– Você tem muito dinheiro, mas eu não tenho tanto, e eu quero que ela saiba que na maioria das vezes não é assim, que nem todo mundo tem o pai rico ou tenha muito dinheiro e que ela não pode viver em dependência do seu dinheiro, porque o dinheiro é seu e não dela.

– Eu entendo, mas você pode pegar mais leve com ela, ela só tem 5 anos, deixa ela ter a infância dela como todas as crianças, não faça ela se privar das coisas, pelo menos não agora, ela é só uma garotinha e é uma garotinha maravilhosa – disse ele olhando a filha que agora dormia no banco de trás.

Kate olhou pra filha também.

– Tudo bem, vou tentar não ser tão exigente.

Quando chegaram em casa não tinha ninguém. Alexis avisara ao pai que passaria a noite na casa de uma amiga e Martha deixou um recado, disse que não precisavam esperar por ela.

Desceram do carro e Castle pegou a filha dormindo no colo e a levou para o quarto, Kate o seguiu levando as bolsas com as coisas que elas haviam comprado. Castle colocou a filha na cama e disse a Kate que ia preparar algo para comerem.

– Vou preparar o jantar – disse ele.

Ela com receio de ficar sozinha com ele recusou.

– Ah não precisa, eu... eu não estou com fome. Obrigada – disse ela.

– Bom, eu estou morrendo de fome, então se depois você mudar de ideia é só descer – ele deu um beijo na filha e saiu.

Castle desceu e preparou o jantar, enquanto isso Kate estava tomando banho e pensando no dia que tiveram, em como foi maravilhoso, em como ela queria poder ter mais dias assim, pensou em quando a moça que sentou ao seu lado achou que Castle fosse seu marido, “seu marido” como era bom ouvir aquilo, mesmo que não fosse verdade. Ela não negou, não disse que não eram casados, porque ela sonhava que aquilo fosse verdade, ela desejava que isso acontecesse. Ficou deitada na banheira imaginando como seria a sua vida se isso fosse verdade.

Depois de preparar o jantar Castle foi tomar um banho, precisava relaxar, tirar aquela tensão que pairava em seu corpo. Embaixo do chuveiro, com a água escorrendo por seu corpo, ele pensou em como era bom estar perto de Kate, de como era bom passar esses momentos juntos como uma família, como havia sido maravilho pensar, mesmo que por um instante que eles eram realmente uma família, que eles eram um casal, que ela era “sua esposa” como disse George. Ah! Como ele queria que ela realmente fosse sua esposa, como ele sonhava com isso. Ele se pensou que precisava de coragem, que precisava engolir o orgulho, esquecer tudo o que passaram e se declarar, ele precisava tomar uma atitude, ele sabia disso, mas ele não podia, não conseguia, não sabia porque, não entendia o que te impedia, mas não conseguia.

Depois que terminou o banho Castle voltou para a cozinha para finalmente jantar, poucos minutos depois Beckett desceu, pensou que seria maldade deixá-lo jantar sozinho, afinal ele não teria nem mesmo a companhia da Mel, ela não poderia deixá-lo sozinho. Quando ele a viu se iluminou.

– Então, sentiu fome ? – perguntou ele sorrindo.

– Um pouquinho – respondeu ela com um sorriso tímido.

Ele já havia colocado uma lugar a mesa para ela.

– Como sabia que eu ia descer ? – perguntou ela apontando para o prato.

– Não sabia, coloquei por precaução, caso você resolvesse descer.

Ela se sentou e os dois começaram a comer em silencio. Estava um silencio perturbador. “Teria sido melhor deixá-lo jantar sozinho” – pensou ela. Foi nesse momento que ele quebrou o silencio.

– Eu preparei um sanduíche e deixei na geladeira, caso a Mel acorde co fome – disse ele.

– Acho que ela não acorda mais hoje... mas mesmo assim obrigada.

– Mesmo assim, é melhor prevenir – disse ele sorrindo.

Eles voltaram a ficar em silencio, e dessa vez foi ela quem quebrou.

– Então Castle, esta pensando em voltar pra New York que dia ? – perguntou ela.

– Não sei, acho que não volto mais – ele respondeu.

O coração dela gelou quando ouviu aquela resposta.

– Co... Como assim ? – perguntou ela apavorada.

– Calma, não se apavora, você não vai ficar sem a Mel. Você pode voltar pra New York com ela.

– Mas você tem a guarda e a audiência é só no final do mês, e mesmo que você deixe eu precioso da sua permissão pra viajar com ela.

– Não, você não precisa e não terá mais audiência, eu retirei o pedido de guarda.

– Co... como ? Quando ? – perguntou ela incrédula.

– Quando você estava vindo pra cá, eu falei com meu advogado e retirei o pedido.

Kate não sabia o que dizer, estava imensamente feliz por isso, ela ia ter a filha de volta, não ficaria mais longe dela.

– Ela é sua de novo, você pode voltar pra casa com a Mel quando quiser – disse ele.

– Mas... eu não entendo, porque tudo isso ? Porque você pediu a guarda dela e agora simplesmente desistiu ?

– Não esta feliz de que vai ficar com ela ? Queria permanecer nessa briga ? – perguntou ele.

– Não, é claro que não... é só que, eu não entendo, porque me fez passar por todo esse sofrimento e depois desistir?

– Kate eu já disse, eu jamais te tiraria a Mel, nunca tive a intenção, eu só queria que você entendesse o que eu sentia, o que eu estava passando. Eu sei que você tem a Mel desde o dia que ela nasceu e eu só a conhecia a uma semana, mas ela é minha filha e isso já era motivo suficiente pra eu estar sofrendo por ela, e... e eu amei essa menininha desde o primeiro dia que a vi, foi um amor arrebatador, transformador, que a gente só sente por um filho. Você não me contou sobre ela por 5 anos e quando eu a conheci você não me deixava vê-la, eu me senti pra baixo, me senti injustiçado, eu precisava que você entendesse que eu só queria poder ter um pouquinho da minha filha, que eu queria conhecê-la e amá-la como eu amo a Alexis, como você ama ela, e como eu a amo hoje.

Kate não disse nada, ela não conseguia encontrar as palavras certas para descrever o que ela sentia e para se desculpar de tudo que ela fez.

– Eu só queria poder ter um pouco dela comigo e queria que ela tivesse um pouco de mim também, eu a amo e só quero que ela seja feliz... e é por isso que eu não vou voltar a New York, eu vou ficar fora do seu caminho, não vou mais atrapalhar a sua vida.

– Castle, eu errei muito ao esconder a Mel de você, errei mais ainda em não deixar que você a visse, eu sinto muito, eu estava magoada, ressentida, eu fui tola e egoísta, você não precisa se afastar, você não pode se afastar dela, eu sei o quanto você a ama.

– Eu só quero que a minha filha seja feliz, custe o que custar. Eu a amo muito, tanto que sou capaz de abrir mão de tudo, abrir mão da minha felicidade pra que ela seja feliz.

– Ela não vai ser feliz se você estiver longe, se ela não tiver mais você por perto ela ira sofrer - disse Beckett quando Melanie desceu as escadas chorando e chamando pelo pai.

– Papaai ! – gritava ela.

Kate a pegou no colo assustada.

– O que foi filha? – perguntou ela abraçando a menina.

– Papai – ela tentava falar em meio aos soluços do choro – eu sonhei... que o papai... ia... que o papai ia embora... ia embora pra sempre – ela chorava muito.

– Calma meu amor, ta tudo bem, seu pai ta aqui – disse Kate.

– Ele dizia... dizia que me amava, mas... mas que precisava... precisava ir embora... eu não... não quero que o papai vai embora – ela continuava a chorar.

– Se acalma filha, foi só um pesadelo, ta tudo bem meu amor – disse Castle.

– Papai... papai – dizia ela estendendo os bracinhos pra ele.

Castle apegou do colo de Kate, a abraçou forte e deu um beijo em seu cabelo.

– Esta tudo bem meu amor, o papai ta aqui – disse ele olhando pra Kate.

Ela o olhou de volta com um olhar triste e sussurrou.

– Ela te ama, precisa de você.

– Vai ficar tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem – ele dizia a filha.

Melanie começou a se acalmar.

– Papai... não vai... não vai embora, por favor – pedia ela ainda soluçando.

– Eu não vou a lugar nenhum meu amor, eu estou aqui com você.

– Eu te amo papai... e não quero que... que você vá embora.

– Eu não vou meu amor, não vou.

– Promete papai?

– Prometo meu amor... não vou te deixar nunca, não importa o que aconteça – ele disse olhando pra Kate.

Ela devolveu o olhar e um sorriso tímido e sussurrou um “obrigada”.

Eles ficaram mais alguns minutos até que a Mel se acalmou. Kate pegou um copo de água e deu a filha, ela tomou um pouquinho.

– Esta mais calma meu amor ? – perguntou Beckett.

A menina balançou a cabeça que sim.

– Esta com fome filha ? Quer comer alguma coisa ? – perguntou Castle.

A menina balançou a cabeça negativamente.

– Come um pouquinho bebê, você não comeu nada a tarde toda – disse Beckett.

Ela balançou a cabeça negativamente.

– Tem que comer filha, se não vai ficar doente – disse Castle.

– Não quero papai.

– Come um pouquinho, depois a gente pode tomar sorvete... vou fazer com você o que eu e Alexis fazemos quando a gente tem um pesadelo ou esta triste.

– E o que vocês fazem ? – perguntou ela.

– Nós colocamos todos os potes de sorvete na mesa e provamos de todos – disse ele.

– Isso parece bom – disse ela.

– É muito bom... mas nós só vamos fazer se você comer um pouco – disse ele.

– Então eu como – disse ela.

– Castle não... – Beckett começou a falar.

Ele olhou pra ela como quem pedia “por favor”.

– Ta bom, mas só se ela comer – disse ela.

– Ela vai comer direitinho, não é filha ?

– Vou.

Eles terminaram o jantar todos juntos e depois foram tomar sorvete. Como Melanie havia acabado de acordar não estava com sono, já Kate não estava aguentando de tão cansada, mas não queria deixar a filha, não depois do pesadelo, então eles foram assistir um filme.

– Qual filme vocês querem ver ? – ele perguntou.

– Alice no país das maravilhas – respondeu Melanie.

– De novo filha ? Esse não, vamos ver outro – disse Beckett.

– Não mamãe, quero ver esse.

– Alice no país das maravilhas então – disse Castle.

– Se acostume, ela assiste todos os dias, só quer ver esse – disse Beckett.

Castle sorriu.

– Alexis também foi assim, mas ela adorava a Pequena Sereia – disse ele.

– As vezes eu esqueço que a Alexis já foi criança – disse ela sorrindo.

Ele sorriu outra vez.

– As vezes até eu me esqueço.

– Coloca logo papai – disse Melanie impaciente.

– Desculpa, desculpa... foi sua mãe que me distraiu – disse ele rindo.

Ele colocou o filme e eles começaram a assistir, poucos minutos depois o celular de Castle tocou e ele saiu para atender, deixando as duas assistindo ao filme. Meia hora depois ele voltou.

– Eu perdi muito do filme ? – perguntou ele entrando no escritório.

– Shiiii ! – Mel fez pra ele. – A mamãe dormiu.

– Desculpa – ele sussurrou.

– Ela não aguentou nem 10 minutos – ela falou baixinho.

– Ela esta muito cansada – ele sussurrou de volta.

–Esta mesmo.

– Vamos chamá-la pra ela ir dormir na cama – disse ele.

– Acho que ela não vai acordar – disse Mel. – Ela nunca acorda.

Castle tentou acordá-la, mas foi em vão.

– Beckett – ele sacudiu ela de leve e nada.

– Beckett – ele chamou de novo e outra vez nada.

– Beckett – ele tentou uma terceira vez e também não teve resposta.

– Quando ela fica cansada assim não acorda com nada – disse Mel.

– Então vamos ter que levá-la la pra cima – disse ele.

– Como ? – perguntou a menina.

– No colo.

Castle pegou Beckett no colo e carregou-a para o quarto, colocou-a na cama e a cobriu. Ela não acordou, nem mesmo se mexeu.

Depois de acomodar Beckett na cama ele voltou com a filha para terminar de assistir ao filme. Antes do filme terminar Mel também acabou dormindo, ele então desligou tudo e levou a filha para o seu quarto.

Na manhã seguinte quando Kate acordou e viu que estava no quarto sentiu uma ponta de alegria por pensar em Castle a carregando para o quarto, mas se também se sentiu constrangida, não sabia como o encararia quando o encontrasse.