Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 29
Parte 29




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A felicidade inicial passa, e minha razão a substitui por receio. Ela está aqui me procurando. Ela está viva afinal. Se eu ficar quieto ela pode não me achar. Algo me diz, que ela está aqui, para me matar, pois ao meu ver, ela me acha um monstro. Mas que sentido faz ela me matar quando nós dois podemos continuar vivos? Não sei nem se eu ainda sou capaz de produzir algum som.

— Está aqui para acabar comigo, docinho? – digo, surpreso por conseguir falar, mesmo sendo quase inaudível.

— Peeta? — ela sussurra. — Onde você está? Peeta?

Nesse momento, sinto um peso sobre minha perna, justo a que está em um deplorável estado.

— Ora, não pise em mim – gemo.

O peso sai de cima de mim, e eu abro meus olhos. Ela está aqui. Isso parece um sonho. Talvez eu tenha morrido, e isso seja uma espécie de sonho mesmo. Ela parece realmente assustada, e eu não consigo segurar um sorriso.

— Feche seus olhos novamente — ela ordena, ainda assustada.

Eu obedeço, enquanto ela se ajoelha ao meu lado. Se ela tivesse vindo para me matar, já teria o feito. Um estado de total paz paira sobre mim.

— Acho que todas aquelas horas decorando bolos vieram a calhar.

Eu sorrio novamente. A felicidade que nosso encontro me proporcionou é tão grande, que eu certamente iria sorrir por qualquer coisa.

— Sim, glacê. A defesa final dos moribundos – respondo, ainda com um sorriso bobo estampado em meu rosto.

— Você não vai morrer — ela diz, firmemente.

— Quem disse? — digo, reconhecendo que na realidade isso é só uma questão de bem pouco tempo.

— Eu disse. Estamos no mesmo time agora, sabe.

Consigo abrir meus olhos novamente, e a encaro.

— Então, ouvi dizer. Que legal da sua parte achar o que restou de mim.

Ela puxa uma garrafa e me dá um pouco de agua para beber.

— Onde Cato te cortou? — ela pergunta. Penso, em como ela sabe disso.

— Perna esquerda. Bem acima — eu respondo.

— Vamos te colocar no riacho, te lavar para que eu possa ver que tipos de machucados você tem.

— Incline-se um minuto primeiro — eu digo. — Preciso te dizer algo. Ela se inclina e coloca o ouvido em meus lábios, enquanto eu sussurro.

— Lembre-se, estamos loucamente apaixonados, então não tem problema me beijar quando sentir vontade.

Digo, na esperança de faze-la rir. Ela levanta a cabeça rapidamente e acaba rindo mesmo. Para quem estava prestes a morrer, as coisas estão muito bem agora.

— Obrigada, lembrarei disso – ela responde.

Eu sei que o pior está por vir. Eu não faço ideia de como ela pretende me levar até o riacho, porque eu nunca conseguirei sair daqui. Ela tenta me arrastar, e eu tento não chorar. Se a dor já era enorme antes, agora que estou tentando me libertar de toda essa lama e folhas, está insuportável. Gritos involuntários de dor escapam de minha boca. E eu ainda não me movi um centímetro.

Sem outra alternativa, ela me dá um puxão gigantesco, o que me tira debaixo daquilo tudo, mas me faz quase morrer de tanta dor. Lágrimas quentes rolam no meu rosto, sobre a fina camada de lama que restou. Eu cerro os dentes para sufocar os gritos de agonia que emergem.

— Olha, Peeta. Vou te rolar até o riacho. É bem raso lá, tudo bem? — ela diz.

— Excelente — digo, com os dentes ainda cerrados.

Ela agacha ao meu lado, decidida.

— No três — ela diz. — Um, dois, três!

Não consigo respirar. A dor invade cada parte do meu corpo fraco, me sufoca. Pela dor em minha garganta, devo estar gritando, mas não consigo saber. Ela para de me rolar abruptamente. Ainda não conseguimos chegar até o riacho. Mas eu certamente não aguentarei rolar mais uma vez. Katniss está em pé, pensativa.

— Está bem, mudança de planos. Não vou te colocar totalmente dentro.

— Nada mais de rolar? — pergunto, grato.

— Já acabou. Vamos te limpar. Fique de olho na floresta por mim, está bem?

Eu assinto. Ela hesita por um instante, mas logo começa a me lavar. Enquanto ela esfrega suas mãos em meu corpo para retirar a lama, chego até a ficar feliz com tudo o que me aconteceu, pois sem isso, eu não estaria aqui, com Katniss. Sentindo suas mãos, sentindo o calor que emana de seu corpo. Eu poderia morrer agora, morreria feliz. Ela tira minha jaqueta e rasga minha camisa para tira-la, pois ela está grudada em meus ferimentos. O laço de intimidade entre nós está crescendo cada vez mais. Dói pensar nisso, sabendo que meu tempo de vida está cada vez mais curto em compensação.

Ela me apoia contra uma pedra, e termina de lavar meu rosto, meu cabelo, meu peito, minha barriga. Eu fico imóvel. Pois além de não conseguir me mexer, nunca imaginei um contato tão direto de suas mãos em minha pele. É uma sensação boa. Até que ela começa a retirar os ferrões das picadas, o que quase me faz chorar de novo. Em seguida ela mastiga umas folhas e coloca em cima, o que parece puxar toda a dor. Respiro aliviado. Ela lava minha jaqueta e camisa, enquanto seco no sol. Em seguida aplica um creme em minha pele. Da cintura para cima pareço quase recuperado. O que preocupa agora, é minha perna.

Ela tira uma pílula de sua mochila, e coloca em minha boa.

— Engula-as — ela diz, e eu obedeço. — Você deve estar faminto.

— Na verdade não. É engraçado, eu não tenho estado faminto há dias — digo, percebendo que a fome vem tão rápido quanto passa.

Ela me oferece um biscoito, e eu afasto-o, enjoado.

— Peeta, precisamos te dar comida — ela insiste.

— Vai simplesmente voltar — respondo.

Ela insiste, e me dá de comer, uns pedaços de frutas secas.

— Obrigado.Estou muito melhor, sério. Posso dormir agora, Katniss? — pergunto, sentindo que estou prestes a apagar novamente.

— Logo — ela promete. — Preciso olhar para a sua perna primeiro.

Eu estremeço, sabendo que ela não pode fazer mais nada. Por mais que eu queira sobreviver, por mais que ela também queira isso, meu destino está traçado. Irônico é morrer, graças a espada de Cato, o que eu sempre temi. Mais irônico que isso, é morrer justo agora, que toda essa desgraça poderia terminar bem. Voltar com Katniss para a casa, seria a minha segunda chance de dizer a ela, sobre o meu amor, verdadeiramente. Mas essa é uma segunda chance, que eu nunca vou ter.


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