Desvenda-me escrita por Mariii


Capítulo 3
Capítulo 3




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Vou rapidamente para casa para me trocar e volto a tempo de trabalhar, adiantando tudo que é possível fazer. Quero poder subir para o quarto de Sherlock para saber como ele está o mais rápido possíve, mas não demora para eu ser avisada pelos próprios funcionários que ele teve alta e que Mycroft o levou para casa. Sherlock só voltaria dali uns dias para conversar com um especialista e fazer outros exames.

Penso que isso é uma boa notícia e um sinal de que ele está melhor, até me lembrar que Sherlock terá que se adaptar totalmente a uma nova rotina. Uma rotina para qual nenhum de nós está preparado, muito menos alguém como ele que depende dos olhos para executar a profissão e não é o tipo de pessoa que pensou sobre isso algum dia. Um pânico cresce dentro de mim... Como Sherlock fará isso? Conhecendo-o, ele não fará. Deus...

Passo o resto do dia aérea pensando no que posso fazer, e acabo saindo mais cedo do que planejava. Preciso vê-lo de qualquer jeito. Saio do hospital direto para Baker Street e quem me recebe à porta é a Sra. Hudson, novamente com olhos inchados de tanto chorar. As pessoas vão passar a vida chorando?

– Olá, Sra. Hudson. Passei para saber como está Sherlock... - Vou direto ao ponto antes que acabe falando algo que não deva sobre como todos deviam fazer algo e não ficar apenas derramando lágrimas para cima e para baixo.

– Quem sabe, Molly? Depois que Mycroft o deixou depois de ser expulso, então ele se trancou em casa e não recebe ninguém. Não quis comer também... - Sra. Hudson faz uma pausa e volta a chorar. Eu suspiro. - John veio duas vezes e ele não atendeu. Não sei o que fazer.

– Vocês deixaram por isso mesmo? Ele está sozinho desde então? Há uma chave reserva? - Faço várias perguntas ao mesmo tempo de forma apressada enquanto subo as escadas e bato à porta de Sherlock. Não obtenho resposta. Como podem deixá-lo sozinho e não fazerem nada? Não é uma situação comum, pelo amor de Deus!

– Sim, mas...

– Traga a chave para mim, Sra. Hudson, por favor. - Sinto a paciência se esvair de mim.

– Mas...

– A chave.

Estendo a mão para ela, indicando que só quero a chave e ela desce as escadas desorientada. Sinto o sangue ferver em minhas veias. Será que todo mundo ficou paralisado de repente? Apenas Sherlock tem o direito de se sentir assim, as pessoas precisam se controlar!

Quando ela volta com as chaves, eu não penso duas vezes. Abro a porta, entro e a tranco para fora. Desculpe, Sra. Hudson, mas agora pode deixar comigo.

Olho em volta e não o encontro na sala. Meu coração começa a disparar com o medo do que Sherlock possa ter feito. Como puderam deixá-lo sozinho? Nunca sabemos o que as pessoas podem fazer em uma situação como essa, ao receber uma notícia assim. Olho na cozinha e nada.

Percebo alguns móveis fora do lugar em meio a habitual bagunça de Sherlock e sinto um aperto no peito ao notar que ele tropeçou ao caminhar. Os vestígios da experiência que ocasionou tudo isso ainda são visíveis na cozinha e eu faço uma nota mental para arrumar tudo depois. Só me resta procurá-lo no banheiro e no quarto, e eu opto pelo segundo.

Abro a porta devagar e a cena que se mostra à minha frente faz todo meu mundo parar. Toda a armadura que eu havia criado nesses últimos dois dias cai em segundos quando vejo Sherlock mexendo em seu guarda-roupa de forma descoordenada e pouco natural. Suas roupas são uma confusão de peças e cores que não combinam, e sua barba está por fazer. Não há sinal de declínio maior do que esse. Ele está perdido. Totalmente e solitariamente perdido.

– Sherlock? - Minha voz sai falha e rouca. Droga, eu não queria que isso acontecesse. Não queria minhas próprias fraquezas expostas nesse momento. Eu tinha jurado ser forte. Por ele. Por mim. - Fale comigo... - Chego a tocá-lo, porém ele se afasta e sinto-me quebrar quando ele olha em minha direção, mas seus olhos não se fixam exatamente em mim.

– O que você está fazendo aqui? Vá embora, Molly. Eu não quero ver ninguém. Isso não ficou claro? - A voz dele é ríspida e as palavras saem amargas, mas eu entendo toda a raiva que ele sente. Sherlock precisa descontar em alguém toda a angústia que está sentindo e eu não me importo que seja em mim nesse momento. - Saia! Eu não preciso da pena de ninguém! Não preciso que nenhum de vocês me lembre que eu perdi tudo!

Ele para ao dizer isso e é possível ver toda a dor que o consome. Fico em pânico ao vê-lo deslizar até o chão, derrotado. Nunca o vi assim, nem sombra disso. O Sherlock que conheci havia partido, deixando no lugar um menino que não sabia mais o que fazer. Aproximo-me novamente e me ajoelho ao seu lado.

– Eu perdi tudo, Molly... Tudo.

As palavras são ditas com tanta dor, com tanto desespero que minha garganta se fecha e dói com as lágrimas não derramadas que estou tentando segurar. Queria poder mudar tudo isso, poder tirar toda essa dor. Quero devolver ao mundo o Sherlock de antes, o Sherlock que ele costumava ser. Minha vida não pode ser completa se eu não o tenho assim.

– Não... Você tem a mim... - Não consigo mais controlar e começo a chorar, mesmo tendo prometido a mim mesmo não fazê-lo. - Eu não vou te deixar, Sherlock. E tudo que você precisa está aqui. - Toco a cabeça dele, toda aquela inteligência ainda existe e é isso que quero que ele entenda. É o que o faz ser excepcional. Começo a fazer carinhos em seus cabelos quando ele me puxa para um abraço, também começando a chorar e deixando-me com a sensação de me desfazer em seus braços.

– Eu quero que isso acabe... - Ele diz tão baixo em meio às lágrimas que quase não escuto.

– Eu também, Sherlock.

Definitivamente eu nunca o vi assim... E desejava nunca tê-lo feito.


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Notas finais do capítulo

;)



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