Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 34
Parte 34




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Estou preso em uma realidade que não consigo fugir. Sinto que estou acordado, mas ao mesmo tempo, não consigo me mover, falar, ouvir. É desesperador, ficar nesse estado de inconsciência, sabendo da urgência que há além de mim. Da urgência que tenho de acordar e impedir Katniss de morrer por mim. Ao mesmo tempo, é desolador entender o que Katniss fez comigo, mesmo sabendo que eu fiz as mesmas coisas com ela, por ela, só que mil vezes pior. O que eu não consigo entender ainda, é porque ela quis tanto se sacrificar por mim. Tanto a ponto de mentir, me trair, e se arriscar dessa forma. Eu fiz tudo isso, por ama-la demais. Mas ela fazer isso por mim, não tem uma explicação. Nada teve muita explicação desde o momento que ela me resgatou da lama. Será que .... Não. É impossível, não tem nem como pensar nisso. Mas a única explicação plausível que eu vejo para arriscar a própria vida, para salvar outra pessoa, é amor. Seria possível Katniss me amar?

Decido que não. É angustiante ficar aqui, sem poder fazer nada, enquanto a pessoa que você mais ama, caminha em direção a morte. Não quero pensar sobre isso. Com sorte, eu posso morrer, antes do efeito do xarope passar. Aí eu não teria que acordar, para ter certeza que Katniss está morta. É muita dor para ser suportada. Só que, pode acontecer dela conseguir. Pode acontecer dela escapar dessa cilada, e voltar para cá, para mim. Tento pensar positivamente, mesmo que hora ou outra, a realidade me invada, mostrando que as coisas não podem ser como a gente espera. Não sei quanto tempo se passou, mais sinto meu corpo formigar. O efeito está passando. Isso significa que já faz horas, que fui drogado. A vontade de acordar, fica enorme, chega até a doer. Dor. Estou sentindo essa dor. A dor de querer mais que tudo acordar, e ver Katniss aqui. Ela pode ter desistido, ela pode estar aqui, me olhando, e torcendo para eu acordar logo. Estou firmemente pensando as coisas mais positivas que consigo, quando um som, me interrompe. O tiro de um canhão, interrompe meus belos pensamentos. Isso pode ser só imaginação, afinal, eu não posso me mexer, não posso ouvir nada. Mas eu ouvi. Esse som, o canhão. Tudo fica embaralhado em minha mente, enquanto sinto cada batida do meu coração acelerado. Quero gritar. Quero abrir os olhos, me levantar, quero fazer qualquer coisa. Mas não consigo. Só sinto meu sangue pulsar em minhas veias, enquanto algo quente escorre em meu rosto. Lagrimas?

Imóvel, no chão da caverna, que foi um pequeno paraíso para mim, deixo minha mente, e corpo, descansar, com o som do canhão ecoando em minha mente. Está acabado, penso. Acabou.

Quando abro meus olhos, desconcertado por estar acordando mais uma vez, sinto uma enorme dor de cabeça, efeito colateral, do xarope. Minha mente divaga um pouco até eu me lembrar da minha prisão subconsciente. Apoio minha mão no chão, na tentativa de me sentar, mas ela escorrega. Nada no mundo poderia ter me preparado para o que vejo. Katniss está aqui. Ao meu lado. Deitada em uma terrível e enorme poça de sangue.

– Katniss está aqui – sussurro, enquanto lagrimas escorrem em meu rosto. – Katniss está aqui... Mas ela está morta.

Fico um tempo, imobilizado, sem saber se isso é real, ou se estou tendo mais algum tipo de pesadelo. Passo os dedos no sangue que está no chão, e sei que é real. Levo minhas mãos ao rosto, e choro. Eu grito, a plenos pulmões, sem me importar se alguém vai ouvir e virá me matar. Na verdade é isso que eu desejo. Eu choro, como se minhas lagrimas pudessem traze-la de volta. Eu poderia aguentar tudo, menos ver Katniss assim. Sinto uma pontada no coração, uma dor muito pior do que ter a perna cortada por uma espada. É como ter o coração cortado por uma espada. Minha cabeça dói. Eu perdi tudo, penso. Eu perdi Katniss.

Pego minha jaqueta, e passo sobre seu rosto, para tirar todo aquele sangue. Olho-a, aproveitando esse último momento, mas as lagrimas, embaçam minha visão. Quando eu vejo uma coisa. Esfrego meus olhos, e olho com mais atenção. Um sorriso débil, toma conta do meu rosto, e eu sinto que vou desmaiar, no momento em que percebo que ela está respirando. Ela ainda está respirando.

– Nem que você tente, Katniss, você não vai morrer – sussurro, enquanto posiciono minha jaqueta em sua testa, para estancar o sangue que ainda escorre. – Eu não vou permitir isso, eu prometo. E a partir de agora, sem mais promessas quebradas.


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