Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 31
Parte 31




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— Você não vai morrer. Eu proíbo isso. Está certo? – Katniss me diz, parecendo realmente acreditar em suas próprias palavras.

— Está certo — sussurro. Não quero começar uma discussão, depois de experimentar uma sensação tão, especial. É essa a palavra que descreve esse momento tão íntimo que acabei de ter com Katniss. É essa a palavra que define, a realização de meu único e último desejo. Ela saiu da caverna, depois do beijo. Constrangida, talvez. Está começando a ficar mais escuro. Quando isso acontece eu sei o que vem a seguir. Talvez meu corpo estava esperando meu desejo se realizar, para desistir de lutar. Não me rendo, vou adormecendo lentamente.

Parece um sonho, o lugar a qual estou preso. Sei que não é real. É tudo tão lindo. Katniss corre em minha direção, feliz como nunca a vi, e então pula em meus braços, colando seus lábios quentes nos meus.

Acordo assustado, e não consigo acreditar que parte do meu sonho foi real. Katniss está mesmo me beijando, de novo. É muita felicidade em meio a tanta dor. Ela se afasta, e eu fico olhando para seu rosto, sem entender direito, porque só o fato de ficar perto dela, me deixa tão feliz, a ponto de amenizar meu sofrimento.

Só agora vejo um pote em suas mãos.

— Peeta, olhe o que Haymitch te mandou – ela levanta o pote, parecendo feliz, de certa forma.

Fico ansioso, achando que possa ser algo que ajude a salvar minha vida. Quando Katniss abre o pote, vejo que é um caldo, sopa. Minha felicidade desaparece, enquanto Katniss suplica para que eu tome, pelo menos um pouco. Ela faz questão de dar na minha boca, e desse jeito, não tenho como resistir. Ora ou outra, acho que vou vomitar, mas ela me acalma, passa as mãos por meu cabelo, e me beija. Isso faz eu me sentir bem novamente. Bem o suficiente para tomar mais um pouco do caldo. Para quem achava que nunca ia poder beijar Katniss, me enganei muito. É óbvio que ela está me beijando para atrair a atenção da audiência, e conseguir patrocinadores. Mas eu duvido, com todas as minhas forças, que lá no fundo, ela não sinta pelo menos alguma coisa, uma faísca que seja. Ela não seria capaz de acender toda essa esperança, esse fogo dentro de mim, sem sentir algo também. Eu sei que pode parecer absurdo, mas eu acredito nisso. É tudo que eu tenho para me apegar. Insisto para ela tomar um pouco, mas ela não o faz. O caldo, faz eu sentir ainda mais frio, e minha sonolência volta. Sei que vou apagar logo, torço apenas para conseguir acordar.

Os sonhos recomeçam, mas dessa vez são pesadelos. Eu quero acordar, mas sinto que estou preso, no fogo, tremendo de frio. Nada faz sentindo, está tudo embaralhado como quando fui picado por aquelas vespas. Suplico que Katniss me tire daqui. Ela chega, com um vestido vermelho da cor do fogo que me prende, me estende a mão, me tirando desse mar de torturas.

Acordo, atormentado, e não vejo Katniss em lugar algum. Não seria uma boa alternativa gritar, mas é só o que posso fazer, já que não consigo levantar.

– Katniss – grito – Katniss!!

Nada, nem sequer um ruído. Tento me levantar desesperadamente. Inútil. Tento ao menos me arrastar até a boca da caverna, mas o medo de algo ter acontecido a Katniss, parece ter sugado minhas forças.

Depois do que parece uma eternidade, ouço passos. Estremeço, pois pode ser qualquer pessoa. Quando vejo Katniss, minha respiração volta ao normal.

— Eu acordei e você não estava aqui — eu digo. — Estava preocupado com você.

Ela ri. Minha tensão vai diminuindo.

— Você estava preocupado comigo? Já se olhou ultimamente?

— Pensei que Cato e Clove tinham te encontrado. Eles gostam de caçar a noite — digo, sério, sabendo que isso é verdade.

— Clove? Quem é essa?

— A garota do Distrito Dois. Ela ainda está viva, certo?

— Sim, há apenas eles e nós, Thresh e cara de raposa.

— Cara de raposa? – pergunto, achando graça desse apelido.

— Esse é o apelido que eu dei para a garota do Cinco. Como você se sente?

— Melhor do que ontem. Essa é uma enorme melhoria sobre a lama. Roupas limpas, remédio, saco de dormir... e você – digo meio envergonhado com essa declaração, mas eu sei que ela acha que tudo é por causa dos jogos, nossa “encenação”. Se ao menos ela soubesse que isso é real, para mim.

Ela estende a mão, para tocar minha bochecha, eu consigo me mover rápido o suficiente, para pegar sua mão e levar até meus lábios. Sua pele, é tão quente, e por mais que pareça improvável, tem um cheiro tão bom, tão...seu.

— Sem mais beijos para você até que tenha comido – ela diz, parecendo grata por ter uma desculpa para não me beijar.

Não consigo deixar de me sentir magoado. Katniss me ajuda a sentar, encostado na parede, enquanto me obriga a comer o mingau que ela preparou. Depois de tomar tudo, recuso as ervas. Percebo que Katniss está agindo, como se estivesse no automático. Ela parece realmente exausta. Percebo que desde que me encontrou, ela não dormiu, eu acho. Não que eu tenha visto. Enquanto eu, durmo de tempos em tempos. Fico envergonhado com isso.

— Você não dormiu — digo.

— Estou bem — ela responde, sem convicção.

— Durma agora. Vou ficar observando. Vou te acordar se algo acontecer – digo firmemente.

Ela hesita.

— Katniss, você não pode ficar acordada para sempre – digo, olhando fixamente para ela.

Ela pensa um pouco, e então concorda. Até porque ela não pode mesmo ficar acordada para sempre.

— Tudo bem. Mas só por algumas horas. Então você me acorda.

Ela estica o saco de dormir em que eu estava, no chão da caverna e se deita com o arco na mão. Estou sentado ao seu lado, encostado na parede, distraindo meus pensamentos com Katniss, para não pensar na dor em que estou sentindo.

— Vá dormir — digo, deixando todo meu amor transparecer em minha voz.

Começo a afagar uma mecha de cabelo que está caída sobre sua testa. Ela se incomoda no começo, mas depois parece até gostar. Não tanto quanto eu. Olho para ela, enquanto seus olhos vão se rendendo ao cansaço, lentamente. Logo vejo que ela está dormindo, tão profundamente. Em pensar que eu quase a perdi. Que eu quase a vi morrer. Afasto esses pensamentos, pensando que eu não posso perder algo que nunca foi meu. Mesmo depois de ela ter adormecido, continuo afagando seu cabelo, lutando para não apagar. Lutando para não gritar com a dor que estou sentindo. Lutando para não esquecer que nem tudo está perdido. Eu ainda posso ter uma chance, por mais remota que seja, de um dia habitar o coração de Katniss. Pensar nisso faz meus olhos encherem de lagrimas, e agora eu tenho é que lutar, para não deixar essa enxurrada de lagrimas que está se formando, escorrer.


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