As coisas acontecem muito rápido depois disso. O Hino de Panem toca, e logo em seguida somos retirados do palco escoltados por Pacificadores que nos levam para dentro do Edifício da Justiça. Não há palmas, gritos de viva! Algo dentro de mim queria fugir dali. Nunca vi isso acontecer antes, um tributo fugir. Se não fosse esse desejo dentro de mim de fazer com que Katniss consiga vencer esses jogos, eu juro que eu seria o primeiro a tentar isso. Sou levado para uma sala, e deixado, para dizer a verdade, trancado lá, sozinho. Não sei bem como funciona, mas acho que minha família vai ter o direito de me ver literalmente pela última vez.

O primeiro a entrar é meu pai. Nesse curto espaço de tempo ele parece ter envelhecido uns dez anos. Também, ver seu filho sendo levado para os braços da morte e não poder fazer nada a respeito, deve ser uma das piores coisas do mundo, senão a pior. Ele me abraça, chora, diz coisas sem sentido, e mesmo eu sabendo o quanto ele está sofrendo, preciso mostrar que não estou tão abalado e fazer com que ele entenda que tem coisas mais importantes a serem ditas.
Com a voz mais firme que consigo arrancar de meu coração em frangalhos lhe digo:

– Pai, preciso que você prometa que não vai deixar a Prim passar fome.

Ele não parece estar entendendo.

–Pai, me prometa que você vai alimentar ela e a mãe dela sempre que elas precisarem! Prometa Pai! – digo quase gritando.

– Claro filho – ele soluça – Eu prometo.

Só então o abraço forte, e deixo uma lágrima escorrer em meu rosto.

Enquanto ele enxuga as lágrimas e vai lentamente em direção a porta, eu o olho pela última vez, já sentindo saudades. Ele sai sem olhar para trás. Só quando a porta está se fechando, ouço ele dizer:

– Eu sempre vou te amar meu filho.

Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que parecem querer me devorar, e só quando a porta se fecha totalmente, que consigo responder – Eu também te amo meu pai, eu também.
Fico ali, sozinho, apenas com a esperança de que ele tenha me ouvido.