O Caso da Decoradora escrita por Mahii


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aqui est! Nunca tinha escrito sobre vampiros, vejamos como me sai.
Boa leitura!



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Eu sou alguém que preza a limpeza. Por certo, muito mais do que os humanos normais, e, por normais, eu quero dizer "vivos". Sempre vejo pessoas indignadas quando menciono minha fixação pela limpeza, sem entender qual a anormalidade disso. Um vampiro não pode ser higiênico? Só porque estou tecnicamente morto? Se fossem os antigos cidadãos de séculos atrás, eu até entenderia o desconforto, todavia, vampiros estão extremamente populares e são todos limpos.

Acordava por volta das duas horas da tarde, apenas para limpar com avidez o local onde morava. Nos últimos anos, havia vendido minha mansão na Transilvânia e a trocado por uma casa mais simples numa cidade vizinha à Londres. Essa casa era ótima, espaçosa, e com considerável número de quartos. E por ter sido eu a comprá-la, tive uma sensação completamente diferente, a sensação de possuir algo do zero, que será completamente seu. Que tem a sua cara, que te representa. Agora, quanto a decoração... A decoração me dá tanto desgosto!

"Triiim... Triiim... Triiim..." -- ouvi o telefone e larguei imediatamente a vassoura, indo atender com animação.

-- Alô, Smith falando -- sorri para o nome postiço que havia encontrado dessa vez, tão criativo!

-- "Olá, Sr. Smith! Aqui é a Oliver, a Designer de Interiores" -- deu uma pausa, esperando que eu a reconhecesse.

-- Claro, bem me lembro. Temos uma reunião marcada para hoje, estou certo? -- a ideia de ter visitas era bastante agradável.

-- "Isso mesmo! Estou ligando para confirmar. Está tudo certo?" -- tinha uma voz de menina, era estranho não ver sua faze.

-- Sim, estou te esperando às cinco horas -- o sol já estaria se pondo à esse horário. Seria bom caso ela quisesse ver o quintal.

-- "Tudo bem, já já apareço ai, Sr. Smith. Obrigada" -- e assim terminei a curta conversa.

Continuei a arrumar a casa, principalmente o meu "quarto da bagunça", vazio, com algumas correntes nas paredes e uma janela que ficava sempre fechada. Toda vez, eu acabava trazendo minhas vítimas para cá, então já deve imaginar a real bagunça desse cômodo, era sujo e deplorável. Atualmente, a vida não está fácil para um pobre cidadão vampiro. As ruas são cobertas de câmeras de segurança e se suspeitarem de você, aparecem policiais peritos na sua casa. E esses tais peritos são munidos da mais alta tecnologia para encontrar seus vestígios. Eu sou eternal, não imortal, tenho que me cuidar.

Era preciso ser muito mais discreto na cidade grande, mas, por outro lado, tinha como benefício a enorme disponibilidade de vítimas, dava até pra escolher! Nunca a variedade de sangues foi tão grande!

"Dlim... Dom..." -- a campainha tocou e foi na hora certa. Eu já havia penteado os cabelos, que ganharam um corte moderno, disfarçado a palidez com alguma maquiagem e colocado uma roupa asseada. Assim estava quase normal. Toquei o interfone.

-- Olá, quem é? -- deveria ser a decoradora, só perguntava para confirmar.

-- "Sou eu, a Oliver" -- logo reconheci a voz meiga.

-- Escute Oliver, eu vou abrir o portão automático e quero que entre. A porta da sala está aberta. Entre e feche a porta -- dei as devidas instruções, visto que o sol ainda brilhava lá fora. Se eu fosse abrir a porta, provavelmente entraria em contato com a luz mortal.

-- "Hum... Tudo bem, Sr. Smith" -- após ouvir a confirmação, desliguei o interfone e me sentei no único sofá da sala, colocado de costas para a porta.

"Nhac..." -- a maçaneta virou e logo ouvi o som da porta se fechando e passos em minha direção. E então vi a jovem mulher, carregando uma grande bolsa e parecendo um pouco nervosa. Pele amorenada, grandes olhos esverdeados e cabelos compridos, negros e cacheados. Vestida com um terninho preto formal, não deixava de aparentar ter no máximo vinte anos.

-- Olá, prazer em conhecê-lo, Sr. Smith! -- se colocou à minha frente e estendeu a mão.

-- O prazer é todo meu, Oliver, obrigado por ter vindo -- apertei-lhe a mão e apontei para o lugar ao meu lado no sofá -- Sente-se, por favor.

-- Tudo bem -- ela se sentou e logo tirou um tablet de dentro da bolsa -- Ahn... Essa é a primeira vez que contrata um designer de interiores? -- perguntou enquanto abria algum programa no aparelho.

-- Na verdade é a quarta vez, mas com as outras não deu certo. Eu comprei essa casa há pouco tempo. Antes, eu morava numa mansão bastante antiga que pertencia à minha família, ela já era toda mobiliada e tinha aquela decoração macabra, sabe? -- percebi seu olhar bater no meu rosto algumas vezes, tive a impressão de que ela tinha me achado estranho.

-- Sei, provavelmente era algo sem personalidade, né? Você se sentia à vontade com aquela decoração? -- fazia as perguntas com bastante confiança. Era a chamada "entrevista com o cliente",

-- Ah, com certeza, me sentia muito à vontade. Mas para essa sala, eu pensava em algo com um toque de modernidade -- cruzei as pernas e coloquei as mãos sobre o colo, numa pose intelectual.

-- E essa sala vai servir para quê? -- começava a digitar no tablet, provavelmente anotando tudo que achava pertinente.

-- Bem... Eu, pessoalmente, não vou passar muito tempo aqui. Quero algo mais decorativo, para receber convidados, algo que me dê gosto admirar -- já estava com os olhos brilhando de orgulho, seria ótimo ter uma sala bonita! Até um vampiro se preocupa com a casa.

-- Hum... Então é uma sala de visitas, isso é muito bom de trabalhar -- sorriu, parecendo adorável -- Quantas pessoas pretende receber de uma vez?

-- Não muitas. Recebo convidados, mas nunca em grande número. Talvez umas cinco, no máximo -- entortei os lábios pensando nisso.

-- Ok, e... Quanto à decoração, tem algum estilo que goste? A sua antiga casa, tem fotos dela com você? -- perguntou, mexendo nos cabelos. Concordei com a cabeça e me levantei, indo ao cômodo do lado, abarrotado de tranqueiras. Peguei um álbum de fotos e levei até lá.

-- Aqui, olha... -- coloquei o livro velho e empoeirado sobre o sofá, próximo a ela e me mantive em pé. A jovem o pegou e abriu, estranhando alguma coisa.

-- Ahn... Que fotos antigas... -- virou algumas páginas -- Ah! Essas aqui são mais recentes, né? -- perguntou apontando para o álbum e apenas concordei -- Essa decoração... -- abriu um grande sorriso -- Parece até a mansão do Conde Drácula! -- caiu na risada.

-- Parece mesmo, né? -- franzi as sobrancelhas, abrindo um sorriso. Parece que ainda sou popular, graças àquele estouro no início do século XX.

-- Aliás, será que ele era mesmo um Conde? Nunca parei para ler ou assistir algo -- apesar de conversar, parecia bastante atenta às fotos.

-- Sim, ele era. Sua família tinha muitas posses e era bastante rica -- e eu dava graças à isso. Ainda dava pra viver uns 150 anos com o dinheiro acumulado. Depois disso é que eu não sei o que farei. Abrir uma empresa, talvez?

-- Puxa! Que sorte -- sorriu novamente -- Eu gosto de vampiros, acompanhei aquela série... Crepúsculo, sabe?

-- Ah, uma série de menininhas... -- virei a cara. Que Oliver mais idiota! Aquilo não era nada fiel à minha realidade. Quem dera minha vida fosse tão cintilante.

-- Oh, não! Eu estou desviando do assunto -- virou o álbum para mim -- Aqui... Essa era sua antiga sala? O hall de entrada?

-- Sim, era essa, com a escadaria -- estalei os lábios, olhando para a escadaria da nova casa, tão sem graça -- 'Tá vendo esse efeito de grandiosidade, essa escadaria era majestosa! Agora a que eu tenho aqui... Deplorável -- me sentei novamente ao seu lado.

-- Bem, sim. Essa da sua nova casa é bem mais moderna, tem o vidro, né? -- ela me entregou o álbum -- Então, você gostava da sua antiga sala? Quem ter ela de volta aqui?

-- Mais ou menos isso -- passei a mão pelo queixo, pensativo -- Eu tenho uma nova proposta, quero que quando alguém entrar aqui sinta medo. Quero que tenha algo que deixa a pessoa perplexa, agoniada, algo que não a deixe permanecer aqui dentro.

-- O quê? Tem certeza? Assim seus convidados vão querer ir embora logo -- colocou uma questão em que eu não havia pensado bem.

-- Ah, isso é... Já sei! Faça uma sala clássica, lembrando bastante a minha anterior. e coloque algo, que ninguém saiba dizer porquê, mas que passe certa agonia, mal estar -- sorri, isso seria ótimo.

-- Posso te falar uma coisa? -- perguntou um pouco apreensiva e eu concordei com a cabeça -- Essa sala já é assim -- deu um sorriso de medo -- Desde que entrei aqui tive essa sensação de... Perigo. Talvez seja a iluminação, aqui é bastante escuro. Aquelas janelas não abrem? -- apontou para duas janelas, completamente fechadas.

-- Abrem, mas tenho alergia à luz do sol -- contei meio que a verdade, era bem pior que uma alergia.

-- Quê? Sério? Bem que eu te achei pálido! -- arregalou os olhos -- Então... Seria bom colocar umas cortinas, né? Conheço um tecido que tampa completamente a luz do sol. Podemos colocar essas cortinas e assim a janela poderia ser aberta para ventilação.

-- Ah, isso seria muito bom . Eu acho que aqui é abafado -- peguei um papel em cima da mesa de centro, o único móvel além do sofá, e entreguei à Oliver -- Aqui estão as medidas do cômodo. Achei mais fácil adiantar isso.

-- Obrigado, poupou bastante trabalho, a trena que eu trouxe é pequena -- guardou o papel dentro da bolsa que havia trazido -- Por acaso ainda tem os móveis da outra casa? Talvez possamos reaproveitar muitos deles, os quadros e os objetos...

-- Claro, estão num quarto aqui ao lado, venha comigo -- me levantei e em seguida ela fez o mesmo. Dei alguns passos em direção ao corredor e como não ouvi nenhum passo, me virei para a moça. Estava em pé, no mesmo lugar -- Venha.

-- Ah... É que... -- abaixou o olhar e balançou a cabeça para os lados -- Nada, vamos lá.

A primeira porta do corredor, era lá, a abri, revelando o cômodo bagunçado onde eu havia ido pegar o álbum de fotos. Era, provavelmente, do tamanho da sala, todos os objetos se encontravam fora de caixas, expondo o valor histórico que carregavam. Algumas coisas haviam sido compradas pelos meus pais! Isso quer dizer que deviam datar do começo do século XVII. Assim que a decoradora entrou no cômodo, pareceu ter se contido para não gritar, tapando a boca com uma das mãos. Depois andou de um lado para o outro, tocando em tudo que via.

-- Uau! Um sarcófago! -- gritou cheia de animação e eu fui até ela -- É de verdade?!

-- Sim, foi um amigo da família que nos deu, ele trouxe diretamente do Egito -- teve uma época em que eu amava dormir no sarcófago, era muito estiloso. Mas de uns tempos pra cá, parei de graça e fui dormir numa cama, o que é muito mais confortável.

E então a Oliver fez algo que não deveria ter feito. Primeiro ela prendeu os cabelos compridos num coque e revelou um belo pescoço! Ela era tão magrinha, dava pra enxergar a sua jugular, pulsando cheia de sangue. Olhei no relógio e percebi que já davam seis horas, já estava na hora de comer alguma coisa... Pobre moça! Não era nada saudável permanecer na minha presença quando estou com fome. Todavia, eu não sou louco, pode ter batido Aquela fome, porém eu consigo me controlar.

-- Ai! -- ela se levantou de trás de um móvel -- Eu não aguentei, aquilo era uma roca de fiar e eu coloquei o dedo. Por acaso tem um curativo? -- colocou o dedo bem na frente do meu rosto. Pude observar o sangue escorrer por toda a sua mão e uma gota grossa pingar sobre o chão. Que vermelho intenso, parecia delicioso.

-- Puxa... Ai tem muito sangue, né? Deve ter perfurado algum vasinho de sangue -- segurei seu pulso, trazendo sua mão mais para perto.

-- Será que isso é sério?! Aliás, você disse que trabalha com o corpo humano, você é médico? -- franziu as sobrancelhas, me olhando dúvida, desconfiança.

-- Não, estou bem longe disso -- não aguentei. O cheiro do sangue era igualmente bom, tanto quanto a aparência. Sorri, passando a língua por onde ele escorria, terminando sobre o dedo perfurado. Que delicioso, aposto que minhas pupilas haviam dilatado, eu estava sentindo aquela sensação instintiva e forte, predatória e sádica, em busca da presa.

-- Ah! Ei! -- puxou o pulso e deu longos passos para trás -- O que você 'tá pensando?! Seu louco! -- abraçou a mão machucada e eu pude ouvir sua respiração irregular. A pobrezinha já estava coberta de medo -- Por acaso está pensando em me estuprar?!

-- Antes fosse isso, aposto que iria preferir -- sorri com os dentes, expondo bem as presas e comecei a dar passos lentos em sua direção. Oliver adentrou mais o cômodo, virando num dos corredores que a mobília fazia.

-- O que é isso, Sr. Smith? Você está estranho... -- ela tentava se afastar, mas não aguentava a vontade de olhar para o meu rosto. Curiosa.

-- Como vocêé boba. Para começar, não devia ir sozinha à casa de um cliente. Tenho pena, pois você ainda é jovem e nem fez o meu projeto de decoração... -- continuava a dar passos em sua direção, até que seus olhos se arregalaram ainda mais.

-- Ah! Você... Você é um... -- colocou as mãos sobre os lábios.

-- Drácula, prazer -- estendi minha mão num cumprimento e em reposta ela correu para fora do cômodo, indo em direção à porta de saída. Nem me preocupei com aquilo, estava devidamente trancada e não abriria tão cedo.

-- Não! Abre a porta, me deixa ir embora! Drácula não existe, seu idiota! -- ela forçava a maçaneta, desesperada. Aquele cheiro palpável de terror me animava.

Em um pulo, eu estava ao lado dela. Oliver abraçou o pescoço com os braços, tentando protegê-lo. Eu me irritei e mordi seu braço, na altura dos músculos, onde eu sabia que doeria muito. Ouvi um urro de dor e chupei o local, segurando bem firme em sua cintura, para que não escapasse mais.

-- Seu sangue é ótimo, Oliver -- falei para provocar, enquanto enfiava as unhas onde a estava segurando. A pele dela era fácil de penetrar.

-- Ah, não! Espera, por favor, não faça isso! -- esforçou-se para respirar -- Eu prometo, deixo você chupar um pouco do meu sangue e então o senhor me deixa ir.

-- Isso não será possível, senhorita. Se eu fizer isso, vou criar uma ligação indestrutível entre nós e acabará virando uma escrava -- eu detestava essa ideia de humanos te servindo, a única solução era matá-los, tirando até a última gota de sangue. Segurei seus braços e os tirei da frente do pescoço -- Eu te matar, ok?

-- Não! Não me mata, por favor, não faça isso! -- era engraçado ouvir alguém implorando pela vida. Já ouvi isso tantas vezes que se tornou hilário.

Puxei seu cabelo, virando sua cabeça de lado e dei uma bela mordida. No instante seguinte me xinguei. Não era pra fazer aquilo ali na sala, ia sujar todo o piso que acabei de limpar! A arrastei, enquanto choramingava, até o quarto próprio para esse tipo de convidado. Prendi a jovem senhorita as correntes, para que ficasse na posição adequada e peguei uma grande garrafa de vidro, onde deviam caber uns 5 litros. Fiquei com a garrafa em mãos e finalmente pude morder sua jugular.

O sangue quente jorrava como uma fonte de água e eu podia dar vários goles com aquele líquido aveludado descendo goela abaixo. Chupei ali até que o sangue parasse de sair com intensidade. Deveriam ter sido uns dois litros, me encontrava satisfeito e coberto de boa parte do sangue. A pobre moça desacordada, provavelmente quase morta, essa era a hora de agir e não deixá-la morrer com o sangue que restava no corpo.

Fiz alguns cortes em pontos vitais, atingindo pontos de artérias nos braços, na parte interna das coxas e um certeiro na aorta. Mudei a posição das correntes, para que ela ficasse suspensa, com o corpo deitado na vertical, de forma que todo o sangue escorresse para o seu dedo indicador, colocado dentro da garrafa de vidro. Eu esperava que desse ao menos meia garrafa.

Me sentei enquanto observava e suspirei cansado. Essa já era a quarta decoradora que vinha aqui em casa e acabava devorada e morta. Tudo bem que, a Oliver realmente tem um sangue maravilhoso e que mereceu ser tomado, e as outras? Oh, também eram igualmente bons. Mas foram tão fáceis de matar, mulheres jovens e desprovidas de força. Talvez da próxima vez eu deva contratar um homem, pode ser bem mais divertido.

Fiquei rindo com minhas novas ideias e após um tempo, me levantei, indo trocar de roupa e tirar as marcas de sangue do corpo. Depois fui aproveitar a noite para caminhar e respirar ar puro. Quando voltasse iria dormir e ao acordar teria de limpar toda a casa suja de Oliver novamente. Pobre vida de Drácula fissurado em limpeza, quanto trabalho! Pobre de mim.


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Notas finais do capítulo

Achei que mesmo tendo esse tema, a história ficou muito "eu". Gostei de escrever, valeu a experiência!
Se leram até aqui, deixem um comment e até a próxima, pessoal!
^3^ kisus~~



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