Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 2
Two.


Notas iniciais do capítulo

Olá cinco novos leitores! Aqui está um capitulo fresquinho! Espero que gostem!



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Minha reação ao entrar no meu quarto e me deparar com um envelope em cima do meu criado-mudo foi de espanto. Por um momento eu achei que não era nada demais, talvez algum livro novo que minha tia havia enviado pelo correio. Por isso, apenas tirei meu tênis e deitei na cama. Remexi-me um pouco e olhei para o lado, encarando o envelope. Arqueei uma sobrancelha e me sentei, estiquei o braço e peguei o envelope.

Percebi que era fino demais para haver um livro ali dentro, sacudi e percebi que era muito leve. Abri o lacre, e então dentro do envelope laranja havia uma carta. Não tinha o nome de nenhum remetente, não havia selos e muito menos carimbo. Abri, devagar, prestando bastante atenção naquela caligrafia máscula e desajeitada.

“Querida Hope,

Não sei exatamente como começar esta carta, se levar em conta que eu nunca havia escrito uma antes. Pode parecer o estranho o fato de um cara como eu estar debruçado sobre uma mesa tentando ao máximo possível soar coerente e menos gay do que o normal, procurando uma forma decente de dizer que eu lhe amo. Sim, Hope, eu amo você. Sempre amei, sempre.

Hoje observei você pelos corredores da escola e vi a garota especial que você é, uma garota linda e muito divertida, percebi que eu não sou e nunca serei o garoto ideal para você, é algo impossível. Por mais que eu tente, eu não consigo e se conseguisse eu seria rejeitado no momento em que você descobrisse quem eu realmente sou. Eu sou um palerma, um zé ninguém que tem uma vida chata sem nada interessante acontecendo nela, enquanto você faz tudo ter mais sentido, faz o céu parecer mais bonito e as pessoas menos escrotas. Você tem uma áurea tão forte que eu me sinto pequeno ao seu lado. Sim, você me conhece, mas nesse momento tenho absoluta certeza de que nem imagina quem eu sou. E espero que continue assim, pois como disse é algo impossível nós dois ficarmos juntos.

Essa carta está muito estranha e confusa, eu sei, mas como eu havia citado antes ela é a minha primeira. Creio eu que começarei a melhorar com o passar do tempo. Amanhã, as duas e quarenta e cinco da tarde você encontrará um presente no meio da sua sala de estar, em cima da mesinha de centro. Espero que goste.

Não tente descobrir quem eu sou, por favor, eu imploro. Será perda de tempo, você não conseguirá descobrir. Você pode tentar colocar câmera na janela do seu quarto com vista para a rua ou para a caixa de correios, mas você não irá conseguir descobrir que eu sou. Por isso, estou avisando logo: Nem ao menos tente.

Bom, é isso. Nunca aprovei essa baboseira de que um texto ou carta ou sei lá o quê, tenha que ter começo, meio e fim. Tudo meu é confuso, meus pensamentos são confuso, minha letra é confusa, meu jeito de se expressar é confuso, eu sou confuso. Por isso essa carta está totalmente sem sentido, e todas as outras serão. Esse sou eu, um cara confuso. E a única que consegue me fazer ter um pouco de normalidade é você, por isso você é especial.

Caso queira responder a carta escreva e coloque abaixo da escada da sala de teatro. Aquela escadinha que faz com que os alunos consigam subir para o palco, sabe? Pois é. Não adianta você coloca-la lá e ficar a espreita, me esperando, e muito menos deixando alguém vigiando. Não adianta mesmo, você nunca vai descobrir quem eu sou.

Com amor, foda-se-esse-negocio-de-anônimo, Sr. Confuso.”

– Eu tenho que descobrir quem ele é – Digo para Lília, que analisa cada detalhe da carta. Estamos no meu quarto com a porta fechada, minha mãe acha que estamos estudando, enquanto na verdade estou fumando nicotina, Callie e Jassie discutindo e Lília tenta encontrar algo que entregue o “Sr. Confuso”. Achei isso totalmente ridículo, mas acredito que tenho esse pensamento por nunca ter ganhado nenhuma declaração como essa.

– Se você fizer isso, vai acabar com toda a graça – Lília fala meio sonhadora, dobrando a carta calmamente e colocando dentro do envelope. Faço uma carranca e acendo outro cigarro. Sei que não é legal uma garota de dezesseis anos fumar, mas faço isso para relaxar. – Tá, que tal você ir perguntar para a sua mãe se ela viu quem deixou essa carta aqui?

– Eu já perguntei, droga. Ela disse que não prestou atenção, apenas pegou as cartas que estava dentro da caixinha e viu que uma delas tinha meu nome aí trouxe para meu quarto – Ando de um lado para o outro, pensando em algo favorável e menos confuso. Estou com medo. – E se ele for, sei lá, um cara querendo me estuprar? Ele me conhece! E eu o conheço, mas nem imagino quem seja ele e isso é tão confuso! Ele disse que me “observou” nos corredores da escola, ele é um maníaco ou o quê? E se for um professor ou pior, o zelador? Isso não me cheira bem.

– Aí, para de ser negativa! – Callie diz pegando o cigarro da minha mão e o apagando. Faço uma careta e ela exibe um grande sorriso – Você tem um admirador secreto! Sabe o que isso significa? Que alguém te ama! E ele, por mais confuso que seja, parece ser bem fofo. Que tal você responder ele de forma agradável e com o decorrer do tempo descobrir mais sobre ele?

– Mas e se for alguém que eu não queira absolutamente nada? Eu não o amo, seja lá quem seja ele. Na boa, eu acho que vou queimar essa carta.

– Tá maluca? E se for o Tyler? – Jassie me sacode e eu pisco os olhos, imaginando se isso for realmente verdade. Ela tira do bolso um papelzinho amassado e me entrega. É o bilhete que estava no meu armário – Quando a Lília me contou sobre isso eu fui correndo na lata de lixo e fucei até encontrar. Você tá me devendo essa, até mesmo casca de banana tinha ali dentro, sabe-se lá Deus o que mais, fiquei com as mãos sujas e com um cheiro horrível, mas consegui o bilhete.

– E pra que eu quero isso?

– Você não tem sentimentos não, sua anta? – Callie pega o papel da minha mão e vai até o a parede, ao lado do meu guarda roupa. Pega uma fita e cola o bilhete na parede. – Tudo o que ele mandar, você vai colar aqui. Exatamente tudo, e aí quem sabe você começa a ter um pouquinho de amor nesse coração.

– E quem é você pra falar em coração, sua assexuada? – Jassie provoca e o rosto de Callie fica vermelho. Às vezes, elas começam a brigar do nada e depois ficam de puxa saco novamente, não entendo amor de primos, sinceramente. – Calma, to de brincadeira.

– Não curti.

– Querem parar de idiotice? – Lília exclama, guarda a carta na minha última gaveta, pega uma caneta, um papel e me arrasta até a cama. – Vamos lá, quero ver o que você vai responder.

– E quem disse que eu vou responder?

– Você vai! – As três exclamam e eu reviro os olhos. Sento-me e escrevo a data.

Antes de começar a escrever qualquer coisa uma batida na porta me atrapalha. É a minha mãe, pulo da cama e pego meus cadernos, enquanto as meninas tentam fazer com que o cheiro de cigarro saia do ar. Abro na página da atividade e então Callie abre a porta.

– Olá meninas, fiz bolo de chocolate, alguém quer?

– Mãe, nós estamos ocupadas e... – Antes mesmo que eu termine de falar minhas amigas correm até a porta. – O que vocês não fazem por chocolate, hein?!

Elas apenas sorriem.

...

Existe algo que eu odeio além de inverno: Chocolate.

Vai. Me lixa. Me critique. Me xingue. Me condene. Eu odeio e pronto.

Eu sou uma garota esquisita, eu sei disso. Acho que eu sou louca ou anormal, não sei dizer, talvez as duas coisas tenham o mesmo significado, e ambos se aplicam a mim. Eu não gosto de chocolate, nunca gostei e acredito que nunca irei gostar. Não importa o que eu faça.

Por isso, estou encarando esse bolo com uma careta sem saber exatamente o que fazer além de encará-lo. Callie devora até a ultima migalha e fala com a boca cheia, dizendo o quanto está bom e em como eu sou retardada a ponto de não querer comer, apenas ignoro.

– Qual é o problema de vocês? Chocolate engorda! E, sei lá, eu não gosto. – Começo a falar o de sempre e elas nem ao menos prestam atenção em mim, então Henry aparece com cara de sono vestindo apenas uma bermuda nesse frio horrível. Jassie fica encarando as costas do meu irmão boquiaberta, reviro os olhos. – Henry, você poderia vestir uma blusa, por favor?

Ele não responde e pega um pedaço de bolo. Pisca para Jassie e Lília, que estão sorrindo mais do que o normal. Eu odeio quando isso acontece, elas duas sempre deixaram bem claro que se ele desse bola elas teriam algo com ele. E pensar nisso me deixa com vontade de vomitar, não existe pessoa mais estranha que o Henry.

– Gente! O Henry é nojento! O que vocês veem no meu irmão? – Pergunto quando ele sai, Callie concorda comigo. Para ela, a única pessoa no mundo que chega a ser “bonitinha” é Alex Turner.

– Jassie, você viu as costas dele? Ele tem pintas! Ai. Meu. Deus. – Lília fica vermelha ao falar isso e sorrimos. Não é nada pessoal, mas eu não ando suspirando por garotos igual ela. Lília se apaixona rápido, enquanto eu e Callie preferimos curtir uma boa série e Jassie tem namorado. Nós quatro somos totalmente opostas, mas muito amigas.

Solto um suspiro e levanto-me. Tenho que escrever a carta de resposta para o Sr. Confuso, mas não sei como fazer isso, não sei as palavras ideais para utilizar. Minhas amigas preferem continuar na cozinha comendo bolo, por isso volto para meu quarto.

No caminho, percebo que Henry está na sala jogando videogame e tem companhia. Tyler Paskin está sentado ao seu lado. Eles dois são amigos, o que me deixa realmente surpresa. Não entendo como eles podem ser diferentes em absolutamente tudo, mas serem amigos. Tyler sorri e acena, fico vermelha e aceno de volta.

Subo as escadas com um sorriso, já sabendo o que escrever em resposta. Estou com a expectativa de que seja Tyler o Sr. Confuso e mesmo que não seja ele eu irei responder da melhor forma possível.

Procuro uma folha em branco e pego uma caneta preta, tranco a porta do quarto e começo a escrever.

“Olá, Sr. Confuso

Confesso que eu achei esse pseudônimo muito ridículo, mas se você prefere ser chamado assim eu devo respeitar. Eu gostei da sua carta, achei legal. Mas, qual a sua intenção em fazer isso? Por que me enviar cartas em vez de me falar todas essas palavras cara-a-cara? E ter mais atitude, quem sabe?

Sim, eu sou muito exigente. Talvez você saiba disso, ou não. E esse negocio de “saber”, me lembra algo: Eu estou com medo em relação a tudo isso. Eu sei e ao mesmo tempo não sei quem é você. É frustrante, não sei se você pode ser um maníaco ou algo do gênero. E mais: O que você quer com uma pessoa tão sem graça como eu? Tá, eu sou “divertida” e insisto em cantar rap com a Callie, mas não sabemos rimar. Isso é a única coisa que me defini. O que você viu em mim? E outra: o que eu fiz para você me amar?

Eu não posso retribuir esse amor. Desculpe-me, eu nem ao menos sei quem é você. Além de que tenho uma enorme queda pelo capitão do time de futebol. É, clichê, eu sei. Mas essa sou eu. Espero que você me desculpe por isso, sério. Não quero magoar você nem nada disso, apenas estou sendo sincera. E pare de deixar bilhetinhos toscos no meu armário, por favor. Essas frases e pensamentos, essas coisas todas, guarde só para você. Sei que meu nome significa esperança, mas não precisamos ficar deixando isso totalmente claro.

Se quiser continuar enviando cartas, pode continuar. Confesso que isso talvez me faça bem e eu gostei bastante da forma como você expressou seus sentimentos.

Estou com muita vontade de descobrir quem você é, mas não irei investigar nem nada disso. O que tiver de ser, será. Você é muito confuso, muito confuso mesmo, e outro pedido: melhore sua caligrafia. Sou uma amante da gramatica e não suporto uma caligrafia feia, só porque você é homem não significa que não precisa caprichar na hora de escrever.

Até mais : )

Hope Adams.“

Dobro a carta e coloco na mochila, amanhã terei que coloca-la abaixo da escada do teatro.

Sorrio, isso de certa forma me deixa ainda mais feliz. É bom saber que eu estou sendo amada.


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Notas finais do capítulo

E então? Muitos já tem uma ideia de quem é o Sr. Confuso, mas saibam que a fic não foca em QUEM manda as cartas e sim o SIGNIFICADO delas e a reação da Hope quando ela descobre quem manda. Ok? Ok.
Então não venham no ask do queen falando que já sabem quem é e que eu sou péssima com mistério, eu hein, em nenhum momento quis deixar a suspense quem é o remanente. Beijos, espero comentários pelo capitulo.
Bye!