Estava exausto; não fisicamente, pois havia dormido a viagem quase inteira, mas interiormente. Queria ver se Ally era mesmo uma ou a única funcionária da Sonic Boom, filha de Lester.

Peguei algumas das malas que estavam na mão de Trish e segurei-as; ela me agradeceu com os olhos, percebi, e sorriu. Sorri de volta e recomecei a andar até Dez.

Miami era refrescante até demais. Havia árvores e a vista da praia era incrível, o mar batendo contra a areia, desmontando os castelos e construções que as crianças insistiam em fazer, tinha um som relaxante.

–Dez! Austin! Aquilo é incrível! - Trish suspirou quando viu uma bolsa com estampa de onça. Revirei os olhos. - Vou querer de Natal. - brincou ela. Empalideci, porém acabei rindo.

–É amanhã! Eu nem acredito que finalmente chegou o Natal! - Dez disse, jogando as mãos para o alto. Os cabelos ruivos foram jogados para trás, como os meus e os de Trish, e apertamos os olhos para enxergar diante da ventania.- O que é isso? Um ataque rebelde do Papai Noel?

–É melhor irmos para dentro de algum lugar até que pare. - sugeriu Trish. Acatamos sua ideia e seguimos cegamente até uma construção grande com um comér cio. - É um shopping! Que sorte a minha!

–E nós? Não estamos felizes de estar em um shopping chamado Shopping Mall, nós... - eu e Dez nos entreolhamos, e depois encaramos a garota. Estávamos no Shopping Mall!

–Sonic Boom! - Trish correu para longe, até um segurança que estava sentado em um banquinho de madeira. Assistimos empolgados enquanto ele lhe dava as direções com as mãos.

Ela retornou saltitando, e fez um sinal para que a acompanhássemos. Comecei a correr na frente dela, até perceber que eu próprio não sabia o caminho, e que se me perdesse não os acharia mais.

Reclamei, baixo, sobre a lerdeza das pessoas de hoje em dia; Trish não pareceu sequer escutar, tão concentrada em uma loja de jóias do outro lado do shopping. Ainda continuava caminhando, porém às vezes parava para enxergar melhor tal peça.

–Trish, estamos a menos de um quilômetro da Ally e você para toda hora? - reclamei impaciente. Dez levantou as sobrancelhas e balançou a cabeça, apoiando.

–Ai, como vocês são chatos... Nós esperamos anos para encontrá-la, por que não mais alguns minutos? - atacou ela. Revirei os olhos e bufei, sentindo meus pés começarem a balançar.

Ficou olhando por mais alguns minutos, até que saiu em disparada na nossa frente. Corremos atrás dela, até chegarmos na praça de alimentação. Andando mais um pouco, consegui avistar a placa da Sonic Boom à distância.

Chegamos, ofegantes, na fachada da loja. Estava impecável, como uma loja nova deveria ser. Entramos, e um sininho anunciou nossa chegada.

Meu coração bateu mais rápido no peito, e imaginei que meus amigos estariam iguais a mim. Os olhos começaram a marejar, e minhas narinas queimaram, mas afastei a sensação dolorosa.

Uma garota saiu por detrás do balcão; sua estatura era duas mãos a menos que eu, como eu me lembrava, e os olhos estavam brilhantes. Exatamente como ela era, mas com um toque diferente.

Seu andar, enquanto vinha até nós, estava mais confiante. O sorriso era mais largo, mais cintilante. Ela já não prendia mais a franja como antes, agora a deixava solta e repartida ao meio.

–Trish? Você não mudou nada! - elas se abraçaram empolgadas demais. Tive a sensação de que eu ficaria por último nos cumprimentos.

–Ally, eu senti tanto a sua falta! Tanto. - as duas não se desprendiam, e Dez chorava ao meu lado. Alguns cliente nos encaravam, mas nem liguei, continuei sorrindo.

–Eu também, Trish. - Ally soltou-se de Trish e caminhou até Dez, e ambos ficaram frente a frente. Ele a puxou para um abraço caloroso, e ela o apertou com mais força. Uma ponta de inveja acendeu em mim. - Dez, você continua o mesmo, não é? Eu queria tanto ter vocês aqui nesses anos...

–Nós também, Ally. - murmurou ele.- Senti muitas saudades.

–Eu sei. - sussurrou. Ouvi pela proximidade entre nós.

Eles se soltaram, e Ally se virou para mim. Ficamos um tempo nos encarando, até que ela sorriu gentilmente e me puxou.

Fui pressionado contra ela, e minha boca encostava em sua orelha. Respirei pesadamente, e senti que ela fazia o mesmo, e nossos corações batiam desesperadamente no mesmo ritmo.

–Ally... me desculpe. - sussurrei, ainda apertando-a. Ela mudou de posição para se reajustar.

–Eu já tinha te desculpado. - ela sussurrou também. Ouvi Dez fungar, mas nenhum de nós dois tomou a iniciativa de se afastar. - Austin, eu senti tanto a sua falta nesses anos... Foi quase insuportável.

–Eu me senti da mesma forma.

Ficamos em silêncio, ouvindo Dez e Trish cochicharem sobre nós. Comemorei internamente, sentindo borboletas no estômago, a garganta ficou com um nó, meu coração batia descompassado, mas o dela também.

–Não pare de me abraçar ainda. - Ally cochichou contra a minha orelha. Eu a abracei mais forte, com a mão em suas costas tentando com afinco aproximá-la ainda mais, mesmo que fosse impossível.

–Eu não ia parar. - respondi no mesmo tom baixo.

–Ally? - uma voz masculina mais ou menos grave a chamou, e Ally se desgrudou de mim lentamente. Eu a soltei no último momento, relutante. -Você está linda. - murmurou ele.

Eu, Trish e Dez trocamos mais um olhar. Ele tinha um ano a mais do que nós aparentemente.

–Obrigada, Gavin. - ela sorriu. Senti minha garganta ardendo.

Em um momento, ela estava parada, e em outro, Gavin a puxou para ele e beijou sua bochecha, então deslizou os lábios. Senti meus ombros pesarem ainda mais, os olhos arregalados de surpresa, como Trish e Dez, e minhas pernas pararam de me obedecer.

Ele a estava beijando, novamente, e agora... Na boca.