Capítulo V

Que canseira. Reunião, alunos, olhar para o ar, reunião, alunos, olhar para o ar. O pouco tempo que tinha livre, todos meus amigos estavam ocupados. A semana parece arrastar-se, ainda é dia 4. Acho que estou mais ansiosa para o baile do que qualquer pessoa, à espera de ter alguma paz.

– Mione! – estava sentada na sala comum olhando para o ar, quando ouvi uma voz conhecida me chamar.

– Ginny! Então? Você me veio salvar do tédio?

– Diz que sim.

– Não tinha aula agora?

– Sim, era de Herbiologia, só que uma planta esquisita mordeu a professora e ela agora está na enfermaria… Durante algum tempo não vamos ter aula!

– Coitada!

– Então, novidades? O baile, você vai com quem? Com o meu irmão?

– Qual deles? – brinquei.

– O Ron, obviamente.

– Não… Ele me deixou a olhar para as moscas.

– Então com quem?

– Prometa que não me arranca a cabeça.

– Porque haveria de fazer isso.

– Com o Harry – e ao ver a cara dela – Como amigos claro. Nenhum de nós tinha par, ele queria te convidar.

– Ah. Assim está melhor. Estava me preparando para te arrancar um membro. – respondeu num tom muito sério, mas logo em seguida começou a rir.

– Me conte então, que história é essa de olhar para as moscas? – continuou.

Contei-lhe a o que se tinha passado, que de novidade não tinha nada.

– Que idiota!

– Não faz diferença, sério.

– Eu sei que faz, Mione. Você não gostava dele?

Hesitei um pouco antes de falar.

– Para dizer a verdade, não sei.

– Não?!

– Não.

– O que vou fazer agora? Com quem vou shippar você? Socorro! Mas agora, sério, tenho pena de não poder ir.

– Eu só quero que acabe, tanto trabalho. Acho que… Vou dormir um pouco – fui para o dormitório.

Apesar de estar com sono fiquei um monte de tempo olhando o teto. Ainda 7 dias, acho que não aguento tanto tempo. É tudo ao mesmo tempo, organização, orientadora, Ron…

*

Passaram 5 dias. Estava quase a poder livrar-me daquela pressão de ajudar a organizar o baile, de ter de aparecer numa reunião todas as tardes. Estava a sair de mais uma reunião quando Edward me chamou.

– Hermione! Espere!

– Sim?

– Você já tem par para o baile?

– Ah… Já.

– Ok. Porque se não… Então, bem adeus.

Me virei para voltar para a sala comum e quase dei um encontrão em Ron que estava atrás de mim. Há quanto tempo ele estava ali? Ficou parado olhando para mim, sem dizer uma única palavra.

– Sim? – perguntei finalmente.

– Você tem um novo amigo, é isso?

– E se tiver? Não é da sua conta…

Eu já estava zangada com ele, com isto ainda pior. O que é que ele tinha a ver com quem eu falo ou deixo de falar?! Essa situação me lembra algo… Sim, no 4º ano…

– Você anda muito afastada…

– Não é preciso fingir que isso te importa! Você é que anda!

– Importa sim! – gritou. – Ou talvez não! Bem, vou andando já que é impossível falar com você. Fique bem com o seu novo amiguinho. – Virou costas e se foi embora.

Fiquei olhando como uma idiota. O que é que ele tinha que ver com as pessoas com quem falo? Afastada? Eu? Ele é que anda afastado de tudo e todos…

*

Dias para o baile – 1

Será que não posso ter paz como os outros? O Ron não me fala, sabe se lá porquê, se há alguém aqui que não devia falar a alguém sou eu. O Harry continua a ser perseguido por “fãs”, a Luna e a Ginny em aulas… A última reunião é hoje (ao menos isso) e depois ainda vamos ter de andar a levar decorações para o Salão…Vantagens: hmmm… Agora que penso nisso não tem.

Ia a meio do caminho para o salão com uma caixa de velas particularmente pesada, quando o Malfoy passou por mim.

– Leve antes esse – ele me deu uma caixa pequena e pegou na que eu levava e se foi embora sem dizer mais nada.

Mais uma vez (tenho feito isto muitas vezes ultimamente) fiquei olhando que nem uma idiota. Aquele não era o Malfoy. Aliens, Hermione, aliens… Resolvi ignorar que o mundo podia estar a acabar, porque Malfoy tinha sido simpático, e concentrei-me em levar caixas para o Salão.

Quando finalmente terminámos já eram 20:00h. Ainda tínhamos de colocar as decorações, o que levou pelo menos mais uma hora.

– Já acabaram? – perguntou uma voz conhecida.

– Harry? O que você faz aqui?

– Queria uma desculpa para deixarem de me perseguir, por isso pensei em vir ajudar. Já acabaram?

– Ainda não, mas falta pouco. Isso está ficando sério, daqui a nada começam a fabricar poções de amor para te oferecer.

– Não duvido…

– Já que você veio aqui para ajudar – disse esta última palavra rindo – Pendure esses por cima da mesa dos Slytherin.

– Por cima da mesa das pessoas mais agradáveis de Hogwarts? Ok. – respondeu ele sorrindo.

Quando pensávamos que já tinha acabado, Malfoy chegou com mais decorações.

– Isto é um Salão para baile ou uma árvore de natal? – resmungou – Ah, oi Potter.

– Oi…? - ele olhava para mim. Nem um comentário maldoso? Nem uma ofensa? Essa era nova, mas não para mim. – Você foi possuído ou algo do género?

Malfoy riu-se, porém em vez de responder disse:

– Essas ficam ali, atrás das mesas dos professores. Antes do baile vão tirá-la assim como às das equipas. Depois temos de voltar antes do baile, amanhã para colocar as mesas com a comida e bebidas.

– Você está ajudando? – perguntou ele a Harry.

– Diz que sim. – respondeu, ainda processando o fato de que Malfoy estava sendo agradável.

Ele olhou para mim de olhos arregalados. Comecei a rir da cara dele.

– Mione, não vê que eu estou sofrendo? É um choque demasiado grande!

Com isso ainda ri mais. Ele olhou com um ar indignado para mim, porém, passado um tempo começou rindo também.

– Harry, pare de rir e vá pendurar os enfeites! – disse entre gargalhadas. Não conseguia dizê-lo de forma séria.

Malfoy, Edward e Catherine haviam parado de colocar decorações pelo Salão para nos observar. Finalmente parámos de rir e nos concentrámos no que devíamos estar fazendo. Os outros desviaram o olhar e continuaram. Mas não durou muito. Passado nem dois minutos já estávamos rindo de novo, só que desta vez de uma maneira mais discreta. Esvaziámos mais uma caixa de decorações.

– Vou ali buscar mais. – disse Harry, se encaminhando para o centro do Salão.

– Também vou, aproveito e trago essa última caixa. – respondi, seguindo-o.

– Estes vão para onde? – perguntei em voz alta.

– Ao pé da porta – respondeu Malfoy, sem desviar o olhar do que estava a fazer.

Os outros já tinham terminado.

– Vocês ficam aqui? – perguntou Catherine, que era a última a sair.

– É só acabar de pôr esses.

– Ah, então até amanhã! – despediu-se ela.

– Até amanhã, Catherine.

Parecia que as decorações nunca mais acabavam. Talvez se devesse ao fato de de minuto em minuto começássemos a rir que nem idiotas do nada.

Estávamos a preparar-nos para sair, entre risos, quando a porta do Salão se abriu. Ron entrou, nos olhando com uma cara de poucos amigos.

– Harry, andei à sua procura. – declarou, ignorando minha presença.

– Vou já. Estava só ajudando com as decorações. Para mim isso é paz, comparado com ter de andar a fugir de multidões de fãs.

– Ainda vão criar uma organização. Clube de Fãs de Harry Potter. – disse Ron, rindo-se da sua própria piada. – Vamos?

– Vamos. Mione? – ele olhou para trás e fez um gesto para ir também.

Ron continuou falando com Harry e trocando piadinhas. Ele fingia que eu não estava ali. Eu não suportava isso. Ele me podia chamar rata de biblioteca, idiota, sabe-tudo, mas não podia me ignorar. Isso sim era pior do que levar com um Cruccio.

21:00. Daqui a meia hora era o turno de vigia. Resolvi ir já para o pé da Sala Precisa. O corredor estava deserto. Me encostei à parede onde devia ser a porta e olhei para o teto. Maldita vida… Será que a minha não sabe o significado da palavra paz? Parece que não, porque quando dei por isso Ron vinha a caminhar em direção ao sítio onde eu estava.

– O que você faz aqui? – perguntei.

– Vigiando. Infelizmente.

– Você anda muito estranho…

– Você é que anda – resmungou.

– Não sou eu que ando por aí a passear pelos corredores ou a passar as tardes a ver treinos do Quidditch.

– E não sou eu que vou a reuniões para organizar bailes e faço novos amigos.

– Porque é que sempre que tenho uma conversa mais pequena que seja com uma pessoa que você não conheça você age assim?!

– Porque sim.

– E você pode colocar alguma justificação no lugar desse “sim”?

– Hmm… Não.

– Agora já faz tudo mais sentido…