Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 19
Nineteen.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Desculpem-me pela demora, mas todos sabem que estou sem internet. Acredito que nessa sexta feira eu possa vir a postar capitulo novo, visto que minha amiga tem compartilhado o wifi dela comigo



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Eu deslizo meus dedos sobre os nomes que estão na lista e solto um suspiro abafado. Tento prestar atenção no que Callie eJassie estão falando, mas não consigo, não quando uma veia em minha testa pulsa e me deixa com uma dor enorme na cabeça. Eu ando dois passos para a esquerda e três para a direita, procurando um jeito de me manter calma e achar uma lógica que me leve a acreditar que algum dos garotos que estão na lista podevir a ser o amor da minha vida.

Lília está sentada na minha cama quieta e olhando distraidamente para meu toca discos. Nós meio que fizemos as pazes, não foi como eu esperava, mas houve pedido de desculpas, lagrimas e abraços. Eu estava sentindo muita falta da minha melhor amiga e engoli meu orgulho para esquecer o tapa que ela me deu, mas meu rosto ainda dói quando a lembrança me ataca.

Não sei bem quando eu tive a brilhante – ridícula – ideia de convidar minhas amigas a me ajudar a encontrar o Sr. Confuso. Jassie primeiramente deixou claro que se sentia magoada por não saber que eu ainda mantinha contato com ele por cartas, ela acreditava que nós havíamos parado, e depois disse que não confiava nele, que ele era um maníaco e que preferia o Tyler. Mas, no fim, deu pista para três pessoas. Callie usou todas as suas técnicas e disse o nome de duas pessoas, após ler a carta que o Sr. Confuso fala sobre sua aparência. E Lília permaneceu calada, deixando claro que não participaria daquilo e que não fazia a mínima ideia de quem poderia ser o Sr. Confuso.

– Eu acho que você deve chegar em cada um fazendo perguntas casuais em que você possa detectar se ele é ou não o carinha das cartas. – Jassie diz após um tempo e pega a lista das minhas mãos, ela está com uma aparência mais frágil, acho que terminou com o namorado recentemente, e acho que dessa vez é pra valer. – Vejamos, na lista temos os que eu sugeri: Seu primo Mike, seu companheiro no laboratório de química Ivan e o garoto que senta atrás de você na maioria das aulas, o Michael.

– Corta o Mike, ele não estuda na Walter. E, além do mais, ele odeia a Sophia por ter tentado beijar ele uma vez, nada de relações entre primos. – Declaro com as mãos na cintura. – Mas até eu beijaria ele, afinal, ele é um gato.

Automaticamente me arrependo das minhas palavras. Afinal, no que estou pensando? Tenho que me focar em achar o Sr. Confuso e não ficar pensando no meu primo.

– Corta o Ivan, ele tem namorada. – Lília fala pela primeira vez chegando mais perto e analisando a lista.

– Okay, agora temos os indicados da Callie: David e... – Jassieabaixa a voz ao ler o nome de David e depois arregala os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro, como se deixasse claro que David não poderia ser o Sr. Confuso. – Ethan.

– Então temos Michael, David e Ethan. – Callie diz olhando para mim e arqueando uma sobrancelha.

Não sei o que pensar. Não cogitei na ideia de meu melhor amigo estar envolvido, e Ethan também. Puta merda, será que é um deles dois? Ou pior, o Michael? Cara, o Michael é todo curvado para frente e mal fala com as pessoas, impossível dele ser quem estamos procurando.

Eu dou de ombros, como se não me importasse com aquilo. Mas eu me importo, me importo tanto que estou me agarrando as mínimas esperanças e continuando na minha busca. Reli todas as cartas do Sr. Confuso na noite passada e juntei o máximo de informações possíveis: Ele não tem irmãos, pratica algum esporte, já trabalhou em um orfanato, ama OneRepublic, tem duvidas entre ser escritor ou seguir a carreira do pai, vive constantemente de castigo, gosta de desenhar, tem insônia, odeia viajar de carro, tem alergia a pernilongos e é bipolar. Bom, acho que essas informações já são o suficiente para alguma coisa.

Keepcalmand Procura-se o foda-se-esse-negocio-de-anônimo, Sr. Confuso. – Jassie diz animada erguendo uma mão para cima e eu sorrio, sem saber ao certo o que me espera.

...

Sabe quando você percebe tarde demais que as suas amigas tem ideias tão legais que no fim se tornam trágicas? Ou quando elas lhe dão conselhos ótimos que no fim se tornam péssimos? Ou, pior do que isso, quando elas lhe incentivam a fazer algo que compromete sua moral, ética e status social? Não? Pois bem, aqui vai minha trágica história de como um dia de busca pode acabar em um dia de revelações.

As coisas começaram a dar errado a partir do momento que fomos a escola e constamos que o Michael havia faltado, o que significava que deveríamos ir até a sua casa. Nós deixamos para fazer isso depois que saímos da escola e durante o intervalo procuramos David, mas ele estava no treino de handebol e só ficaria livre a noite, o que me deixava na alternativa de pular para o Ethan.

Eu estava nervosa, porque no fundo do meu coração eu não queria que ele fosse o Sr. Confuso. Não por ele não ser um cara legal, mas porque ele era meu amigo, e era o único que me fazia rir com poucas palavras. Eu não queria que aquilo acabasse caso eu descobrisse a verdade, porque de fato as coisas mudariam se ele fosse quem eu estava pensando.

Minhas amigas e eu fomos até a quadra de esportes e o encontramos conversando com o pai. Callie inventou a desculpa de que tinha aula extra, mas nós a mantemos ao nosso lado e insistimos que ela ficasse. Pela primeira vez em anos vi Callie ficar corada e nervosa durante os poucos segundos que ficamos esperando Alex sair para falarmos com Ethan, eu acho que tem alguma coisa em Alex que deixa Callie daquela maneira, ela fica nervosa, começa a gaguejar e tenta fugir. Ela nunca foi assim, ela é a mais madura de nós quatro. Callie ficou presa durante dois anos em uma fazenda na Virginia com os avós, o que a fez ficar sem frequentar a escola e se atrasar. Hoje ela tem dezenove anos e ainda está no terceiro ano, apesar de ser bem mais inteligente do que metade da Walter inteira, então não vejo motivos para ela ser tão insegura e inquieta quando estávamos perto do treinador Alex.

Quando Ethan finalmente ficou sozinho e nós saímos do nosso esconderijo ele se levantou e andou calmamente até a sala de teatro. Aquilo me fez ficar tensa, porque me deixava ainda mais alarmada com a possibilidade dele ser o Sr. Confuso, aquele era o lugar onde eu deixava minhas cartas para o Sr. Confuso, abaixo da escada, como ele sugeriu pela primeira vez.

Mas o que me surpreendeu não foi o fato de ele ter ido até umas das cadeiras reclináveis e se deitar descaradamente sobre ela, mas sim o fato de Anna Palmer ter surgido detrás do camarim, se deitar ao lado dele e eles se beijarem. Eu abri a boca de tal maneira que meu queixo ficou caído, tudo o que eu conseguia fazer era arregalar os olhos e tentar processar o que estava vendo. Minhas amigas começaram a sussurrar: “Ai meu Deus! Eu sempre soube que ela tinha uma queda por ele, mas não sabia que era correspondido” a outradefender “Até um cego perceberia que o Ethan gosta da Anna.” e então os sussurros ficaram mais altos e atraiu a atenção dos dois.

Meu rosto automaticamente ficou vermelho quando meu olhar se cruzou com o de Anna Palmer e ela tentou se esconder atrás de Ethan. Aquela vaca, por que não me contou antes? Claro que eu estava feliz por eles estarem juntos, mas precisava manter segredo?

Bonequinha de luxo. – Ethan disse sentando-se e tentando soar calmo. Ele deu um sorriso sem graça e tentou puxar a Anna detrás dele. – Como estás? Não vi você chegando.

– Oi Smith. – Falei andando até ele e minhas amigas ficaram quietas, apenas observando a cena e fazendo comentários bobos sobre o novo casal da Walter. – Olá Anna.

Ela respirou fundo e saiu detrás das costas largas de Ethan. Sua boca estava meio inchada e ela parecia envergonhada, se encolhendo um pouco e tentando arrumar os fios vermelhos.

– O-oi Hop-pe. – Gaguejou após morder o lábio inferior e mudar a posição de um pé para o outro.

– Por que está tão nervosa? – Perguntei dando-lhe um sorriso gentil, ainda não entendia o motivo de tanta restrição. – Se vocês estão ficando, ótimo, vocês fazem um casal bonito, não precisa ficar assim.

– Eu não falei pra você? – Ethan perguntou lhe direcionou um sorriso e beijou sua testa carinhosamente. Fiquei incomodada por estar sobrando entre os dois. – Ninguém vai se incomodar conosco, Anna, ninguém mesmo. Não precisa ter medo.

– Espera, ela tem medo do que as pessoas vão pensar? – Jassie perguntou como se não acreditasse, afinal, Anna Palmer vivia com sua câmera por aí posando de durona, como se estivesse pouco se importando com a opinião dos outros.

– Ela é tímida. – Ethan defendeu lhe direcionando um olhar gélido e Jassie engoliu em seco, mas eu mantive o olhar em Anna e eu soube naquele momento que o que Ethan estava falando em parte era mentira, havia alguma coisa a mais, algo que eles estavam tentando ocultar. Ela olhou para mim por três segundos antes de olhar para Ethan e mexer minuciosamente a cabeça de um lado para o outro – Mas, o que vocês estão fazendo aqui?

– A sala de teatro é um lugar que qualquer um pode frequentar. – Callie disse irônica e se arrependeu no momento em que Ethan olhou-a ressentido.

– Eu queria falar com você mas... Era algo bobo sobre... Sobre os jogos de basquete. Fica para outra hora. – Não desgrudei meus olhos de Anna e ela sabia disso, pois evitava olhar para mim. Eu queria saber o que eles estavam escondendo, tinha alguma coisa por detrás disso além da sua timidez. – Bom, até mais, prometo que manterei em segredo o relacionamento de vocês.

Ao sair da sala quis bater em Callie por ter sugerido Ethan. Claro que Ethan não poderia ser o Sr. Confuso, Ethan é aberto e sincero demais para se manter conversando com alguém apenas por cartas, apesar de muitas das pistas serem relacionadas a ele estava na cara de que isso era impossível, ainda mais depois da cena que presenciei na sala de teatro.

Saímos da escola e fomos direto para a casa do Michael. O que me leva a lembrar que: 1) Nunca, em hipóteses alguma, chegue na casa de um colega de classe sem avisar e 2) Certifique-se sempre de estar preparada para o pior, você nunca sabe quando uma situação horrível como a seguir pode acontecer.

O Michael morava a duas quadras da escola, por isso fomos as quatro a pé e conversamos o caminho inteiro. Jassie fazia piadas sem graça, Lília continuava calada e Callieas vezes compartilhava suas preciosas balas de menta para nos manter entretidas. A casa do Michael era a mais sem graça da rua e tinha um jardim mal cuidado. Eu soube que precisava riscar seu nome urgentemente da lista quando vi duas meninas brincando no jardim e elas eram extremamente parecidas com ele: loiras e esguias, o que significava que eram suas irmãs. Elas olharam para nós como se fossemos alienígenas e correram para os fundos da casa.

– Será que minha cara está tão mal assim? – Callie fez uma careta e eu desatei a rir. Quando Callie fazia caretas ela ficava com uma expressão engraçada, parecia que havia provado a pior comida do mundo ou visto uma cena de sexo explicita em um filme de romance. – Ei, tá me deixando envergonhada, para de rir.

Mas eu não consegui parar, tão tal que apertei a campainha com os dentes a mostra e fazendo sons engraçados devido ao meu descontrole em sorrir. Quando Michael abriu a porta ele inclinou a cabeça para o lado e piscou seus grandes olhos umas quatro vezes antes de perceber quem estava a sua frente.

– Oi. – Consegui me recompor a tempo de dar um sorrisinho sem graça. Minhas amigas estavam atrás de mim, estudando minuciosamente o interior da casa.

– O que você está fazendo aqui?

– Por que você não foi a escola? – Ignorei a sua pergunta a partir do momento que vi que havia mais pessoas dentro da casa, transitando de um lado para o outro com copinhos vermelhos e um som começou a se fazer presente.

– Meu irmão organizou uma festa e precisava de uma ajuda. Quer entrar? – Eu deveria ter negado a partir do momento que ele falou a palavra “irmão”, mas minhas amigas deram um passo a frente e me empurraram. Eu fui parar nos braços do Michael, o que foi bem estranho por ele ser magrelo e estar com um odor de cerveja. Tentei não demonstrar minha antipatia, mas foi inevitável quando ele se inclinou um pouco para trás e vomitou nos meus sapatos. – Oh, desculpa Adams, oh... – Mais uma vez, e eu fechei os olhos sentindo o liquido viscoso invadir as minhas meias e o odor aumentar. – Eu tenho o estomago fraco e... – Soltei um gemido sôfrego quando senti um respingo em minhas pernas, por que não fui para a escola de calça em vez de saia? Por que não recusei seu convite e saí correndo?

Eu abri os olhos a procura das minhas amigas, mas elas estavam do outro lado da sala, acredito que nem haviam presenciado a cena e eu estava apenas cara-a-cara com o Michael. Eu aceitei seu pedido de desculpas e fui com ele até o quintal lavar minhas pernas, meu sapato ficou em um estado deprimente. As suas duas irmãs me ajudaram a lavar as meias e eu fiquei envergonhada quando virei o centro das atenções e as pessoas dentro da sala começaram a fazer comentários. Minhas amigas ainda estavam na sala e eu só fui perceber que o motivo delas estarem ali era por algo ainda mais marcante para o meu péssimo dia.

– O que está acontecendo aqui? – Perguntei empurrando as pessoas para o lado a fim de encontrar minhas amigas. Avistei Lília e Callie segurando uma Jassie aos berros, ela tentava se soltar e erguia as pernas. A sua frente havia um cara mais velho, musculoso e alto. Ele parecia perdido, como se não entendesse o que estava acontecendo. Era o ex-namorado da Jassie, com uma garota ao seu lado, claramente bêbado. – Ai, não...

– SEU PUTO EU ODEIO VOCÊ. – Jassie gritou tentando se soltar e o Flynn (Seu ex) apenas balançou a cabeça de um lado para o outro e se afastou. – VOLTA AQUI SEU VAGABUNDO, VOLTA AQUI AGORA. COMO OUSA TERMINAR COMIGO E NO DIA SEGUINTE SE AGARRAR COM UMA PIRANHA QUALQUER? VOLTA AQUI.

Me juntei á Lília e Callie e consegui tirar a Jassie de dentro da casa do Michael. Ela ficou chorando o percurso inteiro até chegarmos na minha casa. Eu sentia um aperto no peito, tendo a plena certeza que as coisas mal haviam começado, que muita merda ainda estava por vir.

Marquei de me encontrar com David no shopping a noite. Já havia desistido da ideia de que qualquer um deles poderia ser o Sr. Confuso e isso me deixava ainda mais triste, com uma sufocante vontade de chorar. Quando eu finalmente iria encontrar aquele ser que me enviava cartas semanalmente? Quando eu finalmente estaria em seus braços, declarando o quanto o amo?

Minha mãe deixou Jassie na sua casa e eu decidi que lidaria com David sozinha. Certo, havia cinquenta por cento de ele ser o Sr. Confuso e cinquenta por cento de ele não ser. Muitas das informações se aplicavam a ele e hora ou outra eu lembrava das suas tentativas de me fazer parar de fumar e do fato de que a muito tempo atrás ele ter me dado um CD do OneRepublic, mas aquilo não significada nada.

Ou talvez significasse tudo.

De qualquer maneira, lá estava eu andando desengonçadamente em direção a sala de alimentação. Eu me sentei na frente de David e me senti muito constrangida por estar olhando minuciosamente para o seu rosto. David é um rapaz bonito, não do tipo “Oh, que bonitinho” mas sim “Ai meu Deus, que lindo” e ele tinha plena certeza disso, mais um motivo para ele não ser o Sr. Confuso, devido o fato do mesmo declarar não se achar bonito.

– O treino hoje foi pesado. – Ele disse pegando algumas batatinhas, eu ainda estava estudando seus detalhes e seu modo de agir. Como poderia eu o conhecer a quatro anos e não ter percebido coisas bobas sobre ele, como o fato dele não comer maionese? Foi aí que eu percebi que não sabia quase nada sobre ele e ao mesmo tempo sabia tudo. – Só teve aquela mesma ladainha em relação a dividir a quadra, mas o resto foi tranquilo.

Eu apenas assenti e me preparava mentalmente para como fazer perguntas descontraídas e abordar diretamente o assunto. Depois do que houve com Michael eu deveria estar alerta de que a qualquer momento eu deveria simplesmente desistir, se por algum acaso bem obvio o Sr. Confuso não fosse o David eu estaria perdida.

Em um momento torcia os dedos esperando ser ele e no outro rezava para que ele não se encaixasse em nada no padrão que eu criei sobre o Sr. Confuso.

– Escuta, eu gostaria de saber se... – Parei de falar quando um casal sentou-se à mesa ao lado. Mas, não foi um casal qualquer, foram duas garotas. Elas estavam abraçadas e conversavam aos sussurros. Algumas pessoas lançaram olhares furtivos a elas, mas David parecia não se incomodar, pra falar a verdade eu mesma não me incomodei, mas então elas começaram a se beijar e meu queixo caiu. – Que absurdo!

– O que? – David perguntou com a boca cheia e seguiu o meu olhar. Ele ficou encarando elas por um tempo muito curto, depois deu de ombros como se não se importasse e olhou diretamente para mim quando perguntou: – Por que está tão incomodada?

– Vamos esquecer isso. – Tentei mudar de assunto, porque cresci em uma família cheia de padrões. Minha avó segue a risca de que o homossexualismo é o pior pecado que existe e devido a isso às vezes eu era envenenada com suas objeções. Alias, eu nunca havia conversado sobre isso com ninguém, sobre o fato de eu não saber se apoiava ou não o relacionamento de duas pessoas do mesmo sexo. – Eu quero conversar com você sobre um assunto importante e...

– Não. – Ele me interrompeu engolindo as outras batatas e limpou a boca com o guardanapo, me assustei quando David se inclinou mais na mesa e ficou a centímetros do meu rosto. – Eu realmente quero saber por que você está com essa cara de nojo.

– Eu não estou com cara de nojo! – Tentei me defender e acabei falando auto demais, as duas garotas olharam de soslaio para mim e suspiraram.

– Por favor, me diga que você não é homofobica.

– David...

– Por favor.

– É que, você sabe... Minha avó era muito religiosa e meu pai... Ah, você sabe, ele me ensinou a respeitar mas... Sei lá...

– Eu só quero que você diga sim ou não, Hope.

– Não. – Soltei um suspiro e me remexi inquieta na cadeira. – Só não sei o que pensar sobre isso. Você sabe que eu nem sequer frequento a igreja e o mundo tá tão modernizado, e todo mundo já se acostumou com isso, mas ainda estou acostumada com os padrões que minha avó colocou em minha mente, então não sei ao certo o que dizer sobre isso.

– Isso é ridículo. – Ele bufou sentando-se novamente e colocou uma mão no queixo. – Estou decepcionado com você.

– Eu sei que sou uma idiota, tá legal? Eu nunca conversei com ninguém sobre esse assunto, e a minha família é toda cheia de preconceito. Qual é, o que você esperava de mim?

– Que tivesse personalidade própria. – Ele cuspiu as palavras cruelmente e eu me encolhi.

– Eu tenho personalidade própria! Você me conhece, David, você sabe que eu sou...

– Uma manipuladora, uma vaca egoísta e preconceituosa.

– David?! – Quase berrei quando ele disse tais palavras, foi como se eu tivesse levado um belo tapa na cara, elas cravaram em meu peito, abriram um buraco e corroeram meu coração. Eu abaixei a cabeça, não queria que ele me visse chorar. – É isso o que você acha de mim? É isso mesmo?

Ele não respondeu, na verdade ele se levantou e simplesmente saiu, sem me dar satisfações nem nada. Eu continuei quieta na minha cadeira, sentindo os olhares das duas garotas sobre mim, perfurando-me e rasgando-me por inteira. Eu queria me levantar e pedir desculpas a elas, queria dizer que elas formavam um lindo casal e que aprovava as duas, pelo simples fato delas parecerem felizes. Mas eu não consegui, eu continuei no meu canto quieta pensando nas palavras de David, pensando no fato de que minha vida inteira segui aquilo que meu pai falava, de que a minha vida inteira apenas segui seus passos, sem parar para pensar se era aquilo o que eu queria para mim. Eu queria me bater por ser tão idiota, por ser tão sem conteúdo.

Não sei ao certo por quanto tempo fiquei ali, mas só fui realmente me dar conta de que precisava ir embora quando vi Lília e Henry vindo em minha direção. Eles pareciam preocupados e eu me perguntava o que eles estavam fazendo ali, eu queria gritar e dizer que gostaria de ficar sozinha, mas eles já haviam se sentado na mesma mesa que a minha.

– Por que você está chorando? – Lília tentou tocar meu braço e eu virei o rosto para o outro lado.

– O que vocês estão fazendo aqui?

– O Shopping é publico. – Henry caçoou e eu chutei sua canela por debaixo da mesa, ele fez uma careta e depois continuou: – Aconteceu alguma coisa?

– Oh, sim, claro. Aconteceu tudo, absolutamente tudo! – As palavras saíram rasgando pela minha garganta, como uma navalha que vinha fazendo seu corte pouco a pouco. – Primeiro eu caio na ilusão de que vou conseguir alcançar meu objetivo, que vou encontra-lo, e aí tudo vai desmoronando. Primeiro pego uma das minhas amigas namorando com um amigo meu e eles estavam fazendo isso em segredo, sem nem ao menos me contar! Depois um garoto vomita em mim e a Jassie encontra o namorado dela aos agarros com uma garota em uma festa e aí faz um escândalo. Para completar o maravilhoso dia, resolvo sair com meu melhor amigo e por alguma razão boba a gente começa a discutir e ele joga na minha cara que sou uma manipuladora egoísta e preconceituosa. Eu acho sinceramente que agora ele me odeia. Mais um para a minha coleção, acho que agora as pessoas já podem criar um grupo chamado “Nós odiamos Hope Adams”, e você bem que poderia ser o administrador, Henry, e finalmente poderia declarar o ódio mortal que você sente por mim. Você acha que eu não sei que toda essa paz é uma farsa? Que na verdade você concorda com tudo o que o David diz? Agora você pode finalmente parar de fingir, dizer o quanto me odeia e o quanto sou desprezível, estou tão machucada que na verdade um mais “Eu te odeio” ou “Eu estou decepcionado” já não vai fazer tanta diferença, ainda mais vindo de você, que passou sua vida inteira me oprimindo.

– Você acha que é uma farsa? – Henry perguntou calmamente se levantando e eu estava tão motivada que acabei levantando também, e quando dei por mim estávamos a apenas um passo de distancia. – Eu não estou fingindo, Hope, e você deve parar com esse drama e ir atrás do seu “amigo” para saber o motivo dele ter ficado tão puto. E foda-se se o David ou o caralho a quatro odeia você, isso não importa, o que importa é que eu te amo e estou surpreso por ver você tão na merda por algo bobo. Agora pare de chorar, você fica terrível quando chora, um monstro de olhos vermelhos e inchados.

Eu deveria ter feito o que ele havia aconselhado, mas tudo o que consegui fazer foi inclinar a cabeça para o lado e processar tudo o que ele havia dito. Depois de um silencio mortal Lília fungou e eu acordei do meu transe, dando mais um passo e envolvendo Henry em um abraço.

– Você poderia repetir? – Sussurrei, chorando ainda mais.

– Repetir o que?

– Que você me ama.

– Eu amo você. – Ele sorriu sobre meu pescoço, sua respiração se chocando contra minha pele exposta e eu respirei fundo. Quando nos separamos Henry deu um beijo rápido em minha testa e disse: – Há muito tempo atrás você foi sim uma garota manipuladora, egoísta e preconceituosa, mas hoje você aprendeu que isso não leva a lugar nenhum.

– Mas ainda sou um pouco disso, não é?

– O mal vai estar sempre presente em nós, Hope, somos seres humanos, defeitos nunca irão sumir por completo, devemos apenas nos acostumar com eles e aos poucos tentar melhorar.

Eu assenti e dei um último abraço antes de partir. Henry e Lília seguiram em direção ao cinema e eu desci as escadas, correndo tanto que tropeçava em meus próprios pés para conseguir chegar a casa de David, que ficava apenas alguns quarteirões atrás do shopping. Precisava saber qual desfecho aquilo tudo teria.

E, foi então, que a revelação do dia se fez presente.

Eu normalmente nunca bato na casa do David quando chego, ele sempre deixa uma chave dentro do vaso de flores murchas que tem na soleira na porta, então eu apenas entrei e comecei a procura-lo em cada cômodo. Os pais de David estão viajando, ele sempre fica em casa sozinho quando isso acontece e às vezes eu e Callie vamos ali para deixar tudo arrumadinho, já que David é um desastre ambulante.

Eu fui encontra-lo dentro do quarto, ele estava sentando na cama com um notebook no colo e seus olhos quase saltaram das orbitas quando percebeu a minha presença.

– Hope?

– Não grita comigo, por favor! – Fui me aproximando falando as palavras uma atrás da outra, sem me importar se estava toda descabelada, com os olhos inchados e uma voz chorona. – Nem repita aquilo que você disse no shopping, não estou prepara emocionalmente para isso. Eu queria pedir desculpas, não sei por que você saiu tão ofendido do shopping, mas por favor, me desculpa. Eu não odeio lésbicas nem gays, na realidade minha mãe costuma dizer que eles são as melhores pessoas que existem e eu concordo com ela. Não sou homofobica, nunca fui e nunca serei, eu só precisava finalmente cair na real e aceitar que não existe homossexualidade, existe sexualidade, existe amor, independentemente se são do mesmo sexo ou não, duas genitálias iguais não definem o caráter de ninguém. Por favor, desculpa, devo ter soado como uma preconceituosa, como a família do meu pai, como a minha avó, e isso é terrível, porque não sou igual a eles. Então, por favor, desculpa. Eu nem sei por que estou pedindo desculpa, apenas... me perdoe.

David piscou seus olhos verdes azulados umas três vezes seguidas, depois abriu a boca tentando achar as palavras corretas e parecia nunca encontrar algo coerente para dizer. Sentei-me cautelosamente na cama, notando perto da cabeceira uma mochila um tanto quanto familiar para mim.

– Eu quem tenho que pedir desculpas por ter dito aquelas palavras a você. – David sussurrou colocando o notebook de lado e me envolvendo em um meio abraço, ele cheirava a suco de abacaxi. – Nunca quis dizer aquilo, foi por impulso, perdão. Eu fui ao shopping para contar a você sobre algo que estava entalado em minha garganta, aí você começou a dar um chilique por causa daquelas garotas na outra mesa e eu acabei me exaltando, desculpe.

– Tudo bem.– Suspirei e ajeitei os meus cabelos, acredito que minha aparência estava a pior possível. – Mas o que você queria conversar comigo?

– Você primeiro, você parecia mais afobada, deveria ser algo importante.

– E é. É algo ridículo de se dizer para você, mas eu comecei a procurar pelo cara das cartas, o Sr. Confuso, e as meninas fizeram uma lista de quem poderia ser ele, e aí você acabou caindo na lista.

Ele ficou me encarando por um tempo sem entender e quando finalmente caiu em si começou a rir.

– Contei alguma piada?

– Não é isso, é que... – Ele parou para respirar um pouco e voltou a rir novamente, me senti incomodada, será que estava fazendo papel de palhaça? – É impossível eu ser o Sr. Confuso pelo simples fato de que...

Ele foi interrompido pelo rapaz que entrou no seu quarto no mesmo instante em que estava terminando a frase. Arquejei em surpresa ao ver Louis Haynes parado a minha frente apenas com uma toalha ao redor da cintura, ele ainda não havia notado a minha presença por estar mexendo no celular, se encostou no batente da porta e passou a mão pelos cabelos molhados.

– David, você acredita que o treinador me obrigou a ir para o time reserva e ensinar os novatos a fazer uma tabela? Ele poderia ter chamado o Tyler, mas não, ele foi escolher justo a mim que estou com o joelho machucado e... – Então ele levantou a cabeça e seus olhos fixaram exatamente em mim. Ele teve a mesma reação de David: Arregalou os olhos e ficou atônito por me ver ali. – Mas...? O que...? Oi... Hilla? Seu nome é Hilla, né? Ou é Hannah?

– O nome dela é Hope. – David disse parecendo ofendido e lançou um olhar acusatório para Louis, o garoto apenas deu de ombros e saiu como se absolutamente nada tivesse acontecido e sussurrou “Contanto que ela fique de boca fechada” com uma carranca. – Aí está o motivo por eu não ser o Sr. Confuso e ter ficado tão ofendido no shopping.

– Ainda não compreendi.

– Hope – David disse meu nome pausadamente e suspirou antes de dar continuidade. – Eu sou gay.

...

Meus ombros estalam todas as vezes que estico o braço para trocar o rádio de estação e eu sinto um incomodo na coluna por estar a tanto tempo curvada. Chove bastante lá fora, tanto que as gotas que respingam sobre minha janela faz um barulho alto como se fossem na verdade pedras, mas não está tão frio devido a temperatura elevada que o aquecedor está. Meus pais não estão em casa e Henry ainda não voltou do cinema, é tão ruim ficar sozinha quando mais preciso de alguém para confessar sobre as coisas que rondam nos meus pensamentos.

Eu não sei bem como reagir diante de tantas coisas que aconteceram hoje. Claro que ainda estou magoada sobre Anna nunca ter me falado sobre o Ethan, mas relevamos pelo fato de que ela não sabe da existência do Sr. Confuso e eu estou torcendo tanto para que os dois deem certo, tanto que as juntas dos meus dedos chegam a doer por eu cruza-las a todo instante que penso neles. Eu espero que Jassie supere seu ex-namorado, ela não é do tipo que chora a toa, mas saiu daqui muito abalada. Jassie merece uma pessoa melhor, eu nunca gostei do seu namoro com Flynn, ele me incomodava até com um mero olhar, além de estar no último período da faculdade de medicina e chama-la de “Minha ninfeta” as vezes, o pior apelido que eu já havia ouvido em toda a minha vida.

Mas, acima de tudo, espero que David saiba o que está fazendo. Após me contar sobre sua opção sexual, ele começou a relatar toda a sua história com o Louis: Aparentemente eles eram amigos e saiam com o pessoal do time de futebol e handebol todo fim de treino, David me contou que as vezes Louis ficava bêbado e dizia coisas sem sentido, como o fato de achá-lo atraente e coisas do gênero. Então, na festa de dezoito anos da Callie o Louis foi convidado e eles ficaram as escondidas, mas o Haynes deixou claro que aquilo deveria ficar apenas entre eles dois e mais ninguém, que ninguém jamais deveria saber da existência daquele estranho relacionamento. O único problema nisso tudo é que David está realmente apaixonado pelo Louis, amando de verdade, mas o Louis aparentemente tem uma queda pela Callie, que aparamente gosta do treinador Alex, que aparentemente é casado, mas que aparentemente tem um lance com a professora de natação... E no fim, quem acaba sofrendo e na pior, é o David, por ser o único a amar nesse circulo fechado.

Eu não sei até quando meu amigo irá suportar tudo isso, eu não sei até quando ele vai conseguir esconder quem ele realmente é. Eu acho que, quando ele finalmente explodir, vai ser como uma granada enorme que atingirá todos nós em um único impacto. E eu infelizmente acho que ele vai explodir em breve, não dá para fingir que está tudo bem quando você vê a pessoa que você ama andando pelos corredores da escola ao lado de diversas garotas e se comportando como se você fosse um alguém qualquer, não dá mesmo. Eu, sinceramente, não quero estar por perto quando a explosão acontecer.

A estação no rádio começa a falhar pela chuva e eu resolvo ligar o toca discos. O disco que tenho escutado ultimamente é Oasis, as letras são excepcionais e a voz do vocalista é maravilhosa. Eu fecho os olhos e me deito sobre minha espaçosa cama, sei que adoro o calor e que o aquecedor está ligado no máximo, mas eu gostaria de estar sentindo frio, para poder igualar com meus pensamentos e sentimentos mais profundos, que estão envolto sobre uma camada de gelo, deixando-me entorpecida.

Abraço-me ao travesseiro e me encolho sobre os lenções. Continuo a pensar em como tudo é bom, em como tudo deveria ser bom e quando menos percebo vem uma lagrima, em seguida outra e outra. Prometi a mim mesma que não iria mais chorar hoje, tentei me convencer de que meu estoque de lagrimas havia esgotado, mas ao afundar minha cabeça no travesseiro e mergulhar nos meus pensamentos é inevitável não chorar.

Não sei por quanto tempo continuo na mesma posição, sentindo os desenhos colados no teto encarando-me, sentindo o peso das cartas sobre a cama, sentindo as letras da música invadindo-me por inteira, invadindo minha alma, mas quando finalmente paro de chorar sei que já está tarde. O céu está escuro e a chuva transformou-se em uma garoa e as lagrimas deixam um rastro áspero sobre meu rosto e um gosto amargo na minha boca. Tenho que parar de pensar, tenho que me desligar, se não continuarei a chorar mais e mais.

Quando desligo as luzes e o toca discos com uma vontade louca de me jogar sobre a minha cama e nunca mais acordar, meu celular começa a tocar. Eu não quero atender, minha voz vai estar travada demais para dizer algo e eu não quero mais desabafar com alguém, quero permanecer na minha pequena bolha de drama e chororô. Mas o celular continua tocando e vibrando com a voz aguda da Taylor Swifit invadindo cada canto do meu quarto e quando eu finalmente atendo solto um suspiro e fecho os olhos com força, talvez se seu desejar com mais fé eu possa realmente desaparecer.

– Alô? – Resmungo com a voz abafada e encosto a bochecha no travesseiro.

– Olá, Querida Hope.

Depois de passar o dia inteiro procurando o paradeiro do Sr. Confuso, eu não esperava receber uma ligação. Automaticamente abro os olhos e me sento sobre a cama, mas por algum motivo desconhecido eu volto a chorar, e dessa vez são motivos cruciais.

Ele não quer que eu o conheça, ele não deve querer a minha presença, ele talvez não seja real, talvez eu esteja ficando louca...

Hope? Você está bem? – Eu quero gritar que não estou bem, quero gritar pedindo para ele parar de usar esse aplicativo de voz idiota, quero gritar para ele parar de se esconder, quero gritar que ele é especial, que eu o amo. Mas tudo o que faço é soluçar e chorar ainda mais. – Por favor, fale comigo.

Mas eu não falo, eu não tenho forças para falar. As lagrimas secaram, mas eu ainda soluço e aperto os olhos com força. Ele continua perguntando se estou bem, com um tom oitavo a cima, e sua respiração está entrecortada. Depois de um tempo em silêncio, finalmente paro de soluçar e balbucio um “sim”.

Posso saber por que você está nesse estado?

– Você é o culpado disso tudo, sabia? – Não sei onde consegui coragem para enfrenta-lo, mas de repente as palavras estão sendo jorradas pela minha boca antes que eu possa impedi-las. – Coisas estranhas aconteceram comigo hoje, coisas estranhas mesmo. Primeiro eu encontro um casal se beijando na sala de teatro e descubro que eles estão namorando as escondias, depois o garoto que se senta atrás de mim na maioria das aulas vomita em cima dos meus sapatos e suja toda a minha panturrilha e de grátis tenho que presenciar minha amiga chorando feito uma bezerra pelo ex-namorado que a estava traindo, e para completar o dia descubro que meu melhor amigo é gay e que eu sou uma manipuladora egoísta e preconceituosa. Tudo isso para quê? Para descobrir quem você é, porque eu saí em uma inútil jornada atrás de você, porque percebi tarde demais que eu estou perdidamente apaixonada por você, porque fui idiota o suficiente para amar um anônimo que me manda cartas semanais. Isso é tão clichê, isso é tão coisinha de filme que estou até surpresa por eu ainda não ter entrado em depressão para completar o enredo. Eu só queria... Queria encontrar você.

Hope, tente entender que...

– Tente entender o escambau!Eu estava cheia de expectativas em relação a encontrar você, mas no decorrer do dia tudo foi transbordando em decepção! Será que você ao menos é real? Porra, eu nem ao menos sei o seu verdadeiro nome! Nem sequer consigo criar uma fisionomia sobre você! Eu devo estar ficando louca! Todas as noites eu sonho com você, mas nunca consigo ver seu rosto, apenas escuto a sua voz, que ironicamente não é real, por você usar essa droga de aplicativo!

Hope...

– Ai, cala a boca, me deixe falar! – Estou tão furiosa que não meço minhas palavras, sei que vou me arrepender disso depois, mas continuo falando: – Na primeira carta que fiz para você eu fui ingênua em dizer que nunca poderia te amar, que nunca iria retribuir o sentimento que você diz sentir por mim e devo declarar que eu fui uma otária. Eu amei você desde o inicio, Sr. Confuso, amei você desde os bilhetes bobos, amei você desde a caligrafia mal feita que foi caprichando aos poucos, amei você desde as tulipas, amei você desde os desenhos, desde as ligações, desde... tudo, Sr. Confuso. Eu dizia a mim mesma que eu apenas gostava de você, como um amigo, mas isso nunca foi verdade. Foi um erro aceitar namorar o Tyler, foi um erro machucar você. As coisas estão ficando tão difíceis, estou tão sem esperanças e a única coisa que me mantém em pé as vezes são as suas cartas, elas são a minha salvação, Sr. Confuso.

Hope... – Sua voz está mais apelativa, tentando chamar a minha atenção. – Eu acho que...

– Você acha que estou mentindo, né? Ou pior que isso, acho que você não é real, acho que talvez tudo isso tenha sido uma mentira e eu estou me machucando atoa. Vamos lá, diga isso, finalize meu dia com essa sentença e...

– Hope! – Ele grita e eu engulo em seco, sentindo todos os poros do meu corpo se arrepiarem. – Eu acho que podemos nos encontrar amanhã, droga! Você não me deixa falar!

– V-ocê acha o q-que?

– Que devemos nos encontrar. Amanhã, às três horas, no lago da colher. Você sabe qual é, você que o batizou assim, aquele lago que fica congelado nessa estação, aquele lago que você sempre adorou, o lago em que você banhou uma vez e pegou hipotermia por causa da temperatura, o lago que você ama e odeia ao mesmo tempo, aquele lago.Vou estar usando uma blusa do OneRepublic. Vejo você amanhã.

Antes que eu possa processar tudo ele já desligou o telefone. Sei bem qual é o lago ao qual ele diz, mas como será que ele sabe todas essas informações?

Eu me deito sobre a cama, piscando os olhos freneticamente e beliscando meus braços com toda a força possível.

Vou encontrar o Sr. Confuso amanhã, acho que eu deveria ficar animada, mas alguma parte de mim, a parte negativa, deixa claro que isso tudo não irá acabar tão bem quanto imagino.


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Notas finais do capítulo

eu acho que agora vocês já tem uma ideia de quem pode ser o Senhor Confuso, nem era mais um segredo tão grande assim, então preparemos o core para a reação da nossa querida protagonista Hope ao descobrir toda a verdade.



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