Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

PARABÉNS PRA FIC, NESSA DATA QUERIDA, MUITAS FELICIDADES, MUITOS ANOS DE VIDA! Hoje a fic tá fazendo cinco meses :o Assustada, o tempo passou muitooooo rápido! Não sei pra vocês, mas pra mim foi rápido demais!
Quero agradecer a todos vocês que leem a fic, comentam, recomendam, favoritam. Muito obrigada, a razão de eu escrever essa fic é vocês!
Quero agradecer a Miss Holmes por ter favoritado a história!
Não desejarei o "feliz natal" agora, porque dia 24 irei postar um especial :D Ele não terá haver com o tempo presente da história, será no passado, pelo menos é o que eu planejei até agora. Boa leitura e nos encontramos nas notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/528071/chapter/31

–Acabamos por hoje. – fala o professor Ronaldo.
Solto um suspiro de alívio, meu estômago já está roncando de fome. Vou voltar com a Katherin já que minha mãe ainda está no trabalho e quando chegar em casa tenho que fazer comida daí fica hard. Quinta feira ela não vai vir, acho que terei que ir embora com o Thomas.
–Quero o texto gravado até quinta feira.
Eu e todos olhamos incrédulos para ele. Alguns bufam, outros já vão pro xingo, eu solto um “Mas o que?” e a Katherin parece feliz de ter um tempinho a mais pra poder decorar.
O garoto loiro do meu lado, que ficou vindo pra cima de mim praticamente todo a aula e descobri que se chama Bernardo, olha com reprovação para nós, como se ele fosse muito bom para se preocupar com isso.
–Silêncio! – fala o professor com uma raiva contida e todo mundo fica quieto. –Eu já disse, temos pouco tempo. Se vocês não querem cooperar, falem logo que arranjarei quem quer isso de verdade.
Obviamente ninguém fala nada.
–Ótimo, não temos tempo para discussões. – fala ele. –Terça feira iremos discutir sobre figurino e essas coisas.
Faço que sim com a cabeça e me levanto para pegar as minhas coisas, mas o professor chama eu e o Thomas. Nós vamos até ele. Acho que já até sei do que ele vai falar. Quando nós estávamos lendo o texto, vi em uma rubrica (instrução de cena) que estava assim “Peter e Wendy se beijam”.
–Me desculpe, mas aqui está escrito que eu tenho que beijar o Thomas. – falei desconfortável.
Olhei por cima do ombro de Katherin e vi que o Thomas estava se segurando pra não soltar uma risada. Revirei os olhos.
O professor tinha me olhado com a testa franzida, como se não entendesse o espanto.
–Não é você e o garoto ali, é Wendy e Peter Pan. – falou ele revirando os olhos. –Fora que é um beijo técnico. Já estão grandes para se importar com isso. – o assunto morreu.
Mas claro que eu não quero beijar o Thomas. Só lembrar de sexta feira, de como eu fiquei, não quero que aconteça de novo. Mesmo que tenha sido bom... Bom, nada, Lydia! Não quero beijar ele de novo e pronto.
–Queria dizer que os dois estão lendo muito bem, acredito que farão um ótimo trabalho. – elogia ele.
Que bom que ele não voltou no assunto anterior.
–Obrigada. – falo.
–Os dois tem um grande número de falas e acredito que devem ler o texto juntos. Peguem uma horinha e treinem, vocês tem mais falas do que os outros e temos pouco tempo. – sugere ele.
O fato é que eu vejo o Thomas toda a manhã, nas tardes de segunda-feira, nas tardes e noites de terça e quinta. E às vezes no prédio. Vou ter que conviver mais ainda com ele?
–Ótima ideia. – diz o enxerido.
Péssima ideia, falo pra mim mesma.
–Vejo vocês na quinta. – fala o professor.
Pego a minha bolsa e eu e Katherin saímos do teatro e descemos a escadaria.
–Quer jantar comigo e com a minha mãe? – convida ela.
Na hora que ouço o “jantar”, minha boca enche de água. Cara, que fome.
–Pode ser, onde vocês vão?
–Numa pizzaria, é dos pais do Peter. – fala ela já ficando vermelha.
Dou um sorrisinho de “Hmmmmmmm” e ela me dá um tapa no braço. Ficamos em baixo do toldo esperando a mãe dela.
–Não sabia que eles tinham uma pizzaria. – comento.
–É, eles tem. – diz ela. –Às vezes quando eu vou, ele aparece lá.
–Tomara que ele esteja lá.
Peter gosta da Katherin e ela gosta dele, um dia eles ainda vão ficar juntos. Tenho certeza absoluta disso e também, ele é legal e gosto de conversar com ele, por isso seria bom se ele estivesse por lá.
–Credo, vira essa boca pra lá! – diz ela.
Levanto uma sobrancelha, sem entender.
–Ué, se ele tiver lá, eu vou ficar igual um pimentão! Não quero que minha mãe veja eu desse jeito.
–Que belezinha, Katherin! Você nervosa de ver o Peter! – falo vomitando arco-íris.
Ela ia responder, mas a mãe dela chegou.
–Certeza que posso ir com vocês? – pergunto antes de entrar no carro.
–Aham, eu falei com a minha mãe e ela deixou. – diz Katherin dando de ombros.
Ela entra no banco de trás comigo.
–Oi. – comprimento a mãe dela.
A mãe dela deixa qualquer um sem graça, o dia que ela foi em casa foi totalmente desconfortável.
–Oi, Lydia. – diz ela.
Não tão mal. Pego o celular da minha mãe e disco o número.
Oi, filha. Já tá em casa?
–Mãe, eu vou na pizzaria com a Katherin e a mãe dela, ok?
–Tudo bem, mas tenha educação.
Reviro os olhos. Como se eu não tivesse educação.
–Pode deixar.
–Então até depois, beijos.
–Até. – falo e desligo.
O caminho até a pizzaria é silencioso, bem ao contrário de como é quando estou no carro com a minha mãe. Com ela é só começar uma música e já faço um show.
A mãe de Katherin para o carro na frente da pizzaria. A fachada é bonita, o muro é de pedras e tem um monte de janelas. Passo mão nos meus cabelos e na hora que vou dar uma alisada na blusa, percebo que estou com a jaqueta de Thomas. Legal, esqueci de devolver. Como ainda está frio, não tiro a jaqueta.
Nós descemos do carro e Katherin vem ao meu lado. O telefone da mãe dela começa a tocar e ela fala pra irmos na frente. Nós duas entramos na pizzaria e sigo a Katherin. Optamos por sentar do lado de dentro e escolhemos uma mesa. Não demora muito pra o Peter aparecer com um bloquinho nas mãos.
–Oi, meninas. – diz ele.
Olho pra Katherin que finge estar muito interessada na toalha da mesa.
–E ai, Peter? – comprimento.
–Bem e você?
–Indo. – falo. –Não sabia que seus pais tinham uma pizzaria, a Katherin que falou.
–É, eu falei. – fala ela pela primeira vez olhando pro menino.
Daí o Peter fala que antes era dos avós, mas daí eles passaram pro pai dele já que ele gostava do lugar.
–Enfim, já vão fazer os pedidos?
Nesse instante chega a mãe dela e se senta na nossa frente.
–Como vai, Peter? – diz ela.
Peter arruma a postura.
–Bem e a senhora?
Ela abre um sorriso.
–Estou ótima. Já fizeram o pedido?
–Ainda não. – fala Katherin um pouco vermelha.
A mãe dela pede uma pizza metade mussarela, metade calabresa. Peço um suco de uva e a Katherin um guaraná. A mãe dela pede água e Peter anota os pedidos e sai.
–Esse menino é bem educado. – comenta a mãe dele. –Pode namorar ele um dia.
Um comentário casual que quase fez eu soltar uma gargalhada. Mal ela sabe que a filha gosta dele. A Katherin solta uma risada.
–O Peter é meu amigo, mãe.
–Só estou dizendo...
Dou um chute no pé da Katherin por baixo da mesa e ela me chuta com mais força.
–Ai! – exclamo sem querer.
A mãe dela me olha sem entender.
–Mordi minha bochecha com força. – minto.
A mulher solta um “Ah...” e parece se lembrar de alguma coisa.
–Katherin, era seu pai no telefone. Ele teve que viajar de última hora.
–Aconteceu alguma coisa? – pergunta ela preocupada.
–Problemas na empresa. – fala a mãe dela dando de ombros. –Amanhã eu irei pra lá também.
–Pode ser mais específica sobre o lugar? – fala Katherin.
–Nova Iorque.
Pelo que eu sei a minha amiga ama Nova Iorque e sempre quis ir pra lá, ela parece meio animada.
–Mãe, posso ir junto? – pergunta ela na expectativa.
–Claro que não, você tem aula. – fala a mãe dela como se a resposta fosse óbvia.
–Mas...
–Mas nada, assunto encerrado.
Katherin parece se conter pra não bufar.
–E quando vocês voltam?
–Semana que vem, é coisa rápida. – responde ela.
Nesse momento vem um moço com uma bandeja e deixa as bebidas na mesa. A mãe dela fica mexendo num tablet enquanto eu e Katherin conversamos sobre coisas aleatórias como marcas de chocolate que não são muito boas.
Uma moça chega com a nossa pizza e meu estômago parece bater palmas. Também, não como desde as quatro da tarde. Terminamos de comer quando são umas nove e meia e a mãe dela pede pra Katherin ir pedir a conta. Vou junto com ela.
–A pizza daqui é boa. – falo.
–Uma das melhores da cidade. – diz ela. –Falando nisso, o que tá achando da cidade?
–Por incrível que pareça, ainda não fui em muitos lugares. – confesso. –Mas gosto daqui.
–Deve ser ruim ficar longe dos amigos e da família. – diz ela.
–É sim. – concordo. –Você sempre morou aqui?
–Aham, mas as minhas primas que moravam aqui foram pra outra cidade, então sei como é sentir falta. E eu não tenho muitas amigas, como você sabe. Pelo menos não aquelas que eu posso sempre contar.
Faço que sim com a cabeça e vamos até a senhora do caixa, ela nos dá a conta e vejo Peter servindo uma mesa. Penso em ir falar com ele, mas não quero atrapalhar o trabalho. Nós voltamos para a mesa.
–Katherin, não tenho dinheiro.
–Lydia, eu te convidei, você não precisa pagar. Fica tranquila.
–Ok, então.
A mãe dela dá o dinheiro, levamos o dinheiro, voltamos pra mesa, a mãe dela pega a chave do carro e vamos embora. O carro para na frente do prédio e desço.
–Obrigada. – falo pras duas. –Tenham uma boa noite.
–Você também. – diz a mãe dela.
Aperto o interfone e logo o porteiro abre. Entro no prédio e então, no elevador. Lembro que estou com a jaqueta do Thomas e aperto o andar número cinco. Poderia entregar amanhã, mas não foi ele que levou meu caderno em casa numa hora parecida com essa?
A porta do elevador se abre e vou direto na campainha. Tindon. Quem abre é o próprio, com cabelos molhados e com um pedaço de torrada na boca. Eu já disse que gosto de torrada com orégano? Então, ele tá comendo uma exatamente assim e parece muito boa. Devo ter ficado olhando pra torrada porque ele engole logo e solta uma risada.
–Quer uma? – oferece ele.
–Já que insiste.
Eu acho que não aguento comer mais nada, por causa da pizza que comi recentemente, mas não se recusa uma torrada com orégano. Thomas pergunta se eu quero entrar, mas eu fico parada na porta mesmo e logo ele volta com uma e me dá. Como a torrada rapidamente e ele me olha rindo.
–Você por aqui? – pergunta ele surpreso. –Que aconteceu?
–Vim trazer sua jaqueta. – falo já tirando-a.
Entrego a jaqueta pra ele.
–Valeu.
–Tinha esquecido de devolver. – falo. –Vou pra casa, tchau.
Ele ri da minha pressa. Afinal, mal cheguei e já to indo.
–Tchau. – diz ele. –Lydia! – chama ele quando já estou quase entrando no elevador.
Viro-me e vou até ele. Thomas passa o polegar no canto da minha boca tirando um farelinho e só com esse simples toque, meu coração acelera.
–Tinha um pedaço de torrada aí. – diz ele dando de ombros.
–Hum, obrigada. – falo meio sem graça.
–Não ganho nem um beijo de boa noite? – pergunta ele segurando uma risada, já sabendo do belo e sonoro “não”.
Solto uma risada. Meu rosto não esquenta, porque sei que ele falou brincando.
–Óbvio que não.
–Nem na bochecha?
–Nem na bochecha. – repito.
Ele vem até mim com um sorriso, um muito bonito por sinal, e dá um beijo no canto da minha boca. Quase tenho um ataque do coração. Logo ele se afasta sorrindo.
–Pronto, não foi na bochecha. – é o que ele diz antes de fechar a porta na minha cara.
Fico olhando a porta por uns cinco segundos, sem conseguir me mover. Como ele se atreve a fazer isso? Entro no elevador e vou para casa.
Pego as chaves e abro a porta. Minha mãe está na cozinha e na hora que eu entro, ela abre um sorriso do tamanho do universo. Alguma coisa boa deve ter acontecido. Dou um sorriso também.
–Boas notícias! – diz ela alegre.
–Conta! – falo curiosa.
–Ganhei um aumento! – minha mãe fala quase pulando de felicidade. –Por conta dos casos e tudo mais, um aumento. Isso é bom, vamos conseguir nos recuperar da nossa crise econômica mais rápido.
Dou um abraço nela.
–Parabéns, mãe!
–Não é um aumento tão alto dando em conta que estamos aqui não faz nem um mês, mas já ajuda.
Ela só conseguiu porque é boa. Minha mãe, Arnaldo e minha tia Cláudia não tinham uma condição financeira muito boa, mas o pai deles sempre fez de tudo pra eles poderem ter estudo. Minha mãe foi a que mais aproveitou as chances. Tia Cláudia até começou a faculdade, mas ficou grávida no segundo ano dela da minha prima chata que se chama Katherin, daí ela teve que largar a faculdade e no momento é secretária em um escritório de dentista. E o meu tio Arnaldo... Bom, dele já se sabe bastante.
–Como foi na pizzaria? – pergunta ela.
–É ótima, da Jennifer e do marido dela por sinal.
–Ela comentou mesmo sobre a pizzaria, mas não tinha dado pra ir.
–O Peter ajuda lá, ele tava anotando os pedidos. – comento.
Minha mãe concorda com a cabeça.
–E como vai a prima dele?
–A Amanda? – pergunto com desgosto e ela assente. –Como sempre, atirada, chata, metida, fútil, rata.
Minha mãe não aguenta o último adjetivo e começa a rir.
–Rata? – pergunta ela.
–É, rata. – falo rindo também. –Só pode ter vindo do bueiro, não tem outra explicação.
Ela ri mais um pouco e se recompõe.
–Melhor você ir dormir, amanhã tem aula.
Bufo, é muito ruim acordar cedo pra ir pra escola.
–Boa noite. – falo e dou um beijo na bochecha dela.
–Boa noite.
Vou pro meu banheiro, tiro os óculos, lavo o rosto e escovo os dentes. Deixo o óculos em cima da cômoda e coloco um pijama. Amanhã não vou esquecer de levar casaco, porque se não fosse o Thomas eu ia ficar passando frio. E então me lembro de uns dez minutos atrás, quando ele beijou o canto da minha boca sem nenhum motivo. Meu rosto esquenta e balanço a cabeça pra afastar esses pensamentos.
Hoje é dia 19, faltam só dez dias pra eu ver a Jane e a Kriss. Abro um sorriso e pego o celular enquanto me deito na cama. Clico no nosso grupo e leio as mensagens. Parece que a Jane conheceu um menino idiota chamado Oliver na festa da Lexi e a Kriss vai sair com o Jake na sexta, dessa vez sozinhos. Reviro os olhos, ainda acho que ela vai quebrar a cara.
Eu: Só passei pra dizer 10 diaaaaaaaaaaaaaaaaas
Jane: pra que?
Solto uma risada.
Eu: Lerda, pro seu aniversário!
Jane: Aaaaaaaah sim!
Jane: Caramba, só isso? Socorro, to morrendo de saudade, que passem rápido esses 10 dias!
Kriss: rt Jane
Eu: Ainda nem sei o que te dar
Não faço nem ideia do que dar, pra ser sincera.
Jane: Só de vc vir já tá ótimo!
Eu: eu tenho q ir dormir, bjs
Kriss: boa noite < 3
Jane: bye
Desligo o celular e coloco ele longe da minha cabeça. Ajeito-me na cama e me cubro com a manta, ouvindo o barulho de uma chuva que começou a cair agora.

Acordo na madrugada de quinta-feira suando como uma louca, porque eu tive mais um pesadelo. Mais um pra minha coleção.
Thomas e eu estávamos na floresta conversando sobre alguma coisa, era intervalo então tava a cambada toda da escola espalhada. Então ouvimos um barulho de tiro e eu me levantei rapidamente. Todos que estavam na minha vista foram caindo, um por um e agora era a minha vez. A minha vez de cair. A minha vez de morrer. Mas o Thomas entrou na minha frente e logo seu corpo projetou-se para frente e ele caiu. Eu gritava a plenos pulmões vendo todos os alunos caídos, sangue na quadra e quando ouvi o som do tiro que era para mim, acordei e agora estou aqui, chorando.
Passo a mão no rosto, para tirar as lágrimas, mas meu coração bate forte e eu sinto uma vontade incontrolável de falar com o Thomas. De ver se ele está bem. Não sei o que deu em mim, mas parece que não vou conseguir dormir até falar com ele.
Me forço a ficar calma e ligo o celular para ver as horas. Duas da manhã. Ele com toda certeza está em sua casa, dormindo confortavelmente. Decido que irei falar com ele amanhã, não vou acordá-lo por causa de uma bobeira minha. De um pesadelo tosco.
Vou pro banheiro e me observo no espelho. Meus cabelo parece um ninho de rato, meu rosto está amassado, meus olhos vermelhos e tenho gotículas de suor na testa. É, minha aparência não é das melhores. Lavo o meu rosto e seco-o em seguida. Penso em dormir de novo, mas sei que não vou conseguir.
Então pego o meu computador e ligo-o. Amanhã provavelmente vou estar dormindo de pé de tanto sono, mas eu simplesmente não vou conseguir dormir depois desse pesadelo. Eu preciso me distrair.
Penso nas séries que posso assistir. Arrow não, por mais que eu ame, tem morte e morte vai me lembrar do pesadelo. Reign no momento também não. Acho que Teen Wolf. Já terminei ela, mas e daí? Coloco em um episódio qualquer e começo a assistir.
Aguento ver todo o episódio e já estou morrendo de sono. Mal desliguei o computador e já estou dormindo.
Acordo seis e meia sem precisar da minha mãe pra me chamar. Lavo o cabelo e quando saio do chuveiro lembro-me do pesadelo e mais uma vez, sinto necessidade de falar com o Thomas. Decido me arrumar logo e ir falar com ele, mesmo que seja estranho, eu não to nem aí. Ele quase morreu por culpa minha.
Me visto e só tiro o excesso de água do cabelo. Minha mãe entra no meu quarto quando estou dando uma escovada nos dentes.
–Acordou cedo. – diz ela e boceja.
–Pois é. Mãe, eu vou resolver um assunto e já volto.
–Que assunto? – pergunta ela, mas já estou na sala e abro a porta.
Hoje coloquei uma jaqueta college azul marinho, uma das minhas preferidas. No instante que eu chego no quinto andar, começo a me perguntar se foi idiotice. Quer dizer, o que eu vou falar pra ele? Não tem nada pra ser falado. E por que eu to nervosa? É só a droga do Thomas!
Na hora que vou apertar a campainha o pai dele aparece na porta e parece surpreso em me ver.
–Bom dia. – fala ele.
–Bom dia. – respondo meio, talvez muito, sem graça.
–Devo supor que veio falar com o Thomas?
Abro um sorrisinho amarelo confirmando.
–Ele acabou de sair do banho, quer que eu chame ele?
–Pode ser. – falo.
O pai dele me chama pra entrar e eu sento-me no sofá da casa dele, me sentindo uma alienígena. O pai dele deve me achar uma estranha.
–Eu vou pro trabalho. – diz ele. –Tenha um bom dia.
–Obrigada, o senhor também. – e ele sai.
Vejo que a mesa do café está posta, mas a mãe dele não está aqui. Menos mal, ia ser mais vergonha. Dois minutos depois o Thomas aparece na sala.
–Meu pai disse que você queria falar comigo. – fala ele parecendo preocupado. –Aconteceu alguma coisa?
Fico tão feliz de vê-lo e tudo que eu tinha pensado em falar se vai. Eu apenas me levanto e fico na frente dele.
–É... – bufo irritada. –Vou ser direta. Tive um pesadelo em que o Arnaldo chegava na escola matando todo mundo, a única pessoa que eu vi mesmo foi você e bom, ele também te matou e fiquei preocupada com você. Por isso estou aqui e sei que foi bem idiota da minha parte, porque é claro que...
Sou interrompida por ele recebendo um beijo na boca nada rápido. Meu cérebro para de funcionar e eu só sei que estou retribuindo o beijo e morrendo de medo de fazer feio, já que nunca beijei antes. Caramba, isso que é beijo de verdade. Sinto como se estivesse queimando, meu coração bate a mil e minhas pernas estão bambas. Não faço ideia do que estou fazendo, só sei que sinto suas mãos acariciando minhas bochechas e é tão bom o beijo, tão calmo e tão bom. Nunca pensei que poderia me sentir do jeito que estou me sentindo agora. Encerramos o beijo e há um estalinho. Meu rosto esquenta e acho que estou como um pimentão.
–Isso que é bom dia... – murmuro e sinto o rosto esquentar.
–Eu estou bem. – diz ele sorrindo de orelha a orelha e solta o meu rosto. –Fico feliz que se preocupe.
–Bom, hum, eu tenho que ir pra casa... – falo quase gaguejando.
Thomas ri do meu estado caótico e faz que sim com a cabeça. Ele me acompanha até a porta e abre a porta. Sinto que eu vou desmaiar a qualquer momento.
–Até a escola. – falo tropeçando nas palavras.
Não sei como eu consegui falar e também não sei porque eu não bati nele quando ele me beijou. E o que eu também não sei é porque eu gostei do beijo dele. Eu estou mais sem graça que a porta.
–Nos vemos lá então. – diz ele sorrindo.
–Aham. – falo e entro no elevador.
No instante que a porta se fecha, eu encosto minha cabeça numa parede do elevador e fecho os olhos. Levo a mão até a minha boca e fico sorrindo, como aconteceu sexta feira e de novo, eu não me entendo. Se eu já estava morrendo de vergonha do Thomas antes, imagina agora. Entro no apartamento lentamente, sentindo que meu rosto está quente. Passo pela cozinha, indo para a sala.
–Lydia, onde você tava!? – grita a minha mãe e levo um baita susto.
Esse é o problema de estar distraída, você quase morre de susto. Levo a mão no coração.
–Mãe, podia ser menos escandalosa? – falo ainda assustada.
Ela vem na sala com as mãos na cintura.
–Quando você me explica eu serei. – diz ela menos brava. –Como que você sai daquele jeito sem me dar satisfação? Onde você foi? O que você...
–O Thomas me beijou. – falo interrompendo-a.
–Eu sei. – então ela parece perceber o que eu falei. –Pera, o que?
Eu nem sei por que falei. Deve ser porquê ela é minha mãe e também porque preciso compartilhar isso com alguém.
–O Thomas me beijou. – repito. –Não me peça detalhes, só to te falando por que você merece saber. – falo e me levanto.
Como um pão doce e vou escovar os dentes. Volto pra sala e minha mãe está no mesmo lugar.
–Como aconteceu?
–Eu tive um pesadelo essa noite, sonhei que ele tinha morrido e disse isso pra ele. Então ele me beijou.
–Você gostou? – pergunta ela sorrindo.
Fico vermelha e nada repondo.
–Vamos pra aula, não quero chegar atrasada. – é o que eu falo e ela concorda com a cabeça.

Hoje é sábado e ainda não contei pras minhas amigas que o Thomas me beijou. Na escola eu ignorei-o, não aguentava olhar na cara dele de tanta vergonha. Ele me deu espaço e agradeço-o por isso. Minha mãe não ficou me enchendo e isso foi legal da parte dela. Me senti até mais leve contando, não sei se iria suportar deixar isso guardado só pra mim.
Ouço a campainha tocar e sei que é Katherin. Ela veio ver Arrow hoje.
Pego as chaves que estão em cima da mesa e abro a porta. Katherin me dá um abraço rápido.
–Oi, Lydia.
–Oi. – e dou espaço pra ela passar.
Fecho a porta e tranco-a.
–Minha mãe tá dormindo, por isso não vou levar você pra falar com ela.
Ela faz que sim com a cabeça e vamos pro meu quarto.
–Lydia, eu não sei o que fazer no meu aniversário. – diz ela enquanto ligo o computador.
–O que você costuma fazer? Eu só chamo minhas amigas em casa, comemos um monte de porcaria e vemos filmes. E daí um almoço pra família depois.
–Eu costumo chamar as duas salas da série que to e fazer uma festa. Daí chamo a família também.
–Rica. – falo rindo.
Ela faz uma careta.
–Só que eu não sei... A maioria não é meu amigo e não quero chamar a Amanda. Só que mesmo que ela seja uma idiota, também fica feio chamar todo mundo e não chamar ela.
Vendo por esse lado, ela tem razão.
–Ok, mas você não quer chamar a Amanda? Então não chame todo mundo.
–Boa ideia. – fala ela aliviada.
–Sério que isso não se passou pela sua cabeça?
–Sério, to atolada de coisas na minha cabeça daí nem pensei nisso.
Ligo o computador e pego o carregador. Jogo minhas almofadas no meu tapete, ele é bem fofão e confortável. Katherin e eu nos sentamos nas almofadas e vou logo entrando no site.
–Seguinte, como sou uma ótima amiga, vou colocar desde o primeiro episódio, sendo que eu já vi mais.
Ela ri.
–Nossa que amor que você é, Lydia.
–Um doce. – falo e jogo beijo tentando ser séria, mas acabo rindo.
Clico no primeiro episódio e quando o Oliver aparece, falo junto com ele:
My name is Oliver Queen.
Katherin me olha rindo e continuamos vendo o episódio. Acabamos vendo uns cinco nessa tarde e claro, paramos pra comer e conversamos de outras coisas durante as pausas. Então já são seis horas e a gente comeu a última vez às quatro.
–Cara, eu to com fome. – falo.
–Eu também. – diz ela.
–Tem alguma praça nessa cidade?
Ela dá um peteleco na minha cabeça.
–Ai!
–Claro que tem. – diz ela e se levanta. –Você já foi no centro?
–Nah. – falo.
–Será que sua mãe deixa a gente ir? – fala ela e me levanto.
–Vou perguntar.
–Lá tem uma sorveteria maravilhosa.
Amo sorvete, tipo muito mesmo. Vou até o quarto da minha mãe sabendo que ela está acordada, porque quando a gente tava no terceiro episódio ela foi lá dar oi pra Katherin. Bato na porta e ela manda entrar.
–Mãe, posso ir na cidade com a Katherin?
–Quer que eu leve vocês? Eu tenho que ir no salão. Aliás, você também tem que ir. Você marcou horário pra fazer unha e tirar sobrancelha.
Faço uma careta já sabendo da dor que vou sentir. Por que mulher tinha que ter pelos a mais? Devia nascer tudo bonitinho e não crescer. Volto pro quarto.
–Katherin, eu esqueci, mas tenho que ir no salão. Quer ir junto ou quer que minha mãe te deixe na sua casa?
–Vou com vocês, se não for incomodar. Não vou fazer nada mesmo. – diz ela dando de ombros.
–Ok, então pega as suas coisas que a gente já vai.
Vou no banheiro e escovo os dentes. Dou uma limpada no meu óculos e me junto a Katherin. Minha mãe logo chega e nós descemos e entramos no carro. O salão é no centro, então depois que fizermos nossas coisas vamos tomar um sorvete.
–Mãe, por que a gente marcou horário de tarde mesmo?
–Não sei. – diz ela dando de ombros. –Da próxima vez marcamos mais cedo.
Chegamos no salão e minha mãe para o carro. Descemos e entramos. Uma moça nos recebe. Minha mãe já veio aqui semana passada, Jennifer que indicou.
–Qual das duas é sua filha? – pergunta a moça.
–Essa aqui. – diz minha mãe apontando pra mim com um sorriso. –E essa é uma amiga dela.
–Oi. – falamos eu e Katherin ao mesmo tempo.
Então eu vou fazer minha sobrancelha e até que não dói tanto. Depois faço minhas unhas e fico na dúvida em que esmalte usar. Katherin estava procurando umas unhas na internet já que não estava fazendo nada. Eu gostei de uma que são cinco tons de azul. O mais escuro é o do dedinho e depois fica um tom de azul mais fraco do que o outro. E por cima tem um brilho. A moça vê a foto e logo começa a fazer. Minha mãe aparece com o cabelo pintado e escovado um tempo depois e não demora muito pra moça terminar de pintar minhas unhas.
–Pronto. – diz ela sorridente.
–Obrigada.
–Vamos meninas? – fala a minha mãe.
–Vamos. – falo e a Katherin concorda.
Nós todas vamos para fora e um cara acena pra minha mãe. Troco um olhar com a Katherin. Ele é bonito. Tem olhos verdes e cabelo loiro escuro.
–Como vai, Eloisa? – fala ele dando um beijo na bochecha dela.
–Bem e você?
–Ótimo. – diz ele e olha para eu e Katherin. –Suas filhas?
–Só essa aqui. – diz ela apontando pra mim. –A Lydia. E essa é a Katherin, uma amiga dela.
–Prazer em conhecê-las. – fala o homem.
Nós duas abrimos um sorriso.
–Elô, - calma ele chamou ela de Elô? Nem eu chamo ela de Elô! – tenho que ir andando, meu filho precisa que eu leve ele em algum lugar. – diz ele rindo.
Filho? Fico um pouco decepcionada, porque ele talvez seja casado. Poxa, ele parece ser legal e parece se dar bem com a minha mãe.
–Sei como é. – diz ela rindo. –Então até segunda.
–Até. – diz ele e continua andando.
Entramos no carro e logo começam as minhas perguntas.
–Quem é ele? Quantos anos ele tem? É casado? Quantos filhos ele tem?
Minha mãe ri.
–O que é isso? Um interrogatório?
–Tia, ele é bonitão. – fala a Katherin.
Minha mãe apenas ri mais um pouco.
–Meninas, por que todo o interesse?
–Ele parece ser um cara gente boa. – falo. –Quem sabe vocês não pudessem sair...
–Lydia, nós somos colegas de trabalho. – diz ela. –E respondendo suas perguntas, ele tem um filho e uma filha. Não sei a idade do garoto, mas a menina tem uns cinco anos. Ele é viúvo e tem quarenta e dois anos.
–Viúvo? Coitado dele. – falo realmente com dó.
–Pois é. – diz ela dando de ombros. –Agora deixem de besteira e vamos comer alguma coisa que eu to com fome.

São três horas da manhã do domingo quando ouço meu celular tocar. Deixei meu celular ligado hoje por algum motivo que não lembro, pois como eu disse, são três horas da manhã e eu estou muito sonolenta.
Fico achando que é um sonho, mas então o aparelho não para de tocar e decido largar a preguiça e atender. Só não sei quem pode ser a essa hora. Vejo o nome. Thomas. Deve ter acontecido alguma coisa, ele não parece ser o tipo de pessoa que fica passando trote pros outros.
–Thomas - murmuro com sono. -O que aconteceu?
–Meu pai, Lydia. - diz ele com a voz trêmula. -Sei que é tarde, mas você poderia dar um pulo aqui em cima? Meu irmão ta aqui também.
Faço que sim com a cabeça, mas daí me lembro que estou no telefone.
–Já vou.
–Ok.
Desligo o celular e me levanto com um pulo da cama. Coloco uma calça jeans e um casaco por cima da blusa do pijama. Escovo os dentes e penteio o cabelo. Coloco meus óculos e saio de casa, sem fazer barulho.
Subo pelas escadas mesmo até o quinto andar e vejo que tem luz em sua casa. Bato na porta e ele abre-a. Seus olhos estão vermelhos. Ele joga seus braços ao redor da minha cintura e o abraço de volta.
–Ele...
Será que o pai dele morreu? Não vou perguntar.
–Shhh, Thomas. Fica calmo.
Hoje é a primeira vez que eu falo diretamente com ele depois do beijo. Ele soluça e me abraça mais forte. Ficamos assim por acho que mais de dez segundos. Deixo-o chorar em paz.
–Foi tudo mui-muito rapido. - diz ele quando me solta. -Eu fui beber água na cozinha e vi meu pai caído no chão.
Engulo em seco.
–O médico disse que se eu demorasse mais dez minutos para chamar a ambulância, meu pai teria morrido.
Respiro em alivio. Ele não morreu.
–Calma, ele tá vivo. Vai ficar tudo bem. - falo colocando uma mão em seu ombro. Ele está com a cabeça baixa. -Hey, vai ficar tudo bem.
Thomas usa a manga de seu casaco para secar as lagrimas.
–Sou idiota por estar chorando, não sou?
Abro um sorrisinho.
–Não, ele é seu pai. É normal você estar chorando.
–Não acha isso gay? - diz ele com um sorrisinho amarelo.
Lembro de quando ele discordou que Amanda é bonita e o chamei de gay.
–Não, não acho nada gay.
Tiro minha mão de seu ombro e ele segura-a entre as suas e meu coração acelera.
–Obrigado, Lydia. De novo. Eu não devia ter te acordado a essa hora da madrugada.
–Tudo bem. - falo com sinceridade. -Não tem problema.
–Você é demais, sabia? Você me acalma. Na verdade, a única que me acalma. - diz ele e sinto as bochechas queimarem. -Acho melhor você ir dormir, é tarde e amanha tem aula.
–Verdade.
Ele da um tapa em sua testa, como se tivesse se lembrado de algo.
–Eu vou ficar uns dias em São Paulo, meu pai vai fazer uns exames por lá. - diz ele. -Acho que vai melhorar.
–Fica tranquilo, vão ajudá-lo. - falo. –E se precisar de alguma coisa, me chame.
Thomas faz que sim com a cabeça e solta a minha mão.
–Boa viagem, Thomas.
–Obrigado. - diz ele e dá um beijo na minha bochecha muito perto da minha boca.-Boa noite. - sussurra ele no meu ouvido.
Meu coração bate acelerado. Meu rosto provavelmente está muito vermelho.
–Boa noite. Melhoras aí. – falo.
–Sonha comigo. – diz ele.
Não duvido nada disso. Desço as escadas para o terceiro andar e quando chego em casa, vou direto para o meu quarto dormir e desejando que o pai dele melhore.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se beijaram de verdade lalalalala
Mencionei a prima da Lydia que se chama Katherin, não sei se alguém se lembra, mas no primeiro capítulo falei sobre ela "–Tenho uma prima chamada Katherin. – é uma prima chata da minha idade, óbvio que não falei isso para a Katherin ao meu lado"
O que acharam do capítulo?