Os minutos seguintes foram um borrão. Clarence voltou ao auditório com Pepper e o bebê, pelo que ela acreditou ser o caminho mais longo. A garota não tinha certeza sobre quase nada, pensava ter ouvido Tony Stark falar em uma viagem, e não tinha coragem para perguntar a mulher ao seu lado se aquilo era brincadeira ou não. Seus joelhos não lhe traiam, estavam firmes, e sua voz estava calma.
– Sra. Stark...o que o seu marido disse sobre me ajudar a concluir o projeto, acha que ele falou sério?– Perguntou, depois de fitar o teto por segundos.
– É claro! Ele ficou impressionado, posso te garantir. Eu, que entendo pouca coisa de mecânica, devo dizer que fiquei encantada pela sua ideia. Seus pais devem estar orgulhosos.– Disse Pepper.
– Bem, onde quer que eles estejam, devem estar.– Comentou Clarence, distraidamente.
– Mas, você falou sobre eles há poucos minutos, pensei que morasse com eles.– Comentou Pepper, ajeitando o agasalho do filho.
– Eu falava dos meus pais adotivos, que nem são dignos dessa classificação. Eu morei com eles até bem pouco tempo atrás.– Disse Clarence.
– Então, não conheceu seus pais?– Perguntou Pepper, sem a intenção de parecer curiosa, apenas compadecida.
– Só minha mãe, mas ela morreu cedo.– Clarence se limitou a dizer.
– Sinto muito.– Pepper soltou, afagando levemente o braço da garota.
Enquanto elas esperavam, Tony, no andar superior, tentava usar uma ligação para fazer Bruce Banner compreender a grandiosidade do projeto Ultron.
– Bruce, ela tem cálculos quase perfeitos aqui, e nunca frequentou um grande centro tecnológico!– Disparou ele, animado.
– Tony...eu não entendo muito dessa área, se fosse algo biologicamente explicável...– Respondeu ele no outro lado da linha.
– Tá, tá, adorador da natureza, eu só queria falar com você primeiro. Eu convidei a garota para ir a Malibu, devemos chegar amanhã bem cedo, mexa sua bunda e vá nos encontrar no aeroporto, okay?– Pediu Tony.
– Olha, não...não, eu não posso, estou evitando sair de casa...tenho muito trabalho...– Começou o Dr. Banner.
– Sem desculpas. Você vai adorar o projeto.– Disse, e antes que o amigo pudesse retrucar ele desligou. Sua cabeça fervilhava, mas essa sensação era sempre boa, sempre produzia bons frutos. Ele guardou o aparelho no bolso interno do casaco e foi ao encontro de Pepper e Clarence. No caminho, repetiu para si mesmo que não era a lembrança de Gustine que o tinha feito querer apostar nas ideias da jovem inventora. Era apenas o mérito de ambos os seus projetos. Um nome não mudaria a genialidade da ideia. Ele as alcançou enquanto falavam com um jornalista, Pepper tentava ser o mais superficial possível com suas respostas e Clarence olhava para todos os lados, exceto na direção da câmera.
– Bem, acho que devemos ir, precisa resolver alguma coisa Srta. Hummels?– Perguntou Tony, se aproximando.
– Bem, se o senhor tem certeza disso, eu só preciso me despedir dos organizadores.– Disse ela, com um sorrisinho mal contido. Ela cumprimentou o corpo docente da Universidade de Reno e foi elogiada pela maioria dos professores, sua vaidade não era tão sensível, então se limitou a agradecer da forma mais humilde que encontrou. Os Stark a esperavam próximo ao carro. Tony a explicou mais sobre a oferta, e eles seguiram até o hotel onde ela estava hospedada, ela deu alguns telefonemas aos amigos de Carson e refez sua pequena bagagem. Pepper precisou de apenas duas ligações para o piloto das Industrias Stark e em menos de duas horas o jatinho estava esperando por eles no aeroporto local.
Clarence ficou impressionada com praticamente tudo, nunca tinha tido grana o suficiente nem para trocar seus tênis, quanto mais para viagens de avião. Estava nervosa, mas tentou não passar essa imagem pra ninguém. Durante o voo, foram discutidos muitos assuntos, na maioria deles Pepper não tinha grande participação, já que mecânica avançada não era a sua paixão. Quando o avião pousou no aeroporto da Califórnia, todos dormiam, exceto o pequeno Phillip. Um carro esperava por eles na pista, tão luxuoso quanto o jatinho. O motorista carregou a mala de Clarence, e fez menção de levar a mochila também, ao que ela se recusou. Sem chance de ela se separar dos seus papéis. Mais meia hora de carro e eles estavam próximos ao mar. Clarence manteve seus olhos grudados na janela, com um sorriso bobo no rosto, se virou para Tony e Pepper e se justificou.
– Desculpe, é que eu não tinha visto o mar antes.– Disse e voltou a visão para a praia. - É lindo.
– Vou cuidar para que ele seja a vista do seu quarto.– Garantiu Pepper.
Ao chegarem a reconstruída mansão Stark, não menos charmosa que a antiga, a mente de Tony só vagava em torno de uma coisa:
– Preciso de um café da manhã.– Disse, entrando pelas enormes portas de vidro, seguido pelos outros três e pelo seu motorista. Nesse momento uma voz mecanizada ecoou pela casa.
– Sr. Stark, bem-vindo de volta, preciso lhe falar sobre algo importante.– Disse JARVIS.
– Oi pra você também Jarvis, assuntos importantes depois, comida primeiro. Bruce apareceu por aqui?– Disse Tony.
– Não senhor, mas deixou uma mensagem dizendo que só virá a tarde, senhor...o assunto é realmente importante.– Continuou o computador. Clarence ouvia fascinada, Pepper entregou o filho a babá e foi até a cozinha para pedir o café.
– Depois, Jarvis.– Insistiu Tony.
– Bem, então me deixe dizer que o Agente Fury está entrando na casa.– Disse.
– Oque?! Não, não, não, não!– Disse, mas já era tarde demais. Fury apareceu a porta, com seu tapa-olho, fitando primeiro a figura da jovem de jeans com uma mochila surrada na mão, e dirigindo-se a Tony.
– Bom dia, Stark.– Disse, sua voz menos grave que o habitual.
– Mau dia.– Respondeu ele com um sorrisinho. - Clarence, essa figura amável é Nick Fury.
– Ah, é um prazer conhecer o senhor.– Disse a garota, tentando não gaguejar e estendendo a mão para ele, tendo rapidamente sua mão em troca.
– O prazer é todo meu.– Disse, sendo mais simpático com ela do que fora em toda a sua vida com Tony.
– Senhor, o agente Fury rastreou sua ligação de ontem, não pude fazer nada para comunicá-lo ,já que não usou a armadura nas últimas vinte e quatro horas.– Anunciou JARVIS.
– Eu não acredito nisso!– Disse Tony, indo até o seu mini-bar atrás de uma garrafa de uísque.
– Não foi tão difícil, o Dr. Banner estava nas dependências da Shield quando recebeu o telefonema– Anunciou Fury. - Não acho que seja sensato tomar uísque a essa hora da manhã.
– A vida não é sensata.– Respondeu Stark, dando uma boa golada na bebida. - Vou cortar relações com Bruce. É isso ai.
– Bem...eu acho que vou deixar vocês conversarem em paz.– Disse Clarence, que poderia ficar observando os dois por longos minutos, mas achou de bom tom sair.
– Não, espere, Srta. Hummels, não é?– Disse Fury, e Clarence não ficou surpresa por ele conhecer seu sobrenome, pois sabia ter feito parte da conversa de Tony ao telefone. - Eu vim justamente para falar com a senhorita, falar sobre o projeto ULTRON.
– Sem chances da Shield por as mãos nele.– Anunciou Tony.
– Bem, achei que fossemos uma equipe, Stark. Além do mais, o projeto não é seu.– Disse Fury, calmamente.
– Er, desculpe...eu acho que em breve ele será,em parte, do Sr. Stark. O senhor deve saber que ele esta incompleto, e que eu estou aqui para terminá-lo com a ajuda dele– Disse Clarence, meio sem jeito, acenando discretamente com a cabeça na direção de Tony.
– Isso mesmo, e quando terminarmos, daremos um destino diferente da guerra para o Ultron.– Disse Stark esvaziando seu copo.
– Ele tem potencial para bem mais que isso, não estamos interessados nele como soldado, não ainda.– Explicou Fury.
– Aha, sei.– Disse Tony revirando os olhos. - Como eu sei que você não vai desistir tão fácil, volte aqui amanhã, okay? Precisamos tomar café.
– Volto ainda hoje, vou deixar que sua hóspede se instale e volto com o Dr. Banner.– Declarou Fury. - Espero que pense em como a organização pode ser beneficiada, como o país pode ser beneficiado. Espero que vocês dois pensem nisso.
– Bem, eu nem conheço você, vou precisar de mais do que algumas horas pra pensar.– Declarou Clarence. - Não me leve a mal, quero evitar psicopatas.
– Justo.– Disse Stark, se livrando do seu casaco.
– Até a noite.– Disse, Fury, já se dirigindo a saída.
– Até, bebê.– Implicou Tony, quando Fury cruzou a porta e desapareceu de vista. - Eu não acredito que o Bruce foi tão...tapado.
– Eu ouvi pouca coisa sobre a Shield, eles pertencem ao governo não é?– Perguntou Clarence, jogando sua mochila sobre os ombros.
– Sim, e Nick Fury é um cão farejador que não vai sair do nosso pé. Vamos tomar café e depois trabalhar, assim, se quiser ouvir os planos dele logo mais, terá um projeto avançado. Mas antes se instale, os quartos de hóspedes ficam lá em cima no corredor da esquerda.– Anunciou Tony, Clarence sorriu e concordou, subindo as escadas.
Do lado de fora, Fury fazia uma ligação.
– Agente Hill, estou voltando pra base, quero que descubra tudo que conseguir sobre Clarence Hummels, a inventora que Stark trouxe de Nevada. Tudo, tipo sanguíneo, nome dos pais, cor natural do cabelo, tudo. Obrigado.– Disse e desligou. Deu mais uma olhada na direção da casa e partiu.