Ela estava sentada em uma casa qualquer abandonada. Sozinha, sem ninguém para conversar, discutir, perguntar. Ela sentia falta de sua vida de anos atrás. Falta de sua mãe, a mulher corajosa que sempre fora. De seu pai alegre e feliz e de Jonathan a protegendo e cuidando. Mas nunca mais foi assim depois da morte de sua mãe. Valentim virou outra pessoa. Jonathan também. E ela não os compreendia. E até agora não os compreendeu.

Ela fora criada em Idris até seus 12 anos. Nesse meio tempo vivera quase feliz. Esse quase era o fato das brigas de seus pais. Ela ainda tinha as imagens da cidade vivas. Como se estivesse lá agora. Mas algo deveria ter mudado.

Foi tirada de seus devaneios com o toque de seu celular. Levantou e andou preguiçosamente até a mesinha em que o mesmo estava. Simon. Simon aquele que um dia fora seu amigo. Aquele que dera o ombro para a pequena Clary chorar nos dias de briga dos pais. Que fugia de sua casa para ir até a casa dela e contar histórias. Que fora o único a não ligar quando soube que ela era diferente do outros. Que sempre esteve com ela. Não hesitou em atender.

–Simon? - ela disse com um tom de surpresa e felicidade.

–Eu mesmo Clary - ele respondeu e ela pôde sentir sua voz empolgada.

– E aí como você tá ? Como conseguiu meu telefone?

– Bem, eu tava sem sono aí resolvi procurar seu nome na minha lista telefônica. Aí eu achei Clary. E então, como o sono não vinha resolvi te ligar. Faz tempo que não nos falamos Fray.- ele respondeu. Ela sorriu em pensar que ele mesmo escolhera esse sobrenome para que ela pudesse circular pelo mundo das Sombras.

– Eu tinha esquecido Simon.E você, como vai o coração? - ela perguntou. Sabia dos sentimentos do amigo por uma certa pessoa.

– Novidades e muitas.- ele respondeu.

– Hum..-ela falou em tom malicioso.

–Pense o que quiser. Clary pôde sentir Simon corar.- Mas vamos falar de coisas sérias?

– Os ataques aos Seres do Submundo? -Ela já sabia a história toda. E não gostava nada. Não queria acreditar. Não naquilo. A imagem da família toda reunida vinha em sua cabeça. A mãe segurando ela no colo e Jonathan com as mãos dadas com o pai.

– Será que são eles mesmo? - ela disse.

– Clary tá na hora de aceitar. Seu pai e seu irmão nunca mais vão ser os mesmos. Nunca.

–Mas eles continuam sendo a minha família. - ela retrucou. Ele pareceu ponderar, como se estivesse em uma discussão com ele próprio.- Simon? Está aí?

– Clary venha pra Idris. Aqui você seria aceita.- ele disse de repente.

– Não sei não.

– Você seria bem vinda aqui Clary. Você sabe.- ele disse, mas ela conseguiu notar notar a dúvida em sua voz.

– Simon? Lembro o que fizeram comigo após saberem do meu tão magnífico dom? E não é só isso. Se eu fizer isso seria como se eu tivesse traído meu pai e meu irmão. A minha única família.

– Clary preciso desligar. Estão me chamando.

– O.K. , vai lá Simon. Deve ser a Isabelle.- ela brincou.

– Haha. Sexto sentido modo on?- ele respondeu.

– Não, não. Até mais Lewis.

– Até Fray.- e então sentiu o telefone mudo. Ela estava feliz por Simon estar apaixonado. Ela não acreditava no amor. Não. Na verdade ela não acreditava que ela poderia amar. Não depois de perder toda a sua família. Mas ela acreditava no amor dos outros.

Clary pensou .Será que ele estava mesmo certo?Ela já estava cansada de se esconder do mundo. De fingir ser o que ela nunca foi, o que nunca vai ser. Mas era muito mais do que palavras. Ela sempre amou seus pais e irmão. E se ela tivesse que matá-los? Será que escolheria a justiça?

Dúvidas surgiram em sua mente e, com todas essas preocupações, incertezas, pensamentos e sentimentos ela fechou os olhos e dormiu.