Após sentarmos sobre a mesa, todos ficaram em silêncio – talvez esperando que eu ou Lay dissesse que estava tudo bem, que não era para eles se preocuparem. O que exatamente não fizemos. – Ficamos calados, apenas saboreando nosso café da manhã.

Podia agora entender a raiva que Lay sentia há alguns minutos atrás. Yasmin, Lucas e Amanda tinham ido embora, e tudo que ela queria era casar-se na presença de todos os amigos. Ela e Paula – que é sua madrinha de casamento – fizeram muitos planejamentos para tudo dar errado.

E lembrando-me do dia em que seus pais morreram naquele trágico incêndio... Como ela iria adorar que seu pai a conduzisse até o altar, em vez do sr. Ricardo – que também era um bom homem.

Ir até ela e dar alguns conselhos – coisa que eu não sei fazer muito bem – me fez sentir melhor, afinal, sou o padrinho do casamento.

– Está tudo bem, amor? – Perguntou Davi.

– Sim, está tudo bem agora – respondeu Lay.

Silêncio.

Todos ainda continuavam calados.

– Então... – começou Paula – O que vamos fazer hoje?

– Lembrando que hoje vocês poderão se ver até o pôr do sol, depois disso, só no altar – disse Laís, animada.

– Ah, é verdade – disse Paula.

– Mas o que vamos fazer até o por dor sol?

Todos ficaram se entreolhando.

– Que tal irmos para o lago? – Perguntou Lay.

Todos ficaram animados.

Lay olhou para mim, e por alguns segundos pensei que estávamos tendo a mesma lembrança.

[ANTES]

Me assustei. Nossa, como ela era rápida.

E antes mesmo de chegar no meio daquela área aberta, ela me puxou pelo braço e nós dois caímos. Senti seus pequenos seios sobre o meu corpo quando nós paramos de rolar e ela ficou em cima de mim, rindo.

– Peguei você – disse ela.

– Você é rápida.

Demos algumas risadas da situação e tudo ficou em silencio. O vento não balançava mais as árvores ao longe, nenhum pássaro cantava, não havia som algum. Fiquei olhando seus olhos escuros... Meu coração batia tão rápido. O que está acontecendo comigo?

– Venha comigo – disse ela, quebrando o silêncio que pairava ao nosso redor.

Nos levantamos e caminhamos até entrar em uma das várias trilhas – uma que eu sabia exatamente para onde nos levaria –, e a segui, sem entender absolutamente nada.

– O sítio não é para esse lado – disse.

Ela parou de caminhar, pegou minha mão e me puxou.

– Venha.

Sua mão estava quente. Olhei da blusa vermelha para calça jeans que ela usava e novamente meus pensamentos ficaram confusos. Estava sentindo algo inexplicável, uma sensação estranha. Por que ultimamente minha melhor amiga estava me chamando à atenção?

Após a trilha terminar, olhei para a água verde do lago e senti o vento úmido bater em meu rosto. Que lugar lindo.

– O que viemos fazer aqui? – Perguntei.

[AGORA]

Após terminarmos o café da manhã, subimos as escadas para nos preparar. Entrei em meu quarto, fechei a porta e troquei a roupa que usava por uma mais leve. Sentia-me cansado, pois não havia dormido bem na noite anterior, e ainda tive um terrível pesadelo.

Fui até a janela e a abri, o tempo estava maravilhoso, ensolarado, e podia até ouvir o som dos pássaros cantando em algum lugar naquela imensidão de árvores. Deve ser muito bom morar aqui.

Ouvi a porta abrir e me virei para ver quem era.

– Posso entrar? – Perguntou Paula.

– É claro que pode – respondi, dando um leve sorriso.

Ela caminhou até a minha cama e se sentou, enquanto eu ainda continuava em frente à janela aberta. Seu cruzar de pernas foi tão sensual que me fez desligar do mundo por alguns segundos, me despertando pela pergunta que ela fez em seguida:

– O que aconteceu?

– Com o que?

– Porque a Layanne saiu da cozinha com raiva?

– Ah – disse saindo da frente da janela e caminhando em sua direção –, ela ficou chateada por Yasmin, Lucas e Amanda terem ido embora e não terem ficado para o casamento – me sentei na cama ao seu lado. – Sabe, até a entendo.

– Eu também... Mas vai dar tudo certo, não tem porque ela se preocupar.

– Foi o que eu falei a ela. Ela ainda tem a nós e faremos desse casamento algo inesquecível e...

Ouvi a alguém bater na porta e logo em seguida Jessica apareceu.

– Os pombinhos vêm, ou preferem ficar conversando?

– Já estamos indo – disse Paula, rindo.

Descemos as escadas, saímos da mansão e entramos em uma das trilhas que se formava ao lado desta – a qual nos levava ao lago. Foram quase dez minutos de caminhada, até que finalmente pudemos avistar o imenso lago verde que se estendia a vários quilômetros na nossa frente.

– Cuidado com as pedras – disse Mateus, ao ver que Jessica ia caindo.

Caminhamos por mais alguns metros, admirando a beleza do lugar.

– Aqui está bom – disse Lay. – Não tem muitas pedras.

Todos concordaram e alguns se sentaram na areia úmida.

– Estamos esperando o quê? – Disse Bruno. – Vamos banhar! – Disse tirando sua camisa e correndo em direção ao lago.

Gustavo, Jef e Laís o seguiram enquanto os demais – como eu – ficaram na areia. Olhei para Paula e vi que ela sorria enquanto via seu irmão – Gustavo - brincar nas águas do lago. Seus olhos verdes brilhavam de uma forma que me deixava em transe.

– Você quer dar um mergulho? – Perguntei a ela.

Ela me olhou e respondeu:

– Talvez mais tarde, mas... Você quer passear? Podemos ir até aquela grande pedra dentro lago e voltar.

Olhei para a pedra que ela se referia e concordei. Nos levantamos e começamos a caminhar lentamente enquanto conversávamos.

– Você o ama não é? – Perguntei.

– Quem? – Perguntou ela, meio assustada.

– Seu irmão – respondi.

– Ah... O Gustavo implica comigo de vez em quando, sabe, coisa de irmãos. E ele até ficou chateado por eu não ter contado que estávamos juntos, mas é bom tê-lo por perto. Eu sou muito apegada a ele.

– Hm, deve ser ótimo ter irmãos. Eu sempre quis ter um.

– É, eu faria tudo por ele – disse ela.

Continuamos caminhando enquanto conversávamos, mas resolvemos voltar antes mesmo de chegar até a grande rocha que ficava dentro do lago.

[...]

Atrás da grande rocha, banhado pelas águas verdes do lago misturado com sangue, boiava o corpo de Lucas Meireles e de Amanda Cavalcante.