Vampiros Bons não Existem escrita por mandycarol


Capítulo 4
Ato IV - Começo


Notas iniciais do capítulo

* Quando obtiver asteriscos “*” há notas no fim do capítulo.



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O pior de tudo é começar, você retarda o máximo que pode, mas quando percebe já está sendo arrastado e se vendo forçado a tomar uma atitude. Quando tudo ainda está no início há chances de mudar, se prevenir, porém será esta a verdade? Destino. Se nossas vidas são previamente definidas, não importa o quanto retardemos, mudemos, prevenimos; tudo caminhará para o mesmo ponto, pois no fim tudo já estava traçado e nós apenas somos pequenas marionetes num grande espetáculo que chamamos vida.


Yuuki Cross, Bucareste, 08 de fevereiro de 2010

É incrível como posso ferir, acredito que esse é um dom que eu acabei adquirindo. Quando não se sabe trabalhar bem com as palavras e não pensa antes de dizê-las, você se deixa levar pelos sentimentos e disso pode sair algo incrivelmente estúpido. Eu odiava ferir alguém, mas isso vinha se tornando quase que freqüente, afinal quando se é machucada ou alguém que ama se machuca sua primeira reação é revidar.
Zero estava passando pelo corredor, apesar de estar tumultuado de alunos que começavam a chegar para o primeiro dia de aula, consegui encontrar seu par de olhos lilases, não consegui encará-lo. Ele fazia seu trabalho como monitor mostrando aos novos alunos (principalmente alunas) suas salas e dando outras informações. Ao seu lado estava um jovem um pouco mais velho que também fazia o papel de monitor, lembro-me vagamente dele quando era mais nova, creio que era amigo de Zero. “Kaito Takamiya”, dizia um pequeno crachá preso em seu bolso por um broche com o símbolo da universidade, logo abaixo de seu nome havia escrito “8º período”. Pergunto-me o que um aluno do ultimo período estaria fazendo como monitor enquanto deveria estar se preocupando com seu TCC? Coisas de Kaien! Tentei não me apegar muito a pequenos questionamentos que em nada iriam interferir, afinal eu já tinha metido a colher demais nessa estória.
Minha aula começa a noite, procurei por uma rota alternativa que me permitia não esbarrar acidentalmente com Zero, eu não estava disposto a encará-lo não enquanto pudesse evitar. Estava no meio do caminho para o dormitório feminino, durante esse curto período antes das aulas estava dormindo na casa de meu pai (com exceção do primeiro dia), sentia-me muito isolada no dormitório com a universidade vazia.
Minha companheira de quarto deve ter chegado e “deveria recepcioná-la”, foi o que me disse meu pai me fitando por detrás daqueles óculos. Encontrei um pequeno trecho por entre uns arbustos, era quieto e não havia sinal de estudantes a vista, poderia passar por ali e não correr o risco de encontrar alguém e verem minha cara de sono.
- Ai! – me arranhei! Claro que não foi aquela dor latente, mas arranhões podem arder. Uma fina linha vermelha se formou no meu ombro nu.
Não dei importância à pequena ferida e logo estava em frente ao meu quarto. Algumas poucas meninas estavam nos aposentos, elas retiravam as roupas das malas e conversavam alto.
Bati três vezes antes de empurrar a porta, anunciando minha entrada, não queria que ela levasse um susto, mas que ironia do destino, eu é que levaria um belo susto. Uma jovem de cabelos cor caramelo e olhos de mesmo tom me abraçou assim que abri a porta quase me levando ao chão, sentia-me tonta com seu gesto e levei um tempo para conseguir focalizar seu rosto.
- Yori!


Sayori Wakaba, Bucareste, 08 de fevereiro de 2010

Quando Yuuki foi embora, eu senti, era uma perda grande, minha única amiga e eu diria que era o mesmo para ela, sua única amiga. Veja bem, não falo de coleguismo, aquele tipo de coisa que só existe nos momentos de festa e saídas, mas de amizade verdadeira do tipo em uma se apoiava na outra. Sabia o que significava para ela, não havíamos nos despedido corretamente, Yuuki estava despedaçada por dentro e a mim não lhe foi permitido consolar, eu lhe dei um beijo no rosto e sorri, minha máscara, não queria chorar na sua frente, queria lhe passar força. No fim eu não saberia que sentiria muito mais por sua partida do que ela mesma. Chorei a noite toda e por algumas semanas também, cheguei ao egoísmo de acreditar que na verdade a pequena Cross não se importava. Porém, agora estávamos juntas e isso que importava.
- Yuuki! – a abracei com mais intensidade, esfregando minha bochecha contra a dela. – Nossa, parece que faz eras! – falei finalmente a soltando, havia muito tempo que não nos víamos, seu olhar era confuso, mas logo foi substituído por um sorriso e chegou a vez dela me abraçar.
- Onde esteve todo esse tempo? – ela me perguntou. – Queria seu endereço, um telefone, meu Deus um e-mail. Mas me falaram que havia se mudado de cidade, achei que tínhamos perdido contato para sempre. – Yuuki falava rapidamente, me senti desnorteada.
- Tem razão me mudei para Bristiţa*. Não havia muito tempo para avisar de minha partida, minha mãe estava doente. – havia um toque de melancolia em minha voz.
- Compreendo. E ela agora está bem? – seu tom de voz era triste e seu olhar sobre mim... Bem, eu sabia o que aquilo significava era remorso.
- Ela está morta. Morreu dois meses depois que foi embora. – fui dura, porém não havia outro modo de dizer aquilo.
- Y-Yori! – balbuciou - Eu sinto muito. – disse por fim.
- Sei que sente Yuuki e sei que se pudesse estaria do meu lado. – estava sendo sincera. – Não falemos sobre isso, é passado... – sim, passado, não queria me lembrar daqueles tempos, não queria vê-la sentindo pena de mim, cada um tem seus problemas e ela teve os delas por isso teve que partir, eu entendia. – morei por lá desde então, as montanhas me fizeram bem. Com o fim do ensino médio meu pai me mandou novamente aqui para poder cursar universidade. Fiquei tão feliz quando conversei com Ichijou e ele me falou que estaria de volta e melhor que seriamos colegas de quarto.
- Aquele padre mentiroso, omitiu tudo. – Yuuki fez um biquinho, não pude me conter, acabei rindo. – Do que ri?
- De você. – seu rosto se contorceu em uma careta, ri mais ainda. – Pedi para que guardasse segredo.
- Então foi tudo mancomunado. – seus olhos se arregalaram de surpresa. – Bem que desconfiei.
- E você como está? Como foi voltar à terra natal? – perguntei tentando desviar o assunto de minha vida.
- Um pouco melancólico. – disse simplesmente.
- Vi Zero trabalhando como monitor, incrível como ficou alto... – me interrompi, ao notar o erro que havia cometido.
- Zero. – ela repetiu vazia, sua voz fraca. Eu sabia o que havia feito, tinha reaberto uma ferida, porém logo notei que não era algo apenas do passado, havia algo mais.
- Yuuki... – comecei tocando sua mão levemente, ela olhou para mim, seus olhos brilhavam, eram lágrimas que se formavam. – Aconteceu alguma coisa entre você e o Zero?


Zero Kiryuu, Bucareste, 02 de fevereiro de 2010

Eu achava que o odioso gosto da mamaliga em minha boca era apenas mais uma coisa ruim em meu dia, após ter tipo que treinar durante boa parte da manhã, revelações do passado, saber da morte de todos os meus parentes, ainda ter que aturar aquele mingau pavoroso passar por minha garganta pensei que mais poderia piorar o meu dia. Como uma pessoa pode se enganar. Aquele riso melodioso atravessou meus ouvidos e me atingiu como um relâmpago, me virei, dando conta de sua presença, Yuuki estava na escada.
- Como vai baixinha? – Yagari falou normalmente, ela odiava qualquer apelido sobre sua baixa estatura.
- Bem senhor Touga. – e também odiava Yagari.
O café da manhã continuou em perfeito silêncio, parecia que Yuuki e Yagari emanavam uma espécie de onda elétrica que ficava faiscando e prestes a entrar em curto circuito. Ela foi a primeira a quebrar o silêncio.
- Então senhor Touga, o que trás o delegado a nossa casa? – ela perguntou levantando uma das sobrancelhas, péssimo sinal.
- Vim ver meu afilhado. – bagunçou meus cabelos enquanto falava.
- Não me lembro de serem tão próximos. – falou irônica.
- Talvez sejamos mais do que julga. – ela cerrou os punhos.
- Bom, sim. Mas talvez haja mais algum motivo.
- Vim treiná-lo. – contou.
- Treiná-lo? – um sorriso apareceu no canto da sua boca, “vitória”, era o que sua expressão demonstrava. Ela então me encarou e me olhou séria, fechou os olhos, respirou fundo e se levantou. – Terminei obrigada! – falou a todos. – Tenha uma boa tarde senhor Touga! – todo cerimoniosa se virou para ele curvou levemente a cabeça e saiu, ele retribuiu.
- Com licença! – pedi antes de sair para segui-la.
Ela andava pelo campus sem um rumo certo resmungando consigo mesma. “Típico dela”, pensei.
- Yuuki. – a chamei, me ignorou e voltou a andar ainda mais rápido. Corri um pouco para alcançá-la, peguei em seu braço forçando-a parar e olhar para mim. – Yuuki, por que está tão irritada?
- Não estou irritada. – falou de modo grosso e virou o rosto. – Me solte! – pediu um pouco áspera, a soltei, mas pronto para pegá-la novamente caso fugisse.
- Você não consegue me enganar, não precisa mentir quando está óbvio.
- Tem razão! – me surpreendeu em me responder, virou-se novamente e começou a me fitar. – Não consigo te enganar, sou tão transparente quanto a água, sempre sabe como me sinto, de meus segredos. Sempre. – repetiu, havia bastante ressentimento em suas palavras.
- Não entend...
- Há não entende? Engraçado! Pois eu não o entendo Zero, nunca entendi! – jogou em minha cara, sua raiva emanava. – Por que está treinando com Touga?
- Ah! – minha mente clareou. – Se trata disso?
- Não seja cínico, sabe o quão bem ele o tratou durante todos esses anos, sempre foi duro e frio e agora são padrinho e afilhado tão próximo, quando isso ocorreu? – estava sendo irônica, aquele começou a me enfurecer, trinquei os dentes tentando segurar minha reação.
- Não preciso que se preocupe comigo.
- Claro que não. – Ela riu nervosa. – Nunca precisou não é? Nunca permitiu que alguém se aproximasse. Sabe Zero? – olhou em meus olhos, havia dor nos seus. – É por isso que não damos certo juntos, é por isso que nunca vai dar certo. Eu te amava, mas sempre foi assim, você sabia tudo sobre mim e eu nada de você, não me importava de não ter um passado, sabe que não. Porém não deixava que me aproximasse, vivia me repelindo quando se lembrava de alguma coisa de sua família anterior. O Zero sempre frio e insensível. Eu odeio isso, me sinto impotente. – suas mãos agora estavam em seu rosto, ela soluçava e chorava como nunca vira.
Sem saber o que fazer, fui impulsivo, a puxei a envolvendo com meus braços, não queria ver suas lágrimas, ela tinha razão, eu era frio demais.
- Me solte! – gemeu tentado me afastar me empurrando fracamente. Ela soluçou mais uma vez antes que levantasse os olhos e me encarasse novamente.
Seus olhos estavam inchados, me feria vê-los, fechei meus olhos e me curvei, levando meus lábios aos delas. Estavam úmidos, os toquei carinhosamente, eram pequenos e cheios, como me lembrava. Por uma fração de segundos a senti retribuir até que então voltou a me empurrar agora com mais força, saiu dos meus braços e me olhou furiosamente, seu rosto vermelho de vergonha e ódio. Achei que iria me dar um tapa, porém ela correu e desta vez não a segui.


Yuuki Cross, Bucareste, 08 de fevereiro de 2010

Contei tudo a Yori, sobre nossa infeliz discussão e... Será que conseguiria repetir aquilo? Fiquei vermelha ao lembrar-me da cena que há dias tentava esquecer. Era bom poder contar com alguém, algo mais do que páginas para contar seus problemas, um ombro amigo para variar, não queria chorar ou parecer frágil demais perto dela, ela havia sofrido, mais do que eu e meus problemas amorosos. Não lhe falei de meus sonhos, era muita informação para um dia só. Queria mudar de assunto falar de algo bom e mais feliz, quando Yori fez a pergunta que tanto temia responder.
- Você ainda gosta dele? – olhou no fundo de meus olhos apertando minhas mãos nas suas.
- De quem? Do Zero? – me fingi de tola e acredite era boa nisso.
- Quem mais? – falou após revirar os olhos.
- Eu não sei. Honestamente não sei. Ele é teimoso, egoísta e rebelde demais, odeio isso nele, mas...
- Mas? – ela levantou um das sobrancelhas.
- Ele não é uma pessoa ruim, sempre me protegendo e quando AQUELE BRUTO QUER... Desculpe! – parei ao perceber que gritava. – Ele pode ser carinhoso. – completei.
- Então por que terminou tudo? Por que foi embora? – ela fazia as mesmas perguntas que fiz a mim mesma antes de ir embora, porém estas eu já sabia a resposta.
- Porque não é o bastante, quando se olha mais os defeitos que as qualidades significa que tudo está desgastado. Quando se passa de um ponto em que a dor é maior que o prazer da companhia alheia, chegou o momento de parar antes... Antes que um de nós saía muito machucado.
Sayori ficou em silêncio após minhas palavras, senti uma lágrima escapar e a limpei antes que escorresse por meu rosto e ela notasse. Sorri para ela e fiz o melhor rosto de “estou bem” que pude.
- Vamos conhecer o campus. – peguei em seu braço e a arrastei pelo corredor.
O campus era enorme, a universidade apesar de pouco renomada abrigava diversos cursos e muitos alunos perambulavam pelos corredores em busca de suas salas, o sino da paróquia ao lado, também utilizado como sinal para início das aulas, badalava anunciando o fim das aulas matutinas.
- Nossa o tempo passou correndo. – um rugido baixo ecoou do ar. – Ouviu isso? – perguntei a Yori. – o pequeno som se manifestou novamente. – O que será? Um animal?
A pequena Yori estava vermelha, suas mãos cobrindo o estômago com força, como se pudesse abafar o som que vinha dele.
- Ahhh! – meus pensamentos clarearam. – Deve estar com fome, também já é horário de almoço e nem deve ter comido pela manhã, ainda a fiquei arrastando por todo o campus. Lamento! Às vezes sou realmente lerda. – Ela concordou levemente com a cabeça, ainda sem a levantar, bati levemente em seu braço. – Ei o que foi essa concordância! – e rimos.
Levei-a para minha casa, provavelmente papai deveria estar preparando algo, meu rosto se contorceu numa careta só de pensar, porém não me lembrava de restaurantes próximos a universidade e não levaria Yori para comer um pastel na cantina, apesar de que... Pensei por um momento, “talvez seja menos tóxico”. Ri sozinha.
- Do que está rindo? – ela me questionou.
- Me lembrei de uma piada. – menti, ainda rindo.
- Conte-me!
- Err... Na realidade não tem muita graça. – fiquei sem jeito.
- Ora! Tenho certeza que será diverti... – ela se interrompeu e começou a apontar para mim, sem conseguir soltar um som, meu cérebro demorou a codificar que ela não apontava para mim, mas sim para algo atrás de mim, quando me virei ele já estava próximo o bastante para que não pudesse fugir.
- Podemos conversar? – Zero me indagou.
- Depois. – disse rispidamente. – Yori precisa almoçar. – a usei como desculpa.
- Olá Zero! – falou timidamente.
- Como vai Yori? – ele disse a olhando rapidamente por sobre meu ombro, sem sequer aguardar a resposta. – Vai fugir novamente? – se dirigiu a mim ao notar que já me virava, pegando em meu pulso para me segurar.
- NÃO! – gritei. – NÃO VOU FUGIR! Apenas, apenas... Não há motivo para nos falarmos. Esqueça está bem? – me virei para encará-lo, droga! Já estava chorando novamente. – Você não entendeu as palavras que te disse, por duas vezes, não quero alguém que não pode confiar em mim, CANSEI! Não quero... – engoli seco. – alguém como você.
Zero me soltou, os cabelos caíram sob seu rosto, tive receio de olhar. Eu o magoei, novamente, porém desta vez me superei, consegui ser realmente má. Podia sentir suas lágrimas se formarem por debaixo de sua cortina de cabelos.
- Vamos Yori! – fui covarde, não quis ficar para vê-lo. Fugi. Pela segunda vez. Menti para ele e para mim mesma, pela milionésima vez.


Zero Kiryuu, Bucareste, 30 de novembro de 2008

É mentira. Mentira. Era nisso que queria acreditar, deveria me beliscar para ver se acordava, era um sonho, respirei fundo esperando acordar.
- Você ouviu o que disse Zero? – Yuuki me perguntou, livrando-me de meus devaneios, meus desejos.
- Não tenho certeza. – estava confuso.
- Eu vou embora. Está ouvindo bem isso, vou morar com minha mãe. – Sim, ouvi. Doeu ainda mais ter de ouvi-lo novamente, não era um sonho, não era mentira, via em seus olhos.
- P-por quê? – balbuciei, não conseguia pensar em outra coisa para falar.
- Por quê? Bom, meus pais se separaram, Ichijou vai ficar aqui, então eu pensei que seria melhor...
- Não é isso. – a interrompi. – Por que só está me contando agora?
- Isso. – sua expressão mudou, não era mais tranqüila, expressava dor. – Tive medo.
- Medo? – repeti.
- Sim, Zero! Medo. Não saberia como reagiria, não sabia como te dizer sem causar sofrimento. – disse incerta.
- Obrigado! Poupou-me bastante sofrimento. – falei egoísta.
 - Vê. Não entenderia. – deu um riso nervoso.
- Tem razão, não entendo. Quase dois anos de namoro para ir embora sem pensar. – joguei as palavras em sua cara, ela estava me abandonando.
- Como se dois anos de namoro tivessem feito diferença. – a primeira lágrima correu seu rosto.
- O que quer dizer?
- ZERO! – gritou inesperadamente. - Não queria entrar neste assunto, não torne as coisas mais difíceis, por favor! – pediu chorosa.
- Eu preciso saber. – ordenei ríspido.
- É por isso, seu jeito, foi o que fez me decidir ir embora. Não posso mais agüentar isso. – colou as mãos nos ouvidos, como se tivessem gritando tão alto que fosse insuportável escutar. – Esse amor não correspondido.
- Mas eu amo você. – disse rapidamente, não conseguia entender.
- Verdade? – franziu o cenho. – Pois não parece, você é sempre tão distante. O perfeito príncipe do gelo. Mas eu cansei de ser sua princesa, de tentar aquecê-lo e você me repelir.
- Eu não queria que sofresse comigo. – tentei explicar-me, suas palavras me atingiam como facas em meu peito.
- Não percebeu que assim me fazia sofrer mais? Amantes compartilham a dor também, queria o conhecer, conhecer o que te aflige e amenizar sua perda, porém você não permitiu isso.
- YUUKI! VAMOS! NÃO QUERO PERDER O AVIÃO! – Juuri a chamava do portão.
- Adeus Zero! – levantei minha mão apenas alcançando o ar, ela se foi e não consegui dizer nada. Então era assim que ela se sentia. “Como poderia saber”, tentei me consolar. Mas eu deveria saber, apenas não queria enxergar, fiquei tanto tempo focalizado em minha dor que não a notei, não como deveria. Desculpa, era isso que deveria ter dito, talvez assim ela me perdoa-se.


Yuuki Cross, Bucareste, 08 de fevereiro de 2010

O sino badalava anunciando a primeira aula do período noturno. Tentei me concentrar em seu som agudo e forte.
- Está mesmo tudo bem? – Yori me perguntou pela décima vez.
- Sim. – ela pareceu não acreditar. – Ei! É verdade, estou bem. Vamos, não quero me atrasar.
Se atrasar para a primeira aula do ano, mesmo em uma universidade, não é um grande problema, os alunos provavelmente estavam perdidos na ala de Arquitetura, como sempre, fomos as primeiras a chegar, com exceção do homem alto de cabelos castanhos sentado na mesa do professor confortavelmente. Ele sorriu quando entrei.
- Como vai senhor Kuran? – abaixei levemente minha cabeça numa reverência. O que era aquilo? Essa minha atitude desnecessária, ele ainda me deixava nervosa.
- Não necessita de tanta formalidade... – sorriu. – Yuuki. – fiquei vermelha ao ouvir meu primeiro nome.
- Certo, K-ka... Está é minha amiga Sayori Wakaba. – a apresentei rapidamente ao ver que não conseguiria chamá-lo tão intimamente.
- Yori. – corrigiu-me. Que inveja! Yori era sempre tão sociável.
- Prazer, Yori. – ela sorriu em retribuição e naturalmente.
- Prazer! Então será nosso professor de Antropologia. – fiquei fitando como ficava a vontade com alguém que acabava de conhecer.
- Correto. – deu novamente um de seus belos sorrisos, como um ato tão simples podia me deixar tão fascinada. – Se machucou? – Sayori pisou no meu pé para que, provavelmente, parasse de olhar tão pateticamente para seu rosto.
- Desculpe! O que disse? – tentei disfarçar minha tolice.
- Perguntei se está machucada. – sua expressão era séria e um pouco assustadora.
- Não, eu não... – antes que pudesse terminar ele tocou em meu braço, congelei ao seu toque, sua mão correu levantando minha manga, deixando meu ombro descoberto e revelando uma pequena linha ainda vermelha. – Ah! Isso! É apenas um arranhão. – dei um riso fraco.
- Deveria tomar mais cuidado. – sua expressão ainda era rígida.
- Certo! – foi tudo que consegui dizer.
Os alunos começaram a entrar e Kaname se posicionou, se apresentando a turma e começa a falar sobre sua matéria, ele era muito simpático, as meninas, principalmente o fitavam fixamente.
- Ele é muito popular. – falou Yori ao meu ouvido, apenas concordei com a cabeça. – Mas também, é um pouco assustador. – me encolhi. – Pela sua reação aposto que concorda. Como ele pode descobrir um machucado tão pequeno? – não respondi, porém também pensava nisso, sem dúvidas Kaname era misterioso.
Neste momento Zero entrou na sala, tomando minha atenção, como sempre atrasado. Uma dor lasciva ardeu em meu peito, qual seria o tamanho do meu estrago? Ele se acomodou numa carteira ao fundo e o professor continuou sua aula, só conseguia captar o que falava em pedaços sem conectar uma coisa a outra, com a presença de Zero não consegui me concentrar na aula.
- Antropologia é a ciência que estuda o homem... Falaremos no começo sobre os homens dos Cárpatos...


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Notas finais do capítulo

*Bristiţa: município pertencente ao um judeţ (distrito) da Romênia, Bistriţa-Năsăud. Um terço da superfície do distrito é ocupado por montanhas dos Cárpatos Orientais.

Sobre a matéria que o Kaname leciona, existe sim essa matéria no curso de arqueologia, depois de tanto pesquisar encontrei, essa é uma das disciplinas teóricas. Porém não sei em que período é lecionado e nem seus temas, mas pelo que as sei diferem em cada região. Sobre os homens dos Cárpatos, duvido muito que até mesmo na Romênia exista ao do gênero, mas fui influenciada por uma série de livro que estou lendo camada: Cárpatos. São muito bons e podem ser encontrados facilmente os primeiros livros na internet, porém pessoas menores de idade, cuidado! São deveras muito eróticos também.



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