Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 58
Capítulo 58


Notas iniciais do capítulo

CARAMBA, CARAMBA, CARAMBA, CARAMBA!!!!!!!!!!!! ONZE MESES DESSA FANFIC, SE EU TO MORRENDO? NÃOOOOOO, IMAGINA!!!!
Eu sempre falo isso e vou falar de novo: eu não tinha nem ideia que essa fanfic ia chegar até aqui e devo tudo a vocês, que me incentivaram. Não me canso de agradecer vocês e a todas as pessoas que sempre estão me ajudando, dando ideias, me ajudando a escrever algo que tenho dificuldade. OBRIGADA A TODOS ♥♥♥♥♥
E EU ESTOU MUITO ASSUSTADA, PORQUE MÊS QUE VEM VAI FAZE UM ANO QUE ESCREVO ESSA HISTÓRIA.
UM. ANO.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bom, vou me segurar pra não pirar mais e aqui está o próximo capítulo. Como eu tinha dito antes, o anterior tinha ficado muito grande, por isso cortei ele. Esse é a continuação daquele, ou seja, é ainda POV do Thomas.
Vão nas notas finais depois, tenho umas perguntas pra vocês.
Boa leitura :)



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Vou pra sala pensando na conversa que acabei de ter com o Marcos. Eu hein, garoto estranho. Diziam que ele era meio psicopata, eu só ria porque ele sempre me pareceu inofensivo. Na verdade, nem noto nele direito. Não faz diferença na minha vida. Confesso que achei meio estranho o jeito que ele estava falando da Lydia, como se ele tivesse raiva de mim por estar com ela.
Se ele falasse com ela, eu até entenderia, mas eles nunca se falam!
Chego na sala e a Lydia já está aqui, no lugar de sempre. Bom assim.
Pego e sento na frente dela e me viro, dando oi pra Katherin e pra ela. A Lydia só finge que nem escutou e eu fico impaciente. Qual é a dela?
A Amy logo entra na sala e começa a dar sua aula. Depois ela vai embora e vem outro professor. Quando está quase no fim dessa segunda aula, eu fico inquieto por estar tão próximo da Lydia e não poder fazer nada, então me viro pra ela.
A Lydia está com a cabeça apoiada na mão, o rosto pra baixo, ela está copiando a matéria. O cabelo dela está caindo em seu rosto e sem me conter afasto os cabelos dela, tirando-os de seus olhos. Coloco-os pra trás de sua orelha e ela me olha assustada, talvez pelo fato de não ter notado que eu me virei pra ela e também porque mexi no cabelo dela do nada.
–O que você ta fazendo? – sussurra ela me fuzilando com o olhar. Acho que ela queria berrar comigo, mas estamos no meio de uma aula.
–Tirando o cabelo do seu rosto. – respondo como se fosse óbvio. –Te fiz um favor, deveria agradecer.
Ela ri com deboche.
–Não, obrigada. – e então dá um tapa na minha mão e volta a copiar a matéria.
Caramba, não faço ideia do porquê ela ta desse jeito. Ao invés de virar pra frente fico olhando pra ela, tentando entender o que tem de errado.
Ela levanta o olhar e bufa.
–Para com isso!
–Lydia, a gente precisa...
O sinal toca e ela se levanta apressadamente, saindo da sala. Acho que é minha chance de conseguir falar com a Lydia e eu ia fazer isso mesmo. Meu plano era sair da sala e ir logo atrás dela, mas o Peter interrompe meu lindo plano.
–Thomas, precisamos conversar! – diz ele e acabo dando risada.
–Estamos tendo uma DR? – pergunto fingindo estar preocupado, mas o Peter continua sério. –Ok, você ta terminando comigo?
Algumas pessoas que passam no corredor olham estranho pra gente e o Peter vira pra elas.
–Não somos homossexuais! – então ele parece pensar melhor. –Pelo menos eu não, já o Thomas...
Os alunos riem e eu só reviro os olhos.
–Fala, Peter.
–Finalmente! – diz ele levantando as mãos pro céu. –Preciso da sua ajuda.
–Tá, mas você pode falar enquanto andamos ou vamos ficar parados aqui na porta mesmo?
Ele me dá um tapa na testa.
–Por que eu sou seu amigo mesmo?
Dou um sorrisinho cínico e começamos a andar.
–É sobre a Katherin. – diz ele. Eu meio que achava que era por causa disso, então só assinto. –To pensando em falar com ela.
–Sobre?
–Olha só, se você me zoar, eu juro que te mato!
–Tá, não vou te zoar...
–Lembre-se que você pediu uma foto da Lydia, posso contar isso pra ela. – diz ele em tom mais baixo.
–Peter, você é um filho da mãe!
Ele só abre um sorrisinho e vai me contando umas coisas, as quais não posso revelar.

–Então, faz isso logo. – falo e jogo o papel do salgado no lixo. –Quanto mais adiar, pior.
–Mas cara... – Peter bufa. –É difícil.
Reviro os olhos.
–Não vai machucar fazer isso! – o sinal pra voltar pra sala bate. –Olha, ouve o seu melhor amigo uma vez na vida. Não vai ser burrada.
O Peter ri.
–Se você diz que não vai ser burrada, com certeza vai ser. – apenas mostro o dedo do meio pra ele e saio andando.
Nas duas aulas que se seguem eu não tento falar com a Lydia, seria suicídio com certeza Eu precisava de uma ideia pra poder falar com ela, não podia ser simplesmente no meio da aula. Quer dizer, eu não vou conseguir aguentar não falar mais com ela hoje, mas não posso só virar e ficar tentando manter uma conversa, não quero ser mandado pra fora.
No segundo intervalo eu vou esquematizando o meu plano enquanto olho pro jogo de basquete. Queria estar jogando, mas fazer o que.
Ouço alguém se aproximando e vejo que é a Mary Ann, que se senta do meu lado na arquibancada. Ela sorri.
–Oi.
–E aí. – respondo.
A Lydia tem alguma coisa contra ela segundo o que o Peter disse, mas nunca perguntei pra ela o que aconteceu. Mas se a Lydia tem alguma coisa contra ela, deve existir um motivo. Até porque o Peter disse que a Lydia diz que a Mary Ann falou que só estava se aproveitando da Katherin e tenho certeza que ela não é mentirosa.
–Eu tava te observando de longe e vi que você parecia meio triste. – vejo ela colocar sua mão na minha e retiro a minha na mesma hora, tossindo como justificativa. Ela me olha meio sem entender, mas continua. –Aconteceu alguma coisa?
Nada que seja da sua conta!
–Não, eu estou bem. – falo com um sorriso. –Não tem nada de errado.
–Certeza? Porque se quiser conversar, eu to aqui. – dessa vez ela aperta levemente meu braço, me olhando nos olhos com seus olhos verdes.
–Ahn, obrigado, mas eu to bem. – me levanto, não to gostando nada disso. O que essa menina quer? Ela nunca fala comigo, agora ela brotou assim?
Ela se levanta junto e eu vou andar, mas ela segura meu pulso. Franzo a testa.
–Me desculpa, eu sou amiga da Katherin e vocês andam sempre juntos, queria ser sua amiga também.
Ah, essa não me engana, não mesmo.
–Tudo bem. – me forço a responder.
–Topa sair comigo um dia desses? – pergunta ela e vejo-a morder o lábio inferior.
Seguinte, eu sou um cara e eu tenho os benditos hormônios. Eu fico meio mexido com umas coisas assim, ainda mais porque ela é bem bonita, mas eu simplesmente não quero nada com ela.
–Valeu, mas melhor não. – solto a mão dela do meu pulso e ela me olha parecendo confusa. –Não me leve a mal, mas eu to em outra. – e com isso eu desço da arquibancada.

Volto pra sala e passa uma aula de matemática. Agora é a última aula, de Filosofia. Entrego meu trabalho pro professor.
–Parece bom. – elogia ele dando uma passada nas folhas. –Seus trabalhos sempre impressionam.
–Obrigado. – falo e coloco meu plano em andamento. –Eu esqueci a apostila, será que eu podia sentar com alguém?
–Claro. – responde ele e já ia falar um nome, mas o interrompo.
–Me manda sentar com a Lydia. – falo em tom baixo e ele solta uma risada.
–Tudo bem então. – diz ele.
Sorrio.
–Valeu.
Volto pra minha mesa e ele se aproxima da Lydia.
–Thomas, cadê sua apostila? – pergunta ele.
–Esqueci. – pergunto seguindo o plano.
–Senta com ela então. – diz ele apontando pra Lydia e me levanto.
A Lydia ri.
–Só pode estar de brincadeira! – resmunga ela, mas já coloquei a mesa do lado da dela. –Se você ousar falar comigo...
–Vai fazer o que? – falo rindo. –Me bater?
Ela fica vermelha de raiva e logo o professor começa a dar a aula dele.
Vejo que ela está super concentrada, fazendo anotações e evitando olhar pra mim. Começo a copiar e sem querer minha mão encosta na dela. Só com isso já sinto meu coração dar um salto.
A Lydia olha imediatamente pra mim e vejo que ela parece um pouco alterada também. Ela logo puxa sua mão, mas não dou tempo pra ela afastá-la e pego sua mão de novo.
Ela me fuzila com um olhar e levanto uma sobrancelha, meio que a desafiando.
Sentir a minha mão sobre a dela me faz ter um surto e me dá vontade de sorrir que nem um idiota, mas me contento em acariciar de leve a sua mão.
–Para com isso. – diz ela baixo pra não atrapalhar a aula, a garota está corada.
–Não. – respondo no mesmo tom.
A Lydia vai falar alguma coisa, mas eu rapidamente entrelaço nossos dedos e sinto que sua mão, antes fria, agora está quente assim como a minha.
–As pessoas vão olhar. – diz ela parecendo realmente preocupada, mas não faz esforço nenhum pra tirar a mão dela da minha. Ela parece brava, mas não faz nada pra mudar a situação.
Abro um sorrisinho e me aproximo dela, vendo-a ficar tensa. Dou uma risadinha com isso e sussurro no ouvido dela.
–Deixa que olhem.
Então volto pro meu lugar, satisfeito com o jeito todo atrapalhado que ela ficou depois disso. A Lydia então dá um jeito de soltar a mão da minha e a mantém longe de mim.
Não faço nem ideia do que o professor está falando, só consigo ficar olhando pra Lydia, que faz tanta questão de me ignorar.
Quando faltam uns dois minutos pra aula terminar eu decido fazer uma última coisa e pra chamar a atenção dela, começo a brincar com as pontas do cabelo dela. A Lydia se vira parecendo furiosa, prestes a me dar um tapa.
–Me deixa em paz, inferno!
–Nossa, como você é linda. – falo de repente e ela fica toda vermelha. –Tenho uma pergunta pra você, fiquei curioso agora.
Ela só revira os olhos.
–Você fica corada assim com todo mundo ou é só comigo mesmo? Porque sinto que toda vez que falo com você, você fica vermelha.
A Lydia começa a tossir que nem uma doida e sorrio. O sinal toca e ela sai da sala meio que correndo. Fugindo de mim, de novo.
A Katherin cutuca meu ombro.
–Você quer mesmo falar com ela, hein? – debocha a Katherin.
Rio.
–Muito evidente?

Ela sorri.
–Bom, tomando o fato que você ficou mexendo com ela a aula toda, sim.
Nós dois rimos e saímos juntos da sala.
–E como ta você e o Peter? – pergunto pra minha amiga e ela começa a tossir.
Dou tapinhas nas costas dela, enquanto dou risada.
–Você deixa as pessoas sem graça, sabia? – pergunta ela me dando um tapa.
–Sabia. – confesso e ela balança a cabeça na negativa, mas vejo-a sorrir.
A Katherin e eu nos conhecemos desde criança. Algumas pessoas já me perguntaram se não rolou nada entre a gente, e eu só ri. A verdade é que sempre achei a Katherin muito bonita, inteligente e tal. Todas as coisas boas possíveis. Mas ela é como uma irmã mais nova pra mim, nunca foi nada além de amizade.
Já ela e o Peter...
Sempre enchi ele, porque ele parecia sentir um certo ciúmes ao ver ela falando com outros garotos. A gota d’água foi dois anos atrás, quando numa festa ela ficou bêbada e quase ficou com um garoto lá. O Peter quase surtou, mas não admitiu nada.
Toda vez que eu falava dele gostar da Katherin, ele me xingava horrores, mas sempre pensei que ele gostava dela. Posso ser até vidente, porque agora ele só fala dela.
–Tá viajando? – pergunta a Katherin e bagunça meu cabelo.
–Mais ou menos. – respondo e vejo o carro da minha mãe. –Tchau, Katherin.
–Tchau. – diz ela e me distancio indo pro carro da minha mãe.

Dá quatro horas da tarde e eu já estou de bermuda, tênis e uma blusa branca. Eu costumo correr algumas tardes, mas, de novo por causa do querido do tornozelo não será possível.
Como eu não aguentava mais ficar sentado, pedi pra minha avó dar um jeito na situação. Ela então ligou pra minha mãe dizendo que tinha que sair e que ia fazer as compras, se eu não podia ir junto com ela. Minha mãe não quis muito isso, mas minha avó insistiu tanto que acabou convencendo. Ela disse que precisava de mim pra ajudar ela a fazer um doce lá.
Nós vamos no supermercado e depois passear no parque, mas dessa última parte minha mãe não sabe. Vamos ter que andar devagar, já que ela já é uma senhora, mas eu não posso correr mesmo então pra mim tudo bem.
Eu estou calçando chinelo nos dois pés, já que não quero andar com um pé em um sapato e o outro em um chinelo. Seria estranho.
Hoje na escola eu andei tão devagar por conta da muleta, credo não aguento mais isso. Mas é a vida.
–Mãe, vamos lá. – chamo-a e ela se vira pra mim, estava fazendo bolo.
–Só vou te levar porque sua avó pediu muito! – fala ela e já vai abrindo a porta. –Por mim você ficava quieto no seu quarto e estudava muito, já que você já está com um grande número de faltas e o semestre mal começou!
Nem discuto com isso, porque é verdade. Descemos pelo elevador e entramos no carro, indo pra casa de dona Inês.
Chegamos lá e ela entra no carro, mal conversamos até o supermercado.
–Quer que eu espere vocês? – pergunta a minha mãe.
Minha avó nega com a cabeça.
–Não precisa, querida. Nós vamos apenas comprar as coisas e volta pra casa.
–E como vocês vão levar as compras? Deixa que eu espero vocês, não vou fazer nada agora mesmo. – diz a minha mãe e nós descemos do carro.
Entramos no supermercado.
–Acho que nosso passeio foi cancelado. – digo pra minha avó enquanto ela pega um carrinho.
Ela sorri.
–Até parece, dou um jeito menino. Não acho bom você ficar preso num quarto o tempo todo, precisa sair, mesmo que seu tornozelo esteja ruim.
É por essas e outras que amo a minha avó.
Ela compra pouca coisa, compra mais coisa pra mim do que pra ela. Eu adoro ficar na casa da minha avó, é perto da escola então às vezes almoço lá.
–Ei, vó, posso almoçar na sua casa amanhã? – pergunto já que agora pensei no assunto.
Estamos na fila do caixa.
–Claro que pode, aproveita e leva aquela garota que você tanto fala.
Sinto o rosto esquentar um pouco.
–A Lydia? – quase engasgo ao falar o nome dela.
–Essa aí.
–Mas por que vó?
Minha avó balança a cabeça como se eu fosse um burro.
–Quero falar com a garota, saber mais sobre ela. – fala a minha avó. –Tem algo de errado nisso?
–Não, é que... – não quero explicar pra ela que briguei com a Lydia, não agora. –Deixa pra lá.
Logo é nossa vez e entramos no carro. Chegamos na casa da minha avó pouco tempo depois e eu a ajudo a levar as compras do jeito que posso.
–Thomas, que horas é pra vir te buscar?
–Umas sete horas. – falo.
Minha mãe só assente, minha avó acena e logo o carro vai pra longe da casa.
No instante que piso dentro da casa o Rex vem pulando na minha perna, logo sento no sofá e pego-o. Se eu fosse fazer isso com as muletas garanto que não daria nada certo.
–A gente pode levar ele? – pergunto pra minha vó e ela faz que sim com a cabeça, então coloco a coleira nele.
Terminamos de guardar as compras e saímos. O parque é longe da casa dela, então ela chama um táxi, que não demora pra chegar.
–O cachorro vomita? – pergunta o taxista na hora que entro com o Rex no carro.
–Não. – espero que não dê problema. –Ele é quietinho.
O homem parece desconfiado, mas concorda levemente com a cabeça e logo começa a dirigir.
A verdade é que eu mesmo descubro que o Rex não é nada quieto no carro. Nos primeiros vintes segundos estava tudo bem, até que ele viu outro cachorro e começou a latir feito um louco.
O homem me olhou bravo pelo espelho do carro e eu só abri um sorrisinho amarelo. O que ele acha que eu posso fazer? Não dá pra calar um cachorro!
Pagamos e descemos no parque. Esse lugar é ótimo pra pensar na vida, lembro quando eu trouxe a Lydia pra cá. Foi porque eu estava mal, eu não queria que ela tivesse no meio disso e nem me visse naquele estado, mas ela já tinha visto eu chorando então que alternativa eu tinha? Pelo menos consegui sair com ela.
Minha avó segura a coleira do Rex e eu me apoio nas muletas. Essa coisa é simplesmente horrível, saudades andar sem essa coisa e olha que só fazem dois dias que estou usando!
Eu e a dona Inês começamos a andar e o Rex vai cheirando tudo que ele vê pela frente. Não sei como que um ser tão pequeno tem tanta água acumulada, porque toda hora ele para pra fazer xixi. Olho meio surpreso pra ele.
–Então seu pai estava contando como conheceu a sua mãe?
Eu tinha acabado de falar sobre a história do meu pai.
Concordo com a cabeça.
–Seu pai sempre foi mulherengo, vou admitir. – diz ela rindo. –Nunca me deu trabalho com a escola, mas nossa, cada hora estava com uma garota. Você é diferente nele sobre isso.
Realmente, não sou bom na tarefa de pegar todas.
Achamos um banco e nos sentamos. Bate um vento fresco e minha avó começa a tossir.
–A senhora está bem?
–Estou sim. – diz ela. –É só o vento. Quando for velho você vai saber como é. – ela solta uma risada, mas volta a tossir.
Olho preocupado pra ela.
–Se a senhora quiser, a gente vai embora.
Ela me dá um tapinha na perna.
–Mal chegamos! – então olha pra frente e sorri. –Eu gosto de ver os jovens, as crianças, todos felizes, se movimentando. Me lembra da minha infância, meu neto. É bom ver a energia dos adolescentes.
Fico parado observando as pessoas e o moço do algodão doce chega. Penso na Lydia automaticamente, em como ela ficou toda animada quando viu o carrinho de algodão doce quando eu trouxe ela aqui.
Estava tão linda, a gente se conhecia a poucos dias e ela já conseguia me fazer ficar hipnotizado.
–A senhora quer um? – pergunto me levantando.
Dona Inês nega com a cabeça. O Rex, que está ao lado dela deitado, de repente se levanta com tudo e sai correndo.
Minha avó me olha apavorada.
–Thomas, faz alguma coisa!

Vou com as muletas ou sem as muletas?
Sem pensar eu saio pulando com um pé só na maior velocidade. Cadê esse bendito cachorro? Parece que toda vez que eu estou perto ele foge!
–Rex! – grito ao ver o cachorro pequeno correndo rapidamente bem na minha frente. –Rex, volta aqui!
Bufo e respiro fundo, voltando os meus pulos. Caramba isso cansa.
Passo por uma árvore e vejo que ele está pulando numa garota ruiva. Solto um suspiro de alívio por encontrá-lo e vejo a garota pegar ele.
Me aproximo dela.
–Nossa, obrigado. – a garota tira os olhos do cachorro e olha pra mim. –É meu cachorro.
Ela me entrega ele.
–Claire, você não vai... – diz a Lydia se aproximando da menina e quando me vê para de falar.
Olho da Claire pra Lydia e da Lydia pra Claire.
Solto uma risada, isso é sério? Que cidade pequena. Com certeza é afilhada do pai da Lydia.
–Não vai me apresentar, Lydia? – pergunto com um tom de deboche e a ruiva olha pra nós dois surpresa, como que se perguntando se nós dois nos conhecemos.
A garota de olhos castanhos parece querer me matar.
–Claire, esse é o Thomas. E Thomas, essa é a Claire.
O Rex começa a latir pra Lydia, mas não pra morder nem nada, acho que ele gosta dela. Esse é dos meus.
A Lydia sorri ao ver o cachorro.
–Oi. – diz ela e acaricia a cabeça dele. –Quase se afogou da última vez que te vi.
Então ela fica séria de novo ao lembrar que eu estou aqui.
Só então reparo que ela não está de calça jeans e sim de shorts. Querem me matar, é isso mesmo?
–Vocês estudam juntos? – volta a perguntar a ruiva, me despertando das pernas da Lydia.
–Infelizmente sim. – resmunga a Lydia.
Nem me abalo e abro um sorrisinho, voltando meu olhar pra Claire.
–Está gostando do Brasil?

A menina sorri.
–Estou sim! Aqui tem uma sintonia diferente da do meu país, as pessoas estão sempre alegres. É muito bom.
Sorrio e assinto.
A Lydia está parada do lado dela com os braços cruzados, o cabelo preso, alguns fios insistindo em cair em seu rosto. Ela estava descascando o esmalte das unhas, mas parece notar que eu estou olhando pra ela e levanta o olhar. Como se fosse uma macumba os nossos olhares se encontram.
Ah, pronto. Era o que faltava.
Tento desviar o olhar, mas os olhos castanhos dela parecem prender os meus de mesma cor.
A Lydia também não consegue fazer nada e só ficamos nos olhando nos olhos como se não tivesse mais nada ao redor.
Vejo uma coisa nos olhos dela: desapontamento. Mas com o que? O que eu fiz? Ela também parece estar com raiva, chateada, tudo isso.
Acordo do meu transe quando o Rex late e pisco. A Lydia também acorda, parecendo meio perdida. Perdido é o que eu mais estou nesse momento, pra ser sincero.
–Ahn, acho que a gente tem que ir. – fala a Lydia meio tropeçando nas palavras.
A Claire alterna o olhar entre nós dois e ri.
–Cuidado com o seu cachorro. – diz ela e percebo que o Rex quase caiu dos meus braços.
Olha só o que a Lydia faz comigo!
–Valeu, eu me perdi aqui. – falo e coço a nuca. –Bom conhecer você, Claire.
–O mesmo. – diz ela.
Simpática, parece ser boa pessoa. Acho que por isso a Lydia ainda não matou ela, já que não ficou nada feliz ao saber que o pai dela tinha outra mulher na França e que já considerava a Claire uma filha.
Vejo que a Lydia está indo embora e vou até ela, antes que ela saia. Passo por ela como se eu tivesse indo em alguma direção, mas paro ao lado dela, com a boca em seu ouvido.
–Belas pernas, Miller. – falo baixinho pra que só ela ouça e me distancio rindo, não sem antes ver o rosto dela pegando fogo.

Faço o meu caminho de volta pra perto da minha avó, ela suspira aliviada ao me ver.
–Achei que tinham sumido os dois!
Me sento ao lado dela e olho pro Rex.
–Cara, eu te devo uma.
Minha avó franze a testa.
–Como assim, Thomas?
Abro um sorriso ao lembrar da cena de minutos atrás.
–A gente encontrou a Lydia. – falo e faço carinho no Rex. –Mais uma vez eu saí com ele e ele me levou até a Lydia.
Minha avó ri.
–Vamos andar um pouco? – pergunta ela. –Depois a gente vai embora pra casa, antes que sua mãe chegue.
Verdade, tinha me esquecido desse pequeno detalhe.
–Que horas são?
–Cinco horas. – fala ela olhando no relógio em seu pulso. –Não podemos ir tarde, é perigoso. Essa velha aqui, - ela aponta pra ela mesma. –não aguenta nenhuma emoção muito forte se não vai pra de baixo da terra!
–Credo vó! – falo assustado e ela ri, apertando minha bochecha. Acabo rindo também e ela segura a coleira do Rex fortemente, pra que não tenha perigo dele fugir de novo.
Dá cinco e meia e pegamos outro táxi pra dar tempo de chegar na casa da minha avó.
–E se minha mãe pedir pra experimentar um doce? – eu não tinha parado pra pensar nisso, mas agora que estou no sofá da casa da minha avó pensei a respeito.

Minha avó, que estava na cozinha, chega com um prato de brownie.
–Nossa, a senhora pensa em tudo. – falo admirado e ela coloca o brownie de chocolate em cima da mesinha, ligando a televisão e coloca o cachorro pra fora antes que ele ataque a comida.
Logo ela se senta no outro sofá.
–Pode comer, você ta muito magro, menino!
Solto uma risada. Ela sempre diz que eu estou magro demais, mas pra mim ta ótimo. Não sou aquele tipo de pessoa que fica fazendo dieta, mas quero manter o meu corpo do jeito que ele está no momento.
Fico vendo as novelas da minha vó enquanto como, tentando entender o que raios está acontecendo, já que nunca vi essa tal de “Escrava Isaura” na minha vida.
–... esse é o mocinho que gosta da Isaura, eles querem fugir juntos, mas...
E ela continua jogando informações, as quais eu presto muita atenção tentando compreender alguma coisa.
Logo acaba e ela muda pra outro canal, onde está passando um filme. Quando é sete e dez minha mãe chega e me levanto.
–Vó, valeu pelo brownie e pelo passeio. Eu tava precisando. – ela me acompanha até a porta e volta a tossir. Olho preocupado pra ela. –Não precisa ir até lá fora, a senhora vai ficar doente.
–Que nada. – fala ela e o Rex começa a latir pro portão, querendo sair e insiste em me levar até o portão.
–Conseguiram fazer o doce? – pergunta minha mãe pra nós dois.
–Sim, ficou ótimo. – respondo e dou um beijo na bochecha da minha avó. –Vai pra dentro depois, hein. Não quero te ver doente.
Ela sorri.
–Pode deixar. E você vem almoçar amanhã?
Olho pra minha mãe.
–Posso almoçar aqui amanhã?
Minha mãe assente e digo pra minha avó que eu venho sim, logo entro no carro e dou um beijo na bochecha da minha mãe.
–O que vocês fizeram?
Brownie de chocolate. Ficou muito bom, posso ser cozinheiro profissional! – até parece, se eu tentasse fazer acho que ficaria uma pedra na primeira tentativa.
Minha mãe só ri e vamos pra casa, ela estaciona o carro e quando eu vou subir no elevador vejo o carro do pai da Lydia se aproximando e mudo de ideia.
–Mãe, eu já subo. Leva isso pra mim. – falo e entrego as muletas pra ela.
–Mas você tem que usar isso.
–Eu sei, é só um segundo. Não vou por o pé no chão.
Ela parece meio relutante, mas pega as muletas e entra no elevador.
Me encosto na parede ao lado do elevador, de um modo que quando a Lydia passar ela não vai me ver.
Ouço ela dizer “Oi” pro porteiro e logo que ela passa por mim, me desencosto e puxo o pulso dela fazendo a vira-se pra mim e com uma habilidade que eu nem sabia que tinha, puxo-a para mim pela cintura.
–Que susto! – diz ela com os olhos arregalados.
–Foi o único jeito de conseguir falar com você.
–Qual a parte do ‘não quero falar com você’, você não entendeu? – pergunta ela tentando se livrar de mim e eu, que estou sem a muleta, desequilibro e acabo indo pra cima dela, fazendo-a quase cair.
Pra não deixar a situação feia como está, finjo que era minha intenção deixar ela um pouco caída e aproximo o rosto do dela tentando por tudo que é mais sagrado não cair no chão. Aproximo o meu rosto do dela e ela fica vermelha. Só meus braços seguram ela e puxo-a de volta.
–A parte do ‘não’. – respondo com um sorrisinho e ela me olha muito brava. Engulo em seco, talvez eu morra hoje.
Ela está com o rabo de cavalo todo bagunçado, vários fios em seus olhos e eu acho que ela ficou mais linda ainda desse jeito.
–Sabe, você fica muito bonita assim. – sussurro no ouvido dela. –Na verdade, você é bonita de qualquer jeito, já te disse isso?
A Lydia fica tensa e volto a encará-la.
–Eu só queria saber porquê é que você ta me evitando, só quero uma resposta. Só isso e te deixo em paz.
Não totalmente em paz, porque eu gosto de irritá-la um pouquinho.
–Você só foge, por que hein Lydia?
Ela fica calada e eu respiro fundo.
–Você mal fala comigo, eu sinto a sua falta sabia?
Lydia balança a cabeça em negativa.
–Você não sente coisa nenhuma!
Dou uma risada.
–E como você sabe?
–Porque eu sei! – diz ela quase gritando. –Agora me deixa ir pra casa!
Puxo-a mais pra mim e depois me xingo por isso. Agora ela está com o rosto tão perto do meu que posso sentir sua respiração no meu rosto e isso faz meu estômago embrulhar e meu coração bater mais forte.
Consequentemente , faz meu cérebro pifar. Eu sempre achava que matemática era a única coisa que poderia fazer meu cérebro ficar perdido, mas aí conheci essa garota e parece que ela me deixa mais perdido que matemática.
Ouço-a engolir em seco e ficamos nos olhando nos olhos por longos segundos até que vejo que mordo o lábio inferior e quase que sem querer, meu olhar caí em seus lábios vermelhos.
Volto a olhar pra ela e vejo que o olhar dela vai pra minha boca, mas logo ela se força a olhar nos meus olhos e fica vermelha.
Não consigo falar nada e muito menos ela. Sem pensar levo uma mão pro seu rosto e acaricio-o levemente. Ela pisca fracamente e acaba fechando os olhos, então ela se inclina pra frente e nossos narizes se tocam.
Eu acho que vou ter um infarto. A temperatura desse lugar aumentou muito rápido ou sou só eu mesmo?
A respiração dela está bem rápida e eu fico nervoso como toda vez que estou perto dela desse jeito, ainda mais quando sinto que vamos nos beijar. Perco totalmente a cabeça com isso, o que eu mais quero no momento é sentir os lábios dela nos meus, quero beijá-la até ficar sem ar.
É aí que entendo. Ela quer me beijar, mas pra isso ela tem que parar de me ignorar. Mesmo eu mesmo sofrendo pra fazer isso, afasto o rosto dela e ela me olha parecendo decepcionada. Vai ser a punição por ela não estar falando comigo.
–Sabia que sentia falta de me beijar também. – falo pra ela com um sorriso, com as duas mãos sua cintura agora.
Ela fica vermelha, mas começa a rir.
–Que? Ficou louco? Eu não! – então ela consegue se soltar de mim e puxo-o mais uma vez.
–Não pode fugir pra sempre, Lydia. Isso não vai ficar assim.
Só pra deixá-la sofrer mais um pouco, dou um beijo bem no cantinho da boca dela e entro no elevador. Começo a me abanar no mesmo instante. Tá muito calor, eu preciso de um banho imediatamente.


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Notas finais do capítulo

Thomas com calor hmmmmmmmmmmm (aquela carinha)
A pergunta que eu queria saber é como vocês imaginam os personagens. Isso mesmo. Por exemplo, vocês imaginam a Lydia com cabelo marrom como é descrita, ou ruiva, loira? Queria saber de verdade como vocês enxergam os personagens, então respondam hein!
E o que acharam do capítulo?