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Quando tínhamos sete anos eu e Melissa tivemos uma briga feia. Não me lembro o motivo, mas ela disse: - Talvez eu não queira mais ser sua amiga. – E assim que ouvi essas palavras pude sentir as lágrimas escorrendo.

Minutos depois estávamos nos abraçando e pedindo desculpas e naquele momento eu soube: sempre seria assim. Isso é o que éramos e isso não mudaria. Depois daquilo eu e Melissa nunca mais tivemos uma briga.

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— Sinto muito pelo que aconteceu — diz Melissa.

Hoje é o dia seguinte à briga e Melissa veio me trazer em casa depois da escola. Ofereci a Nicolas para passar na casa dele, já que ele não pôde ir à escola hoje, mas ele recusou, alegando estar muito cansado.

— Eu apenas não consigo entender o porquê de tudo aquilo — respondo.

Era verdade. Estava bem claro que Tobias não gostava de Nicolas, mas brigarem? E na escola? Isso era muito baixo.

— Miranda, eles nunca se deram bem, até mesmo antes de vocês começarem a namorar. Tobias nunca concordou com esse relacionamento e... pelo menos nisso, eu e Tobias concordamos.

O que? Ela estava dando razão a Tobias? Tobias, que bateu em meu namorado que nesse momento estava de repouso em casa por culpa dele?

— O que você está querendo dizer? — digo rispidamente.

— Desculpe, mas eu não gosto dele. Não acho que seja o cara mais indicado a namorar você.

— Ah, é? E eu não gosto do modo como está agindo — Melissa poderia ser minha melhor amiga, mas ela não tinha o direito de decidir com quem eu me relaciono.

— Miranda, eu gosto muito de você. De verdade, você sabe disso, e eu quero o seu bem.

— Não é o que parece — gritei. — Achei que o problema era somente com Tobias, mas você também está agindo de forma estranha há muito tempo, e eu não gosto nada disso. Talvez o sentimento que tem por mim seja o oposto de gostar e se preocupar.

— O que você quer dizer com isso? — ela pergunta.

— Quero dizer que deve ir embora. E por favor, não volte.

— Miranda, tem uma coisa que talvez você precise saber.

— Eu não quero ouvir suas mentiras, obrigada. Agora por favor, saia. Eu não vou pedir de novo.

Depois disso, Melissa saiu. E eu me arrependi por cada palavra.

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— Você está bem?

Bem? Não, eu não estou bem.

— Estou, sim.

É a terceira vez que alguém me pergunta isso hoje. E olha que o dia mal começou. A briga com Melissa ontem realmente me atingiu. O que está acontecendo conosco? O que está acontecendo comigo?

Eu não sei.

Ultimamente eu mal me reconheço. Eu mal sei quem é que vai aparecer durante uma briga: a Miranda que eu conheço ou a nova. A que discute com seus amigos constantemente ou a que está aberta para ouvir o que eles têm a dizer.

Eu não sei o que está acontecendo comigo. Estou em uma luta constante comigo mesma.

— Miranda? — Diz o Sr. Stubin, meu professor de literatura. Levanto os olhos, mas não sei o que dizer. Olho em volta: todos estão olhando para mim. — Eu lhe fiz uma pergunta.

— Hãn... Desculpe? — Ouço risinhos ao fundo da sala, mas resolvo ignorar.

— É melhor você ir embora — ele sugere.

Decido ouvir o que ele diz e ir mesmo embora. Não há pelo que discutir, eu realmente preciso de liberdade e ar fresco.

Mas quando viro o corredor, dou de cara com Melissa.

— Miranda, eu... — ela começa a falar, mas eu não permito que termine. Desvio dela e continuo a andar. Não preciso disso. Não agora.

Mas Melissa faz algo que eu não esperava, ela vem atrás de mim e me puxa pelo cotovelo.

— Você pode não querer falar comigo agora, e você pode achar que não somos amigas, mas eu preciso te dizer uma coisa e você vai me ouvir, quer você queira, quer não.

— Tem razão, eu não quero ouvir nada de você.

— Miranda, pelo amor de Deus. Dá pra você parar de agir como uma criança por um momento? Eu sempre estive aqui por você, não é? O que te faz pensar que eu vou te abandonar agora?

— Olha, não sei. Deve ter a ver com o fato de você ter ido contra mim ontem, não é mesmo?

— Eu tenho um motivo por ter dito o que eu disse ontem — ela responde.

— Ah, é? Tipo o que? Seu romancezinho com Tobias?

— O que...?

— Não finja que não sabe do que estou falando, Melissa. Eu te conheço bem o bastante pra perceber.

— Você está ficando louca.

— Tem certeza de que sou eu?

— Eu não sei porque ainda quero te ajudar, sua idiota! — Ela grita de uma forma que nunca tinha gritado comigo antes.

— Se com ajudar, você quer dizer me abandonar, não. Eu não preciso da sua ajuda.

— Nicolas está te traindo! — ela diz e no mesmo instante cobre a boca com as mãos.

Aquilo me atinge como um tapa na cara.

O que? Penso. Ela está louca!

Solto uma risada sarcástica.

— A única traidora que eu vejo aqui é você.

— Então vá em frente, contra mim — ela diz. — Você vai se arrepender por isso, Miranda.

Semicerro os olhos.

— Isso é uma ameaça?

— Isso é um aviso.

Já basta. Eu não preciso mais ouvir mentiras, não preciso. Me viro e vou embora. Mesmo odiando Melissa nesse momento não consigo discutir com ela.

Ligo para Nicolas e pergunto se posso passar em sua casa.

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— O que houve? — Nicolas pergunta.

Já ouvi essa pergunta milhares de vezes hoje. Eu não aguento mais.

— Discuti com Melissa. Hãn... De novo — respondo.

— Por quê?

— Mentiras. Mais mentiras.

Ele não fala nada, mas me abraça forte.

— Ela disse coisas sobre você — digo após um tempo.

Sua expressão muda.

— Que tipo de coisas?

O que eu estou fazendo? Isso é idiotice. Estou duvidando de Nicolas?

— Nada. Esquece isso, tudo bem? — digo por fim.

Ele assente e me abraça novamente, mas o fato de eu ter duvidado dele, por um minuto se quer não sai da minha cabeça.

Será que lá no fundo eu acredito em Melissa? Será que eu acredito que ele pode estar me traindo de alguma forma? Não, é claro que não. Eu não acredito. Mas eu preciso ter certeza. Preciso eliminar qualquer resquício de dúvidas e eu me odeio por isso. Me odeio por ter a necessidade de provar algo para mim mesma e por duvidar de Nicolas.

Me odeio por acreditar em Melissa. Melissa, que defendeu Tobias.