Moments in Winter escrita por EeruJin


Capítulo 2
Capítulo 2: Knowing this girl




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Aquele frio já não se mostrava imponente. Recheado de tecnológicos aquecedores, a cafeteria Kosaki proporcionava a Yuuki um incomodante calor, por outro lado, a morena de olhos claros parecia mais relaxada do que nunca. Duas xícaras de cappuccino estavam posicionadas em frente aos jovens, ricas em detalhes dourados e de aparente porcelana nobre, o requinte do local era certamente comprovado. Uma longa mesa de madeira mantinha Makoto e a “garota sem nome” afastados, enquanto o assento – feito de couro – rubro dava à eles um aconchegante momento de interação. Já havia se passado vinte minutos desde aquele incidental encontro e nem sequer uma pergunta havia sido esclarecida. Após uma pequena golada em sua bebida, Makoto começou com seu interrogatório.

– Então... Vamos ver se eu entendi direito. Você teve perda de memória e não sabe como veio parar aqui, é isso?

– Acho que sim! Eu realmente não faço a mínima ideia de como cheguei aqui nessa tal de Tóquio. – Respondeu, ajeitando-se adequadamente em seguida.

“Meu deus, que problema eu arranjei...” – Refletiu. – Não há nenhum documento ou coisa parecida nos seus bolsos?

A menina revirou cada pequena fresta que havia na singela calça jeans que vestia, mas com o desapontamento estampado em seu rosto, anunciou que nada fora encontrado.

– Isso complica bastante a situação... Se não há nenhuma identificação ou lembrança de onde você veio, acho que não temos o que fazer.

– A-Ah... Senhor... Esse cappuccino... E-Eu não tenho como pagar...

– Não se preocupe com isso, é por minha conta. O importante é descobrir o que aconteceu com você ou tentar, no mínimo, achar uma pista qualquer. – Quanto mais pensava sobre o estado em que estavam, mais perguntas surgiam. Como ela apareceu na sua frente, do nada? De onde veio? Qual era seu nome? Onde mora? Sua família estaria procurando por ela? Perguntas, perguntas, perguntas. A mente de Yuuki estava poluída por incontáveis questões sem resposta, tal quantidade parecia engolir por completo o garoto, e, visto que provavelmente não chegaria a lugar algum, resolveu deixar de lado os pensamentos e apelar para a ajuda de um terceiro. – Falar com a polícia não adiantaria, se eles não encontrarem algum responsável, provavelmente te mandariam a algum abrigo. Enfim, por mais que eu odeie ter que recorrer a ela... Acho que é melhor falarmos com a minha irmã.

– Ela pode ajudar de algum jeito?

– Hunf... Duvido muito. – Admitiu, bufando. - Mas já é melhor do que não fazer nada. – Suspirou. Com o braço levantado, pediu a conta para o garçom há alguns metros de distância.

Enquanto a cabeça estava dominada por tais dúvidas, seus olhos já se concentravam em outro lugar... Os seios daquela garota realmente atraíam toda a atenção para si, e por mais que tentasse evitar, era simplesmente impossível ignorá-los. Como alguém de tão pouca idade poderia possuir tal tamanho? Aquilo deveria ser contra as leis da física!

– Mil cento e quarenta e cinco ienes!?* Que roubo é esse? – Esperneou Yuuki.

...

O trajeto não havia sido fácil, com os ventos vindos do sul colidindo defronte aos jovens, arrepios acabavam sendo sentidos quase que a todo minuto. A menina que desafiava as leis do mundo com os peitos trajava uma simples blusa branca de manga comprida, seu corpo, gélido, esfriava-se cada vez mais com o tempo que passava fora da casa de Yuuki. Por sorte, assim que a porta se fechara e ela adentrou a residência, o morno ambiente fez sentir-se perfeitamente bem.

– Uaah!! Que casa quentinha!! - Disse, abrindo os braços para que pudesse sentir, cada vez mais, aquela maravilhosa sensação.

– Eu liguei o aquecedor, vai esquentar mais daqui a pouco. – Complementou. – Aliás, garota, como eu devo chama-la por enquanto?

– Huum... – Ela pensou, novamente, levou o dedo à boca e olhou em direção ao nada, provavelmente submersa em pensamentos próprios. Quando uma luz surgiu em sua mente, rapidamente pôs as palavras para fora. – Shion, Shion Yuuki! Por algum motivo, quando eu forço a minha memória, esse nome me vem à mente... Acho que esse é o meu nome!

Makoto derrubou o controle do aparelho que esquentara o clima em um piscar de olhos. Completamente perplexo e paralisado, fitava aquela jovem estagnado, sem qualquer tipo de reação. Engoliu seco, e logo em seguida balbuciou algumas palavras.

– S-Shion Yuuki... É-É o nome da minha mãe... – Tremeu.

– Hã? Sua mãe? – Questionou, um tanto quanto confusa.

“O que está acontecendo aqui? Quanto mais me envolvo com esta menina, mais mistérios e mais dúvidas surgem na minha cabeça... Acalme-se, acalme-se Makoto Yuuki! Há uma resposta para tudo no mundo, basta ter paciência e continuar persistindo.” – Inspirando e expirando devagar, o garoto tentou acalmar-se a todo custo. Sua perna e mão tremiam freneticamente, e o suor que descia facilmente pelo seu rosto aglomerava-se perto de sua boca. – Isso está ficando mais estranho a cada momento... A mulher que possui o nome que disse agora, você possui alguma recordação dela?

– Absolutamente nada! Ao parar para pensar um pouco mais profundamente, esse nome simplesmente surgiu na minha mente! Foi como um flash, simplesmente apareceu!

– Entendo... Pensando bem, não, não entendo... – Falou, decepcionado. – “Como algo assim pôde surgir na minha vida? Acordei normalmente, fiz o caminho de sempre, não mudei absolutamente nada do meu habitual... E agora, em menos de uma hora, estou completamente perdido na minha própria mente em meio a tantas perguntas, não importa o quanto eu tente me acalmar, simplesmente não dá! Eu devo estar sonhando, isso, isso mesmo, só pode ser isso, alguém precisa me beliscar para que eu possa acordar e voltar ao normal!”.

Antes mesmo que terminasse sua frase, a garota aproximou-se e apertou sua bochecha com força suficiente para marcá-lo. Makoto virou-se e, com a mão no local onde estava doendo, questionou.

– Por que você fez isso?

– Ué, foi você que pediu! – Respondeu, corada, de certa forma.

Ele fitou-a.

– Como escutou o meu pensamento? Se já não bastasse toda a estranheza, agora você tem super poderes, é?

– Não foi um pensamento, você falou em voz baixa e deu para ouvir claramente.

– É... Preciso melhorar minhas reflexões.

...

Correndo em uma velocidade absurda, o relógio parecia não descansar. Minutos transformavam-se em horas, e sem que ao menos percebessem, nove e meia da manhã já eram marcadas. Ambos trocavam algumas palavras rápidas e tímidas, mas sem esperança alguma de que fosse resultar em algo próspero. Shion observava todo seu redor com olhos de lince, plenamente deslumbrada com a beleza rústica e de muito boa arquitetura da sala onde jaziam, reparava desde a almofada mais comum da casa até o tecnológico e sofisticado Home Theater. Algo finalmente dava fim ao silêncio, o barulho da porta fechando-se era ouvido pelos jovens, fazendo com que suas atenções fossem redirecionadas imediatamente. Rina finalmente havia chego em casa, ao terminar de retirar os apertados sapatos, deu-se de cara com uma menina sentada em seu sofá, uma desconhecida.

A mulher encarou-a como se fosse uma ladra, com um olhar completamente fuzilador. Atenta, chamou Yuuki utilizando apenas sinais com o dedo. Atendendo ao pedido de sua irmã, ele levantou-se e caminhou até ela calmamente.

Com voz baixa, cochichou em seu ouvido.

– Quem é essa aí, Makoto?

– Longa história, irmã... Longa história.

– Não me diga que... O meu irmãozinho está... Está...

– Estou o quê?

– VOCÊ TÁ PEGANDO ALGUÉM? AI MEU DEUS, VAI CHOVER CANIVETE HOJE! – Gritou, completamente eufórica e entusiasmada, enquanto lágrimas de felicidade ameaçavam escorrer por seu rosto. – ME CONTA TUDO! COMO VOCÊS SE CONHECERAM? ONDE? COMO ELA CHAMA? POR QUE NÃO ME CONTOU ANTES!? Caramba, Yuuki, você se protegeu né? Nem me venha arranjar um filho agora!

Makoto tapou seu rosto com a mão, demonstrando uma completa frustação, enquanto a adolescente simplesmente observava e ouvi tudo o que acabara de ser gritado, sem entender nada.

“Que bela irmã eu fui arranjar, hein...” – Pensou, inquieto. – Você entendeu tudo errado. Sente-se, irei explicar.

...

– Ah... Então é isso.

– Desculpe se não sou o pegador que você imaginou. Senhorita dominadora das noites.

– Nah, eu já esperava que não fosse verdade mesmo. – Respondeu, de braços cruzados e frustrada.

Após muitas perguntas e respostas sobre a veracidade do ocorrido, tudo havia sido esclarecido devidamente. A reação de Rina era de completa decepção, assim como sua expressão.

“E eu pensando que o meu irmão tinha tomado jeito! Desse jeito, ele vai morrer sem nem ter beijado.” – E se espalharmos folhetos por aí com a foto dela ou divulgarmos na internet?

– Sem chance. – Negou. - Milhares de pessoas irão aparecer aqui dizendo serem os pais dela. E por se tratar de uma garota bonita assim, isso pode até se tornar perigoso.

Shion corou.

– É verdade... Bem, o que sugere que eu faça?

– Você possui centenas de contatos por todo o Japão, é uma pessoa completamente sociável e vive encontrando, todos os dias, pessoas por todo o país. Use isso para o bem de alguém.

– Simplificando, quer que eu, secretamente, veja se há alguém com um parente desaparecido ou coisa parecida entre os meus conhecidos?

– Exato. Mas certifique-se de não parecer suspeita. – Confirmou.

Rina coçou a parte de trás da cabeça, e com uma cara não muito satisfeita, soltou um singelo “Vou ver o que posso fazer.”. Enquanto isso, a garota de orbes claros apenas observava o desenrolar da conversa, calada. Talvez ela fosse a que menos entendera a situação em que estavam, mas com um sorriso no rosto, via a interação entre os irmãos de forma animada.

Aproximando-se mais dela, a “Dominadora das Noites” encostou sua mão direita em um de seus seios, com um olhar extremamente clínico e delicado, fitou-a impetuosamente. Shion corou instantaneamente, mais uma vez. Tentou de todas as formas fazer com que ela soltasse, mas sem sucesso. Após cerca de oito segundos, seu peito foi finalmente solto, e a mulher começou a falar.

– Macios, firmes, grandes. Minha amiga... Você tem duas armas realmente poderosas! – Exclamou, fazendo um “joinha” com sua mão.

– O-O-Obrigada... – Falou, sem jeito e assemelhando-se a um pimentão.

Yuuki fazia de conta que não havia visto aquilo, era vergonhoso para ele possuir tal criatura como irmã. Como pessoas tão diferentes poderiam ser do mesmo sangue? Talvez essa fosse uma das dúvidas que perturbava o jovem ao longe de sua calma e lenta vida. Calma e lenta, até agora.

“Estou com a sensação de que esse é o fim da minha tranquila e silenciosa vida...”.

...

Os ponteiros do relógio da cozinha já apontavam meio dia. Observando-o de relance às vezes, Rina tentava cozinhar algo que desse para os três. Visto que suas habilidades de mestre cuca não eram excepcionais, ela teria de se virar com o que possuía. O chuveiro ligado marcava a presença de Shion no banho, enquanto Yuuki... Fazia o de sempre, adentrava em um mundo completamente novo e inexplorado, emocionava-se e ria, enquanto visava os sentimentos do autor através de tal obra literária.

A imersão era profunda, assim como sua concentração. As palavras que acabara de ler remexiam e exerciam sua imaginação, o local onde o escritor estava, a maneira como estava se sentindo, se havia um sorriso ou uma lágrima em seu rosto... Coisas como essas o fazia refletir.

“Quanto mais sublimes forem as verdades, mais prudência exige o seu uso; senão, de um dia para o outro, transformam-se em lugares comuns e as pessoas nunca mais acreditam nelas.” Essa é uma bela frase, senhor Nikolai Gogol. Ela se destacou dentre todas, será que isso foi proposital? Nunca pude ter a chan-

– MAKOTOOO! PEGUE UMAS ROUPAS MINHAS E DÊ PARA A SHION! SE EU DEIXAR ISSO AQUI SOZINHO, A CASA VAI PEGAR FOGO. – Berrou Rina, do andar mais baixo.

“Irmã, Akira, vocês deveriam ganhar um prêmio por saberem me interromper tão bem!”.

Com certa rapidez, entrou no quarto de sua irmã e pegou os primeiros trajes que vira. Ansioso para poder voltar aos seus pensamentos, parou defronte à porta do banheiro e soltou algumas palavras.

– Shion! Vou deixar algumas roupas aqui perto da porta, tudo bem!?

Não houve resposta.

– Shion! Shion! – O barulho do chuveiro surtia efeito no som local, com certeza ela não estava escutando, era isso que Yuuki imaginava. Após mais alguns gritos ao vento, usou uma de suas mãos para tocar a maçaneta. – Está... Está aberto.

Com receio e vergonha, abriu a porta delicadamente, assegurando-se de que não veria aquilo que não podia. Em questão de segundos, o vapor branco somado ao cheiro de sabonete tomou conta de sua visão e olfato, além da sensação térmica também poder ser sentida sem quaisquer problemas. O Box permanecia completamente possuído pelos ares quentes, e, antes, o que era transparente, agora tornou-se um vidro completamente esbranquiçado. De ponta de pé e sorrateiramente, chegou cada vez mais perto, estranhando o fato de não conseguir enxergar sequer a silhueta da garota por detrás do Box. Corando-o e mexendo um pouco com sua imaginação nem um pouco fértil, decidiu assumir uma pervertida postura.

“Mas... Mas... E se ela estiver ali dentro? Contudo... Ela realmente não parece estar aqui... Já chega de dúvidas! Vou olhar e pronto!”.

Completamente dominado pelo vermelho da vergonha, colocou as roupas próximas a pia e fez um pequeno círculo na camada de vapor presente no vidro. Espiou através dela e, sem conseguir enxergar nada direito, optou por aumentar o seu tamanho. Foi então que se surpreendeu por completo, sem entender absolutamente nada, falou algumas poucas palavras.

– Ela... Não está aqui.


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