Capítulo 1

POV Hermione

Passaram alguns meses depois de tudo o que aconteceu. A maioria ainda estava chocada, incluindo eu. Os Weasley estavam de rastos, nunca os tinha visto tão deprimidos. Costumavam ser alegres, divertidos, carinhosos... Agora tudo o que fazem é comer, dormir, se arrastar pela casa ou deitados no sofá. Sinto-me um pouco mal por estar a encher ainda mais aquela casa, mas de qualquer maneira, não tinha onde ficar pois ainda estava à procura de uma solução para devolver a memória aos meus pais. Mesmo que encontre, não me posso esquecer de que eles ainda estão na Austrália. Porque raio não os mandei para um sítio mais perto?! De qualquer maneira...
Deixei escapar um grito. Um grito desnecessário. Demorei um pouco a perceber o que tinha acontecido.
– Crookshanks! - murmurei, tirando o gato do meu colo. Ele me olhou com um ar ofendido e virou costas.
Olhei em volta, distraidamente e notei que olhavam fixamente para mim com um ar surpreendido, que rapidamente desviaram se apercebendo que não era nada de grave. Harry voltou a olhar pela janela, sabe-se lá para quê, George arrumava algumas das suas ''invenções'' numa caixa, que provavelmente ele levaria para a loja. Ron, estranhamente, lia um livro. Ou fingia que lia. Talvez um grupo de extraterrestres tenha invadido A Toca e o tenha possuído. Não me atrevi a dizer uma única palavra, pois ainda estava tudo demasiado estranho entre nós. Tentei afastar aquele maldito pensamento da cabeça, me levantando para ir para o ''meu'' quarto porque já não sabia quanto aguentaria estar naquele clima pesado que a morte de Fred provocara sem desatar a chorar que nem Ginny quando fomos ver o filme Titanic.
Sentia falta de Hogwarts, só de pensar que não voltaria lá. Sentia uma pontinha de inveja dos alunos dos primeiros anos, que ainda tinham muito tempo pela frente. Um ano lectivo normal... - pensei, sorrindo sem me aperceber - Nunca soube o que é isso...
Antes que pudesse pensar o que quer que fosse, Ginny entrou de rompante pelo quarto adentro.
– Hermione. Jean. Granger. - disse ela, meio brincando, meio com raiva - Que raio fez ao Ron? Ele ESTÁ a LER.
– Não faço a mínima - respondi, confusa - Porque você me veio perguntar a MIM? Eu estou inocente!
Ela revirou os olhos e olhou para mim com um sorriso que eu não via há muito tempo.
– Se-secalhar foi raptado e substituído por extraterrestres ou algo do género...
– É o mais provável... Estou de olho - disse ela, abrindo muitos os olhos me fazendo rir. Só ela mesmo. Depois alterando para um tom mais sério - Sabe, Mione, já estou farta deste humor... Já aconteceu tudo há meses, perdemos muitas pessoas queridas mas... Já é tempo. E você não pode namorar com o Ron com todo o mundo triste - terminou com um tom de troça.
Atirei-lhe com uma almofada e ela saiu rindo. Estava farta de lhe dizer que o que aconteceu foi por impulso, mais nada. Ela era a minha melhor amiga, mas sempre com a mesma piadinha ''Romione'', e outros nomes que ela dava. Fiquei umas horas no quarto, tentando ler algum dos 531232421432 livros que tinha, mas nada me parecia entreter. O nome Ron Weasley não me saía da cabeça. Até que me lembrei...
Se eu der com esse livro de 853 páginas na cabeça várias vezes, talvez a passasse... Parecia uma boa ideia, até me lembrar de que provavelmente seria um pouco doloroso…
– Onde é que eu tenho a cabeça?! - disse em voz alta, sem me aperceber
– Agarrada ao corpo - respondeu uma voz que eu bem conhecia - PENSO eu.
– R-R-Ron?! Como é que?...
– Apareci.
– Idiota - resmunguei - Seria agradável se eu resolvesse aparecer no teu quarto sem mais nem menos, não?
– Dito dessa maneira tira a piada - respondeu ele, indiferente.
– O que você quer afinal? - perguntei já irritada.
– Jantar. Minha mãe fartou-se de chamar, mas não descias e eu resolvi vir pessoalmente. Agora percebo porque não ouvia - disse o ruivo, observando os livros espalhados pelo chão.
Não tive coragem de dizer nada em contrário. Se dissesse provavelmente ele iria querer saber no que eu estava a pensar, e não lhe ia dizer ''Sua irmã acha que fazemos um belo casal e eu estive a pensar nisso, que acha?''. Pelo menos ele não conseguia ler as mentes... Se não estava feita. Desci as escadas, ansiosa para o jantar. Os cozinhados da Srª Weasley sempre davam alguma alegria, certo?
Já estavam todos à mesa.
– Desculpem... N-não ouvi chamar. - disse.
– Sem problema, Hermione - respondeu Srª Weasley, com um leve sorriso.
Olhei em volta. Já tinham começado a comer. Ginny, George e Ron, como de costume, comiam como se tivessem passado semanas num deserto sem água nem comida. Comecei também. A comida estava excelente, como sempre, mas por alguma razão desconhecida, não tinha fome. Como quem não tem nada que fazer, comecei olhando Ron. Estava naquele preciso momento a repetir. Era tão fofo… ESPERA. Volta atrás, Hermione. O QUÊ?!
Antes de puder pensar em mais alguma coisa, Sr. Weasley começou a falar. Tenho de me lembrar de lhe oferecer um presente em grande como agradecimento.
– Bem, para comemorar o fim da guerra, irá ser feita uma festa, baile, ainda não sabemos bem – informou Sr. Weasley, um pouco atrapalhado.
– Festa – resmungou George.
– Baile – replicou Ginny.
– Como já disse, ainda está por decidir.
– E onde vai ser? – perguntou Sr.ª Weasley.
– Em Hogwarts.
– Hogwarts? – perguntaram Harry e Ron em conjunto, espantados.
– Sim, vêm feiticeiros de todo o país e pareceu-nos que o espaço era suficiente. Porquê?
– Por nada.
*
– Qual a diferença de um baile e uma festa mesmo? – perguntava Harry a toda a hora – Para mim é a mesma coisa.
– Na festa é mais fácil lanças bombas de mau cheiro – respondia George.
Nota mental: me manter afastada do George e das suas invenções.
Ouvi uma voz estridente gritar “Almoço!’’ e fui direita à cozinha.
– Pai, já sabe qual vai ser o tema? – perguntou Ginny, que comia tão depressa, que me fazia lembrar Ron.
Porque raio tudo me faz lembrar dele?!
– Já, ia dizer-vos agora… Vai ser baile.
– Boa, sempre mais trabalho para eu colocar lá as bombas de mau cheiro. – resmungou George.
– GEORGE WEASLEY – ralhou Sr.ª Weasley, em tom de aviso.
– Ok, ok… - e vendo que a mãe se levantara para lavar a loiça, de maneira a que ela não ouvisse – mas arranjo outra coisa…