Os dias se arrastavam. O fim de semana estava próximo, e o Natal cairia exatamente na segunda, ou seja, eu tinha dois dias para comprar um presente memorável para Brooke e arranjar um jeito de terminar com ela.

–Sabe, Austin, quando se trata de terminar um namoro, nunca vai ter um jeito delicado de fazer isso. - Dez disse de repente, como se lesse os meus pensamentos. Nós nos conhecíamos há tanto tempo que até acho que é possível.

–Verdade. - Trish o apoiou. - Pela primeira vez, o Dez disse alguma coisa esperta. E, Austin, não tenha medo de terminar; o máximo que ela pode fazer é te matar.

Arregalei os olhos e a agarrei pelos ombros, virando-a para mim assustado.

–E você não quer que eu tenha medo?! Cara!

–Trish tem razão. Espera. Eu concordei com ela? - Dez deu ênfase a "ela" como se fosse a primeira pior coisa do mundo. Os dois se encararam por um bom tempo, esquecendo-se de que eu estava ali e os observava com uma careta. No fim, eles apenas desviaram os olhares com expressões de nojo.

–Preciso comprar um presente de Natal para a Brooke. Eu disse a ela que tinha um comprado um, mas a verdade é que não tenho a mínima ideia do que ela gosta. - confessei desolado. Dez me empurrou com o ombro, mas não disse mais nada.

–Caramba, ela é sua namorada, doida, mas é. Tem que pensar em alguma coisa! - Trish soltou a bronca. Quase agradeci, ironicamente, por ter chamado Brooke de doida.

–Eu sei. - Dez me encarou. Dei de ombros.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, enquanto caminhávamos para o último ponto de ônibus ativo.

–E aí, Moon!

–Quebrou muitos corações hoje, garanhão?

–Fala aí, Austin, já terminou com quantas?

–Riquinho! E a Brooke?

–Estou preparada para quebrar meu coração, Austin.

–Moon, me beija!

Ignorei todas as alfinetas, às vezes parando para prestar atenção nas aparências das meninas, tentando encontrar algum sinal de Brooke.

–Austin? Oi. - Kira Starr parou em minha frente, com um olhar nublado e a voz assustadoramente fria. Eu me lembrava de quem ela era a melhor amiga. Abaixei a cabeça.

–Hey, Kira. Tudo bem? - perguntei. Dez parou atrás de mim em um tranco.

–Pior agora. Bem, não iluda Brooke, senão quebro a sua cara. - não sabia como, Brooke e Kira haviam se conhecido e se tornado grandes amigas nas últimas quatro semanas.

Kira deu um "oi" para Dez e Trish, depois inclinou-se na minha direção e postou os lábios em frente ao meu ouvido. Eu me arrepiei, pensando que ela queria arrancar a minha orelha fora.

–Se você precisar, estou aqui. Serei a sua namorada. Serei exatamente o que me pedir. Quero ter meu coração partido por você. - sussurrou. Arregalei os olhos subitamente e me afastei dela.

–É uma honra, senhorita, mas não se preocupe com isso ainda. - ela não pareceu surpresa, tampouco feliz; seus lábios se contorceram em uma linha fina, e ela recomeçou a andar com os ombros balançando.

–Ela está pedindo, Austin. - Trish comentou, a mão em punho levantada. Eu a abaixei cuidadosamente, com medo de que o soco se virasse contra mim.

–Não se preocupe. Você sabe que Kira é só uma garota com más lembranças. - dei de ombros. Eu sabia que Kira só tentava ficar comigo por tentar, mas não havia a mínima atração dela por mim.

Caminhamos nós três lado a lado pelo corredor extenso. Ignorei mais algumas implicações, mantendo a cabeça fria com os pensamentos sobre a praia em que iríamos esse final de semana.

Trish e Dez dormiriam em minha casa esta noite, e Gabbe, meu mordomo, nos levaria até a praia mais ou menos três da manhã, para dormimos e aproveitarmos o resto do dia.

Chegamos ao ponto de ônibus, e só restava esperar. Abri a mochila e peguei três maçãs, oferecendo aos dois. Somente Trish aceitou. Olhamos para Dez.

–Você nunca recusa uma maçã, parece um cavalo, o que você tem, Dez? - Trish perguntou. Ela inspirou, parecendo realmente preocupada.

–Nada. Só... Me atormenta que encontramos Kira todos os dias. - ele abaixou a cabeça. Era verdade. As aparições de Kira também me assustavam.

–Dez, vai ficar tudo bem. - minha voz não estava completamente firme, mas Dez entendeu que era um consolo e assentiu. Eu me preocupei mais, e o puxei para um abraço. Trish se juntou a nós.

Assim que nos separamos, o antigo ruivo já estava novamente conosco. Continuou a contar piadas sem-graça, e se acabava de rir em todas elas.

–Sério que você aguenta essa droga todo dia? Esperar o ônibus quando pode mudar, ir de táxi, ou ir a pé mesmo? - Trish esbravejou. Eu e Dez rimos.

–Deve ser por isso que você não dura em nenhum emprego, Trish. - falei, e troquei com Dez o nosso high-five.

–Deve? Eu tenho certeza. - rimos outra vez. Até mesmo Trish deu um pequeno sorriso.

–Calem a boca. - mas nós continuamos rindo. Trish se virou para nós outra vez e me fez tremer, e tentei inutilmente me encolher no chão de pedra, com seu olhar assustadoramente igual ao de um assassino: frio, cruel, sem vida. - Isso.

O ônibus chegou quinze minutos depois, e Trish se sentou do lado da janela comigo, e Dez conseguiu sentar-se com um homem gordo no banco de trás. Enquanto Trish não estava a fim de conversa, Dez e eu não parávamos de tagarelar sobre os próximos videogames que compraríamos na loja do shopping.

De repente, Trish agarrou o meu braço, e a expressão de Dez ficou meio estranha. O tom de riso desapareceu por completo.

–Precisamos te mostrar uma coisa quando chegarmos na sua casa, Austin. - ele engoliu em seco. Olhei para Trish em busca de uma confirmação, e ela o fez, parecendo acuada.

–O quê? - mas ninguém me respondeu. Bufei. Eles tinham ataques desses às vezes, e eu considerava uma coisa normal, porque quando íamos ver o que era... Era algo banal.

–Austin? - Dez me chamou, animado. - Quer ouvir Galinha Pintadinha comigo?

–Hum? - eu me inclinei para trás. - Não... valeu.

–Não sabe o que está perdendo. - ele deu de ombros decepcionado. - A Galinha usa saia e o Galo paletó... Um dia vou me tornar o maior cantor de Galinha Pintadinha mundial!

–Você já é, Dez. afirmei. - Porque mais ninguém gosta disso.

Ele parecia prestes a chorar. Suspirei.

–Não sabe o quanto estou feliz por isso! - choramingou ele. - A Galinha Pintadinha...

Lá vamos nós.