- Eu sabia que iria te encontrar aqui – ela disse alargando o sorriso, e o meu se alargou também. Eu não estava errado afinal.
- E então? – eu perguntei, e ela sabia que eu queria explicações.
Seus olhos se fecharam e eu suspirei tentando me preparar para o que estava por vir, mas eu não fazia nem ideia do que realmente havia acontecido.
- Se eu pedir desculpas, você aceita? – ela perguntou piscando longamente e eu sorri, era impossível dizer que não a ela.
E ela sabia disso.
- Só se você prometer não fazer mais isso – eu respondi e ela se jogou em meus braços novamente.
- Eu prometo – ela disse e eu pude ouvir o som gostoso de sua gargalhada.
- Ah – ela suspirou se afastando. – Eu tenho tantas coisas para contar!
E então parecia como se ela nunca houvesse ido embora, era inverno e no inverno tudo parecia dar mais certo, e nosso lugar continuava ali, tão calmo como antes, e nos jogamos na neve, mas não para fazer anjos, só para sentir o típico calafrio de quando se encosta algo mais gelado em sua nuca. E eu adorava aquela sensação.
- Pode contando tudo – eu disse poucos instantes depois, porque eu não deixaria o assunto morrer.
- Papai foi transferido de volta para cá – ela começou com um sorriso, e eu sorri também, isso significava que ela ficaria por perto, que ela ficaria comigo. – Sabe, onde nós morávamos, numa cidadezinha não tão longe, mas também assim pequena, eu estava até me acostumando a vida de lá... – então seu tom diminuiu. – Mas não se compara a ficar aqui...
Meu coração saltitava no peito.
- Mas papai não me dava esperança alguma de que iríamos voltar, ele dizia que não queria que eu me iludisse porque podia não acontecer.
- Mas... – minha voz saía tão baixa quanto a sua. – Porque você não me escreveu?
- E dizer o que? Você sabe que só machucaria mais ficar se comunicando assim sem poder se ver...
Ela tinha razão.
- E depois, eu também não sabia o que dizer – ela enlaçou as duas mãos, um ato que eu sabia que Rosalie só fazia quando estava nervosa. – Quer dizer, tinha muito para dizer, e eu queria você lá comigo, porque o pessoal do colégio podia ser tão cruel as vezes e sempre foi você que me defendeu, e há tanto preconceito com isso de menino e menina como amigos... Eu senti saudades!
E antes que eu me desse conta, ela já havia se levantado e se jogado sobre mim na neve, eu sorri, nossos rostos tão próximos, e, inevitavelmente, eu me lembrei do nosso último beijinho.
Seus lábios pareciam ainda mais carnudos e rosados, e nós já não éramos mais crianças, isso estava claro, assim como minhas vontades já não eram de crianças e eu mordi meu próprio lábio tentando me conter, mas era impossível. Seus olhos estavam tão colados aos meus, nem sequer piscávamos, então aconteceu.
Meus lábios se juntaram aos dela, e não foi mais aquele selinho infantil, eu a beijei como um homem beija uma mulher. E ela me retribuiu, eu sei que sim. Eu podia sentir como sua boca se movimentava junto a minha e tudo mais.
Minhas mãos buscaram pelas dela e nossos dedos se enlaçaram, e então eu senti, algo que não estava ali antes...
Seus olhos se arregalaram e imediatamente Rose se afastou e levantou, levando uma mão a boca eu pude ver como seus lábios tremiam e seus olhos estavam aguados, ela estava segurando o choro e eu não conseguia entender porque.