O tempo passou rápido e as férias chegaram. Com vários empregados saindo de férias meus pais trabalhavam o dobro e se preocupavam comigo metade do normal. No segundo dia de férias dei a desculpa que viajaria com uma amiga para a praia e fui para a casa de Felipe. Minha única obrigação seria separar um dia para passar duas horas com meu noivo maníaco. Eu queria adiantar esse dia o máximo possível para poder aproveitar o resto de férias em paz. Esse dia seria amanhã. Depois disso eu e Felipe faríamos uma viagem para algum lugar longe de famílias e noivos:

–Você tem mesmo que ir amanhã? Poderíamos sair daqui agora e ficar o mês todo fora. Aluguei um pequeno apartamento de três cômodos no interior para nós. É um lugar bem escondido onde não tem nenhuma possibilidade de encontrar alguém conhecido. - Disse Felipe enquanto víamos um filme.

–Eu tenho mesmo que ir amanhã. - Respondi. - Mas se quiser podemos sair assim que eu chegar. Depois do jantar eu vou passar em casa para pegar algumas coisas e evitar que Miguel desconfie de alguma coisa. Venho direto pra cá quando tudo estiver calmo.

–Certo. Saímos assim que você chegar. - Me beijou. - Mas se aquele cachorro encostar a mão em você mais uma vez…

–Você não vai poder fazer nada. - Interrompi. - E nem eu. Tudo por conta daquele contrato. - Bufei. - Eu queria me livrar disso, eu queria me livrar dele e ser só sua. Sem complicações. Ter você inteirinho só para mim.

–Mas isso você já tem. - Sorri.

–Sua mãe não parece ficar muito feliz com você estando solteiro. Da última vez que ela apareceu na minha casa ficou falando que você precisa arrumar alguém porque ela quer ser capaz de ver os bisnetos dela.- Olhei para ele que me olhou maliciosamente.

–Só que ela não sabe que eu não estou solteiro e estou trabalhando para trazer os netinhos dela ao mundo. - Olhei para ele.

–Está é? Porque até onde eu me lembro nós não fazemos isso há mais de um mês. Então eu gostaria de saber com quem. - Ele riu.

–Deixa de ser dramática. Hoje é o primeiro dia das suas férias. O último mês foi corrido pra nós dois. Eu ficava feliz só de poder te ver.

–Saiu pela tangente, hein, senhor Felipe. - O beijei. Ele se aproximou da minha orelha e começou a cantar. Adorava quando ele cantava pra mim.

–ˆDeus é que me livre ficar sem você

Fica do meu lado que não falta amor

Sem o seu carinho eu vou enlouquecer

Vem, chega mais perto me dá o seu calor

Deus sabe que nada eu vou poder fazer

Se um dia eu perco todo esse amor

Vem ficar comigo quando escurecer

Eu quero estar contigo seja onde for

Eu sei que o meu mundo girou só pra te encontrar

Parece que achei no seu peito um lugar pra morar

Tirei o seu sossego

Abri os teus segredos

E vi nos seus defeitos um caminho pra entender

Que vida logo passa e quando a gente vê

Já é tarde pra dizer o quanto eu gosto de você ˆ

Me virei para ele e o beijei. Ele retribuiu o beijo. Era incrível a forma que ele fazia eu me sentir viva. Era como se ele tivesse a fórmula pra me fazer feliz. Seria tão mais fácil se eu fosse me casar com ele. Nós nos conheciamos perfeitamente bem, nossas famílias se gostavam e o mais importante: Nós nos gostávamos.

***

Entrei no restaurante (http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=167839616) e Miguel já estava sentado em uma mesa. Me aproximei e ele se levantou. Ele me deu um selinho e nos sentamos. Ele não foi invasivo. Ele parecia novamente o homem dos primeiros dias:

–Milena, eu queria pedir perdão. Eu errei em ter saído daquela forma naquela noite e errei na semana posterior quando te forcei a algo que você não queria. Naquele dia eu saí porque estava confuso. Eu não podia sentir nada por você, sabia que não podia e ao mesmo tempo sentia tudo. Caso você não saiba eu também te vi com alguém na boate naquele dia. Tudo que eu queria era socar aquele cara, mas sabia que depois daquela manhã minha moral tinha ido para o espaço. Eu sabia que você não era mais minha e não consegui entender isso, por isso eu te forcei a fazer aquilo. Eu queria que você quisesse ser minha e sentia que tinha te perdido. Eu nunca usaria o contrato pra te persuadir daquela forma, me desculpe. Eu estava desesperado e não sabia o que fazer, me desculpe.

–Eu posso te desculpar, mas não posso esquecer. Eu te dei uma chance de me fazer querer ir a diante com este casamento, mas você desperdiçou. Eu não quero me casar, mas mesmo assim eu vou. Vou me casar porque é a minha obrigação e não porque eu te amo.

–Mas eu te amo, Milena. E você disse que me amava.

–Eu realmente achei que te amasse, mas eu estava errada. Você está amando a pessoa errada, a única que você não pode amar. E se você me amasse de verdade iria querer me ver feliz. Você não me ama, só precisa de mim.

–Eu te amo e preciso de você. Volte pra casa, Milena. Só eu e você. Assim podemos nos resolver de uma vez por todas. Volte pra nossa casa comigo. - Olhei para baixo.

–Sinto muito, mas eu não vou voltar para aquela casa por um bom tempo. Se contente com o fato de que eu ainda irei me casar com você.

–Eu te amo.

–Você me estuprou. Isso não é amor, é doença. - Me levantei da mesa e saí do restaurante.

***

Cheguei em casa e meus pais estavam sentados na sala. Me aproximei. Eles conversavam e quando me viram ficaram quietos:

–Não sei se vocês estão lembrados, mas eu vou viajar hoje. Passei apenas para pegar algumas coisas e me despedir.

–Você não vai viajar com seus amigos. - Disse meu pai. - Isso não é algo que uma noiva faria.

–Ah, eu vou sim. Não sei se você está lembrado, mas eu não estou morrendo de vontade de me casar. Eu vou aproveitar meus últimos meses de liberdade. Não sei se você sabe, mas eu só serei solteira novamente daqui três anos. Neste meio tempo eu já terei perdido toda a minha juventude. Ou seja, você não está em condições de mandar em mim. - Disse e me virei. Subi as escadas e comecei a jogar tudo dentro de uma mochila. Minha mãe entrou no quarto logo atrás de mim.

–Milena, eu preciso te contar uma coisa.