Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 21
Parte 21




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As quatro horas seguintes, converso com Haymitch cada detalhe da nossa “tática” de jogo. Como eu devo conduzir a entrevista para esse assunto, como eu devo criar um suspense e no fim dizer quem é a tal garota.

– Iremos vender muito bem essa história toda – Haymitch festeja quando damos por encerrado nosso treinamento.

Tento ao menos sorrir. Sem sucesso. Me sinto horrível por estar agindo assim. Mas toda hora minha consciência grita “é para o bem de Katniss, é para o bem de Katniss”, aí volto a me concentrar, deixando pelo menos um pouco meus sentimentos de lado.

Quando vamos almoçar, a tensão que estava me consumindo a manhã inteira, parece ter evaporado. E eu me permito conversar um pouco com Haymitch, sobre coisas banais, coisas que não envolvem esses malditos jogos. Katniss entra na sala, acompanhada por Effie, e nos olha, fazendo eu me lembrar de tudo o que aconteceu no café, fazendo com que eu me sinta um traidor novamente. Almoçamos em silencio, e depois Katniss sai da sala com Haymitch, e eu com Effie.

Quando chega a hora do meu treinamento com Effie, penso no que ela pode me ensinar. Mas para a minha surpresa, aprendo muita coisa. Postura, sorrisos, carisma, andar, sentar. Foi mais cansativo que com Haymitch.

– Você se saiu tão bem – Ela comenta, com os olhos brilhando.

Tento dizer alguma coisa, mas não consigo, estou esgotado. Vou para meu quarto e tomo um longo banho. A água quente parece levar embora um pouco da tristeza que sinto no momento. Não vou mais chorar, prometo a mim mesmo. Já chorei o bastante nesses últimos dias. Penso naquela manhã da colheita, quando eu cheguei a desejar ser sorteado. As coisas seriam bem mais fáceis, se qualquer outra garota estivesse aqui comigo. Eu estaria mais conformado com a situação. Mas o destino me pregou uma peça. E Katniss está aqui comigo, agora. De alguma forma ela sempre esteve comigo mesmo.

Desço para o jantar, mas Katniss não está lá. Como um pouco, enquanto Haymitch bebe. Ele merece afinal, foi um dia e tanto. Effie anda pra lá e para cá, e isso está me irritando. Além de não comer, não consegue ficar parada? Antes que eu desconte minha raiva em alguém, volto para o meu quarto. Fico olhando a cidade pela janela, e penso que tipo de pessoa eu seria, se tivesse nascido aqui. Será que eu iria gostar desses jogos? Iria esbanjar comida sabendo ter montes e montes de gente que morrem de fome? Vou para minha cama, e me enrolo nas cobertas, com uma última pergunta martelando em minha cabeça... Será que eu iria conhecer Katniss, se eu tivesse nascido aqui? A resposta é óbvia, a resposta é não. Adormeço aos poucos com um pensamento um tanto absurdo em minha mente. Se eu tivesse a chance de escolher onde viver, ainda escolheria o distrito 12. Perto de Katniss, é o único lugar que eu quero estar.

Minha equipe de preparação me acorda. Pela primeira vez, desde que cheguei aqui, tive uma noite de sono descente. A última da minha vida, provavelmente. É triste pensar assim. Eles começam o trabalho, e só terminam á tarde. Me olho no espelho e tomo um susto. Minha pele parece de porcelana, chega até a brilhar. Meus olhos parecem até mais azuis. Meu cabelo está impecável. Penso em como Katniss deve ter ficado magnífica. Se eu cheguei até a parecer bonito. Portia chega e sorri.

– Você está lindo Peeta.

– Obrigada Portia. Isso na sua mão, imagino que seja minha roupa?

– É sim – seu sorriso se abre ainda mais. – Você vai adorar.

Quando ela tira do embrulho, vejo que é um terno preto. Respiro aliviado, pois hoje não estarei idêntico a Katniss, já que pelo pouco que sei, ela provavelmente vai usar um vestido.

Quando termino de me vestir, todos ao meu redor parecem embasbacados. E quando eu me vejo, também fico. Meu terno é de um tecido que eu nunca vi antes. Nos punhos e na gola, há desenhos como se fossem chamas, e esses desenhos são feitos com pedrarias. Estou realmente bonito. É boa essa sensação. Estou ansioso para ver Katniss.

Nos encontramos no elevador. Quando vi Katniss, pensei se seria possível se apaixonar pela mesma pessoa duas vezes. Ela está magnifica. Ela está maravilhosa.

Quando o elevador se abre, todos os tributos estão reunidos, formando uma fila para ir até o palco. Durante as entrevistas todos nós iremos nos sentar no fundo do palco. Eu serei o último entrevistado. Nesse ponto, a multidão que está lá fora para nos assistir estará certamente entediada.

Antes de desfilarmos até o palco, Haymitch aparece atrás de Katniss e eu e sussurra:

— Lembrem-se, vocês ainda são um casal feliz. Então ajam de acordo.

Pelo suspiro que Katniss dá, percebo que ela não irá agir assim, nem em frente às câmeras, nem em lugar algum. Andamos em fila indiana até o palco, eu atrás dela, sentindo o seu perfume. Quando chegamos ao palco, nos sentamos enquanto o entrevistador Caesar Flickerman está saltitando pra lá e pra cá. Deve ser mania desse povo da capital, não conseguir ficar quieto. Ele veste um terno azul que parece estar cheio de luzinhas. Seu cabelo é azul, todo ano ele pinta de uma cor diferente, mas o penteado é o mesmo. Engraçado que desde criança, vejo ele fazer as entrevistas, e ele não mudou nadinha nesses anos. Suas pálpebras e lábios são azuis também. Ele é bem mais assustador pessoalmente. Ele conta algumas piadas, e a multidão deixa claro que o adora. Katniss não dirigiu uma palavra a mim nesse tempo. Não estranho essa atitude.

Ele finalmente começa as entrevistas. A carreirista do distrito 1 é a primeira. Tenho que admitir que ela é muito bonita. Enquanto olho a garota, vejo Katniss me olhar pelo canto do olho. Paro de olhar para o palco instantaneamente. Cada entrevista dura apenas três minutos. Quando o tempo acaba, soa uma campainha e o próximo tributo se levanta e vai até o centro do palco. O tempo parece voar, e eu começo suar, percebendo que não importa que tecido seja esse terno, ele é muito quente. Olho para Katniss as vezes. Ela está muito nervosa certamente, mas não demonstra isso. Não presto atenção nas entrevistas, pois não quero saber nada a respeito das pessoas que eu possa vir a ter que matar. Katniss estremece quando vê a garotinha Rue, do distrito 11 ir até o palco. Tão pequena, tão doce. Meus olhos ardem. Escuto o nome de Katniss ser chamado. Ela me olha, então se levanta e anda deslumbrantemente até o palco. Não consigo prestar atenção na entrevista. O que sei é que a multidão, ri, aplaude, e vai a loucura quando ela se levanta e rodopia no palco. Seu vestido vermelho parece estar em chamas. Cinna caprichou mais uma vez. Estou suando cada vez mais, afinal eu sou o próximo. Penso seriamente na hipótese de não me declarar para ela. Não ali. Mas a campainha soa. Caesar chama meu nome. Katniss volta para o seu lugar enquanto eu me levanto olhando fixamente para ela.

– Desculpa – sussurro tão baixo, que ela certamente não pode ouvir.

As pessoas parecem gostar de mim, de cara. É que eles ainda estão empolgados pela entrevista de Katniss. Enrolo um pouco comparando os tributos, com os pães de seus distritos, o que faz Caesar e a multidão gargalhar. Logo depois, executo a outra parte do combinado com Haymitch.

Falo sobre os chuveiros da capital, fazendo Caesar me cheirar, para ver que estou com cheiro de rosas. Até aí, está tudo indo muito bem. Eu sorrio, faço as pessoas rirem, Caesar está vibrando de empolgação. Mas por dentro, estou desesperado. Sem chão. A parte derradeira da entrevista está chegando. É agora que eu devo decidir o que fazer.

– Peeta, você tem namorada? – Caesar pergunta, enquanto a multidão fica em silencio.

Eu hesito, ainda pensando sobre o que fazer. Olho para Haymitch em meio à multidão, que com o seu olhar me incentiva a continuar com o “plano”. Então eu dou uma leve sacudida com a cabeça, negando.

— Um rapaz bonito como você. Deve haver uma garota especial. Vamos, qual o nome dela? — incentiva Caesar.

Parece que ele até combinou com Haymitch o roteiro.

Eu suspiro. Não quero fazer isso. Mas preciso. Então começo :

— Bem, tem essa garota. Eu tenho uma queda por ela desde que consigo me lembrar. Mas tenho bastante certeza de que ela nem mesmo sabia que eu estava vivo até a colheita.

A multidão suspira. Acho que vi algumas pessoas chorando.

— Ela tem outro cara? — pergunta Caesar.

— Eu não sei, mas muitos outros garotos gostam dela — respondo, pensando em Gale.

— Então, faça o seguinte. Ganhe, volte para casa. Ela não pode te recusar então, hein? — diz Caesar me encorajando.

— Eu não acho que vai funcionar. Ganhar... não vai ajudar no meu caso.

Eu começo a tremer. Sinto o olhar de Katniss em mim. Sinto meu rosto corar. Por Katniss, penso.

— Por que não? — Caesar pergunta, perplexo.

Respiro fundo. E então as palavras saem de minha boca, enquanto sinto como se uma faca estivesse enfiada em meu coração.

— Porque... porque... ela veio aqui comigo.


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