Savin' Me escrita por MC


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esse vídeo junto de um segundo do Nickelback marcou o início de uma nova fase na minha vida. Espero que faça isso com mais alguém, porque ele diz tudo.

Boa Leitura!
[Estou sem corretor ortográfico, qualquer coisa gritante é só me avisar. Vou dar uma terceira olhada, mas o autor não é indicado para ver essas coisas ;D]



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Uma pessoa para dar a devida importância, precisa estar perto de perder.

Tom acordou naquela manhã disposto a ficar o dia todo em seu apartamento assistindo a final de futebol, mas pela quinta vez consecutiva Dimmy estava ao celular tentando convencê-lo a sair de casa. O amigo sabia que desde que seu pai o abandonara naquela apartamento ele estava recusando toda e qualquer chance de socializar.

— Não, Dimmy, já disse que não posso. – Lamentava pela terceira vez.

Você não quer, é diferente.

— Cara, eu ainda não acho que me recuperei daquela discussão. Eu preciso ficar mais um tempo sozinho.

Esse é o problema, você já está sozinho tempo demais.

— Eu preciso de espaço. – Tentou mais uma vez.

— Você já teve todo espaço que merecia e não merecia. – Tom escovou os dentes enquanto o amigo continuou com o discurso.

— Olha... eu vou pensar. – Fez menção de desligar.

Não desligue esse celular, nós ainda não terminamos!

— Dim, eu preciso comer.

— Se você está tão decidido a não aceitar o convite, você pode muito bem comer sem desligar.

Eu não entendo sua lógica, cara. – Falou desanimado enquanto pegava as chaves do apartamento.

Eu estou ouvindo barulho de uma porta, onde você está indo?

Saindo, não era o que você queria?

Não exatamente. Quero que você venha com pessoal para o show, não que vá andar à toa na cidade, sem rumo e distraído.

Eu não ando destraído! – Reclamou.

Tom, você não é capaz de andar e falar ao celular ao mesmo tempo. Eu me lembro quando você bateu a cabeça na parede da sala enquanto falava comigo.

Foi direfente, estava faltando energia! – Protestou.

Mas agora você está se arriscando.

Basta encerrar a chamada. – Ofereceu.

Se eu fizer isso, não vou conseguir falar novamente com você. Vai desligar, eu sei. E não quero ser obrigado a parar aí na porta da sua casa para arrastá-lo até o show.

Você não precisa, eu não vou.

Tom, eu vou tentar mais uma vez: você quer nos acompanhar por livre e espontânea vontade até o show do Nickelback no centro, hoje à noite?

A chamada foi cortada assim que a buzina de um ônibus em alta velocidade estourou em seus ouvidos. Tom estava atravessando a rua quando aconteceu, e por pouco não foi atropelado. Dimmy tinha razão, ele não podia falar ao celular e caminhar ao mesmo tempo.

Dimmy? – Seus pensamentos nublaram de repente.

Seus olhos foram atraídos para o local onde ele estivera instantes antes e flashes o atingiram. Ele já estava na rua e não tinha visto o ônibus, não teria chances de se salvar por conta própria. Alguém teria que tê-lo puxado para fora do caminho.

Girou nos calcanhares e observou a sua volta. Ninguém parecia ter salvo a vida de um homem desastrado falando ao celular enquanto tentava atravessar a rua. Os poucos que o notaram faziam pouco caso, para eles não passava de um louco que encarava os pedestres, ou ainda, alguém estudando sua próxima vítima de assalto.

O aparelho já não estava em suas mãos, mas ele nem mesmo havia percebido. Sensações estranhas começaram a tomar conta do seu corpo e sua memória estava falha. Não conseguia se lembrar quem era, onde estava, ou o que estava fazendo.

Olhou à sua volta, não se lembrava como havia parado ali. Seus batimentos cardíacos reduziam lentamente e sua visão clareava a medida com que se acalmava. Parecia enxergar tudo com mais clareza e nitidez e sua audição parecia reduzir assim como suas cordas vocais pareciam inexistentes.

Um homem pasou por ele mais perto do que os outros estavam e desviou rapidamente, mas foi o suficiente para notar que havia algo de errado. Só não soube se era com ele ou com o cara mais velho.

Uma sombra se erguia acima da cabeça do velho.

Não sombra! São números.

Nove dígitos, que corriam como um cronômetro.

O homem não se demorou em desvencilhar do rapaz, não tinha paciência para coisas do tipo, nem mesmo gostaria de saber se ele estava bem. Queria seguir seu caminho sem interrupções.

Tom estava se desesperando, nenhuma outra pessoa parecia notar os números. Ou talvez já estejam familiarizados com eles.

Começou a andar e cada vez mais rápido. Parou uma mulher e tentou tocar os números. Ela pareceu assustada com a atitude. Ela não sabe que estão aí. Ou talvez não estejam. Estou enlouquecendo!

Sentou-se em um banco e passou as mãos pelos cabelos. Uma mulher sentou ao seu lado e retirou o celular da bolsa e não tardou em fazer uma ligação. Ele ficou encarando até que ela se sentisse incomodada e virasse para o outro lado. Curioso, Tom esticou a mão lentamente como quem tenta capturar uma mosca e a mulher se virou para ele com uma expressão assustada.

Ainda tentando tocar os número, bateu-os e eles giraram juntos como uma roleta de cassino. Mas não se afastaram da cabeça da mulher que agora desaparecia na multidão olhando sobre os ombros para ter certeza de que não estava sendo seguida.

Ergueu-se do banco e voltou a caminhar. Alguma coisa estava definitivamente errada e ele precisava descobrir. Sentia que sua vida dependia daquilo, Se eu ao menos lembrasse meu nome...

Continuou parando as pessoas. Os números poderiam indicar coisas diferentes, poderiam ter um padrão e ele poderia descobrir. Mas de acordo com que parava as pessoas, as outras desviavam. O louco que tentava bater o ar sobre suas cabeças estava definitivamente assustando.

No anseio de encontrar respostas e puro desespero, viu-se correndo entre as pessoas e parando uma ou outra, as que tinham menos números sobre suas cabeças. Eles não pareciam seguir um padrão.

Isso é um pesadelo.Só posso estar sonhando! Preciso descobrir como acordar. Isso não é real!

Em todas as direções que olhava, seu olhar era recebido por números que brilhavam mais que as próprias pessoas sob eles. As pessoas pareciam Desfocadas, mas os números pareciam vívidos. Assustadores.

Sua memória deu um salto. Ele estava perto de casa, podia sentir isso. Continuou correndo e seguindo a estranha sensação. Talvez se chegasse até em casa o pasadelo finalmente acabasse. Talvez fosse como um dos jogos que o irmão mais novo gostava de jogar antes de morrer no acidente que levara também sua mãe e desequilibrara o pai. – Voltar de onde começou para zerar a fase depois de todo o percuso.

Sua visão o surpreendeu novamente, e pôde notar que estava indicando o caminho a ele. Os lugares mais brilhantes estavam indicando como setas para sua casa, ou ele esperava que fosse sua casa. Ele tinha saído apenas para comprar pão e tudo aquilo começara.

Sim! A memória está voltando.

Estava finalmente na porta do prédio, mas teve que se deter. Uma ambulância estava parada a porta. Ele tinha horror de qualquer coisa que lembrasse morte. Não fazia dois meses desde que enterrara os familiares e quinze dias que fora abandonado pelo pai. Aquele carro parado ali o assustou ainda mais, mas desviou sua atenção dos números sobre as cabeças dos paramédicos.

Encostou-se ao prédio e esperou que o serviço estivesse feito. Se aquele era realmente seu prédio, seu pesadelo já estava perto de acabar. Ele desejava.

Abriu os olhos assim que ouviu as rodinhas da maca correndo na calçada. A senhora do apartamento vizinho estava sendo levada às pressas, mas não foi por se lembrar da vizinha viúva que desencostou da parede com o coração acelerado.

Ela também tinha números sobre a cabeça, mas apenas quatro. Estes corriam ainda mais rápido do que os dos paramédicos ou qualquer outro que ele havia encontrado. Não é um cronômetro. É uma contagem regressiva.

Seus batimentos estavam acelerados, Ele havia finalmente entendido. E suas memórias explodiram em sua mente. O acidente! Eu sofri um acidente. Eu não poderia ter conseguido escapar do ônibus...

Ainda assistiu os números contando até zero sobre a cabeça da senhora, e piscando antes de desaparecer completamente enquanto fechava os olhos para a eternidade. Ela sempre fora como uma avó para ele. Estava em choque.

Porém, correu dali assim que as portas da ambulância se fecharam.

Já não estava animado para voltar ao apartamento.

Caminhou até a praça mais próxima e ao passar por um banco notou a mulher sentada sozinha. Mas o que o fez se aproximar foi a segunda sequência de números que ela carregava. Dez dígitos sobre sua própria cabeça e Doze mais abaixo. Então ele notou barriga proeminente. Estava grávida. Carregava outra vida.

Ela sorriu, mas ele estava começando a se apavorar para retribuir o gesto. Afastou-se lentamente e voltou a andar.

Ao passar por uma vitrine parou. Olhou seu reflexo e sentiu seu coração falar. Eu sofri um acidente.

Não havia números.

Estou morto.

Ficou alguns instantes parado olhando seu reflexo sem números. Saiu apenas quando uma atendente da loja se apressou atendê-lo. Ou ele pensou que iria, mas depois notou que ela apenas encarou o lugar que ele estava com medo.

Estou morto.

Voltou a andar, desolado, olhando para todos os lados. Com medo de assistir mais alguma contagem regressiva com apenas quatro dígitos levarem a pessoa para o Nada. Mas todos pareciam bem. Estão todos bem, todos devem viver. Repetia em sua cabeça insistentemente.

Uma fisgada em seu crânio o fez girar a cabeça incomodado. Uma mulher vinha em sua direção e ele assistiu os números. Todos eles. Nove dígitos correndo cada vez mais rápido. Está viva.

Demorou a perceber os números desaparecendo cada vez mais rápido, de nove passando para seis e então cinco e quatro, três. E ele entendeu. A imagem bateu em seus olhos imediatamente. Alguém o havia puxado assim que colocara o pé na rua. O ônibus nunca o tocara a tempo. Eu estou vivo!

Saltou sobre a mulher que procurava a chave certa no molho e se dirigia ao seu carro estacionado ao lado da calçada. Agarrando seus ombros ele a puxou imediatamente para longe do carro no instante em que o marcador virou 00.02 e uma estátua de gesso que estava sendo erguida para uma das janelas do prédio às suas costas caiu sobre o teto do carro.

Destruído.

A mulher estava em choque.

Mas os transeuntes continuaram andando depois do impacto.

Tom enfiou a mão no bolso e retirou o aparelho. Dimmy gritava com ele do outro lado da linha.

Tom, eu vou tentar mais uma vez: você quer nos acompanhar por livre e espontânea vontade até o show do Nickelback no centro, hoje à noite?

— Sim. Eu vou. – Ele se afastou de toda aquela confusão como se não comandasse seu próprio corpo.

Lembranças. Apenas lembranças daquela última hora havia permanecido. Bem no fundo da mente. Uma tênue trilha de pólvora suficiente para explodir seu mundo se acesa. Ele era um cego, e havia experimentado a visão pela primeira vez. Não literalmente, mas não viveria a vida como uma mera passagem.

Observou o sinal fechar para ele, aguardou até que pudesse atravessar e ouviu ao mesmo tempo Dimmy explodindo de felicidade.

Batalhas vencidas.

§

No início dos tempo, as pessoas aprenderam a caçar, a controlar o fogo, a construir. A cada geração evoluindo, transformando e adequando o meio para sua sobrevivência. Mas a partir do momento em que um pedaço de terra foi cercado e disseram “É meu”, a guerra começou.

Antes, era o coletivo; hoje, é o individual. E agora, a cada geração que passa, as pessoas aprendem a desenvolver o pensamento único; usando como prioridade o seu próprio sucesso sem importar com quem apareça em seu caminho.

Isso intensifica a alienação. O povo vai enxergar o que querem que enxerguem; não o que realmente estão vendo.

A própria tecnologia foi desenvolvida em meio a Guerra. Não há escapatória. Antibióticos, microcomputadores, celulares, interenet. Estão por todas as partes, como um cão pastor, e as ovelhas, claro, são os homens. Mas claro, nem todos são capazes de perceber isso. A maioria permanece de olhos fechados.

O mesmo acontece com a Vida.

Em meio ao desejo de poder, de possuir propriedade, o homem esquece de viver.

A vida é curta, e gasta de forma errônea. Estão sendo pastoreados até a Caverna de Platão. Mas às vezes basta um pequeno evento para que estourem e escapem dos pastores.

Porém, isso não basta. Escapar é apenas o primeiro passo. Os pastores irão persegui-lo e não terá onde se esconder. Hora ou outra será levado de volta. Pode acontecer de cair em sono profundo novamente, mas se acordou uma vez, pode consegui-lo novamente.


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Notas finais do capítulo

Esse é o vídeo se ainda não procuraram. https://www.youtube.com/watch?v=_JQiEs32SqQ



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