Acordei mas logo fechei os olhos novamente por conta da claridade. Não do sol, mas da televisão. As cortinas estavam fechadas, então a luz da TV era refletida por todo o quarto.

Saí de baixo das cobertas e sentei na cama. Eu ainda estava com a mesma roupa de antes e Cato, que ainda dormia ao meu lado, também. Estiquei um pouco meu braço e peguei meu celular na mesinha. Me assustei ao ver que eram dez da manhã.

A única coisa que consigo me lembrar é de ficar assistindo filme até tarde com Cato. Acho que pegamos no sono e nem passou por nossas cabeças desligar pelo menos a televisão.

Levantei-me da cama e desliguei a televisão. Segui para o banheiro e tomei meu banho. Me arrumei e estava pronta para descer. Cato ainda estava dormindo e eu decidi não acordá-lo. Sua expressão era tão angelical que fiquei com pena de acordá-lo

As vezes eu ficava me perguntando se ficar com ele era o certo. É claro que era o certo! Eu amava tanto ele que só de pensar em por um fim em nosso relacionamento doía. Qualquer um que olhasse para nós diríamos que não éramos o casal perfeito. Mas, para mim, não existia essa coisa de casal perfeito. Duas pessoas se gostam, sabem que seus destinos são juntos e assim permanecem. Parece ser fácil, mas não era.

– Ei... – a voz de Cato soou pelo quarto e eu percebi que ainda estava parada perto da porta o olhando. Ele sentou-se na cama e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais. – O que está fazendo ai?

– Nada. Vá se arrumar, eu vou descer – e saí do quarto sem dizer mais nada.

Caminhei até a cozinha e comecei a fazer qualquer coisa para eu comer. Qualquer coisa conhecida também como sanduíche e suco. Enquanto eu comia lentamente e despreocupadamente, meu celular apita indicando uma nova mensagem.

Hoje é domingo e preciso ir ao shopping para fazer as compras da minha festa. Não todas, apenas algumas. Ah, tanto faz. Só quero ir hoje pois a semana toda temos trabalho. Mandei a mensagem para avisar que você vai. QUERENDO OU NÃO!

Eu nem precisava dizer de quem era aquela mensagem, certo? Revirei os olhos enquanto respondia o SMS de Katniss. Se eu falasse que ia, ela ia ficar muito feliz. Se eu falasse que não ia... Bem, ela iria vir me buscar aqui em casa e eu iria de qualquer maneira. Optei pela maneira mais fácil.

– Estou falando com você! – Cato balançou a mão em frente ao meu rosto e eu pisquei assustada.

– O que?

– Pretende sair mais tarde?

– Acabei de mandar uma mensagem para Katniss confirmando que iria ao shopping com ela. Por quê?

– Nada. Talvez nós poderíamos sair, mas entendo que tenha que sair com sua melhor amiga para... – ele puxou o celular da minha mão e começou a ler a mensagem. - ... para fazerem compras.

– Me devolva isso – puxei o celular de sua mão e continuei a escrever a resposta para Katniss, que não demorou a mandar outra mensagem avisando que estaria aqui em casa as duas da tarde.

Após eu terminar de tomar meu café da manhã, subi para o quarto e escovei meus dentes. Antes de sair do cômodo, separei a roupa que iria vestir mais tarde.

Desci lentamente as escadas e aproveitei que Cato ainda estava na cozinha e sentei-me no sofá, afim de assistir qualquer coisa em paz. Bem, eu não consegui. Pela razão de não passar nada que prestasse na televisão. Estou começando a pensar que a TV não gosta de mim.

Fiquei mudando de canal por uns três minutos até escutar a voz alta de Cato atrás de mim:

– Deixe lá! Esqueci que tinha aquele jogo hoje.

– Não – respondi e voltei a mudar os canais. Cato sentou-se ao meu lado e tentou puxar o controle da minha mão. – O que você está fazendo? Já disse que não!

– Por que não?

– Cheguei primeiro, peguei o controle primeiro.

– Você está sendo infantil, Clove! – ele voltou a puxar o controle da minha mão, mas eu dei um tapa forte na sua.

– Eu sou a infantil? Você está puxando a porra do controle da minha mão, seu ridículo!

– Me deixa assistir o jogo! – ele falou mais alto e eu revirei os olhos.

Eu simplesmente não suporto quando ele fica fazendo birra ao meu lado.

– Não acredito que você está gritando comigo por causa de um jogo!

– Eu não estou gritando... Mas era importante.

– Claro, muito importante. Quer saber, fique com o controle. Vou assistir na televisão do quarto.

Tentei me levantar, mas a mão de Cato agarrou meu braço, fazendo-me cair sentada no sofá novamente.

– Desculpe. Fique aqui, talvez o jogo não seja tão importante. Prefiro ficar com você.

– Prefere... – falei ironicamente enquanto observava ele mudar os canais mais uma vez.

***

Terminei de vesti a jaqueta azul escura no mesmo momento que Cato entrava no quarto. Eram uma e cinquenta e cinco da tarde e eu havia terminado de me arrumar para sair com Katniss.

– Vai sair assim? – ele apontou para o meu corpo, de cima a baixo.

– Algum problema? – perguntei assustada olhando para mim mesma.

Cato deu longos passos até chegar na minha frente e tocou nos lados da minha jaqueta. Em um movimento rápido ele a fechou contra meu corpo, de modo que ficasse como uma blusa de couro.

– Não gosto desse seu decote. Não quando não está comigo – revirei os olhos e tirei suas mãos de cima de mim.

– Menos Cato, menos. Não tem nada de mais aqui! Agora me deixe passar, Katniss já deve está chegando.

– Certo...

Desci rapidamente quando escutei uma buzinada e depois outra desesperada. Garota sem paciência.

– Estou aqui! – exclamei quando abri a porta e me enfiei dentro do carro dos pais de Katniss.

– Ótimo, preciso te contar algo! – sua voz era muito animada e eu logo percebi que tinha garoto no meio. – Ontem eu ia na sua casa, mas vi uma loira falsa e um loiro gostoso saindo de lá. Me desculpe, Clovezinha, você é minha melhor amiga mas eu tive que segui-los antes.

– O que? Seguiu os amigos de Cato? – perguntei surpresa, tentando não rir.

– Amigo do Cato? MEU DEUS! – Katniss gritou tão alto, que eu tive que colocar a mão sob o ouvido.

– Preste atenção na estrada! – falei. – Amigos, eram dois. Amy e Peeta. É, estavam lá em casa conversando algo que não me interessava. Mas por qual motivo você os seguiu, sua louca?

– O tal de Peeta era bonito. E gostoso. Mas os dois perceberam minha presença depois de duas quadras da sua casa e eu tive que passar na frente. Argh.

– Meu Deus! – soltei uma gargalhada e depois segurei o painel do carro. – Katniss, dirija direito.

– Estou dirigindo. Enfim, amigos do Cato, certo? Convide-os para a minha festa. Espere, você disse Amy? Convide apenas Peeta – ela falou tudo muito rápido e eu revirei os olhos.

– Não são meus amigos, peça você para Cato chama-los.

– Você é chata demais – minha amiga murmurou e logo em seguidas chegamos ao shopping.

Katniss estacionou e depois saiu me arrastando para dentro do estabelecimento. Ela me empurrou para uma loja de roupas.

– Nem pense! Não vou comprar roupas novas, tenho as minhas.

– Faça o que quiser, meu amor, mas eu vou comprar uma para mim. E você vai me ajudar.

Katniss nem esperou eu dá uma respostas, apenas afastou-se da atendente e correu até uma arara de roupas tão brilhantes que eu até fiquei cega.

– Clovezinha, me diga... Esse azul mar salgado ou esse rosa bebê? – o novo apelido me fez revirar os olhos, mas voltei a analisar os vestidos.

– Rosa bebê.

– Certo, agora vamos para aquela arara.

– O que? – perguntei, seguindo-a. – Acabou de escolher um vestido!

– Acabei de escolher um vestido de uma arara. Agora vou para as outras.

Ai meu Deus, aquilo ia ser tão difícil.

Deixei minha amiga escolher seus vestidos brilhosos demais e segui para o fundo da loja, onde parecia ter roupas civilizadas. Certo, eu poderia ter dito que não iria levar roupas novas, mas acabei indo escolher algumas. Não tão exageradas como as da Katniss, claro.

Fiquei um tempo olhando as roupas até achar um vestido preto que ia até os joelhos. Ele continha alguns detalhes brancos. Era simples, mas eu gostei. Tanto gostei que iria levar.

– NÃO! – ouvi o grito de Katniss e corri para ela, sem esquecer meu vestido. – Eu gostei desse, eu peguei primeiro! Sai piranha!

E quando vi aquela cena, não sabia se ria ou gritava com minha amiga. Katniss segurava a metade de um vestido vermelho enquanto uma moça loira raivosa segurava a outra metade. As duas estavam quase rasgando a peça e a vendedora estava a ponto de se descabelar. Outra vendedora chamou um segurança que dava três de mim e eu me afastei involuntariamente daquilo. Mas sem antes ver ele puxando cuidadosamente o vestido e entregando para a vendedora, e logo em seguida tirar Katniss – que gritava com o segurança – e a outra moça da loja.

– Ei, vou levar esse ai – apontei para a mão da vendedora e ela me entrou o vestido pelo qual Katniss brigava.

Segui até o caixa e paguei o meu vestido e o de minha amiga. Saí rapidamente da loja e vi uma Katniss emburrada do lado de fora.

– Não pergunte! Apenas fiquei sem o vestido divo que achei. Vê se pode isso!

– Pegue – lhe entreguei a sacola e ela olhou dentro. Um sorriso enorme se formou em seu rosto.

– Clove, obrigada! – ela me abraçou fortemente e eu retribui, mas logo a empurrei. – Tudo bem! Agora vamos para a loja de decoração.

E assim fizemos mas uma longa jornada dentro de uma loja muito enfeitada para o meu gosto.

Katniss comprou copos coloridos e fluorescentes, pisca-piscas para jogar pela casa e muitas outras bugigangas que se pode ter em uma festa de doidos. Sério, aquilo estava ficando estranho demais!

Mas é claro que não tinha acabado. A vaca da Katniss tinha que passar em uma loja de CDs e comprar alguns. Que tipo de pessoa ainda compra CDs para por em festas?

– Estou com fome – choraminguei e Katniss revirou os olhos.

– Vamos para a lanchonete – as enormes sacolas quase a derrubavam e algumas pessoas a olhavam assustados, mas Katniss nem ligava. – Ainda temos mais compras para fazer.

– De jeito nenhum!

– Não hoje, Clove, outro dia! Vamos logo comer.

Seguimos até uma lanchonete mais vazia e fizemos nossos pedidos.

Preciso anotar em uma folhinha e nunca mais soltá-la: não saio com Katniss, nunca mais, para shopping.