Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO!!! Demorou mas postei. Geysa, muitíssimo obrigada pela linda recomendação. Eu amei ela!!! Você é que é a íncrivel. GENTEEE, 30 CAPÍTULOS!!! OUVIRAM BEM? EU DISSE: 30-CA-PÍ-TU-LOS. Cheguei até o capítulo 30 graças a vocês. Então... Obrigada a todos que leêm, obrigada a todos que comentam, que favoritaram, que acompanham, que recomendaram e obrigada aos fantasminhas. Quero conhece-los, hein!!! Boa leitura e... FELIZ TRIGÉSIMO CAPÍTULO PARA NÓS!!!



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Começamos a andar devagar até o palco, mas fomos parados porque Alice travou depois de ver o público enorme que a esperava. Nós tentávamos puxar ela, mas ela começava a andar para trás.

– Alice, vamos. – falou Peeta.

Ela olhou para Peeta apavorada. Se Alice tiver pesadelos durante a noite eu vou estrangular Plutarch. Peeta se abaixou e falou alguma coisa no ouvido dela, em resposta, ela o abraçou e Peeta a pegou no colo, a levando até as poltronas que estavam nos esperando, tinha inclusive uma para Alice. Nos sentamos, eu em uma poltrona, Peeta em outra com Alice em seu colo. O público gritava e vibrava. Eu fiquei meio que de lado para o público e de frente para Caesar, Peeta ficou de frente para o público em nosso meio. Alice mergulhou o rosto na camisa de Peeta e parecia se recusar a sair dali. Tinham minúsculos microfones em nossas roupas, menos no de Alice, pois ela o arrancava. Caesar segurava um microfone em suas mãos.

– Bem, é uma honra poder entrevista-los mais uma vez, Sr. e Sra. Mellark, será que agora podemos chamar vocês assim? – pergunta Caesar.

– Pode sim, Caesar. Agora estamos realmente casados. E, a honra é nossa de estar dando esta entrevista. – responde Peeta.

– Então essa é a garotinha que todos falam por aí?

– Bem, eu não sei. Há muitas garotinhas por aí com cabelos castanhos e olhos azuis.

Caesar dá uma gargalhada com o comentário de Peeta.

– Peeta, parece que você nunca irá perder o senso de humor. Parece que ela está um pouquinho encabulada.

– Ela se assustou, quer dizer... Ela nunca viu tanta gente olhando para ela.

– Ora, coitadinha. – Caesar se debruça um pouco mais e fala com Alice – Não se preocupe, ninguém aqui vai te machucar. Todos nós te amamos. Não é mesmo, pessoal? – pergunta Caesar ao público. Eles apenas gritam mais e vibram e Alice parece se assustar mais. – Então, me contem. Qual é o nome da nossa mini - Katniss?

– Bem, o nome dela é Katniss. Não... Brincadeira. Katniss não me deixou colocar o nome dela em nossa filha. O nome dela é Alice.

– Ah, Alice. Que belo nome. Magnifico. Quem escolheu o nome?

– Katniss.

– Oh, e por que você escolheu esse nome, Katniss? – agora chegou a minha vez de falar.

– Nenhum motivo especifico. Apenas achei um nome bonito. – respondi. Claro que era mentira, mas não iria contar a história da conversa que tive com Prim, Panem inteira não precisava saber o motivo de eu ter escolhido aquele nome.

– Pois bem, e quantos anos tem a pequena?

– Dois anos. – respondo.

– Peeta me disse que você não deixou ele colocar o seu nome em Alice. Qual seria o motivo desta proibição?

– Eu não gosto do meu nome. Espera um segundo. – olhei para a câmera mais próxima a mim e disse – Mãe, é muito provável que você esteja me vendo, então quero que saiba: Eu não gosto do meu nome. Me desculpa, eu sei que você escolheu com muito carinho, mas eu realmente não gosto do meu nome.

Caesar e Peeta riem, e todo o público os seguem.

– Mas por que você não gosta? – insiste Caesar no assunto.

– Porque é nome de planta. Ninguém merece ter nome de planta.

– O que?! Mas como assim?!

– Caesar, tente visualizar comigo: imagina um pai de família almoçando com seus filhos em pleno domingo. Entre arroz e carne e sei lá mais o que, há uma vasilha com uma salada de katniss. Então o pai come aquilo e diz para seus filhos: - eu engrosso mais a voz para parecer com a de um homem – “Crianças, enquanto eu comia esta salada, me lembrei de uma história. Vocês já ouviram falar do Tordo que mudou Panem inteira? Pois é, seu nome era Katniss, o mesmo nome que esta salada tem. Então veja só: estamos comendo tordos também” – volto com a voz normal – Poxa Caesar, ter um nome de planta não dá muito certo.

Mas Caesar apenas ri e o público se contorce em suas cadeiras enquanto secam as lágrimas dos olhos.

– Parece que a nossa Garota em Chamas ainda pega fogo. – comenta Caesar.

– Você não faz ideia de como. – completa Peeta.

– O que você quer dizer com isso Peeta? – pergunta Caesar.

– Quero dizer que essa mulher na cama... – Peeta não termina a frase, pois o interrompo.

– PEETA!!! PELO AMOR DE DEUS!!! – falo começando a ficar vermelha.

– Ah, mas amor... – ouço vários suspiros do público quando Peeta me chama de “amor” - ... eles fazem alguma ideia que fazemos certas coisas, afinal, Alice não é adotada.

– PEETA!!! CALA ESSA BOCA!!! – eu mergulho meu rosto entre as mãos sentindo o meu rosto queimar por completo. – Não acredito nisso. – eu sussurro, mas como tenho um microfone preso na roupa, pude ouvir minha própria voz nos alto-falantes.

Só ouço as risadas vindo da plateia. Maravilha. Virei alvo de piadas. Eu sou a palhaça aqui agora. Peeta vai me pagar por isso mais tarde.

– Bem, estou vendo que Katniss não se sente muito confortável com este assunto então vamos partir para outro. – Caesar muda o foco do assunto. – Então, o que estão achando de serem pais?

– Eu estou adorando. – Peeta começa. – Nunca pensei que poderia amar tanto uma criaturinha deste tamanho. – diz ele olhando para Alice, que continua com o rosto mergulhado na camisa de Peeta. Será que ela está viva ainda? Fiquei tentada a levantar da cadeira e ir conferir. – Comecei a ama-la no momento que Katniss me falou que eu seria pai. Nunca tive uma sensação como aquela. O mundo sumiu quando a vi em meus braços pela primeira vez.

– Peeta, como sempre, muito profundo. E você, Katniss? Não se acanhe. Me fala.

– Bem, eu no inicio não queria ter filhos. Nunca achei que seria uma boa mãe, já perdi tanta gente e tive medo de perder mais. Mas Peeta insistia tanto. Ele a queria mais que qualquer coisa. Chegou um ponto que eu também senti a necessidade de ter aquela criança... De dar aquela criança a Peeta. Então eu resolvi que teria um bebê. Eu não esperava que isso fosse me mudar tanto, mas me mudou. Na verdade, mudou tudo em mim. Eu não pensei que pudesse amar tanto alguém, mas eu amei... EU AMO!!! Agradeço todo dia por Peeta ter me enchido o saco para ter esta criança, porque sem ela tudo seria diferente.

Não notei que tinha falado tudo aquilo, eu não estava mentindo, apenas falei o que sentia. Peeta me olhou boquiaberto e vi seus olhos marejados. Apenas sorri para ele. Vi que Caesar também não soube o que falar, e só então notei o silêncio mais profundo vindo da plateia.

– Bem, isso foi muito lindo, Katniss. Mas eu tenho mais uma pergunta. – fala Caesar.

– Diga. – eu estimulei

– Quero saber como foi perder o primeiro bebê. – ele se referia ao bebê que não existia, o bebê que Peeta inventou para tentar interromper os Jogos.

Peeta me olhou confuso, parece engraçado, mas vi um grande ponto de interrogação em seu rosto. Então ele não se lembra. Ele não lembra da mentira que havia contado alguns anos atrás. Ele não lembra de algo que ele mesmo inventou. Apagaram até isso dele.

– Bem, foi terrível. – comecei a falar. – Mas acho que de qualquer forma, não conseguiria criar um filho naquela época, seria muita coisa para minha cabeça. Não teria tempo. E talvez, a própria criança saísse complexada daquela revolução. Então achei que perder aquela criança não tinha sido de todo ruim. Me ajudou a não sofrer e a ele não sofrer também.

– Sim, compreendo. – afirma Caesar e logo se vira para Peeta. – E você Peeta, como foi descobrir que seu filho não existia mais?

Peeta ficou em silêncio por alguns segundos, talvez procurando em sua mente aquela lembrança, por fim ele inventa alguma coisa.

– Eu fui para o Distrito 13, esperando encontrar Katniss e meu filho, então tive o choque de encontrar só Katniss. O que foi bom, pois eu tive o risco de perder os dois. Mas é como a Katniss disse: Não tínhamos cabeça para cuidar de um filho naquela época.

– Bem, compreendo isso. Mas parece que Alice ainda está com medo de nós. Vamos Alice, nós somos pessoas legais.

Alice não se atreveu a tirar o rosto da camisa de Peeta, apenas deu uma pequena remexida no colo de Peeta.

– Vamos, filha. Todo mundo esta aqui para te ver. – estimula Peeta, mas não dá certo.

– Tudo bem, sabem o que eu queria mesmo? – pergunta Caesar.

– O que? – pergunta Peeta.

– Ouvir a linda voz de Katniss. Ela é uma bela cantora.

Peeta me olha esperando que eu cante, eu não tenho escolha. Então apenas abro a boca e começo a cantar a Canção do Vale.

– “Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro/ Um leito de grama, um macio e verde travesseiro/ Deite a cabeça e feche esses olhos cansados/ E quando eles se abrirem, o sol estará alto nos prados...”

Paro de cantar, pois ouço uma voz cantando junto comigo. Alice desenterrou o rosto da camisa de Peeta e vejo Caesar aproximar o microfone de sua boca enquanto ela termina de cantar a música:

– “Aqui é seguro, aqui é um abrigo/ Aqui as margaridas lhe protegem de todo perigo/ Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei/ Aqui é o local onde sempre lhe amarei.”

Uma lágrima escorre do meu olho, uma lágrima escorre do olho de Peeta, e me surpreendo quando vejo uma nos olhos de Caesar. Mas meu choque é quando vejo o público inteiro a chorar. Alice parece não ter mais medo.

– Olá pequena Alice. – diz Caesar devagar e com calma.

– Olá homem do cabelo azul. – diz Alice.

Não preciso dizer que até o próprio Caesar riu dessa.

– Ah, você notou. Gostou do meu cabelo?

– Sim, é azul igual o céu.

– Você parece conhecer bastante as cores.

– Papai me mostrou todas as cores. O verde das árvores, o azul do céu, o amarelo do sol, o branco das nuvens.

– São muitas cores, não é mesmo?

– São, são muitas.

– E o que mais seu pai faz?

– Ele faz comida. Eu gosto muito da comida do papai. É a melhor comida do mundo tooooodinho.

– Mas do mundo tooooodinho? Tem certeza?

– Tenho. – diz Alice com convicção.

– E essa música que você cantou? Onde você aprendeu?

– Com a mamãe. Ela sempre canta. Canta pra mim... Pro papai... Pra todo mundo.

Alice sai do colo de Peeta e para na frente de Caesar.

– Você é muito bonita, sabia?

– EU SEI!!! – grita Alice. Todos começam a rir.

– Ah, você sabe? E por que será que você é tão bonita?

– Porque sou filha do meu pai. – diz Alice apontando para Peeta.

Agora todos explodiam de tanto rir, inclusive Peeta que chegou a ficar até corado com o que Alice disse.

– Isso é culpa de Peeta. – afirmo.

– PEETA LINDO!!! GOSTOSO!!! DIVO!!! – ouço uma voz feminina gritar no meio da plateia.

– E É SÓ MEU. É MELHOR TIRAR O OLHO, QUERIDA. – grito de volta olhando para a plateia.

– Cuidado meninas, a Katniss é ciumenta. – avisa Peeta.

– Sou mesmo. Não esqueçam com sou boa com arco e flecha, hein! – apoio.

Caesar volta a atenção para Alice, afinal, essa entrevista só está acontecendo por causa dela.

– Então Alice, que tal responder algumas perguntas pro Tio Caesar? Quer dizer, pro Tio do Cabelo Azul?

– Tá. – responde Alice.

– Qual sua cor favorita?

– Amarelo.

– Por que?

– Porque sim, oras. – responde Alice impaciente enquanto cruza os braços, o público não se aguentava mais de rir.

– Tudo bem! Qual o lugar que você mais gosta de ir?

– A padaria e a floresta. Tio, você sabia que papai tem uma padaria?

– Sério? E o que tem nesta padaria?

– É uma padaria tio. Então tem pão, oras. – Alice fala mais uma vez impaciente e cruzando os braços.

O público gargalhava tanto que meus ouvidos iriam explodir daqui a pouco.

– Bem, foi uma pergunta boba da minha parte.

– Foi muito boba. – concorda Alice.

– É melhor eu nem perguntar o que tem na floresta. – suspira Caesar. – Bem, o que você mais gosta de comer na padaria do seu pai?

– Biscoitos. – diz Alice, mais contente. Falou a palavra mágica: comida.

– Biscoitos são muito gostosos mesmo. Você tem algum melhor amigo?

– Sim, o Joe. – Alice para pensar um pouco. – Ah! E a Melanie.

– E você brinca bastante com eles?

– Sim. Olha tio. – diz Alice levantando a perna e mostrando o machucado que fez no joelho enquanto brincava perto da padaria. – Eu caí e machuquei o joelho enquanto brincava com a Melanie.

Meu Deus, eu não conseguia acreditar. Não sabia que Alice podia falar tanto. E dar respostas abusadas. Realmente, neste quesito, ela puxou ao Peeta. Tirando a impaciência.

– Nossa, deve ter doído bastante.

– É, mas papai disse que eu não vou morrer. – comemora Alice aos pulos, o que faz as pessoas rirem mais uma vez.

– Sim, é claro que não vai. – ri Caesar.

Alice se vira para mim e fala:

– Ai mamãe, não podemos ir embora? Eu estou com fome. – reclama ela.

A plateia cai nas risadas mais uma vez, enquanto eu mesmo não consigo mais parar de rir. Caesar consegue se controlar e responde por mim.

– Sim, Alice. Acho que agora poderão ir embora e comer uma comida bem gostosa. Mas só se me der um beijo primeiro. – diz ele cutucando a própria bochecha. Alice se aproxima mais e lhe dá um beijo. – Ah, que beijo maravilhoso. Katniss, Peeta. Foi um prazer falar com vocês novamente. Sintam-se livres para voltarem quando quiserem. A Capital estará com as portas abertas para vocês é só pegarem um trem ou um aereodeslizador.

– Obrigado Caesar. O prazer foi nosso. – responde Peeta. – Quem sabe voltamos algum dia? Tchau. Até mais.

O público aplaude enquanto Peeta pega Alice no colo e se vira para a plateia acenando, eu repito o que ele faz, ele sussurra algo no ouvido de Alice e vejo ela fazer o mesmo que nós.

Chegamos na cobertura e a primeira a falar é a Alice:

– Papai, eu tô com fome! – reclama ela com urgência.

Peeta ri antes de responder:

– Eu sei, eu vou ligar para mandarem nosso jantar. – diz ele, já caminhando para a cozinha.

– Vamos tirar essa roupa, Alice. – falo, puxando ela pela mão.

Vou com ela ao quarto, trocamos a roupa e eu tiro a leve maquiagem que fizeram no meu rosto. Quando voltamos, encontro Haymitch sentado no sofá.

– Oi Tio Hay. – fala Alice passando por ele e indo em direção a cozinha.

– Oi docinho número 2. – responde Haymitch.

Ouço o grito que Alice dá quando chega perto da cozinha:

– PAPAI!!! ONDE ESTÁ A MINHA COMIDA?

– JÁ VAI CHEGAR. – responde Peeta.

Me sento ao lado de Haymitch.

– Então, como fomos? – pergunto a ele.

– Excelentes, nenhum erro. – responde ele simplesmente.

– Então por que você subiu pra cá?

– Eu briguei com Effie. Ela começou a chorar e disse para mim sair da frente dela, eu tentei retrucar mas cada frase que saía da minha boca fazia com que ela chorasse mais. Então desisti e saí de lá de uma vez.

– Vai jantar conosco, então?

– Acho que sim, eu desço depois do jantar.

– PEETA!!! – eu o chamo.

Ele aparece logo após e parece nervoso:

– O que foi? Eu disse alguma coisa errada na entrevista? Você vai me jogar contra um vaso e vai cortar a minha mão?

– O que?! Peeta, não! Eu só ia pedir para você ligar lá pra recepção e pedir mais um prato de comida. Haymitch vai jantar com nós.

Ele suspira parecendo mais aliviado:

– Ah, tudo bem. Eu vou ligar.

Ele some mais uma vez.

– Onde está Joe? Você o deixou lá com a Effie chorando?

– Ele não quis vir comigo. Está sempre do lado da mãe, não importa o que aconteça. Então, tenho duas pessoas irritadas comigo agora. – ele parecia estar chateado.

– Ei, não fica assim. Ela gritou com você?

– Sim. – respondeu ele baixando a cabeça.

– Oras, somos mulheres, gritamos por qualquer coisa. Eu grito com o coitado do Peeta todos os dias. Quer ver só? PEETA!!!

Peeta aparece mais uma vez e novamente aparenta estar nervoso.

– Eu sabia! Você achou alguma coisa que eu disse que não gostou. – mas por que ele está cismado com isso?

– Peeta, para com isso. Eu não estou irritada com você. Effie brigou com o Haymitch. Ele está chateado porque ela gritou com ele. Diga pra ele: quantas vezes eu já gritei com você?

Peeta ri e senta no sofá antes de responder:

– Agora você me pegou. É mais fácil eu contar quantas vezes você não gritou comigo.

– Viu só, Haymitch? Eu grito com ele o tempo todo e mesmo assim ele continua a sorrir.

Uma mulher uniformizada chega com nosso jantar. Não existem mais avox. As empregadas agora falam, sorriem e trabalham por pura e espontânea vontade. Ela coloca os pratos na mesa e sorri para nós enquanto diz:

– Bom apetite.

– Ah, obrigado. – responde Peeta. – ALICE!!! COMIDA!!!

Não foi preciso falar duas vezes. Ela apareceu voando e sentou na mesa já devorando a comida. Nós sentamos e comemos. Mais uma vez ficamos em silêncio. Principalmente Haymitch que quase nem encostou na comida. A única pessoa que não parava de falar era Alice, dizendo o quanto estava gostosa aquela comida. E estava mesmo. Uma das coisas que não mudou na Capital foi a comida. Alice engoliu a comida e pediu para ir ao quarto brincar, nós deixamos. Haymitch foi embora logo em seguida ainda de cabeça baixa e triste. Espero que ele e Effie resolvam as coisas entre si. Peeta decidiu lavar a louça, não sei por que. Vamos embora amanhã mesmo, alguém viria depois para limpar a bagunça Então eu sequei. Isso virou até uma espécie de ritual. Um lava e o outro seca. Notei que ele estava quieto demais, parecia estar pensando em algo. Lavava os pratos sem olhar para eles. Larguei o pano na mesa e decidi arriscar.

– No que você está pensando? – perguntei o abraçando por trás.

– Nada. – diz ele sem parar de mexer nos pratos.

– Não se atreva a mentir para mim, Peeta Mellark. Você está quieto demais.

Ele suspirou e enxaguou as mãos antes de retirar os meus braços de volta dele e se virar. Eu caminhei mais para trás me apoiando na mesa. Ele olhou nos meus olhos antes de perguntar:

– Aquilo que Caesar disse... Sobre você perder o bebê... É verdadeiro... Ou falso?

Suspirei e me sentei em uma cadeira. Era com isso que ele estava preocupado então?

– É falso, Peeta. – respondi sem olhar para ele.

– E por que você inventou essa mentira?

– Não fui eu que inventei essa história do bebê.

– E quem foi então? Haymitch?

– Foi você, Peeta.

– Eu?

– Sim.

– Por que eu diria uma coisa dessas?

– Por que estava todo mundo irritado com o Massacre. Estavam fazendo de tudo para os Jogos pararem. Cada um tentava de algum modo. Beetee fez um breve discurso. Johanna gritou com todo mundo, Finnick declarou o amor dele para Annie, eu usei o vestido que Cinna fez e você inventou a história de que eu estava grávida. Foi tudo mentira Peeta. E foi você que inventou essa mentira.

– Então você nunca esteve grávida antes? Alice é o nosso primeiro bebê?

– Sim.

– A única?

– Sim, a única.

– Por enquanto?

– Como assim “por enquanto”?

– Eu estava pensando... – ele parou, parecendo decidir-se se realmente falava ou não - ... em aumentar a família.

– Aumentar a família? VOCÊ QUER OUTRO BEBÊ? – pergunto sem conseguir acreditar.

– Eu queria. Eu sempre sonhei em ter uma família grandinha. – ele falou olhando para o chão. Ele sempre sonhou em ter uma família grande. Enquanto eu não pensava nem em casar. Eu não estou pronta para ter mais um filho. Ainda estou me habituando com Alice. Como vou cuidar de duas crianças assim? Eu não queria ter que negar isso a ele, mas não podia fazer algo sem pensar em como nós dois ficaríamos. Quantos filhos ele quer que eu dê a ele? 20? Para que ter uma família enorme? É muita responsabilidade. Principalmente para duas pessoas que já tiveram mais responsabilidades do que eram possíveis suportar. Comecei a sentir uma leve falta de ar. Peeta olha para mim e seu semblante fica preocupado. – Você está bem? Está pálida.

– Por que você quer mais um filho agora? Você não ama Alice o suficiente? – eu falo em um sussurro.

Senti todo o medo que tive antes de novo. Como se Peeta estivesse pela primeira vez me pedindo um filho. Me senti insegura.

– É claro que a amo. Amo mais do que a mim mesmo. Você e ela são a alegria do meu dia, são o meu sol e as minhas estrelas. São a minha vida. Vocês duas são tudo pra mim. Tudo!!! E eu queria aumentar mais a minha alegria, o meu sol, o meu céu estrelado,... A minha vida.

– Eu não estou pronta para outro filho, Peeta.

– Eu sabia que você diria isso. Não pode me dar nenhuma mínima esperança? Não pode ao menos me dizer que vai pensar sobre essa decisão?

– Tudo bem, eu vou pensar. – respondo enquanto levanto e volto a secar a louça.

– Deixe isso aí, vamos embora amanhã mesmo. Vem, vamos pra cama. – diz Peeta, tirando o pano da minha mão, pegando o meu pulso e me puxando até o quarto.

Alice acabou dormindo em meio aos brinquedos, guardamos tudo e a colocamos embaixo das cobertas em nosso meio. Deitei virada para cima, mas sentia os olhos de Peeta em mim. Ele não disse nada a acabou dormindo. Mas eu não. Continuei na mesma posição, olhando para o teto e pensando no que Peeta me disse. Ele queria mais um filho. Por que ele gosta de apressar tanto as coisas? Nos casamos aos 19 anos, dei Alice para ele aos 20 e agora, depois de apenas quase 3 anos, ele já está pensando em outro bebê! Isso é muito pra mim. Principalmente que casar e ter uma família minha nunca fez parte dos meus planos. Alice tem apenas 2 anos, quase 3. Como vamos explicar a ele uma situação dessas? Eu tenho que parar de mentir pra mim mesma. Alice é muito inteligente, ela compreenderia facilmente. O único problema aqui sou eu. Estou, mais uma vez, deixando o medo ser maior do que eu. Estou mais uma vez insegura, achando que a qualquer momento poderiam me tirar essa outra criança. Peeta pode estar preparado para ter mais um filho agora, mas eu não estou. Eu não quero ter outro filho agora. É pensando nisso que eu acabo dormindo.

Eu acordo, mas não acordo como normalmente acordo. Acordo pois sinto uma pressão no travesseiro perto de mim. Quando abro os olhos vejo Peeta em cima de mim enquanto retira a faca com a qual ele acertou o travesseiro. Tenho certeza que não era o travesseiro que ele queria acertar.

– Peeta... – eu digo, mas paro para desviar a minha cabeça da faca que vem em minha direção e acaba novamente acertando o travesseiro. Não sei como mas consigo empurrar ele e Peeta cai no chão enquanto eu pulo da cama e saio correndo.

Corro pelo corredor, e vejo a faca passar raspando no meu braço e fincando na parede no final do corredor. Olho para o meu braço sem parar de correr e vejo o sangue escorrer por ele. Quando foi que Peeta aprendeu a atirar facas? Sem me dar conta, acabei me lembrando de Clove que conseguiu acertar raspando uma faca na minha testa. Chego ao elevador e aperto desesperadamente o botão várias vezes enquanto olho para trás para ver se Peeta está vindo. A porta se abre e coloco o pé para dentro, mas só coloco um pois ouço um grito:

– MAMÃE!!!

Alice. Como pude me esquecer dela? E Peeta ainda quer que tenhamos outro filho. Acabei de esquecer de um, imagina dois.

– ALICE!!! – eu grito e volto com o pé, deixando a porta se fechar. Quando viro Peeta está lá me olhando com ódio e com os punhos fechados.

Ouço mais uma vez o grito:

– MAMÃE!!! – dessa vez ela grita chegando ao nosso encontro.

Peeta se vira pra ela e pergunta confuso:

– Mamãe? – ele olha de Alice para mim e de mim para Alice.

– Papai? – pergunta Alice assustada.

– Ela é sua mãe? – pergunta Peeta ignorando o que ela falou.

Alice apenas afirma com a cabeça e dá um passo em direção a Peeta.

– ALICE, NÃO-CHEGA-PERTO-DELE!!! – eu grito imaginando se Peeta machucaria ela.

Ela para instantaneamente.

– Ela é bem parecida mesmo. Tirando esses olhos. São os olhos de Prim, não é? Agora só me falta saber se esses cabelos castanhos vieram de você ou de Gale.

– Peeta, ela não é filha do Gale. – eu falo pausadamente.

– Ah não? – ri ele. – E quem é o pai desta menina?

– Você é o pai dela. Os olhos azuis são os seus não de Prim.

Ele ri mais uma vez.

– Quantas vezes vou ter que te dizer para você não mentir pra mim? – pergunta ele. – Bem, você matou a minha família. Não vejo o porque de não fazer o mesmo com a sua. – ele fala isso e se vira para Alice caminhando até ela.

Levo um segundo para perceber o que ele iria fazer, e meio segundo para pular em suas costas.

– NÃO SE ATREVA A TOCAR NELA! – ele consegue me jogar contra a parede, me encosto nela enquanto grito – ALICE SAI DAQUI! – mas ela não se mexe, começa a chorar e caminha para trás em passos lentos. Consigo desviar minha cabeça quando Peeta tenta me acertar um soco, ele acerta a parede e urra de dor enquanto abraça a própria mão. Aproveito sua distração e me levanto, pegando Alice e descendo as escadas de emergência. Eu sabia muito bem quem poderia me socorrer: Haymitch. Desço até chegar ao nono andar, e começo a gritar o nome de Haymitch, solto Alice no chão. Peeta não apareceu ainda. Mas logo vejo ele com a faca que jogou na parede nas mãos. – ALICE, CORRE!!! – eu consigo gritar antes de Peeta me derrubar no chão e parar em cima de mim pressionando a faca no meu pescoço.

Alice sai correndo e gritando.

– TIO HAY!!! TIO HAY!!! – ela grita assustada.

– Nós nos encontramos de novo, Senhorita Everdeen. É um grande prazer poder tentar mata-la de novo. Acho que desta vez minha tentativa dará certo. – fala Peeta com o rosto bem próximo ao meu. Vejo suas pupilas dilatadas, a veia do pescoço saltada, o olhar de ódio com o qual ele me olha. Eu poderia tentar beija-lo, o rosto dele estava perto o suficiente para mim conseguir fazer isso. Poderia parar com o flashback como consegui fazer antes da entrevista. Mas ele não estava pressionando uma faca no meu pescoço aquela hora, e aquele flashback foi diferente. Ele não estava com ódio, estava com medo. O beijo apenas lhe deu confiança, não sei se vai funcionar agora. Ele parece perceber a minha intuição pois notou que eu olhava para seus lábios. – Não, desta vez você não vai me fazer de bobo.

Ele ergue a faca acima da cabeça. É o meu fim, mesmo se Haymitch aparecer agora não vai dar tempo de me salvar. Mas eu prefiro isso. Ele vai estar livre. Não terá que cuidar mais de mim, não acordará mais no meio da noite com os meus gritos causados pelo pesadelo. Vai poder se casar novamente e ter a família gigante que ele sonha em ter. Eu prefiro ser morta por ele do que por qualquer outra pessoa.

– PEETA!!! PARA!!! – ouço o grito de Haymitch.

A faca para a poucos centímetros do meu coração. Não notei ter fechado os olhos até notar que estava tudo escuro. Quando abro os olhos novamente vejo dois oceanos olhando para mim, e vejo água desse oceano saindo. Uma lágrima de Peeta cai no meu rosto. Ele não consegue ter reação nenhuma, apenas segura a faca onde está e olha nos meus olhos enquanto várias outras lágrimas escorrem de seus olhos. Ele pisca algumas vezes e sai de cima de mim. Me apoio em meus cotovelos e fico observando ele caminhando em marcha ré, até bater as costas na porta do elevador. Ele olha para a faca, só notando agora que aquele objeto estava em sua mão. Ele a solta e a faca cai no chão. Eu encaro a faca no chão, mas volto minha atenção a Peeta depois de ouvir um soluço vindo dele. Ele olha pra mim e está com aquele olhar que me parte o coração quando vejo. A derrota. Me levanto e começo a caminhar devagar em direção a ele.

– Peeta... – começo mas sou interrompida por ele.

– Não. – ele diz caminhando para o lado encostado na parede. – Não chega perto de mim. Eu não quero machucar você! – ele move o olhar de mim para alguém que está mais atrás de mim.

Olho para trás e vejo Haymitch parado com Alice em seu colo, com a cabeça mergulhada no pescoço dele. Só então noto alguns soluços vindos dela.

– Haymitch, tire a Alice daqui. Por favor. – eu peço com calma.

Haymitch não diz nada, apenas sai com Alice. Eu volto meu olhar para Peeta.

– Ei, está tudo bem.

– Tem um corte no seu braço. – diz ele apontando para o meu braço.

Eu olho e passo a mão nele, tirando o sangue, o sangue parou de sair.

– Não é tão ruim, vai sarar rápido.

– Sim, o seu braço vai sarar, mas eu não. E quem garante que eu não vou voltar a fazer um corte desse em você? Só que nesta na vez na sua garganta e bem mais profundo.

– Você não vai fazer isso.

– Ah, não? Eu quase te matei, Katniss. EU QUASE MATEI VOCÊ NA FRENTE DA NOSSA FILHA!!! COMO VOCÊ ACHA QUE ELA ESTÁ COM ISSO? – ele chorava o triplo de antes agora, mal conseguia fazer as palavras saírem de sua boca. – EU SOU UM MONSTRO. MEU DEUS!!! MAIS UM CENTIMETRO E AQUELA FACA ESTARIA CRAVADA NO SEU CORAÇÃO!!!

Ele anda de um lado quase arrancando os cabelos de sua cabeça.

– Ei... Ei... EI!!! – eu paro na sua frente segurando seus braços.

Ele segura meu rosto entre suas mãos enquanto caminha para trás, só para quando minhas costas encontram a parede.

– Eu não quero machucar você. Eu não quero machucar ninguém. Eu não quero ser um monstro.

– Você não é.

– Eu sou sim. Eu quase te matei.

– Não foi você que quase me matou. – ele me olha sem entender. – Foi o Peeta criado pela Capital e eu sei que você não é aquela Peeta, aquela lá não é o meu Peeta. Você é o meu Peeta.

Ele ia dizer alguma coisa mas eu o beijo antes que ele consiga, eu fiz isso durante a nossa segunda arena para não deixar ele falar, ele não rejeita o beijo. Ele me beija como se a vida dele dependesse daquilo. Ele para ofegante.

– Desculpa. – sussurra ele arfando.

– Tudo bem, vamos pegar Alice e dormir. O nosso trem parte às 13h30min.

Nós andamos pela casa a procura de Haymitch, encontramos ele com Alice ainda no colo na cozinha.

– Ela dormiu. Vocês estão bem?

– Estamos. Obrigada Haymitch, pode me passar Alice. – eu digo já tirando Alice dos braços dele. – Boa noite.

– Boa noite. – ele responde.

Nós voltamos para cima e dormimos o resto da noite. Acordamos antes de Alice. Pedimos nosso café e comemos. Alice entra na cozinha e senta no meu colo me dando um beijo na bochecha.

– Ei, eu também quero um beijo. – reclama Peeta. Mas Alice não faz nada, apenas fica olhando para Peeta. – Você não vai vir aqui para me dar um beijo? – Alice apenas nega com a cabeça. – Então eu vou aí te buscar. -Peeta levanta da cadeira e caminha até nós. Alice pula do meu colo, Peeta para notando o que estava acontecendo. – Alice?... Está tudo bem. – ele diz tentando se aproximar dela, mas ele anda para trás para manter a distância. Peeta dá mais um passo só que desta vez mais largo. Alice se assusta e sai correndo.

– NÃO!!! – ela corre em direção a sala.

Peeta fica parado, ele estava de costas pra mim, eu me levanto e o abraço por trás, colocando minha cabeça em suas costas.

– Tudo de bem, eu vou falar com ela. – tento tranquiliza-lo.

– Ela me odeia. – ele conclui, e posso notar que sua voz está embargada.

– Não, ela ama você. E vai continuar te amando. Vai ficar tudo bem, eu vou falar com ela.

Ele se vira e me abraça, chorando um pouco mais. É por isso que eu odeio a Capital, ela só nos gera tristeza, lembranças ruins, lágrimas. Se estivéssemos em casa nada disso estaria acontecendo.

– Eu quero morrer. – ele fala baixinho.

– Você não pode morrer, eu preciso de você, lembra? E Alice também.

– Ela não precisa de um pai que tenta matar a mãe dela.

– Eu já disse: Aquele não é o meu Peeta. Aquele não é o pai de Alice. Vai lá arrumar as nossas malas que eu falo com ela. Ok? – falo segurando o seu rosto com as duas mãos e olhando em seus olhos.

– Ok. – ele responde, depois limpa as lágrimas e vai em direção ao quarto.

Procuro Alice e a encontro sentada no sofá da sala. Me sento no sofá ao seu lado.

– Sabe, o papai ainda está esperando aquele beijo que só você sabe dar. – digo a ela.

– Papai é mau.

– Não diga isso. O papai não é mau. Ele ama tanto você.

– Mas ele tentou te machucar.

– Aquele não era o papai. Isso acontece às vezes. Um homem muito mal entra no corpo do papai e empurra o papai para fora dele.

– Igual a um fantasma?

– Exatamente.

– Mas era o papai mesmo assim.

Suspirei. Como vou conseguir explicar o que acontece a ela de uma forma que não a assuste? Não sabia o que dizer. Peeta saberia, e diria a ela se ela não corresse assustada quando ele se aproximasse. A pego no colo e ela apoia a cabeça em mim.

– Não, não era. – sussurro pra mim mesma.

Peeta resolveu almoçar fora, ele realmente estava muito mal pelo que aconteceu na noite passada. Depois do almoço pegamos nossas coisas e fomos para a estação de trem comprar a passagem do trem. Quando cheguei ao guichê vi uma moça lendo uma revista. Por que elas sempre estão lendo revistas? Eu estava com Alice no colo e Peeta estava ao meu lado.

– Com licença. – falei. – Queremos três passagens.

– Claro, e pra onde... AH! São Peeta e Katniss. – afirma ela desviando os olhos da revista e olhando para nós. Ela se atrapalha um pouco mas continua. – Ok, então... Três passagens... Para o Distrito 12, certo?

– Isso mesmo. – afirmo.

– Uma cabine?

– Sim, uma ca...

– Duas. – me interrompe Peeta.

– O que?! - me viro para ele. – Isso não é necessário.

– É sim. Três passagens e duas cabines.

Apenas bufei. Não iria discutir com Peeta na estação de trem, principalmente eu, que tem a mania de sair gritando aos quatro ventos. Ela nós deu as passagens e nós pegamos o trem. Haymitch, Effie e Joe ficaram, pois Effie queria visitar seus pais. Peeta ficou com uma cabine do lado da minha. Alice acabou dormindo. Mas ela acorda aos gritos. Pesadelos. Desta vez ela grita por mim e não por Peeta. Eu a pego e a abraço tentando acalma-la. Mas ela continua a gritar.

– Está tudo bem, eu estou aqui. Shhh, vamos Alice. Por favor. Pare de chorar. – eu sei que só Peeta consegue acalma-la, então deixo ela no sofá, vou até a cabine de Peeta e bato na porta. Ele abre e eu nem dou tempo de ele falar qualquer coisa. – Alice teve um pesadelo.

– Eu não posso ir lá. Ela vai ficar com mais medo.

– Mas você é o único que consegue acalma-la. Anda, vamos. – falo puxando o braço dele até minha cabine.

Ele entra mas fica parado, encostado na porta que foi fechada. Ele não se atreve a chegar perto de Alice que mergulhou o rosto em uma almofada.

– Alice... Filha... – Peeta a chama de onde está. Ela apenas tira a cabeça da almofada e corre até Peeta, ele se abaixa e deixa ela abraçar seu pescoço. – Está tudo bem, já passou. Foi só um sonho ruim. Não é de verdade.

Ele senta no sofá com ela ainda em seu colo, e começa a contar alguma história, em pouco tempo não ouço mais nem seus soluços. Eu sorrio vendo que parecia estar tudo bem de novo.

– Eu vou buscar sua mala. – digo já saindo.

Quando volto vejo Peeta sorrindo para Alice.

– Ela dormiu. – sussurra ele.

Só chegamos em casa no outro dia. Assim que abrimos a porta sentimos um cheiro horrível.

– Meu Deus!!! Tem alguma coisa morta aqui dentro. – afirmo torcendo o nariz.

– Nossa! Tem mesmo. Vou levar Alice lá pra cima e vamos ver de onde vem este cheiro. – diz Peeta que estava levando Alice dormindo em seu colo.

Coloco as malas no sofá e saio abrindo tudo que é porta e janela que encontro para ver se o cheiro diminui. Quando passo perto da escada que dá acesso ao porão noto que o cheiro fica mais forte. Desço as escadas e adentro o porão procurando saber de onde vem este cheiro. Em um canto vejo o corpo morto de Buttercup, parecia que ele estava dormindo.

Levo a mão a boca sem acreditar no que estava vendo. Ele não está morto. Não pode estar. Buttercup é imortal. Isso é impossível. Pego um cabo de vassoura que há por perto e cutuco, esperando que ele acorde assustado e saia correndo. Mas ela não se mexe. Perdi a última memória viva de Prim. Por onde andou este gato todos esses anos? Eu não o via desde o dia que viemos para casa com Alice, depois de ela ter nascido. Não acredito que esse gato voltou pra cá só para morrer. Choro pois a morte dele me lembra a morte de Prim. A morte deste gato idiota, fedorento e inútil me lembra de tudo sobre a Prim.

– Gato estúpido. – sussurro para o cadáver do animal.

Não ouço os passos de Peeta, apenas noto a sua voz se aproximando de mim.

– Você descobriu de onde... – ele para de falar quando chega do meu lado, e vê o corpo de Buttercup – Nossa, ele morreu. Ele... Você está chorando?

– SEU GATO IMBECIL!!! NÃO ERA PRA VOCÊ MORRER AQUI!!! SE QUISSESSE MORRER QUE MORRESSE EM OUTRO LUGAR!!! – eu grito como se o bicho pudesse me ouvir.

Peeta me abraça enquanto passa as mão pelas minhas costas.

– Calma, tudo bem. Um dia ele teria que ir. Ele não iria durar para sempre.

– Eu sei, me desculpa.

– Vai lá pra cima tomar um copo de água. Enquanto isso eu tiro o corpo dele daqui.

Eu não respondo, apenas me desvencilho de seus braços e faço o que disse. Me sento na mesa, tentando fazer os flashes da morte de Prim pararem de passar toda vez que pisco os olhos. Peeta aparece na cozinha segurando um saco preto.

– O que eu faço com ele? – me pergunta Peeta levantando o saco.

– Queime. – eu digo com os olhos fixos no saco.

– Queimar? – me pergunta ele.

– Sim, ele vai ter o mesmo fim de Prim.

Eu me levanto pegando uma garrafa de álcool e uma caixa de fósforos. Pego o saco de Peeta e caminho para a rua. Chego perto do chafariz onde Peeta foi quase morto. Coloco o saco no chão, jogo toda a garrafa de álcool e jogo um fósforo em cima. Isso causa uma pequena explosão. Pronto, ele e Prim foram explodidos. Agora ele pode descansar em paz e espero que Prim fique feliz em encontra-lo no céu. Será que os gatos vão para o céu?

Peeta e eu observamos a fumaça subir. Eu canso de ficar ali e decido entrar. Me sento no sofá da sala e Peeta chega logo em seguida.

– Você quer dizer alguma coisa? – me pergunta Peeta.

– Você não ia fazer um balanço para Alice naquela árvore lá de trás? – pergunto, mudando o assunto da conversa de Peeta.

– Sim, eu pretendo fazer.

– Bem... Então vamos fazer agora. – afirmo me levantando.

Peeta não discorda. Fazemos o balanço e quando Alice acorda e vê o balanço, começa a dar seus pulos de alegria enquanto bate palmas. Não pensei que um simples balanço pudesse trazer tanta felicidade a ela. Ela passa o dia lá. Foi difícil convence-la a entrar para almoçar, fazer o lanche da tarde, jantar e até dormir. Ficamos com ela lá fora, olhando ela se divertir com um brinquedo feito com uma corda e um pedaço de madeira para servir de assento. Acho que todos deviam ser como crianças. Principalmente a Capital. Se contentar com as coisas mais simples que existem ao seu redor. Eu fiquei sentada na grama macia, abraçada aos meus joelhos, vendo Alice se balançar para a frente a para trás. Peeta ficou mais atrás. Pintando um quadro de Alice se balançando. Fiquei surpresa quando vi o quadro depois de pronto e reparei em mim mesma sentada, abraçada aos meus joelhos e observando Alice. Meus cabelos estavam soltos e voando junto com o vento. Alice pulou do balanço e olhou para o desenho, depois de uma breve avaliação que ela fez com os olhos ela apontou para o desenho e falou:

– Sou eu.

– Isso mesmo. É você, minha pequena Sunshine.

– Então esta aqui é a mamãe. – afirma apontando para a minha figura na tela.

– Sim, é a mamãe.

– A mamãe é bonita.

– E como!!! – concorda Peeta.

Dormimos tranquilamente, e me surpreendi ao não ter tido nenhum pesadelo relacionado a Buttercup, bombas e Prim. Talvez porque eu tenha dormido pensando naquela tela que Peeta desenhou.


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Notas finais do capítulo

Para ser sincera, não gostei deste final, achei tão sem graça, mas me digam o que acharam dele. Eu adorei escrever a entrevista, nunca me diverti tanto ao escrever um capítulo. Comentem porque este capítulo ficou gigante. Beijocas da Tia Rafú pra vocês!!! ;)



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