Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 1
A New Companion


Notas iniciais do capítulo

Vamos fingir que eu não sou Leila Alexia MacTavish. Assim, se algum leitor quiser uma atualização de Depois de Panem ou The Son of Fear, eu não tenho nada a ver com isso. Embora uma fadinha tenha me contado que o próximo capítulo de Son of Fear está quase pronto... E sabe como são as fadas. Elas não mentem.
Boa leitura!



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Um menino corria e corria, tentando fugir. As pessoas andando na calçada não se importavam com o pequeno de oito anos, correndo sozinho pelas ruas da Virgínia, coberto de cortes e arranhões, ofegante e choroso. Seu cabelo negro estava sujo de sangue, os olhos quase se fechando de cansaço. Eu não vou conseguir, pensava. Não vou conseguir.

Ele arriscou um olhar para trás. O enorme cão negro ainda estava atrás dele, os olhos vermelhos brilhando, com uma expressão um pouco aborrecida, como se dissesse: Ei, volte aqui para que eu possa comê-lo!

Lágrimas escorriam pelo rosto do menino. Por que estes monstros estavam sempre atrás dele? Por que ele não poderia ter paz, em casa ou fora? Ele quase não conseguia mais andar, seus músculos reclamavam pelo esforço de correr, era apenas sua determinação que o dava forças. Mas ele sabia que não conseguiria escapar. O monstro acabaria por alcançá-lo.

Então ele avistou duas figuras, sentadas num beco a sua frente. Sua primeira e talvez única oportunidade de sobreviver. Ele gritou, e as figuras se levantaram. Ele jogou-se aos seus pés, exausto demais para ficar de pé por mais tempo, e virou-se para ver algo incrível. As duas pessoas, um menino e uma menina, ergueram armas. O menino ergueu uma faca de bronze, e a menina ergueu uma lança. Logo, tudo o que restava do cão negro era pó dourado.

O menino estremeceu pelo pensamento de ter encontrado algo ainda pior do que o cão negro. Quem pudesse matar aquele monstro, era pior, certo? Ele tentou se levantar, mas uma mão agarrou seu pulso, e medo o consumiu.

- Solte-me! – Ele gritou, chutando quem o segurava. – Chega de monstros! Vão embora!

- Está tudo bem. – Disse o outro menino, esforçando-se para contê-lo, mas era como segurar um gato selvagem.

- Sim, está tudo bem. – A menina falou suavemente, soltando sua lança. – Nós não vamos machucar você. Eu sou Thalia. Este é Luke.

- Monstros! – O menino mais novo tornou a gritar, mas saiu como um choramingo.

- Não. – Disse Luke. O pobre menino não lutava mais com o mesmo empenho, mas tremia muito, morrendo de medo. – Mas nós sabemos tudo sobre monstros. Também lutamos contra eles.

Isso chamou a atenção da criança. Lentamente, ele parou de se debater e examinou aquelas pessoas. Luke devia ter doze anos, cabelos louros mal cortados, musculatura magra, porém forte, e olhos azuis. Thalia tinha cerca de dez, com cabelos negros espetados, sardas no nariz, roupas estilo punk, e olhos também azuis, mas de um jeito mais elétrico.

Luke ainda o segurava, agora mais para confortá-lo do que contê-lo. O garoto estava gelado, as costelas proeminentes sob o pijama. Apesar do medo, o menino os olhou desconfiado, mas esperançoso, os grandes olhos dourados inteligentes e curiosos.

- Vocês são como eu? – Perguntou.

- Sim. – Respondeu Luke. – Nós... bem, é difícil explicar, mas nós também lutamos contra monstros. Onde está sua família?

A expressão do garotinho tornou-se dura e zangada. Seu queixo tremeu quando se lembrou da mãe e do padrasto.

- Minha família me odeia. – Ele respondeu tristemente. – Eles não me querem. Eu fugi.

Luke e Thalia se entreolharam. Eles sabiam como era estar nessa situação. Luke sentiu seu coração se partir. Havia muito sofrimento na voz do menino, um sofrimento familiar. Quando trocou aquele olhar com Thalia, tomou uma decisão silenciosa. Eles cuidariam daquela criança. Acabaram de ver um semideus, Halcyon Green, morrer por eles. Agora encontraram um menininho. Era quase uma segunda chance.

Os dois semideuses mais velhos voltaram sua atenção para o menino, examinando-o. Ele tinha pelo menos oito anos. Sua pele era de um pálido doentio, fazendo um contraste com o cabelo preto puro e espetado. Ele vestia um velho pijama de linho rasgado e ensanguentado. Os hematomas no rosto, nas pernas e nos braços enchiam Luke e Thalia de horror. Mas o mais surpreendente eram seus olhos. Estes tinham olheiras sob eles, e eram dourados, tendo um tom de dourado bonito, mas ainda assim horrível e maldoso, embora o menino parecesse quase que completamente inocente.

- Qual é o seu nome, garoto? – Thalia enfim perguntou, ajoelhando-se ao lado dele.

- Perseus. – Ele respondeu.

Luke sorriu.

- Nome legal. Vou lhe dizer uma coisa, Perseus. Você é bem corajoso. Estamos precisando de um guerreiro como você.

Os olhos de Perseus se arregalaram.

- Estão?

- Ah, sim. – Luke virou sua faca de bronze celestial e ofereceu-lhe o cabo. - Que tal uma arma que mate monstros de verdade? Isto é bronze celestial. Funciona muito melhor que uma faca para carne.

Perseu sentiu-se corar. Ele havia trazido a faca por precaução. Embora, depois de um tempo, ele tenha percebido que não funcionava nos monstros, ele a mantinha para lidar com os membros de gangues que constantemente o perturbavam. Ele soltou sua faca para carne, que tentara, apenas segundos antes, testar em Luke.

Ele pegou a adaga de bronze, examinando-a.

Talvez, na maioria das situações, oferecer uma faca a uma criança de oito anos não seja uma boa idéia, mas quando se é um meio-sangue, as regras podem descer pelo ralo, Thalia pensou, divertida.

- Facas são apenas para os lutadores mais bravos e mais rápidos. - Explicou Luke. - Elas não têm o alcance ou poder de uma espada, mas são mais fáceis de esconder e podem encontrar pontos fracos na armadura do inimigo. É preciso um guerreiro esperto para usar uma faca. Tenho a impressão de que você é bastante esperto também.

Perseu sorriu para ele, e Luke sentiu que havia feito a coisa certa. Jurou para si mesmo que nunca deixaria nenhum mal se abater sobre aquela criança.

- Eu sou esperto! – Disse o menino.

Thalia riu e bagunçou ainda mais os cabelos de Perseus. E foi assim que eles arrumaram um novo companheiro.

- Agora temos que ir, Perseus. – Avisou Thalia. – Nós...

- Me chame de Percy. – Perseus sorriu. Então, arregalou os olhos, tapando a boca com as duas mãos, temendo ter dito algo errado. Ele havia sido ensinado a nunca interromper quando estivessem falando. Ele se encolheu e começou a tremer, como se esperasse que Thalia batesse nele.

Luke franziu a testa. O modo como Percy havia se encolhido, como de estivesse esperando um tapa, o fez se perguntar quantas vezes isso havia acontecido.

Thalia olhou para o menino mais novo, falando suavemente de novo, tomando cuidado com suas palavras:

- Está tudo bem, Percy. Ninguém vai te machucar. Eu só ia dizer que temos um abrigo seguro no rio James. Vamos providenciar roupas e comidas para você.

Percy sorriu novamente, relaxando, mas então, o sorriso perdeu parte do brilho, a expressão selvagem de antes voltando por um momento.

- Vocês não... Não vão me levar de volta para minha família? Prometem?

Luke engoliu o nó em sua garganta. Percy era muito jovem, mas já havia aprendido uma dura lição, como Thalia e ele mesmo. Seus pais os haviam abandonado. Os deuses eram cruéis, duros e distantes. Semideuses só tinham uns aos outros.

Ele pousou a mão no ombro de Percy, que se encolheu ligeiramente.

- Agora você é parte da nossa família. – Disse. – E eu prometo que não vamos abandonar você como nossas famílias nos abandonaram. Combinado?

- Combinado! – Percy respondeu, feliz, apertando o punho de sua nova adaga.

Thalia apanhou sua lança e sorriu para Luke, em sinal de aprovação.

- Agora vamos. Não podemos ficar aqui por muito tempo.

~~~~~~~PJO~~~~~~~

- Garoto estúpido! Ridículo pedaço de merda! Você não pode fazer nada direito!

- Mas Gabe, eu...

- Cala a boca! – Um tapa. – Eu falo, você escuta. Eu mando, você faz. Se não consegue fazer isso, é bom que eu te ensine uma lição...

- Não! Por favor, Gabe...

Outro tapa, que desta vez o fez cambalear e cair.

- Agora você vai aprender a fazer o que eu mando do jeito que eu mando!

Percy acordou suando frio, ofegante. Pelo menos, acordara antes de seu castigo. Ele não queria reviver tudo novamente. Mas ele sabia que aquilo sempre estaria o atormentando, fosse dormindo ou acordado.

Ele se levantou, olhando para a forma calma e adormecida de Thalia. Quem dera Percy pudesse dormir assim. Mas espera, onde estava Luke?

Percy saiu de seu abrigo, sendo atingido pelo ar frio e calmante da noite. Ele olhou ao redor, avistando Luke sentado numa rocha, escrevendo em alguma coisa em suas mãos. Aproximou-se silenciosamente. Ele havia aprendido a se mover com agilidade e silêncio depois da convivência com seu padrasto Gabe, para escapar. Luke só o percebeu quando já estava ao seu lado.

Luke quase pulou três metros. Como Percy havia chegado ali tão silenciosamente?

- Hey, Luke. – Disse Percy. – O que você está escrevendo?

Luke sorriu, fechando o diário.

- Ah, nada, Percy. – Falou. – Nada importante. Mas o que você está fazendo acordado?

Percy olhou para os pés.

- Tive um pesadelo. – Disse. – Não consigo mais dormir.

- Quer falar sobre isso? – Luke ficou preocupado. – O que era?

- Nada, apenas... uma lembrança de casa. Ruim.

Luke continuava o observando com preocupação. Percy respirou fundo e se sentou ao lado de Luke, olhando para as mãos.

- Desculpe, Luke, mas...

- Eu entendo. – Luke interrompeu com o olhar solidário. – Você ainda não confia em mim o suficiente para contar, não é?

- Acho que é isso também. – Percy disse depois de um momento de hesitação. – Mas... É que não quero reviver tudo de novo, entende?

Luke assentiu, compreensivo. Ele também não contaria a história de sua vida para alguém que havia acabado de conhecer.

Percy olhou para o céu noturno, a luz do luar mudando a cor de seus olhos, transformando ouro em prata, belo em belo.

- Minha mãe me dizia que as estrelas eram heróis. – Ele falou num tom monótono. – Heróis que morreram e tiveram suas almas colocadas nos céus. Dizia que era a maior honra que poderiam ter, e que um dia eu estaria lá também.

- Sua mãe é uma mulher esperta. – Disse Luke, esperando que isso iria melhorar o humor de Percy.

Não melhorou.

Os dois ficaram num silêncio desconfortável, até que Luke decidiu perguntar, usando um tom neutro:

- Por que você realmente fugiu de casa?

Foi a coisa errada para perguntar. Todo o corpo de Percy ficou tenso, e ele parecia mais intimidante do que um garoto de oito anos deveria ser. Seus olhos pulsavam com poder, e Luke percebeu que a idade de Percy não importaria se ele decidisse saltar e estrangulá-lo ali mesmo.

- Isso não é da sua conta. – Ele sibilou, mas a voz não era a dele. Essa voz era profunda e antiga, arrepiante como unhas num quadro negro. Então, tão rápido como havia surgido, a pessoa assustadora que estava lá há um momento sumiu, e Percy voltou ao normal, suspirando de horror. – Deuses, me desculpe, Luke. Eu... – sua voz falhou – Eu não quis dizer isso.

Luke assentiu, atordoado, e, embora estivesse muito curioso sobre a voz misteriosa e o passado de Percy, não o pressionou. Ao invés disso, fez outra pergunta:

- Há quanto tempo você vive nas ruas?

Percy hesitou, mas acabou respondendo:

- Três meses.

Luke ergueu as sobrancelhas.

- Você vive nas ruas, sozinho, há três meses? – Perguntou, impressionado.

Percy assentiu.

- Foi difícil. Tinha os monstros, os donos raivosos de lojas, cães de guarda. Mas eu consegui. Fico feliz com isso, porque eu poderia nunca ter conhecido vocês. Talvez eu devesse agradecer ao cão infernal.

Luke sorriu, bagunçando os cabelos de Percy.

- Eu vou dormir. – Disse, se levantando. – Tem certeza de que não consegue fazer isso também?

Percy assentiu novamente, sussurrando:

- Boa noite.

- Boa noite, irmãozinho. – Luke disse, entrando em seu abrigo, ainda pensando sobre a estranha voz que havia falado por Percy.

Percy sorriu, feliz. Ele enfim havia achado uma família, uma que não o decepcionaria.


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Notas finais do capítulo

Sinto muito sobre a coisa toda do Gabe, mas eu sou uma daquelas pessoas que acha que o Percy teve uma infância abusiva. E sinto muito também se ficou uma droga, eu só queria tirar da minha cabeça a vontade de postar essa história.
Se gostaram, comentem. Se não gostaram, comentem mesmo assim!
Kisses!