ninguém esperava, muito menos eu. Eu agi muito rapidamente, quase por impulso. E voei em cima dela, derrubando a no chão. E com os olhos repletos de lagrimas de ódio eu comecei a estapeá-la sem saber ao certo onde, já que mal conseguia enxergar por conta das lágrimas.

Eu podia destruir todo o rostinho lindo dela com as minhas próprias mãos, mas não consegui bater nela nem por dez segundos, até que meus pais me puxaram pelos braços, um de cada lado e me tiraram de cima dela.

— Me soltem! – não foi exatamente um pedido, já que eu puxei com tudo meus braços para longe deles e subi correndo para o meu quarto esquecendo a bolsa lá em baixo mesmo e com lágrimas nos olhos.

Tranquei-me ali dentro pelo resto da noite e chorei sem parar, com o rosto enterrado no meu travesseiro enquanto meus pais pediam do outro lado para eu abrir a porta e os deixar entrarem para termos uma conversa mais civilizada sobre os meus problemas.

Eu me sentia muito patética e de certa forma culpada. Quando na verdade eu não tinha muito porque me culpar, pois se meus pais fossem no mínimos mais próximos da própria filha, na certa eu teria confessado a eles sobre o meu problema já há muito tempo. Mas também não os culpo, pois nada justifica. Acredito que algumas coisas realmente precisar acontecer em nossas vidas para tirarmos disso uma grande lição.

Felipe me ligou um pouco antes das dez horas, como ele normalmente fazia para me desejar uma boa noite de sono. Eu pensei seriamente em não atende-lo, pois eu estava ainda muito triste e brava. Mas por fim acabei chegando à conclusão de que naquele momento ele era o único com quem eu queria compartilhar minhas frustrações.

— Você quer que eu vá aí ficar com você até isso passar? – ele perguntou, parecendo muito preocupado. Um fofo!

— Não, não precisa. Obrigada mesmo assim. – eu até consegui sorrir, limpando o ultimo resquício das minhas lágrimas. A voz dele era como remédio para os meus ouvidos. Acalmava-me. — Meus pais também nem deixariam você entrar e nem tem como você entrar pela janela. – tive que rir, ao imaginar ele escalando o prédio. — Nos vemos amanhã.

— Tudo bem. – ele suspirou. — Eu prometo que amanhã farei você muito feliz, só para você esquecer o que aconteceu hoje. Agora vamos dormir. Pois amanhã temos que estar de pé antes do sol nascer.

Às seis e meia em ponto teríamos que estar todos em frente ao colégio, onde acontecia nosso ponto de partida. Ao descobrir que o nome do Felipe não estava na mesma lista de chamada do meu ônibus eu fiquei muito triste. Queria muito que em nossa primeira viagem pudéssemos sentar juntos e ficar conversando e trocando carinho o caminho todo. Mas isso não seria possível. Pelo menos a Luiza poderia me fazer companhia, já que ela e a Natália também foram separadas.

Depois de quase duas horas de viagem, nós chegamos a Santos. Ainda estava muito cedo, não havia ainda sinal do sol e estava um ventinho gelado. Por isso vesti um casaquinho antes de descer do ônibus com a minha melhor amiga. A primeira parada do nosso cronograma seria o Monte Serrat. Fomos o segundo ônibus a chegar. Precisávamos esperar os demais antes de começar o nosso passeio.

O monitor da viagem fez a chamada e assim que verificou que estavam todos ali nós formamos uma grande fila. Eu estava no começo dela e o Felipe lá no fundo. Sorrimos um para o outro onde estávamos e com a leitura que fiz de seus lábios captei quando ele perguntou se eu estava melhor e eu assenti, porque de fato estar naquele lugar incrível me fez esquecer muitos dos meus problemas.

Subimos o Monte de bondinho. O bonde era pequeno, então não cabiam muitas pessoas e levaria uma eternidade até estarmos todos lá em cima. Teríamos que ser pacientes. Lá em cima tinha uma igreja muito antiga. Passamos por dentro dela até chegarmos ao mirante e termos uma visão privilegiada de 360º de toda a cidade. Era a vista mais incrível que já presenciei na vida. O Monte é extremamente alto e estar ali é quase como estar mais pertinho do céu.

Aproveitamos a parada para tirar muitas fotos, apreciar a vista e fazer as anotações sobre tudo que os monitores falavam sobre a história daquele lugar em nossos caderninhos de pesquisa. E só um tempinho depois foi que eu senti alguém se aproximar por trás e tocar a minha mão discretamente.

Olhei para o lado e lá estava o Felipe todo maravilhoso com seu jeans simples e com a toca do seu moletom cobrindo a cabeça e com uma carinha maravilhosa de sono como se ele tivesse dormido o trajeto todo até aqui no ônibus .

Eu queria muito beija-lo ali mesmo, para tornar aquele momento um marcante em nosso relacionamento. Mas isso não foi possível, infelizmente. Sendo assim, tentamos ao máximo aproveitar aquela oportunidade apenas desfrutando a companhia um do outro.

Tínhamos um longo dia, por isso não nos demoramos muito ali. Descemos pela escadaria de 415 degraus. Não foi tão cansativo, já que o Rafael e outros garotos resolveram cantar umas musicas bem antigas que certamente à maioria de nós curtiu na infância durante o trajeto. Depois passeamos pelo centro histórico da cidade, onde analisamos a arquitetura das construções, ouvimos as histórias e lendas urbanas e fizemos mais anotações e tiramos mais fotos.

Gostei especialmente do nosso passeio, pois foi onde pudemos ficar em grupo. O nosso grupo. E isso tornou tudo mais divertido, já que nada se compara a alegria de estarmos entre nossos amigos.

Antes do almoço fomos ao Museu do Café. O sol já estava forte e quente no céu. Vimos todas as obras de arte, uma a uma. E ouvimos muitas histórias interessantes. A minha parte favorita ali foi quando deitamos no chão do museu e ficamos olhando para cima, admirando em silencio e minimamente cada detalhe extraordinário do Vitral do grande salão.

Em seguida fomos almoçar em um restaurante alugado pelo colégio próximo a praia. Onde ocupamos mais que metade das grandes mesas. Ali o serviço foi ótimo, os funcionários nos receberam muito bem, foram pacientes e atenciosos. De segundos em segundos eles vinha com jarras de refrigerantes ou suco para encher nossos copos vazios.

Foi uma hora de almoço, deu pra aproveitar bastante.

E só às três da tarde, após comermos e darmos aquela descansada, nós seguimos a pé para a praia mais próxima. Praia que estava muito vazia por sinal. Eu até estranhei, já que era um lugar lindo demais para deixar desperdiçar. O único problema é que não estávamos autorizados a entrar no mar para mergulhar, já que colocava em risco as nossas vidas.

Os monitores deram alguns minutos para nós coletarmos algumas amostras das diferentes fases da areia, desde a mais molhada até a mais seca. E até permitiu que molhássemos os pés na água gelada. Aquele foi um dos momentos mais engraçados, onde ficarmos brincando na areia como se fossemos crianças da quarta série.

Houve um momento que eu estava exausta, pois estava com muito calor e tínhamos andado muito até agora. Então, resolvi ficar de longe apenas observando meus amigos se divertirem com os demais.

Luiza e Natália estavam desenhando na areia e tirando fotos, as duas pareciam mais felizes do que nunca. O Pedro estava de papo furado com uma garota de outra turma que eu desconhecia. O Rafael estava entre a rodinha dos mais bagunceiros e descarados, os que davam mais problemas aos monitores, pois não paravam quieto um só quer instante. Nem sei por que, mas o Felipe estava com eles também, apenas os ouvindo tirar sarro de um grupo de garotas que corriam pela areia.

Ele não era o mais bonito entre eles, mas ele era meu e isso era tudo.

O mar estava tranquilo e calmo. O barulho das ondas e das gaivotas no céu me permitia fechar os olhos e me imaginar em uma terra distante, onde eu e o Felipe pudéssemos estar juntos, apenas nós dois, observando o horizonte, o céu azul misturando-se com o azul do mar.

Abri os olhos quando senti alguém se aproximar. Era o Rafael com o sorriso mais descarado do universo. Aquele típico sorriso de um garoto safado, que está pronto para aprontar. Eu bem que estava o evitando desde que ele achou que poderia me beijar na lanchonete, mas ele não conseguia entender os meus motivos, já que não sabia ainda que eu estava com o Felipe. Eu ainda gostava dele, claro. Mas só como amigo. Para mim ele continuava sendo o mais bonito de todo o colégio. Só que agora era diferente. Eu já tinha que precisava, não queria mais nada, nem mesmo ficar com ele outra vez, mesmo depois de tanto tempo.

— Você não está se divertindo? – ele perguntou, sorrindo. Aproximando-se mais do que o necessário. Eu recuei um pouco, muito discretamente.

Vi pelo canto do olho que o Felipe estava de olho em mim, quase como se eu fosse capaz de traí-lo ali mesmo. Eu não tinha contado a ele sobre o Rafael, não queria causar intrigas. Afinal, nada de mais havia acontecido.

— Ah sim, eu estou me divertindo bastante. Só estou um pouco cansada e descansando até a nossa próxima parada. – eu sorri um pouco, tentando não olhar nos olhos dele.

Rafael sabe ser insistente e inconveniente quando quer, pois ele não deixou parado por eu não corresponder ao seu flerte e ele tentou segurar minha mão para que eu pudesse olhar para ele.

— Não, Rafa. Não podemos. – acabei dizendo, um pouco já sem paciência. Não queria magoa-lo, mas também não podia o deixar passar dos limites novamente. — Eu estou bem... Sozinha.

— Ah, é mesmo? – ele perguntou meio sarcástico. — Então só me diz por que você não quer ficar mais comigo e eu caio fora daqui.

Suspirei fundo até de criar coragem de encara-lo de frente. Eu precisava pensar rápido em um bom motivo para convencê-lo. Mas eu estava meio apavora e não consegui pensar em nada. Vendo que eu estava confusa e perdida, Rafael inclinou-se para roubar um beijo. Assim, muito descaradamente. Por pouco não bati na cara dele.

Isso só não aconteceu, pois o Felipe se projetou entre nós, dando um chega pra lá no Rafael, me puxou pela cintura e me deu um beijo daqueles ali mesmo, com todos olhando para nós.

Eu retribuí, claro. Eu estava perdidamente conectada a ele. Não me importei nenhum pouco com o pessoal batendo palmas para nós, zoando ou fuxicando. Nós enfim éramos um casal e o Felipe estava finalmente provando a todos que pertencíamos um ao outro e ali dentro não tinha espaço para mais ninguém.

Eu esperei muito por isso e enfim esse momento aconteceu.

— Pronto. – disse ele em um sussurro, meio ofegante. Colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e olhando dentro dos meus olhos com seu rosto ainda próximo do meu. — Eu precisava muito fazer isso.

— Porra! – O Rafael tinha que interromper aquele momento. Não pude conter um sorriso. Felipe virou-se de frente para ele, agora entrelaçando seus dedos nos meus. — Porque vocês não me disseram que estavam juntos antes?

Rafael deu umas tapinhas nas costas do Felipe.

Coisa de homem.

— Se eu soubesse não teria... Forçado a barra. – ele fez uma careta, depois soltou um risinho. — Bom, fico feliz que alguns de nós estão se dando bem. Agora vê cuida bem dela ou eu acabo com você, seu merda.

O resto da viagem foi bem diferente, para minha felicidade. O pessoal não parava de perguntar a quanto tempo estávamos juntos e porque tínhamos escondido esse relacionamento deles. Muitos pareceram felizes por nós. Bom, se tinha quem não estava, não importava. Porque eu estava mais feliz do que nunca.

Nossa antepenúltima parada foi no Aquário de Santos, aonde vimos muitas espécies de animais aquáticos, inclusive as focas. Fiquei apaixonada! Felipe estava agora ao meu lado, segurando a minha mão e me pegando de surpresas com seus beijinhos carinhosos mesmo com todos olhando e comentando sobre nós.

Em seguida fomos ao Museu da Pesca e foi lá onde tiramos fotos de toda a turma na escadaria de entrada do museu. E por fim, um pouco antes do pôr do sol fomos andar de barco pelo Porto de Santos. Onde tiramos nossas ultimas fotos. Uma dela a minha preferida de todo o dia: uma selfie minha e do Felipe, ele beijando meu rosto e o sol se pondo logo atrás de nós.

Essa foto eu com certeza mandaria revelar e colocaria em cima do meu criado-mudo ao lado da minha cama para poder olhar para ela todos os dias e lembrar que eu era a garota mais sortuda do mundo por ter ao meu lado o garoto mais especial de todos.

Na hora de ir embora, por volta de sete da noite, eu e a Nati concordamos em fazer uma pequena travessura. Trocaríamos de lugar nos ônibus. Na chamada responderíamos uma para a outra. E só assim ela podia sentar com a Luiza e eu com o Felipe. E assim foi. O plano até que deu certo. E a volta para casa foi especial, pois eu e o Felipe dormimos juntos enquanto o resto do pessoal cantarolava no fundão. Eu dormi com a cabeça encostada no ombro dele e ele com a cabeça encostada na minha. Nossas mãos entrelaçadas sobre o meu colo.

Aquele dia não foi só bom por causa do passeio. E sim inesquecível, pois agora éramos um casal de verdade. Não tínhamos mais porque esconder isso de ninguém. Eu finalmente me sentia inteira e não me sentia mais sozinha, eu tinha o Felipe do meu lado e podia ter a certeza que ele sentia o mesmo por mim. Não era invenção da minha cabeça.

Não somos metades que se completam, somos dois inteiros que se somam.


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Notas finais do capítulo

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