A multidão, parece ir a loucura quando nos veem. Gritam “Distrito Doze” sem parar, batem palmas. Fico curioso em saber como a gente realmente está. De repente nossa imagem aparece no telão, e fico impressionado. Estamos radiantes, estamos excepcionais. Katniss está um pouco séria, mas ela resolve me acompanhar e começa a acenar para multidão, com um sorriso maravilhoso. Ficamos assim, todo o tempo que durou o desfile, sorrindo e acenando para aquelas pessoas. Katniss até joga alguns beijos para eles, que pareciam quase desmaiar toda vez que isso acontecia. Isso está realmente dando certo. Será uma dívida eterna com nossos estilistas, pois eles realmente conseguiram fazer com que nunca sejamos esquecidos. No telão, aparece um close de Katniss, e ela parece quase inumana de tão bela que está. A multidão grita seu nome, e fico feliz por isso estar acontecendo. Mais chances para ela, o povo da capital com certeza ela já conquistou.

Ela de repente afrouxa seu aperto em minha mão, como se só agora tivesse percebido que estava segurando ela o tempo todo.

— Não, não me solte — eu digo, fazendo o meu tom de voz soar quase apavorado — Por favor. Eu talvez caia dessa coisa.

— Está bem — ela diz, me olhando como se não estivesse entendendo minhas atitudes ultimamente. Certamente ela não está.

As doze carruagens terminam o desfile parando bem em frente a mansão do Presidente, onde ele aguarda para nos dar as boas-vindas. O presidente é um homem magro, pequeno, e com o cabelo e barba brancos como a neve. Pessoalmente ele parece muito mais assustador. Mas não é de se estranhar que eu ache isso, já que desde que cheguei aqui, tudo parece me assustar, ou encantar. Quando a música para, e o presidente começa a falar, percebo que apenas nós estamos aparecendo no telão. Até quando o hino começa a tocar, a câmera passa rapidamente em cada par de tributo, e termina focando bem mais que o esperado em nós dois. Não é para menos, afinal estamos em chamas!

Começa a escurecer, damos mais uma volta em círculo, e depois entramos para o centro de treinamento.

Nossa equipe está lá nos esperando, e estão tão felizes que não dá para entender uma palavra do que falam. Todos os tributos nos olham, com certa fúria, afinal, roubamos a cena, toda a gloria desse desfile foi nossa. Portia e Cinna chegam para remover nossas capas, e Portia logo apaga o fogo com uma espécie de spray aerossol, enquanto fico petrificado percebendo que Katniss ainda segura forte a minha mão. Não quero que ela solte, aproveito cada segundo daquilo, quando ela parece perceber também e então a solta. Ela massageia os dedos, e eu faço o mesmo, pois apesar de estar apreciando aquilo, minha mão já estava doendo.

— Obrigado por ficar segurando em mim. Eu estava ficando um pouco trêmulo lá — eu digo, tentando mais uma vez, uma aproximação.

— Não pareceu. Estou certa de que ninguém notou.

— Estou certo de que não notaram nada além de você. Você devia usar chamas mais frequentemente — eu respondo, sentindo meu rosto corar. — Elas combinam com você.

Então eu sorrio para ela. Um sorriso que veio involuntariamente. Um sorriso que quer dizer mil coisas, mas que ao mesmo tempo não diz absolutamente nada. Um sorriso até bobo, mas que de alguma maneira reflete tudo o que eu sinto por ela. Para o meu espanto, ela fica na ponta dos pés e me dá um beijo na bochecha, bem em cima de meu machucado.

Mesmo depois de ela ter se afastado eu continuo sentindo aquele beijo. Continuo sentindo seus lábios quentes em meu rosto. Parece um sonho. Um lindo sonho. Levo minha mão até a bochecha, sabendo que este é o primeiro, e único beijo que serei capaz de ganhar dela. Fico ali, em silencio apreciando essa sensação que aos poucos vai diminuindo. Assim como o tempo que nos separa do início dos Jogos vorazes.